O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no último domingo, a cidade de Três Lagoas comemorou 93 anos de emancipação política. Eu estava lá para dividir com o seu povo a alegria da simpática e hospitaleira aniversariante.

Sua história começa em 1887, quando dois astutos desbravadores se instalaram na divisa do antigo Mato Grosso com o Estado de São Paulo.

Foram os colonizadores Protázio Garcia Leal e Antonio Trajano dos Santos que se estabeleceram na região que passaria a ser conhecida como bolsão mato-grossense.

O chefe da família Garcia Leal, Protázio, ocupou a região conhecida como Piaba, nas margens do caudaloso Rio Verde. Antonio Trajano fundou a Fazenda das Alagoas, em homenagem às três lagoas que encontrara e que até hoje embelezam o Município e divertem a população.

Esses homens fundaram, ali, com a força das idéias, do machado e da enxada, um dos Municípios mais importantes de Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul hoje. Sua privilegiada localização garantiu-lhe extraordinária potencialidade econômica.

Durante longos anos, constituiu-se na passagem obrigatória de pessoas e de bens que se destinavam a São Paulo, por meio da ferrovia. O Rio Paraná e a boa malha rodoviária completaram sua atraente logística de transportes.

Todavia, a história de Três Lagoas foi escrita com as linhas da ferrovia. Esse capítulo começou em 1908. Neste ano, o Governo Republicano decidiu incorporar o Mato Grosso ao processo produtivo nacional por meio da ferrovia. Escolheu Três Lagoas para sediar o acampamento de engenheiros. Nascia ali o núcleo urbano que, em 15 de junho de 1915, se tornaria Município.

Pelos trilhos da Noroeste do Brasil, Três Lagoas ganhou projeção. Seus produtos puderam chegar aos outros Estados e até em países, gerando emprego e renda.

A ferrovia facilitou também a vida das famílias, daquelas que pretendiam educar seus filhos em centros mais adiantados.

Foi de trem, em 1948, que o saudoso Senador Ramez Tebet deixou sua Três Lagoas para estudar no Rio de Janeiro. Estudou e voltou em 1960. Começara ali sua saga de homem público. Advogado, Professor, Promotor, Prefeito, Vice-Governador, Governador de Estado, Senador, além de ter sido Deputado Constituinte. Na vida pública, enxergou o extraordinário potencial de sua tão decantada Três Lagoas.

De sua visão, tornou-se intrépido mascate das virtudes de sua terra. Onde havia investidor indeciso, ele ia atrás, ia atrás para convencê-lo.

Desta tribuna, não desperdiçava uma só oportunidade para estimular quem buscava oportunidades. Mesmo castigado pela doença, o bravo Senador não se afastava da obstinação de industrializar Três Lagoas e Mato Grosso do Sul.

Já alquebrado pela doença, o inesquecível Parlamentar três-lagoense profere o seu último discurso no dia 17 de outubro de 2006. E o assunto que ele abordara, Sr. Presidente, não era outro - vamos reproduzir alguns trechos desse discurso:

“Lá, estamos de portas abertas! Por isso, quero aqui dizer o quanto foi bom ver inaugurada a Metalfrio, uma unidade com mais de 8.000 m² de área construída, que exigiu investimentos da ordem de R$7,5 milhões e que produzirá 50 mil peças anuais, gerando cerca de 100 postos de trabalho para uma produção que visa aos mercados interno e externo”.

Mais à frente, Ramez lembrava:

“Fui Prefeito da cidade, em 1975. Em meu discurso de posse, ocasião em que se iniciava o plantio, atualmente um dos maiores, senão o maior, de maciço florestal do Brasil, afirmei que a minha cidade do meu querido Estado de Mato Grosso do Sul estava fadada a ter a maior fábrica de celulose do mundo! E isso agora está acontecendo” [pontificava o saudoso Ramez Tebet].

Numa prova de que o entusiasmo que o movia era maior que a dor que o dilacerava, Ramez assim prosseguia:

“Vim unir esforços para dizer que em Três Lagoas existe uma parceria público-privada que vale a pena ser analisada e ser observada.

Imaginem que o Grupo Votorantim e a International Paper anunciaram, já para o dia 5 de dezembro, o lançamento da primeira pedra fundamental dessa indústria de celulose e de papel.

Esses empreendimentos são tão grandiosos que influenciarão em 0,15% o PIB nacional.

Essa fábrica de papel e celulose vai gerar dois mil empregos.

É uma feliz associação do Grupo Votorantim e da International Paper em maciço florestal atual de 200 mil hectares de eucaliptos, que vai gerar 13% do PIB estadual”.

Honra-me o seu aparte, Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Valter Pereira, conheci recentemente o Estado de V. Exª. Fui justamente prestar uma homenagem da amizade que o povo do Piauí tinha ao grande líder de Mato Grosso do Sul, nascido em Três Lagoas, que V. Exª homenageia. Quando Governador do Estado, Deus me inspirou que colocasse no peito de Ramez Tebet a comenda maior do Estado do Piauí, a Grã-Cruz Renascença, pelo muito que nos ajudou no curto período em que foi Ministro deste País. Enfim, o encantamento. Essa obra é vultosa. Martin Luther King disse “eu tive um sonho”; ele não. A realidade eu vi. Esse empreendimento é uma das maiores fábricas de celulose do mundo: a Votorantim e a International Paper, que vi renascer. Enquanto as visões míopes estão desmatando, ele fez renascer, vamos dizer, uma flora de pinheiros, para gerar matéria-prima, a celulose, para a fábrica de papel, talvez a maior do mundo. Então, queria associar aqui às suas palavras a nossa homenagem. E termino, ô Paulo Duque, com Deus: “A árvore boa dá bons frutos”. Vi o encantamento de uma mulher, sua filha, dirigindo aquela cidade. E quero afirmar aqui, como um profeta: com perspectivas invejáveis, aquela mulher, sem dúvida nenhuma, será Governadora e será Senadora da República, no futuro, daquele Estado em que V. Exª dá continuidade àquela representatividade de grandeza do nosso saudoso Ramez Tebet. No meu gabinete, tenho um retrato de Petrônio Portella, o líder maior do Piauí, o melhor Presidente desta Casa, um retrato do Papa João Paulo abençoando eu e Adalgisa, quando Governador do Piauí, e um retrato de Ramez Tebet, testemunhando o apreço do povo do Piauí àquele grande Estado que V. Exª representa.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.

O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - Sr. Presidente, já estou próximo de concluir. Eu gostaria que V. Exª tivesse aquela costumeira tolerância democrática que sempre orienta a conduta de V. Exª quando preside a sessão.

Mas agradeço o aparte do Senador Mão Santa, que foi testemunha viva...

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PSDB - AP) - Senador Valter Pereira, quero só fazer uma lembrança a todos os Senadores. Regimentalmente, cada Senador só pode fazer uso da palavra para um aparte duas vezes em cada sessão. Então, quem já fez aparte nas duas oportunidades não pode mais fazê-lo. E também o tempo para cada aparte é de dois minutos, porque, se em dez minutos cada aparteante ou aparteador usar três, quatro, cinco minutos, vamos prejudicar uma lista de 24 pessoas inscritas.

Mas V. Exª tem o direito de encerrar dignamente seu discurso.

O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - Muito obrigado.

Mas, não posso encerrar sem prosseguir essa visão do eminente Senador Ramez Tebet. Vejam o que ele dizia:

“Imaginem o benefício para a minha cidade, onde a minha filha Simone [lembrada agora pelo Senador Mão Santa] tem a responsabilidade de dirigi-la e de prepará-la para o futuro. Treze por cento do PIB do Município de Três Lagoas será o incremento que trarão essas e outras fábricas para aquela região.

Não será apenas Três Lagoas que irá progredir; não será apenas Dourados que estará progredindo, recebendo com o aumento do ICMS; não serão apenas os Municípios do bolsão sul-mato-grossense nem apenas a capital do Estado, mas o Brasil inteiro estará ganhando”.

Ao mesmo tempo, Sr. Presidente, em que o Senador Ramez Tebet dava azo ao seu entusiasmo, cobrava compromissos do Governo Federal:

Disse ele naquela época:

“É preciso construir a ponte sobre o rio Paraná, que tem cerca de 40 km, para desafogar o trânsito, porque serão 400 caminhões a mais, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a trafegar sobre a Usina de Jupiá, cuja segurança estará ameaçada, caso essa obra não seja concluída. Essa obra foi prometida e não foi realizada.

Eu tenho o direito de cobrá-la! Tenho este direito, porque o faço em benefício do Brasil! Não estou defendendo só a minha cidade; não estou defendendo uma ponte sobre um córrego da minha cidade; estou defendendo uma ponte sobre um recurso hídrico chamado rio Paraná...”

“...É preciso terminar essa obra!” - conclamava o Senador.

Exatamente um mês depois de exprimir sua profissão de fé e chamar o Governo Federal para cumprir a sua parte, a voz do valente Senador Ramez Tebet calou-se para sempre.

Entretanto, sua luta no plano federal apenas mudou de mãos! Adotamos a cidade de Três Lagoas com o mesmo carinho com que ela nos adotou.

A ponte para ligar Três Lagoas a Castilho, Sr. Presidente, e o contorno ferroviário para evitar o estrangulamento do tráfego urbano estão viabilizados. São obras que encampei por serem simplesmente indispensáveis ao desenvolvimento de toda aquela região e do Estado. Para tanto, conseguimos aprovar recursos na ordem de R$33,95 milhões no Orçamento de 2007. Já o contorno ferroviário também vai sair do papel. A obra tem R$16 milhões garantidos no Orçamento da União. Além de apoio a obras estruturantes, destinamos recursos orçamentários para infra-estrutura e drenagem. Com elas, queremos mitigar o fabuloso impacto que a cidade já vem sofrendo.

Com tais ações, tenho a convicção de que estou contribuindo não apenas com Três Lagoas, mas também com o crescimento econômico de todo o Estado de Mato Grosso do Sul.

De minha parte, estou retribuindo o carinho do seu povo e a confiança do mais ilustre filho daquela terra, nosso saudoso amigo Ramez Tebet.

Já no plano municipal, a Prefeita Simone Tebet - aqui tão oportunamente lembrada pelo Senador Mão Santa - também cumpre o seu dever com extraordinário esmero e muita competência. Basta um dado, especialmente para V. Exª, que é médico, e para o Senador Mão Santa, que também o é, para atestar os resultados de sua administração. A Prefeita de Três Lagoas simplesmente baniu a praga da dengue. Isso sem falar na educação, na infra-estrutura urbana e na mitigação de todo impacto que a industrialização está provocando.

Por fim, Sr. Presidente, preciso assinalar a impecável personalidade da Prefeita Simone Tebet na condução política do Município. Ela acaba de escolher outra mulher, também notável, para ser sua vice na disputa municipal. Optou por sua Secretária de Educação, a brilhante Vereadora Márcia Moura, também do PMDB. Foi um prêmio à competência, e uma opção que fez pela educação. Além de ter ido pessoalmente a Três Lagoas, eu não poderia deixar de registrar nos Anais desta Casa minhas congratulações a toda generosa população daquele simpático Município, berço desse velho amigo, berço desse grande companheiro que nós perdemos, o Senador Ramez Tebet.

Era o que eu tinha a dizer nesta tarde, Sr. Presidente.

Muito obrigado.