Discurso durante a 107ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo transcurso do centenário da imigração japonesa para o Brasil.

Autor
Valter Pereira (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Valter Pereira de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo transcurso do centenário da imigração japonesa para o Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 20/06/2008 - Página 21879
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, INICIO, IMIGRAÇÃO, ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, COMENTARIO, IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, DESCRIÇÃO, HISTORIA, ADAPTAÇÃO, BRASIL, OCORRENCIA, DIFICULDADE, ESPECIFICAÇÃO, PERIODO, SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
  • COMENTARIO, LIVRO, DESCRIÇÃO, HISTORIA, PIONEIRO, IMIGRANTE, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), ATUAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, AREA, AGRICULTURA, CONSTRUÇÃO CIVIL, CONSTRUÇÃO, FERROVIA.
  • ELOGIO, CONDUTA, IMPORTANCIA, IMIGRANTE, DESCENDENTE, ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, PARTICIPAÇÃO, ECONOMIA, POLITICA, APOIO, EDUCAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), COMENTARIO, ATUALIDADE, SUPERIORIDADE, OCORRENCIA, MISTURA, GRUPO ETNICO, REGIÃO.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, AMBITO NACIONAL, DESCENDENTE, IMIGRANTE, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, ESPECIFICAÇÃO, ARTISTA, ATLETA PROFISSIONAL, PIONEIRO, GANHADOR, OLIMPIADAS, MINISTRO DE ESTADO, AERONAUTICA.

O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na sessão solene que homenageou a colônia japonesa do nosso País, nesta semana, não pude prestar a minha homenagem aos descendentes de japoneses que têm dado uma contribuição substancial para o desenvolvimento do nosso País. E é com enorme satisfação que ocupo, hoje, esta tribuna, para fazer a minha saudação ao centenário da chegada do navio Kasato Maru. Como é de conhecimento público, ele chegou ao porto de Santos há exatos cem anos.

A bordo, os primeiros imigrantes nipônicos. Eram 781 pessoas, em sua maioria camponeses pobres, que vinham para o Brasil em busca de novas e melhores oportunidades.

É até redundante dizer que os primeiros momentos foram muito difíceis para a família nipônica. Os imigrantes japoneses foram trabalhar nas tarefas mais árduas do campo. Em muitos casos sugeria até mesmo a substituição ao escravo negro, libertado havia 20 anos.

As diferenças culturais e as dificuldades do idioma pareciam barreiras intransponíveis para a vida desses trabalhadores e trabalhadoras. Todavia, eles trouxeram consigo extraordinários valores, como a dedicação ao trabalho, disciplina e respeito aos princípios éticos, valores que notabilizam a cultura japonesa. Com tais atributos, granjearam a simpatia dos nativos, superaram obstáculos e triunfaram na terra estrangeira.

Muito mais afeitos à ação que às palavras, os imigrantes japoneses dedicaram-se, com afinco, ao trabalho, outra característica marcante dos japoneses. Com isso, conquistaram o espaço que procuravam.

Na verdade, a vida desses pioneiros só melhorou quando eles começaram a trabalhar na chamada lavoura de parceria. Foi essa modalidade de produção e suas habilidades com a lida da terra que deram credibilidade e boa fama a esses imigrantes. Os recursos para comprar suas primeiras propriedades e abrir o caminho da prosperidade foram apenas conseqüências.

Para se ter uma idéia da força dessa vocação, voltemos ao ano de 1932. Naquela época, cerca de 90% da comunidade nipônica no Brasil se dedicava à agricultura. Eram mais de 132 mil pessoas, de acordo com o Consulado-Geral do Japão em São Paulo.

Quando as dificuldades iniciais pareciam se dissipar, eclode a Segunda Guerra Mundial. Novas aflições, novas dificuldades, que pareciam se dissipar, na verdade, se renovam. Essas aflições vão tirar o sono de muitos e muitos japoneses, de muitos e muitos descendentes nipônicos que aqui trabalhavam, que aqui viviam.

Japão e Brasil, naquele momento, ocupam lados opostos. E aquele conflito bélico provoca uma certa rivalidade, uma certa incompreensão em nosso País.

Especialmente na área da educação, a cultura que eles trouxeram começa a sofrer grandes restrições de parte do Governo brasileiro, que também conhecia um regime não-democrático, um regime autoritário. Publicações em japonês tiveram circulação proibida em 1940. No entanto, os constrangimentos foram além de suas manifestações culturais: alcançaram até o patrimônio! Até bens legitimamente adquiridos foram confiscados e permaneceram em poder do Estado até 1950.

A própria política de imigração, Sr. Presidente, foi interrompida, para ser retomada apenas em 1951. Em 1973, ela é encerrada novamente com o desembarque do último grupo de imigrantes japoneses, no mesmo porto de Santos, onde o Kasato Maru chegara 65 anos antes.

No meu Estado de Mato Grosso do Sul, a colônia japonesa reuniu grande contingente de imigrantes oriundos de Okinawa. Totaliza cerca de dez mil pessoas! O médico Koei Yamaki, um dos mais conhecidos e respeitáveis membros daquela colônia, fez e compilou registros importantes dessa verdadeira epopéia vivida pelos japoneses e por seus descendentes no antigo território de Mato Grosso, na área em que hoje está o Estado de Mato Grosso do Sul, meu Estado. Em seu belo livro, Campo Grande: 100 anos de Construção, esse facultativo de largo conceito analisa a trajetória dos pioneiros da colônia nipônica da minha capital, a cidade de Campo Grande. Ele conta a saga sas famílias que desembarcaram do Kasato Maru e optaram por se estabelecer no então Estado do Mato Grosso. Foram seduzidas pela natureza exuberante, por terras férteis e pela semelhança do clima com o da saudosa Okinawa.

A esses, Sr. Presidente, somam-se os que vieram...

(Interrupção do som.)

O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - (...) para construir a ferrovia Noroeste do Brasil, inaugurada em 1914, e os edifícios do Complexo do Comando Militar do Oeste, já no início da década de 1920. Alguns continuaram na construção civil, contribuindo para modernizar e urbanizar Campo Grande. Outros, porém, dedicaram-se de corpo e alma às atividades do campo. Estes passaram a plantar verduras, frutas, mandioca, milho, feijão, arroz, cana-de-açúcar, além de criarem pequenos animais.

De acordo com o livro A Saga da Colônia Japonesa em Campo Grande, foi um operário chamado Kosho Yamaki, em 1914, que iniciou o plantio de hortaliças numa região onde fica a atual rodoviária de Campo Grande. Por isso mesmo ele é considerado o primeiro morador fixo de Campo Grande proveniente dessa colônia.

Kosho Yamaki não foi apenas um competente e destemido campesino. Foi um exemplar professor e um dos criadores, em 1918, da primeira escola para japoneses na capital de Mato Grosso do Sul, escola que existe até hoje com o nome de Visconde Cairu, orgulho da comunidade japonesa de todo o meu Estado.

Na década de 1920, inicia-se no Município de Terenos, onde meu filho Beto Pereira é Prefeito, a criação da colônia agrícola, formada, no geral, por japoneses. Existem algumas exceções, mas a Colônia Jamic, como é hoje conhecida, é constituída basicamente de japoneses e seus descendentes. Ela hoje é responsável por importante produção de gado. É uma das maiores produtoras de aves e de ovos de Mato Grosso do Sul e do Brasil. Aliás, em outros Municípios do Estado, os japoneses também se organizaram em colônias como essa a que acabo de me referir.

Mas como tive a felicidade de nascer e de morar em Campo Grande, pude ver o papel econômico, político, social e cultural que toda essa colônia cumpriu no decorrer da história da capital de Mato Grosso do Sul. Trabalhando em regime cooperativo, nos seus primeiros anos em Campo Grande, a colônia nipônica promoveu extraordinária integração com os brasileiros de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul. Construiu escolas primárias, núcleos profissionalizantes, criou associações, tudo com o objetivo de manter a comunidade integrada e vivos os costumes de sua terra natal, além de receber também a influência...

(Interrupção do som.)

O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - (...) da cultura brasileira. Exemplo dessa atividade é a Associação Okinawa de Campo Grande, fundada em 1922 e que funciona com regularidade até os dias de hoje.

Se, em razão das dificuldades encontradas no início, a comunidade japonesa era muito fechada, a realidade em que vivemos hoje é outra, a convivência hoje é outra, muito diferente. A miscigenação atinge 61% entre os yonseis, os bisnetos desses imigrantes, que têm ao menos um ascendente japonês.

Vejam, Srªs e Srs Senadores, quanto uma cultura enriquece a outra! Devemos muito aos imigrantes japoneses pelo seu imenso legado ao povo brasileiro. Se nada mais tivéssemos assimilado, poderíamos nos referir, com grande prazer, à culinária do Japão, hoje de larga aceitação em todo o Território Nacional. Em qualquer lugar que se vá, a culinária japonesa exibe uma preferência extraordinária de consumidores brasileiros.

Aliás, em Campo Grande, é rota obrigatória para nativos e forasteiros do meu Estado todos os pontos em que a culinária japonesa é servida. Deliciosos pastéis e o famoso soba, além de outros pratos orientais, fazem parte do roteiro turístico de Campo Grande.

E, para quem ainda não conhece Campo Grande, faço o convite para conhecerem o melhor da culinária japonesa, que, sem dúvida alguma, a nossa Capital pode oferecer a todos que queiram desfrutar de suas delícias.

(O Sr. Presidência faz soar a campainha.)

O SR. VALTER PEREIRA (PMDB - MS) - Mas, as contribuições dos japoneses foram muito maiores.

Na arte, cumpre lembrar Manabu Mabe e Tomie Ohtake. No esporte, aprendemos artes marciais, como o judô, cuja primeira medalha olímpica brasileira foi conquistada por Chiaki Ishii, nos Jogos de Munique. Na vida pública, temos, entre outros descendentes, o Brigadeiro Juniti Saito, que é o comandante da Força Aérea Brasileira, oficial equilibrado, respeitado, que desfruta de grande credibilidade em toda a sociedade nacional.

Tudo isso, no entanto, ainda é pouco, se pensarmos na imensa saga dessa gente corajosa e trabalhadora, que há exatos cem anos escolheu o Brasil para viver.

Não poderíamos deixar de proclamar desta tribuna que somos gratos por essa escolha, pela preferência manifestada pelo Brasil, por sua imensa capacidade de trabalho e por seu amor ao País que escolheram para ser seu. E aqui é preciso dizer que quando se escolhe um país, quando se manifesta essa preferência é porque tem, efetivamente, algo maior para oferecer e para reverenciar.

Estamos orgulhosos de termos os japoneses como nossos irmãos. Temos muito que comemorar nestes 100 anos de imigração japonesa para o Brasil.

Temos muitos amigos e amigas nessa comunidade. Neste momento, quero, em nome do Vereador da minha capital, Campo Grande, Celso Yanase, e do Deputado Estadual Akira Otsubo, dois descendentes de japoneses, dois integrantes dessa extraordinária colônia, saudar a todos aqueles que, com muita dificuldade, contribuíram para melhorar o Brasil e, sobretudo, para desenvolver Mato Grosso do Sul.

Queríamos, nesta tarde, Sr. Presidente, dedicar, então, este pronunciamento à colônia japonesa de Mato Grosso do Sul e a todos os imigrantes e a seus descendentes, que vieram para cá, que vieram para o nosso País contribuir com a sua cultura, com os seus hábitos, com os seus princípios para o desenvolvimento, para a evolução cultural e educativa de nosso território.

No mais, agradecendo a atenção de V. Exª e de todos os Parlamentares que nos ouviram, levo o nosso abraço a todos os japoneses e seus descendentes Brasil afora.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/06/2008 - Página 21879