Discurso durante a 110ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Referências sobre as convenções municipais partidárias. Registro do transcurso dos 50 anos da morte de Nereu Ramos, Jorge Lacerda e Leoberto Leal.

Autor
Raimundo Colombo (DEM - Democratas/SC)
Nome completo: João Raimundo Colombo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. HOMENAGEM.:
  • Referências sobre as convenções municipais partidárias. Registro do transcurso dos 50 anos da morte de Nereu Ramos, Jorge Lacerda e Leoberto Leal.
Publicação
Publicação no DSF de 25/06/2008 - Página 22961
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. HOMENAGEM.
Indexação
  • QUALIDADE, PRESIDENTE, DIRETORIO ESTADUAL, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), PARTIDO POLITICO, DEMOCRATAS (DEM), REGISTRO, TRABALHO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, OPORTUNIDADE, RENOVAÇÃO, POLITICA NACIONAL, DEBATE, APERFEIÇOAMENTO, ESTADO.
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, MORTE, NEREU RAMOS, EX-DEPUTADO, EX SENADOR, EX GOVERNADOR, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, MORTE, EX GOVERNADOR, EX-DEPUTADO, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), VITIMA, ACIDENTE AERONAUTICO.

            O SR. RAIMUNDO COLOMBO (DEM - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, quero cumprimentar V. Exª e agradecer a oportunidade. V. Exª é uma pessoa que tem o carinho de todos nós; é um prazer tê-lo como Presidente nesta sessão.

            Quero tratar, com objetividade e rapidez, de dois assuntos. O primeiro é em relação às convenções municipais.

            Sou Presidente estadual do meu Partido, o Democratas, lá em Santa Catarina. Estamos, junto com os companheiros, fazendo um trabalho enorme. São 293 Municípios e teremos candidatos a prefeito em quase 200. Há um grande trabalho a ser feito.

            Tenho me dedicado muito a isso, por acreditar que é na eleição municipal que surge a oportunidade para as novas lideranças; é quando se renova a política; é quando se debate aquilo que interessa às pessoas diretamente; é quando a sociedade aponta para onde quer ir. Entendo que a verdadeira oposição, a confirmação da situação, nasce na sociedade e não nos partidos políticos. Os partidos políticos são os canais, são os meios. É na convenção municipal que se fazem os partidos, de fato, no Brasil. É um enorme desafio que temos pela frente. Estamos empenhados em realizar um processo político amplo, aberto, transparente, dando oportunidade para os novos, fazendo com que os partidos sejam uma base intelectual da sociedade e que, nessa condição, promovam um debate, criem novos espaços, construam o novo.

            Está terminando um ciclo na política do Brasil. Quem era Oposição agora é Governo; quem era Governo agora é Oposição. Precisamos criar um espaço para o novo que está surgindo. Quando falo do novo, não me refiro apenas a jovens, mas a um novo posicionamento.

            O Estado brasileiro, que vem desde João VI, é cartorial, está muito grande, inchado, corrompido, longe das pessoas, de costas até para os mais pobres. O Senador Demóstenes mostra aí a crise da segurança. Podemos falar de tantas e tantas áreas que estão aí. A eleição municipal é a grande oportunidade para o debate, para o aprofundamento, para o debate contraditório dessas idéias, do embate ideológico, do fortalecimento dos partidos.

            Realmente, acredito que temos a oportunidade de fazer surgir o novo, um novo posicionamento para que o Estado brasileiro, para que a política brasileira possa, de fato, melhorar e trazer melhores frutos à sociedade.

            O segundo aspecto é do meu pronunciamento é registrar os 50 anos da morte de Nereu Ramos, de Jorge Lacerda, de Leoberto Leal. Nereu Ramos é da minha cidade, Lages, Santa Catarina. Ele foi duas vezes Deputado Federal, duas vezes Senador, Presidente da Câmara, Presidente do Senado, Vice-Presidente da República e exerceu a Presidência passando, numa interinidade, o cargo ao Presidente Juscelino Kubitschek. Foi o catarinense mais ilustre de todos, foi Governador por 12 anos, com uma visão de futuro extraordinária pela educação.

            Jorge Lacerda faleceu num acidente de avião, saindo de Florianópolis, num dia de tempo muito ruim, e o avião acabou caindo ao chegar nas proximidades de Curitiba. Jorge Lacerda era o Governador de Santa Catarina. Um dos políticos mais talentosos, ele conseguiu enfrentar os Ramos, que era um grupo muito forte, derrubou-os e venceu as eleições. Fazia um governo bem-sucedido, inovador, ele tinha um talento muito forte, popular, um médico muito conceituado, tinha sido Deputado Federal e, tragicamente, veio a falecer. Isso, para Santa Catarina, foi um verdadeiro desastre também, porque faleceu o Deputado Federal Leoberto Leal.

            Foi muito difícil a recuperação disso, principalmente na minha região, onde Nereu Ramos exercia a sua liderança, tinha um papel preponderante, e, de repente, vem essa fatalidade. A política de Santa Catarina se ressente até hoje, e Nereu Ramos é a maior referência. Então, registro que isso se deu no dia 16 de junho de 1958, de forma que se completam agora 50 anos desse trágico acidente.

            Quando prefeito da minha cidade, construímos um memorial em homenagem ao Nereu Ramos. Temos muito orgulho da sua atividade. Ele, por exemplo, foi o formulador da Constituição de 1946. Trouxe, só para relembrar seu papel, o parágrafo primeiro do seu discurso na instalação do Senado Federal, em 1946:

A Constituição que acabamos de entregar ao País restitui ao Senado sua antiga dignidade de ramo do Poder Legislativo. Reinvestiu-o, assim, de suas altas e grandes funções, porque, a par das atribuições legislativas que conservou, algumas vindas da Constituição de 1891, deu-lhe outras, de maneira que o tornou órgão de grande relevo no mecanismo nacional do País.

Esse é o primeiro parágrafo do discurso do Nereu Ramos na instalação do Senado Federal no dia 24 de setembro de 1946. Então, ele foi uma das figuras mais ilustres.

A Câmara dos Deputados lhe faz uma homenagem com o auditório Nereu Ramos, e eu, como seu conterrâneo, de Lages, Santa Catarina, sinto-me com o dever e, ao mesmo tempo, tenho a honra de poder registrar os 50 anos de morte desse que foi um dos brasileiros mais ilustres e que tinha uma autoridade extraordinária.

Há alguns fatos. Quem estabeleceu a merenda escolar foi o Nereu Ramos. E, há pouco, o Senador Demóstenes Torres colocava isso como fundamental, o ensino completo, integral.

Amanhã, vamos receber os jogadores da Copa do Mundo de 1958, nossos ídolos todos, na Comissão de Educação. Nereu Ramos foi quem começou a construir o Estádio do Maracanã. Ele foi Vice-Presidente do Eurico Gaspar Dutra, eleito pelo Congresso Nacional. Era um dos principais líderes do PSD, que, na minha região, chegava a ser uma religião, porque era muito difícil achar alguém que não fosse do PSD. Para se ter uma idéia, Presidente Geraldo Mesquita, o pai do Nereu Ramos, o velho Vidal Ramos, que também foi Senador, foi Governador de 1902 a 1906 e de 1910 a 1914. Depois foi um primo-irmão dele, o Aristiliano, de 1930 a 1933. O Nereu governou de 1933 a 1945. Depois o sobrinho do Nereu, neto do velho Vidal, governou, Aderbal Ramos da Silva, de 1952 a 1956. Com a morte do Nereu Ramos, acabaram elegendo o irmão do Nereu, o Celso Ramos, que foi um dos grandes governadores, que governou de 1960 a 1965. Então, num intervalo de 65 anos, essa família Ramos governou o Estado por cerca de 40 anos. O pai teve dois filhos, um sobrinho e um neto governadores do Estado. As pessoas poderiam chamar isso de oligarquia. Mas, na verdade, o povo catarinense tem grande orgulho, porque esse pessoal fez com que Santa Catarina fosse um Estado diferenciado. Um investimento na educação impressionante como se fez já naquela época, em 1900, de tal forma que se conseguiu fazer um Estado muito dinâmico, uma forte educação, um nível cultural alto, elevado, desenvolvido. Devemos muito a essas pessoas que tiveram uma visão muito grande do futuro e contribuíram, de forma excepcional, para o desenvolvimento do nosso Estado.

            De forma que falar de Nereu Ramos aqui, no Senado da República, é reconhecer todos esses méritos - a grandeza da sua história, a força do seu passado, a autoridade da sua presença - e registrar isso para os Anais, o que é uma questão de justiça.

            Nós catarinenses temos grande orgulho dos homens públicos daquela época. E fazer esta homenagem a três deles que faleceram no cumprimento do seu dever e representando o nosso Estado, o Nereu Ramos, o Jorge Lacerda e o Leoberto Leal, é ressaltar e valorizar o Estado catarinense.

            Por isso, agradeço a V. Exª, e fica aqui o meu registro.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/06/2008 - Página 22961