O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho a esta tribuna para registrar um fato ocorrido no meu Estado do Amazonas, precisamente em Manaus, que não podemos deixar de repudiar em virtude do que aconteceu com um dos mais novos jornais do Amazonas, o Diário do Amazonas.

            Na madrugada de sábado, quando os jornalistas ainda trabalhavam, o jornal Diário do Amazonas foi surpreendido com disparos na sua fachada, nos portões e nas paredes de vidro. Nós não podemos deixar de repudiar esse ato covarde, esse episódio abominável na tentativa de intimidar um veículo tão importante para a comunicação; é um jornal que faz um jornalismo corajoso. Principalmente nestes últimos dias, o jornal tem tratado de assuntos relevantes do ponto de vista do interesse público. E essas balas covardes, com certeza, não vão intimidar os seus proprietários e os seus funcionários, como o diretor de redação. E, nesse sentido, quero prestar minha solidariedade a todos os que trabalham no jornal, não só aos seus dirigentes, na pessoa do Sr. Francisco Cirilo Anunciação, que é o Vice-Presidente do jornal Diário do Amazonas, mas a todos os jornalistas, a todos os funcionários, que são quase 300, pelo jornalismo corajoso que faz a equipe do Diário; também na pessoa do Sérgio Bártholo.

            Vivemos um momento importante da democracia no nosso País, quando a imprensa joga, Sr. Presidente, um papel relevante no sentido de fazer um jornalismo investigativo, um jornalismo que possa informar, que possa levar informações relevantes. O Diário do Amazonas tem colunistas e articulistas, em nível nacional e estadual; são pessoas importantes que têm todo um trabalho com a pesquisa, com a cultura, com a Amazônia. Então eu não poderia deixar de estar ao lado de tantos que estão repudiando essa covardia, esse atentado ao jornal Diário do Amazonas.

            Quero dizer a esta Casa que estou fazendo um expediente e remetendo ao Ministro da Justiça, Tarso Genro, para que ele tome conhecimento e adote providências para impedir que o jornal seja vítima de uma segunda tentativa.

            Nós democratas, nós que estamos na luta política, não podemos compactuar com a violência contra o cidadão, contra a cidadã, mas fundamentalmente contra um veículo que presta informação ao público.

            Então, quero registrar nesta sessão o que aconteceu, na madrugada do dia 21, ao jornal Diário do Amazonas. E, mais uma vez, prestar a minha solidariedade a todos os profissionais que ali trabalham. Ao lado dos democratas, estamos vigilantes contra esse absurdo que aconteceu contra um jornal. Evidentemente, essa é uma prática antiga, e não podemos, nos dias atuais, calar frente a tamanha brutalidade.

            O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - V. Exª me concede um aparte?

            O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - Concedo o aparte ao Senador Valdir Raupp.

            O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Nobre Senador João Pedro, não conheço em profundidade esse episódio, até porque é recente.

            O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - Ocorreu na madrugada de sábado.

            O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - E também não conheço bem o jornal Diário do Amazonas. O que sei é que há uma guerra instalada do jornal com o Governo do Estado, e isso ficou bem claro na audiência pública que realizamos na CAE, semana passada, quando o Senador Arthur Virgílio estava lá com vários exemplares do jornal Diário do Amazonas. É este o nome do jornal?

            O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - Diário do Amazonas.

            O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Jornal que vem, de forma sistemática, agredindo, batendo, violentamente, no Governador do Estado do Amazonas. Estou aqui fazendo um raciocínio pela experiência de quase trinta anos de vida pública, com dois mandatos de Prefeito, de Governador, e agora de Senador; eu sei como essas coisas funcionam. Estou aqui imaginando se, de repente, algum adversário do Governador, não necessariamente do grupo do Senador Arthur Virgilio, possa ter mandado, possa ter cometido o fato para colocar a culpa no Governador. Isso é muito comum. Isso é muito comum acontecer nesse tipo de crime. Estou aqui fazendo um exercício dado o que conheço dessa história, dessa guerra instalada. No passado eram amigos; a informação que eu tenho é de que o dono do jornal Diário do Amazonas era muito amigo do Governador, depois vieram a se desentender, a brigar, e agora está numa bateria quase que diária de denúncias, críticas e ataques contra o Governo do Estado do Amazonas. Só para colocar um contraponto nessa questão, nesse episódio que ocorreu lá, digo a V. Exª que aconteceu no meu Estado um caso semelhante a este, de alguém mandar fazer para colocar a culpa no outro. E não necessariamente quem fez é quem está, na verdade, sendo acusado. Aliás, vou contar aqui algo muito pesado, que ganhou a mídia nacional e internacional. Quando eu disputava o Governo de Rondônia, em 1990, com um Senador da República chamado Olavo Pires, que tinha muitos inimigos, eu estava liderando as pesquisas com 14 pontos na frente; a pesquisa do Ibope, que havia sido veiculada no Jornal Nacional um dia antes, apresentava que eu estava com 45% e o Senador Olavo com 31%. No dia seguinte metralharam o Senador Olavo Pires, literalmente. Metralharam, mataram, assassinaram o Senador em frente a sua empresa em Porto Velho. O que aconteceu nos primeiros dias? A culpa caiu em mim. Disseram que o meu grupo, a minha equipe tinha assassinado o Senador Olavo Pires para ganhar a eleição. Mas por quê? Eu estava na frente, disparado! Se eu soubesse que iria acontecer aquilo, teria contratado vinte, trinta seguranças e colocado em volta dele para proteger a sua vida, porque eu ia ganhar a eleição! Depois que assassinaram o Senador, outro grupo substituiu a candidatura, e eu perdi a eleição, porque fui acusado de ter sido o mandante, eu e meu grupo, da morte do Senador Olavo. Então era esse o contraponto que eu queria colocar aqui diante dessa situação ocorrida no Amazonas. Muito obrigado.

            O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - Quero apenas fazer uma ponderação, Senador Valdir Raupp. Primeiro, quero deixar bem clara a minha solidariedade. Eu repudio essa violência. Foram mais de onze tiros nos portões e nas paredes. Nem imagino...

            V. Exª fez um desenho e há muita coincidência no sentido de que concluímos a semana com uma audiência pública. Foi um debate importante, porque esclareceu a proposta de empréstimo cuja relatoria é de V. Exª. Longe de mim estar com essa imaginação. Penso inclusive que o Governador deve apurar isso, mas não desenho essa hipótese de culpa do Governo.

            É que o jornal faz uma linha, não é? Há pouco tempo, o jornal elogiava o Governador Eduardo Braga, as ações do Governo... Eu não quero entrar nesse mérito até porque eu não tenho nenhum elemento para culpabilizar esse ou aquele. Estou condenando a violência. E nós temos condições de investigar e chegar ao culpado.

            Agora, o simbolismo... E é essa a minha vontade de fazer a denúncia. Não pode ser na calada da noite, na madrugada, um veículo de comunicação... E foi o Diário, mas pode ser qualquer veículo: televisão, rádio, jornal; um grande jornal, um médio jornal... É inaceitável! É inaceitável! É nesse sentido que eu faço o registro. E, longe de mim, antecipar, fazer pré-julgamento de quem quer que seja.

            O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Nesse particular, nobre Senador, também quero rebater veementemente essa atitude que é condenável. E a Justiça haverá de apurar, investigar e prender - colocar na cadeia - os verdadeiros culpados. Só estou fazendo este contraponto para que, lá na frente, não venham, de repente, a culpar pessoas inocentes de ter cometido esse crime. Acho que os verdadeiros culpados têm de parar na cadeia.

            O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - Com certeza.

            O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Eu me solidarizo também com o jornal. O jornal, mesmo fazendo críticas...

            O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - Mesmo que faça... Nós não vamos resolver na base do tiro, não é?

            O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Claro, não é por aí. A democracia é para ser exercida. E serem disputadas, se possível na Justiça, as contendas e as demandas; jamais na base do tiro, da bala, do crime. Isso aí é condenável; realmente, é condenável.

            O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - Muito obrigado.

            Sr. Presidente, fica meu repúdio a essa violência ao jornal O Diário do Amazonas.

            Quero chamar a atenção para o expediente que enviarei ao Ministro da Justiça não só para tomar conhecimento, mas para ajudar no processo de investigação contra o jornal O Diário do Amazonas.

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente

            Muito obrigado.