Discurso durante a 111ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre o encontro do presidente Lula com o príncipe do Japão, Naruhito, durante as comemorações dos cem anos da imigração japonesa no Brasil. Registro da visita ao Senado, dos jogadores campeões da Copa do Mundo de 1958.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. HOMENAGEM.:
  • Reflexão sobre o encontro do presidente Lula com o príncipe do Japão, Naruhito, durante as comemorações dos cem anos da imigração japonesa no Brasil. Registro da visita ao Senado, dos jogadores campeões da Copa do Mundo de 1958.
Publicação
Publicação no DSF de 26/06/2008 - Página 23159
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. HOMENAGEM.
Indexação
  • ANALISE, FOTOGRAFIA, DIVULGAÇÃO, JORNAL, A TRIBUNA, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DEMONSTRAÇÃO, SOLIDARIEDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PRINCIPE ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, VALORIZAÇÃO, DEMOCRACIA, PERIODO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, INICIO, EMIGRAÇÃO, BRASIL.
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, HOMENAGEM, MEMBROS, TIME, HISTORIA, FUTEBOL, GANHADOR, CAMPEONATO MUNDIAL, SUPERIORIDADE, IMPORTANCIA, ELOGIO, PARTICIPAÇÃO, PROGRAMA, GOVERNO, VALORIZAÇÃO, REPUTAÇÃO, BRASIL, AMBITO INTERNACIONAL.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Para comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, durante o fim de semana, fiquei algumas horas contemplando esta fotografia que saiu na maioria dos jornais brasileiros: o Presidente Lula e o Príncipe Naruhito se agachando para pegar o rádio de transmissão simultânea que havia caído no chão enquanto o Presidente Lula recebia o Príncipe no Palácio do Planalto.

Essa fotografia é muito simbólica para os dias que estamos vivendo hoje e merece de nós todos uma reflexão. Ela é um hino à democracia. Ela é a exaltação do regime democrático, pois mostra o Presidente e o Príncipe agachados, um tentando servir o outro, um querendo ajudar o outro. Enfim, resume a importância de um regime democrático.

De um lado, o Presidente que veio do Nordeste, montado no caminhão, órfão, perdendo o pai pelo caminho, passando fome, sofrendo, perdendo a mãe, virando líder sindical, sendo preso e trazendo todo esse acervo de sofrimento e, pelo voto, tornando-se Presidente de um País. Do outro, o representante da mais antiga dinastia da face da terra, a dinastia japonesa. A dinastia que, no século XIX, transformou o Japão, fez da guerra, que foi um desastre para o Japão, a conquista do segundo lugar na economia do mundo.

Os dois se encontram: o Príncipe Naruhito, da mais antiga dinastia, e o Presidente mais pobre do mundo, de origem mais humilde do mundo.

Isso é a exaltação ao regime democrático que nos faz ter apreço a esse regime que, segundo Churchill: “É o pior que tem, mas não tem outro melhor”.

Mas digo isso porque recebemos hoje - os Senadores Alvaro Dias, Neuto de Conto e Valdir Raupp estavam lá - os campeões mundiais de 1958. É interessante ressaltar que eles mudaram um pouco a história do Brasil. O Brasil era aquele... A capital era Buenos Aires e não sabiam onde era.

Eu me lembro bem de que uma vez fui visitar uns parentes na Itália - a família ficou 80 anos sem se ver - e eles não tinham noção... Um parente meu me perguntou: como é que vocês fazem para ir de uma cidade para outra? Eu falei: Vamos de ônibus, de trem, de carro. Mas os índios deixam? Quando eu disse a ele que eu nunca tinha visto um índio e que para ver um índio, tinha que andar cinco mil quilômetros até o Amazonas, ele não acreditou.

A Copa do Mundo de 1958 começou a revelar um outro Brasil, economicamente também. O principal produto do Brasil, na época, era o café. O café hoje é o décimo oitavo. Mas o Brasil era o País do café. Quando a Colômbia começou a tomar o mercado de café do Brasil, o que o Brasil fez? O IBC pegou Garrincha, pegou Pelé para fazerem propaganda do café brasileiro. Quer dizer, a Copa do Mundo de 1958 resultou em conquistas econômicas, além da reforma do futebol brasileiro, que depois acabou pentacampeão do mundo.

Mas estávamos observando hoje que essa revolução no esporte, como disse o Valdir Raupp - e S. Exª disse que alguns países fazem a revolução na bala, e que nós fazemos na bola; uma frase muito feliz, por sinal -, não foi feita pela elite brasileira, isso é interessante ressaltar. Não foram os filhos dos grandes generais, nem dos grandes intelectuais, nem dos grandes milionários brasileiros, nem os grandes intelectuais da esquerda, nem os grandes intelectuais da direita, - se bem que acho que no Brasil todo o mundo é de esquerda. Foram os filhos da empregada doméstica, como o Moacir, o filho do pequeno comerciante, o filho do pequeno lavrador do interior de São Paulo, o filho de outra empregada doméstica, o Zito, o filho do contador que não tinha nem curso superior, o filho do dentista prático, o filho do Seu Tonga. Foram esses garotos que fizeram essa revolução, os filhos do povo, não foram os filhos da elite, os filhos dos bacanas, os filhos dos generais. Foram os filhos do povo que fizeram essa revolução em 1958. Mudaram, como disse Nélson Rodrigues, a história do Brasil. E eles foram homenageados de uma maneira muito bonita hoje na Comissão de Educação, por iniciativa do Senador Sérgio Zambiasi e do Senador Cristovam Buarque.

Quero, então, registrar esta fotografia publicada no jornal A Tribuna, de Vitória, e no jornal Folha de S.Paulo, em que o Presidente operário está ajudando o filho do Imperador. Quero juntar as duas fotografias - desculpem-me, mas estou com um gripe devido à mudança de estação, com uma coriza que não consigo controlar -, que se associam bem com os cinqüenta anos da Copa do Mundo, e têm um simbolismo expresso: a mais antiga dinastia do mundo se encontra com o primeiro presidente operário do Brasil - e um quer ajudar o outro pegando o microfone que havia caído no chão. Essas fotografias simbolizam praticamente os cinqüenta anos, que se resumem também com essa belíssima fotografia que os jornais publicaram neste fim de semana. Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/06/2008 - Página 23159