O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos acompanhamos, no último final de semana, com apreensão, as notícias sobre o estado de saúde de Dona Ruth Cardoso. Infelizmente, o alívio que sentimos quando as primeiras notícias deram conta de que a ex-primeira-dama passava bem foi substituído, ontem, pela surpresa e pela dor por sua morte inesperada. Figura discreta, Dona Ruth Cardoso, longe dos holofotes, desenvolveu um vasto trabalho, de profundo significado para este País.

Quero aqui, Sr. Presidente, em nome da Bancada do PMDB nesta Casa, prestar uma singela homenagem à sua memória, resgatando duas dimensões de sua contribuição para o Brasil contemporâneo. A primeira, como não poderia deixar de ser, é a dimensão intelectual. Antropóloga com doutorado pela Universidade de São Paulo, pertence à brilhante geração que reúne nomes como os de seu marido, o ex-Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, Otávio Ianni, Paul Singer e José Arthur Gianotti, entre outros. Foi professora em diversas instituições de renome, como a própria Universidade de São Paulo, a Universidade de Paris e as Universidades de Columbia e Berkeley, nos Estados Unidos. Foi uma das fundadoras do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), em 1969, juntamente com uma série de intelectuais e professores expulsos de universidades públicas pelo regime militar. O Cebrap, até hoje, é um referencial de excelência no Brasil e no exterior, no que se refere às ciências humanas e sociais.

Sua obra acadêmica, embora não volumosa, se destaca pela inequívoca importância, reconhecida por seus pares. Dona Ruth Cardoso, de fato, com sua produção intelectual, foi pioneira em diversas ocasiões. Já na década de 50, por exemplo, dedicava um trabalho acadêmico à questão da imigração japonesa, até então vista como assunto de interesse menor. Hoje, depois de 100 anos, esse assunto é, reconhecidamente, importantíssimo para a cultura brasileira.

Foi, também, uma das primeiras cientistas sociais no Brasil a perceber a importância dos movimentos sociais que se organizavam não em torno de reivindicações políticas ou econômicas, mas em torno dos movimentos feministas ou dos que punham ênfase nos aspectos étnico-raciais ou de orientação sexual.

A outra dimensão do trabalho de Dona Ruth Cardoso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que me parece merecer nossa admiração é seu trabalho junto ao chamado terceiro setor.

Em artigo publicado pelo jornal Folha de S.Paulo, em 2004, ela dizia:

Ações de assistência humanitária são bem-vindas e até necessárias, assim como o crescimento econômico é precondição para melhorar as oportunidades de geração de emprego e renda aos mais pobres. Mas, sem preparação do capital humano, sem formação para a cidadania, sem a articulação da sociedade organizada, não se pode imaginar que haverá desenvolvimento social.

Foi com base nessa crença que, em 1995, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, Dona Ruth Cardoso cria o programa Comunidade Solidária, apostando na importância do fortalecimento das capacidades de pessoas e comunidades para atuar como agentes de seu autodesenvolvimento.

Sr. Presidente, à época, eu era Governador do meu Estado, Rondônia, e a minha esposa, Deputada Marinha Raupp, Deputada Federal, e fomos altamente beneficiados - o meu Estado, a comunidade do meu Estado - pelo programa Comunidade Solidária. Por meio dele, as ações do Governo Federal junto aos Municípios, às Prefeituras, não precisavam de contrapartida. Os Municípios que pertenciam ao programa Comunidade Solidária, Senador Demóstenes Torres, Srªs e Srs. Senadores, não precisavam de contrapartida, porque era um programa de geração de emprego e renda para as populações carentes.

O Sr. Demóstenes Torres (DEM - GO) - Permita-me V. Exª um aparte?

O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO) - Indago ao Sr. Presidente se posso dispor de mais uns três minutinhos, para que eu possa conceder o aparte ao Senador Demóstenes Torres.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Até quatro se V. Exª assim desejar. Até porque é um justo gesto de solidariedade à ex-primeira-dama, Dona Ruth Cardoso, esposa do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso infelizmente falecida.

O Sr. Demóstenes Torres (DEM - GO) - Senador Valdir Raupp, V. Exª, um dos principais Líderes do Governo, dá uma demonstração de grandeza nesta hora ao prestar essa homenagem à Drª Ruth Cardoso. Por quê? Porque ela, simplesmente, transformou-se em um paradigma de primeira-dama - sem querer diminuir qualquer outra primeira-dama. Na realidade, com a sua ação discreta, mas firme, intelectual, preparada, ela dava a impressão de que até poderia ser a própria Presidenta da República, porque tinha preparo, tinha visão, tinha história, tinha conhecimento - e não quero aqui diminuir a figura do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso. Hoje, ela é pranteada no Brasil, sim, como bem lembra V. Exª, por um dos seus programas, o Comunidade Solidária, ou por outros programas. Aliás, esta semana, como bem reconhece o Ipea, houve uma redução na desigualdade social no Brasil. A pirâmide social está bem mais estreita, ou seja, os pobres começam a participar muito mais. E isso se deu justamente a partir de 1999, porque, nos quatro anos anteriores, houve uma redução muito grande dessas diferenças mais o controle inflacionário. Então, ao partir, ela deixa saudade. Saudade por ter sido uma figura afável, por ter sido primeira-dama - e, como tal, por ter desempenhado papel social muito importante -, mas principalmente porque se firmou como uma personalidade do Brasil. Quero, aqui, render meus pêsames a toda a família, especialmente ao ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso. E quero também parabenizar V. Exª, que é Líder do Governo e um dos principais líderes da base governista, pela grandeza de estar prestando essa homenagem. Isso mostra muito o caráter de V. Exª. Parabéns a V. Exª. Acho que o Brasil todo se sente enlutado pelo passamento da nossa querida Ruth Cardoso.

O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO) - Obrigado a V. Exª pelo aparte.

Sr. Presidente, peço a incorporação do aparte do Senador Demóstenes Torres ao meu pronunciamento, por trazer importantes contribuições à minha fala.

Fui informado, agora há pouco, que o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, emitiu nota de elogio em homenagem à Srª Ruth Cardoso, reconhecendo-a como figura importante do nosso País.

Dona Ruth era amiga de muitas autoridades do PT. Lembro-me de que ela era amicíssima do Governador Jorge Viana, do Estado do Acre. E talvez tenha sido por intermédio dela que o Governo do PSDB tenha ajudado até mais o Estado do Acre, que tinha um Governador petista, do que outros Estados governados pelos partidos da base, dado o relacionamento que ela mantinha com algumas autoridades do Partido dos Trabalhadores.

Até sua morte, continuava atuando ativamente nos projetos que se desdobraram a partir do Comunidade Solidária - como bem salientou V. Exª, vários programas surgiram a partir do desdobramento do Comunidade Solidária -, entre os quais, a rede Comunitas, ajudando as comunidades mais carentes a encontrarem forças para superar suas próprias limitações, sempre fiel à idéia mestra de que desenvolvimento é, sobretudo, investimento em capital humano e social e de que combate à pobreza não se identifica com assistencialismo.

É fato bem conhecido que Dona Ruth Cardoso opôs-se ao projeto de seu marido, Fernando Henrique Cardoso, de entrar para a política. Mesmo mantendo-se à margem da política em sentido estrito, a contribuição que deu, por meio de sua reflexão sobre a sociedade brasileira e sua atuação no terceiro setor, permanecerá como uma obra de grande relevância pública.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em nome do meu Partido, o PMDB, quero aqui manifestar todo o nosso pesar pelo falecimento desta grande mulher, que foi Ruth Cardoso, e prestar nossa solidariedade a toda a família. Ao ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, aos filhos e netos, os nossos sinceros pêsames.

Para todos nós, homens e mulheres ligados à vida pública, permanecerá sempre o exemplo de lucidez e dedicação que nos deu Dona Ruth Cardoso, seja pensando sobre as contradições e peculiaridades de nossa sociedade, seja atuando junto com essa mesma sociedade para desenvolver todas as suas potencialidades e superar, por seus próprios meios e méritos, essas contradições.

Era essa, Sr. Presidente, a homenagem que, em nome da Bancada do PMDB, queria fazer.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Líder Valdir Raupp, se V. Exª permitir, e antes da conclusão do seu discurso, esta Presidência quer se somar, na íntegra, ao seu pronunciamento. Sei que essa é a visão de toda a Casa. Todos nós tínhamos um carinho especial pela ex-primeira-dama, Dona Ruth Cardoso, agora falecida.

Entendemos que o pronunciamento de solidariedade e de pesar feito por V. Exª é extensivo ao ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, por quem temos respeito, e à sua família.

Aceite que o seu pronunciamento seja também o pronunciamento da Casa.

O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO) - Com certeza, Sr. Presidente.

Agradeço a V. Exª pela generosidade com o tempo e aos oradores inscritos que, pacientemente, aguardam.

Muito obrigado, Sr. Presidente.