Discurso durante a 111ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem à memória de D.Ruth Vilaça Leite Cardoso, esposa do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Autor
Marconi Perillo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Marconi Ferreira Perillo Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória de D.Ruth Vilaça Leite Cardoso, esposa do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Publicação
Publicação no DSF de 26/06/2008 - Página 23819
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANTROPOLOGO, PROFESSOR UNIVERSITARIO, CONJUGE, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, ATUAÇÃO, POLITICA SOCIAL, CRIAÇÃO, PROGRAMA COMUNIDADE SOLIDARIA, PROMOÇÃO, TRABALHO, VOLUNTARIO, REDUÇÃO, DESIGUALDADE SOCIAL.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), ELOGIO, ANTROPOLOGO, PIONEIRO, PESQUISA, FEMINISMO, MOVIMENTAÇÃO, NATUREZA SOCIAL, GRUPO ETNICO, BRASIL, IMIGRAÇÃO.
  • COMENTARIO, PERSEGUIÇÃO, ANTROPOLOGO, PERIODO, DITADURA, REGIME MILITAR, CRITICA, ATUALIDADE, DIVULGAÇÃO, DADOS, GASTOS PESSOAIS, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CARTÃO DE CREDITO, GOVERNO FEDERAL.

            O SR. MARCONI PERILLO (PSDB - GO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, neste dia 25 de junho de 2008, o Brasil amanheceu entristecido, comovido pela morte de D. Ruth Vilaça Leite Cardoso, esposa de nosso ilustre e prezado Presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem apresentamos nossos votos de pesar e nossa esperança de que a imagem de sua companheira lhe sirva de esteio e consolo num momento tão doloroso para todos nós brasileiros.

           Quem nos deixa, Senhoras e Senhores Senadores, é uma dessas pessoas discretas, de poucas manifestações, porém firme no objetivo de construir um Brasil mais justo e igualitário, mais acolhedor e cidadão. A marca inegável dessa militante política das fileiras do PSDB foi a principal responsável pela tônica social que caracterizou os dois mandatos do governo Fernando Henrique.

           D. Ruth foi uma antropóloga no mais amplo e irrestrito sentido da palavra. No mundo acadêmico, notabilizou-se como doutora em antropologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Como docente e pesquisadora, atuou na USP, Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso/Unesco), Universidade do Chile (Santiago do Chile), Maison des Sciences de L'Homme (Paris), Universidade de Berkeley (Califórnia) e Universidade de Columbia (Nova Iorque).

           Era membro associado do Centro para Estudos Latino-Americanos da Universidade de Cambridge (Inglaterra) e membro da equipe de pesquisadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap - São Paulo). Publicou vários livros e trabalhos sobre imigração, movimentos sociais, juventude, meios de comunicação de massa, violência, cidadania e trabalho.

           Na vida prática, D. Ruth sempre esteve à frente da luta pela inclusão social, por um Brasil que desse a todos os brasileiros condições de devesenvolvimento pleno das potencialidades. Sabia da importância de se estender o progresso às mais distantes regiões, à cidade e ao campo, aos centros urbanos e à periferias.

           Durante os dois mandatos do Presidente Fernando Henrique Cardoso, D. Ruth fundou e presidiu o Comunidade Solidária, atual Comunitas, organização responsável por programas sociais e de voluntariado. Seguia a própria luz que sempre a guiou como vanguarda nos meios acadêmicos e políticos e lhe deu uma percepção para além de seu tempo e dos muros da academia.

           Não poderíamos deixar de notar, como observa artigo do Correio Braziliense, que a Dra. Ruth Cardoso foi uma das primeiras acadêmicas brasileiras a perceber a emergência dos movimentos sociais que abrigavam diversidades - como os feministas, étnico-raciais e de orientação sexual.

           Esse reconhecimento foi um marco na Antropologia e na Sociologia, porque, até a década de 70, os meios intelectuais ainda consideravam que esses movimentos não tinham status para merecer a atenção da universidade. A antropóloga Ruth Cardoso já os chamava de “novos movimentos sociais”, uma das inovações que lhe marcariam a brilhante carreira.

           É de autoria de Dra. Ruth Cardoso, também, os primeiros estudos sobre a imigração japonesa para São Paulo, que foram transformados em tese e decerto contribuíram para a compreensão desse processo, que completou cem anos em 2008.

           Lamentavelmente D. Ruth Cardoso sofreu as agruras do Golpe Militar de 64 e teve de se afastar do Brasil, juntamente como o marido, mas jamais se arredou das questões antropológicas e sociais, jamais deixou de pensar nosso País e propor soluções para a inquietante desigualdade e exclusão social.

           Sem dúvida, esse espírito se projetou na criação do projeto Comunidade Solidária, baldrame de todos os outros que se multiplicaram nos estados brasileiros e no atual governo. Por tudo que representou para o Brasil, D. Ruth nos deixa - talvez um pouco magoada - pelas recentes insinuações sobre o uso indevido dos cartões corporativos.

           Ela foi uma dessas pessoas - poucas, com certeza - que sempre estabeleceu uma barreira clara e inabalável entre o público e o privado. Franca nas críticas e nas observações, deixou como patrimônio para a gerações legado que pode ser resumido em uma única palavra: exemplo.

           Que todos nós possamos buscar nessa grandiosa brasileira, antropóloga e esposa a inspiração para estarmos em permanente sintonia com os problemas da sociedade. Que todos nós possamos buscar em D. Ruth Vilaça Leite Cardoso o norte para superarmos as desigualdades e a exclusão e fazermos o percurso rumo ao Brasil cidadão.

           D. Ruth, a senhora deixa profunda saudades em todos os brasileiros!

           Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/06/2008 - Página 23819