Discurso durante a 116ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à gestão do Governo do Pará. (como Líder)

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL. SAUDE.:
  • Críticas à gestão do Governo do Pará. (como Líder)
Aparteantes
Geraldo Mesquita Júnior, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 02/07/2008 - Página 24449
Assunto
Outros > ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL. SAUDE.
Indexação
  • CONFIRMAÇÃO, ACUSAÇÃO, INCOMPETENCIA, GOVERNADOR, ESTADO DO PARA (PA), REITERAÇÃO, DENUNCIA, IMPUNIDADE, IRREGULARIDADE, GOVERNO FEDERAL, NEGLIGENCIA, SEGURANÇA PUBLICA, DESCUMPRIMENTO, ACORDO, MELHORIA, SALARIO, PROFESSOR, LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, EPOCA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PERDA, CONFIANÇA, POPULAÇÃO.
  • PROTESTO, MORTE, RECEM NASCIDO, SANTA CASA DE MISERICORDIA, ESTADO DO PARA (PA), REPUDIO, IMPUNIDADE, FALTA, PROVIDENCIA, ANTERIORIDADE, DENUNCIA, ORADOR, PRECARIEDADE, SAUDE PUBLICA.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA. Pela Liderança da Minoria. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho a esta tribuna para falar também da minha preocupação com o meu Estado do Pará. Quero prosseguir, Sr. Presidente, o discurso que acabou de fazer o Senador Flexa Ribeiro.

            A preocupação do povo paraense é grande. Estivemos aqui, nesta tribuna, Senador Expedito Júnior, por várias vezes, chamando a atenção...

            Aliás, desde que cheguei aqui fui mal entendido, mal interpretado, fui aqui questionado por Senadores e Senadoras de que eu estava me precipitando, de que eu estava fazendo acusações indevidas, de que eu estava contra a Governadora do Estado do Pará. Fui altamente questionado sobre isso. E hoje está aí, evidente e claro, para quem quiser comprovar, que eu tinha as minhas razões. Aliás, até o Presidente Lula tinha razão. Quando lhe perguntaram o que esperava do Governo de Aécio Neves, disse que esperava um bom governo; do Serra, também; e, da Governadora do Estado do Pará, esse desastre anunciado, na revista ISTOÉ. E está aí o desastre anunciado pelo próprio Presidente da República.

            Quando falo isso, eu quero deixar muito claro ao povo do meu Estado, Senadoras e Senadores, que não posso me calar diante desses fatos, fatos lamentáveis, fatos de irresponsabilidade, fatos de quem não tem competência para administrar um Estado.

            Não estou contra a Governadora. Não desejo mal ao meu Estado. Não torço pelo pior. Não torço pelo desastre do meu Estado. Quero o bem do meu Estado. É por isso que estou aqui, nesta tribuna, falando, questionando, desde que cheguei aqui. Não quero o retrocesso do meu Estado. Quero o desenvolvimento do meu Estado.

            A Governadora começou contratando cabeleireiros, colocando cabeleireiros na sua lista de empregos no Estado do Pará. Aqui questionei esse assunto. Depois, houve o escândalo internacional, e vim aqui questionar o assunto: uma menina de 12 anos - e não 15 anos, como disse a reportagem da Época -, uma menina de 12 anos - 12 anos! - presa numa cadeia para servir presos. Doze anos, Brasil! Ainda não ouvi falar, absolutamente, que um deles, aqueles que têm responsabilidade no caso, não ouvi dizer que nenhum deles esteja detido ou sendo questionado para ser preso e pagar o pecado mortal cometido por eles. Deu pena ver uma garota queimada com cigarro, queimada, abusada, dentro de uma cela! E pior, Brasil! Enquanto isso acontecia, a nossa Governadora estava dançando carimbó aqui no Senado nacional. Dançando carimbó! Parecia que nada estava acontecendo no Estado do Pará.

            Os professores do Estado do Pará, Senador Expedito, que tanto trabalharam para a eleição da Governadora, e tanto foi prometido para esses professores: que seus salários iam dobrar, que eles iam ter o respeito da Governadora do Estado do Pará... Nada, absolutamente nada aconteceu. Ao contrário, nem atendiam mais os professores.

            E vou ler aqui o que diz a revista Época desta semana:

            Na última visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Belém, no fim de maio, um bordão acompanhou a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), em suas aparições ao lado da comitiva presidencial. Diziam os professores revoltados: “Ana Júlia Jatobá, a madrasta do Pará”, entoavam professores da rede pública estadual em greve.

            Olhem aonde chegou, olhem aonde chegou a revolta dos professores do Estado do Pará!

            Se não bastasse, a TV Globo mostra, em seu Jornal Nacional, o que diz a reportagem da revista Época. E não estou inventando. Eu gostaria que a TV Senado mostrasse o que diz a revista Época, Senador Expedito: “A campeã da impopularidade”. Isso é uma vergonha para o meu Estado. Isso me deixa deprimido! Isso me dá uma preocupação enorme pelo meu Estado e pela população do meu Estado.

            Se não bastasse tudo isso, Sr. Presidente, agora há um novo escândalo internacional. E parece que nada está acontecendo no Estado do Pará. Vinte e dois! Não são 12, não são 15, não são 20, não! São 22 bebês na Santa Casa de Misericórdia, em duas semanas, mortos.

            Ô Brasil, será que nada vai acontecer? Será que nenhuma providência vai ser tomada? Será que aqueles que devem ser responsabilizados não vão ser responsabilizados? Gêmeos! Até gêmeos, de uma vez só! Comprovando-se a irresponsabilidade, a incompetência!

            Eu vim aqui a esta tribuna, Presidente. Pode olhar nos Anais da Casa. Fiz dois pronunciamentos contundentes. Contundentes! Mostrei o desleixo em que se encontrava a Santa Casa de Misericórdia. Ninguém ligou! Ninguém ligou! E começaram a morrer. Eu disse aqui que a Santa Casa tinha virado casa de morcego, de rato, de barata. Estava infectada a Santa Casa de Misericórdia, que já foi um hospital de referência. É uma vergonha! É uma vergonha, Senador, o que está acontecendo em meu Estado! E parece que nada está acontecendo. Ninguém vê nenhuma providência ser tomada. Bati tanto aqui! Bati tanto aqui em hospitais que estavam fechados. Parece que acordei alguém, porque mandaram melhorar a situação do hospital de Santarém. Melhorar! Agora, pelo amor da Santa Filomena, minha Nossa Senhora de Nazaré, 22 bebês mortos, Senador? Vinte e duas famílias chorando, 22 famílias chorando em luto no meu Estado, Senador? Vinte e duas. Não se atura mais. As coisas estão chegando ao limite, Senador.

            É uma grande preocupação hoje a situação em que se encontra o Estado do Pará. A expectativa era muito grande. A expectativa era muito grande em relação à ex-Senadora Ana Júlia Carepa. Pensava-se que a Senadora ia, na realidade, fazer um grande governo, que a Senadora seria a mãe dos professores, a mãe dos militares, outra classe revoltada.

            A criminalidade tomou conta da capital, a criminalidade tomou conta do meu Estado. Não se pode andar na rua. A pergunta hoje em Belém, no Estado do Pará, é: quem ainda não foi assaltado nesse Estado? Quem ainda não foi roubado nesse Estado? Quem ainda não foi agredido nesse Estado? E nenhuma providência, absolutamente nenhuma providência foi tomada.

            Eu vejo o meu Estado na TV Globo, onde dizem que a pior Governadora do Estado do Pará... Abro a revista Época desta semana e vejo “a campeã da impopularidade”, a Governadora do meu Estado. Não posso ficar sossegado com isso! Não posso ficar parado com isso! Não posso deixar de falar isso! Foi para isso que o povo do meu Estado me colocou aqui! Foi para denunciar! Foi para cobrar! Foi para falar! E estou denunciando e cobrando, doa a quem doer.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Mário Couto.

            O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Senador Mário Couto.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - O paraense não agüenta mais. O paraense não resiste mais.

(Interrupção do som)

            O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Senador Mão Santa, peço a compreensão de V. Exª, pois o tempo do Senador Mário Couto está esgotado.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - O paraense não quer mais passar por isso. O paraense não quer mais ser notícia.

            O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Eu prorroguei várias vezes o tempo de V. Exª, peço a sua compreensão.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - O paraense não quer mais injustiça. Não se pode mais agüentar. Escândalos em cima de escândalos, morte em cima de morte. Se não bastasse, agora, 22 bebês. Vinte e dois bebês mortos! A cada dia os jornais noticiam: aumentou o número de bebês mortos, aumentou o número de bebês mortos, aumentou o número de bebês mortos.

            Pois não, Senador Mão Santa.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - O tempo de V. Exª está encerrado, mas o coração do Presidente...

            O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - O tempo foi prorrogado várias vezes.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - ...está agigantado. Eu só queria dizer a V. Exª para dar também umas batidas no Luiz Inácio, porque essa violência e essa falta de saúde é nacional. Olha que foi assaltado o Presidente do STF em Fortaleza. Quer dizer, essa barbárie é o resultado da falta de seriedade de um governo que não oferece o mínimo que o povo tem de exigir - segurança pública.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Já vou descer, Presidente.

            Eu fico a dizer a mim mesmo: se as pessoas não têm capacidade de administrar um Estado; se as pessoas sabem que a falta de capacidade vai molestar uma população, vai deixar um Estado em situação caótica, vai deixar a segurança do Estado sem freio, sem limite; vai deixar a saúde do Estado na situação em que está; vai deixar a educação de um Estado na situação em que está, eu não entendo, Senador Geraldo Mesquita...

(Interrupção do som.)

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - É igualzinho à situação dos aposentados. Também não entendo, Senador. Por que se tem raiva dos aposentados neste País, Senador? Por quê? É a mesma coisa da situação do meu Estado. Por que fazem isso com um Estado tão rico como o Pará, com tudo para deslanchar? Por que fazem isso? Por que maltratam a população paraense? Uma população carinhosa, ordeira. Uma população que tem Nossa Senhora de Nazaré como sua padroeira e protetora. É um Estado iluminado, manchado, agora, pela morte de 22 bebês.

            É muito triste, Senador. O senhor não está sentindo o que eu estou sentindo. Se o senhor fosse paraense, tivesse nascido no Estado do Pará, Senador Geraldo Mesquita, V. Exª estaria com o coração angustiado! V. Exª estaria incomodado.

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Senador, só se eu fosse louco.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - V. Exª estaria fazendo talvez até pior do que eu estou fazendo aqui: bradando por justiça, bradando por aquelas famílias que tiveram seus bebês perdidos.

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Senador, só se eu fosse insensível, porque o que aconteceu no Pará não foi morte de crianças; aquilo beira a assassinato de vinte e tantas crianças.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Concordo com V. Exª.

            Já vou descer, Presidente. Desço, dizendo ao povo do meu Estado que jamais calarei, que continuarei aqui a minha luta contra esses descasos que acontecem no Estado do Pará.

            Não sou contra isto, Senador; não sou contra; a revista diz que a Governadora mostra pose; eu não sou contra a sua estética; não sou contra, e até desconsidero o que a reportagem diz. Mas eu sou contra a inércia! Eu sou contra a incapacidade! Eu sou contra a falta de determinação! Eu sou contra o desleixo! Eu sou contra a irresponsabilidade que está acontecendo no meu Estado!

            Eu não posso me calar! Eu não devo me calar! Eu peço clemência! Eu peço ao Presidente Lula que possa chamar a Governadora e que dê uns conselhos a ela! Eu peço ao Presidente Lula que tenha pena do Estado do Pará! Chame a sua amiga, converse com ela e peça a ela que tenha um pouco mais de carinho e de responsabilidade com o povo do Estado do Pará.

            Muito obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/07/2008 - Página 24449