Discurso durante a 124ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Impacto da libertação da ex-Senadora Ingrid Betancourt.

Autor
Heráclito Fortes (DEM - Democratas/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Impacto da libertação da ex-Senadora Ingrid Betancourt.
Aparteantes
João Pedro.
Publicação
Publicação no DSF de 04/07/2008 - Página 25475
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, LIBERDADE, PARLAMENTAR ESTRANGEIRO, ELOGIO, CONDUTA, DEMONSTRAÇÃO, DETERMINAÇÃO, SAUDAÇÃO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, EXERCITO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA, EFICACIA, OPERAÇÃO, RESGATE, REFEM, GRUPO, GUERRILHA, AUSENCIA, VITIMA.
  • CRITICA, GOVERNO BRASILEIRO, INSUFICIENCIA, EMPENHO, COMBATE, GRUPO, GUERRILHA, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA, DEMORA, PRONUNCIAMENTO, LIBERDADE, PARLAMENTAR ESTRANGEIRO, COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, GOVERNO, BRASIL, ANTERIORIDADE, TENTATIVA, RESGATE, REFEM.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje, o mundo amanheceu aliviado e mais leve com a notícia esperada há tanto tempo: a libertação da ex-Senadora Ingrid Betancourt. Tivemos imagens emocionantes da franco-colombiana sendo resgatada pelo Exército colombiano, como também, hoje, da chegada de seus filhos a Bogotá.

Meu caro Senador João Pedro, o Governo brasileiro, infelizmente, podia ter sido mais firme nessa questão. Senador José Agripino, a demora entre uma manifestação de solidariedade e uma posição sobre o episódio envolvendo a libertação da Senadora Ingrid Betancourt demorou mais de quatro horas, e, mesmo assim, não foi nada firme como o caso merecia.

Temos que ter uma posição bem mais clara e mais definida com relação ao terrorismo, à violência, a esse expediente que felizmente o Brasil dele está livre, pelo menos por ora. Com a soltura de quinze prisioneiros, estamos dando início, quem sabe, a uma possibilidade concreta de se pôr fim às ações praticadas pelas Farc no campo do terror na Colômbia.

Senador José Nery, penso até que as Farc podem continuar existindo, mas fazendo do seu campo de luta o debate, a defesa de suas convicções. Em um regime democrático, tudo bem, não é possível a manutenção da guerrilha como instrumento.

O que vimos ontem, principalmente por parte dos franceses e colombianos, foi um gesto de alívio, de “até que enfim” e, acima de tudo, de recomeço.

Meu caro Presidente Garibaldi, o impressionante em tudo isso foi a fortaleza que a Srª Ingrid demonstrou.

Eu, sinceramente, esperava ver uma mulher cambaleante, com dificuldade de locomoção e totalmente estraçalhada pelos momentos que passou ao longo desses seis anos. Mas vi, muito pelo contrário, uma mulher forte. E a impressão que me deixou, e que a manteve durante todo aquele tempo, foi que se sustentou na fé.

Chamou-me muito a atenção o fato de que, em todas as afirmações que fazia, ela sempre invocava o nome de Deus e, acima de tudo, sua fé. Parece-me que, nas horas de solidão, que devem ser terríveis , aquela solidão que você não sabe quanto tempo dura, se ela não tivesse um equilíbrio psicológico muito forte e não tivesse ao seu lado um sentimento de fé, talvez não estivesse ali ontem para contar agora ao mundo o que viveu nesses anos todos.

Eu me congratulo com o Governo da Colômbia, principalmente com o Exército Nacional da Colômbia, pela maneira da operação. É evidente que ainda precisamos saber detalhes, porque foi uma operação espetacular, sem vítimas, em que, milagrosamente, todos saíram sem ferimentos, todos saíram ilesos.

Espero que, agora, a ex-Senadora Ingrid, depois de um bom descanso, de uma avaliação médica e, acima de tudo, da convivência de alguns dias com a família, volte à Colômbia com a mesma coragem de sempre para cumprir seu papel, se assim o desejar, muito embora reconheça que ela tem o direito, se quiser, de se recolher e, já que tem dupla nacionalidade, de optar até por residir na França. Depois do que passou, ela está completamente livre para decidir seu destino, embora torça, embora espere que, com a experiência adquirida ao longo desse tempo, ela não só mostre à Colômbia e ao mundo o que passou, as lições que aprendeu, mas, acima de tudo, que violência gera violência, e que não é, de maneira nenhuma, com práticas como essa que iremos construir a paz mundial, tão desejada por todos.

Senador João Pedro, com o maior prazer escuto V. Exª.

O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senador Heráclito Fortes, meu caro amigo, ainda ontem, V. Exª, salvo engano, foi o primeiro a registrar aqui no Senado a libertação da Senadora Ingrid. Em seguida, parece que o Senador Arthur Virgílio. E eu participei das manifestações, até porque já havia assinado pelo menos uns três requerimentos no Senado no sentido da busca da paz na Colômbia.

Precisamos fazer todo um movimento para construir esse ambiente na Colômbia. Mas gostaria de fazer uma reflexão sobre alguns elementos que V. Exª aborda. Em primeiro lugar, contraditar V. Exª acerca da postura do Governo brasileiro, que penso que foi firme, emitiu uma nota, manifestou-se na hora. O Ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, imediatamente concedeu entrevista coletiva reafirmando, primeiro, a respeito do processo interno da Colômbia, mas levantando a importância da busca pela paz naquele país, que tem reflexo em toda América Latina. A Colômbia é um país especial para nós, porque faz fronteira com o Brasil. Por sinal, faz fronteira com o meu Estado, o Amazonas. Portanto, gostaria de contraditar V. Exª, com muita tranqüilidade, em relação à firmeza do Governo nesse processo, na tarde de ontem. E destaco a entrevista coletiva do Ministro Celso Amorim. Em segundo lugar - chegamos a discutir aqui -, a mídia internacional dizia que a Senadora tinha poucos dias de vida. Chegou a ser colocado dessa forma. Houve muitos movimentos, muitos apelos por sua libertação em razão de sua saúde. E, ontem, ela mostrou uma postura física muito boa. Ainda bem que ela...

(Interrupção do som.)

O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Sr. Presidente, serei rápido. Pelo menos fisicamente - evidentemente, ninguém está bem, psicologicamente, depois de seis anos de prisão, nas condições em que a Senadora ficou, no meio da selva. Agora, não posso deixar de criticar o exagero e o despropósito da operação, pois os membros estavam vestidos com a camisa de Che Guevara. Não sei V. Exª, mas tenho uma grande admiração por Che Guevara, e os membros do Exército que estavam na operação vestiam a camisa de um símbolo que lutou pela libertação e que fez guerrilha - não podemos esconder isso. Lá estavam eles com a foto de Ernesto Che Guevara. Ernesto Che Guevara, com certeza, não merece essa deferência, principalmente numa operação conflituosa. Quero registrar isso por conta da história de Ernesto Che Guevara, esse argentino-cubano, esse homem do mundo que lutou por liberdades. Tinha um método, mas lutou por liberdades. E quero, mais uma vez, neste aparte, dizer que a Colômbia precisa dar passos importantes. As Farc precisam libertar, sim, todos os presos, mas o governo colombiano precisa também libertar todos os presos desse processo de 40 anos, que começou, inclusive, com o Partido Liberal, em 1964. As Farc começaram... É interessante esse processo lá, porque a guerrilha, na América Latina, começou com dissidências de partidos comunistas, com partidos comunistas, mas as Farc, em 1964, depois de uma eleição, começou com o Partido Liberal colombiano. É impressionante isso. Bem, ela tem toda uma história, e espero que a libertação da Senadora seja um processo que culmine, verdadeiramente, com a paz entre as correntes políticas; a paz, que, há muito, está ameaçada na Colômbia. Eu penso que, na sociedade brasileira, neste Parlamento e no mundo...

O SR. PRESIDENTE (José Nery. PSOL - PA) - Senador João Pedro, para concluir...

O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - ... a expectativa é neste sentido: de a Colômbia encontrar caminhos sólidos de uma convivência pacífica entre o seu povo. Muito obrigado.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Senador João Pedro, admiro muito a inteligência de V. Exª e, principalmente, a garra com que defende as suas convicções. Quero dizer a V. Exª que o fato de os libertadores de Ingrid estarem usando a camisa do Che Guevara não desmerece, de maneira nenhuma, a imagem do Sr. Che Guevara. Muito pelo contrário, eles estavam numa ação de selva, fazendo um resgate, salvando uma vida - quinze vidas, aliás. A não ser que seja preconceituosa pelo fato, Senador, de serem militares, fora isso, não vejo nenhum sentido negativo para a imagem de Che Guevara.

V. Exª há de convir que eles não podiam ir com camisa do exército colombiano, tampouco do Sr. Uribe. Vai ver que os militares que participaram daquela operação são fãs do Sr. Ernesto Che Guevara, um detalhe que não desmerece, de maneira nenhuma, o perfil, a biografia do guerrilheiro argentino-cubano. Mas, quando falo do Governo, refiro-me exatamente ao Presidente Lula, que imediatamente tinha de ter se manifestado. A manifestação do Presidente Lula ocorreu quatro horas depois. Aliás, o Senador Suplicy justificou hoje, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, que foi porque ele estava recebendo uma comitiva da China. Mas não durante tanto tempo... Aliás, poderia ter interrompido a audiência com os chineses, que o compreenderiam diante desse fato. Na outra tentativa, aquela de libertação...

O SR. PRESIDENTE (José Nery. PSOL - PA) - Senador Heráclito Fortes, peço a V. Exª que conclua em um minuto, para que possamos conceder a palavra a outro orador.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Confio na generosidade amazônica de V. Exª, até porque estamos com pouco fluxo de oradores na Casa.

Se V. Exª for generoso, gostaria de concluir. Até na condição de Presidente da Comissão de Relações Exteriores, acho importante que essa reflexão seja feita. 

Mas, Senador, na outra operação, mandou-se o Sr. Marco Aurélio Garcia num jato da Presidência da República lá para a selva, para aguardar o Sr. Chávez, e o resgate não aconteceu.

Digo isso, porque fiquei muito enciumado e entristecido, quando vi o Presidente da República francesa agradecer aos países que ajudaram no processo de libertação e esquecer o Brasil; a Srª Ingrid agradeceu e esqueceu o Brasil.

Não tivemos, nesse episódio, a importância e o papel que o Brasil deveria ter tido. Eu me refiro a esse fato - aliás, houve posições dúbias, uns dizendo uma coisa, outros dizendo outra coisa; houve, inclusive, aqui defesa do modelo de atuação das Farc. V. Exª, por sinal, mostrou-se um conhecedor da história das Farc. Cumprimento V. Exª. V. Exª é do Estado vizinho, tem obrigação, até por questão de defesa, de conhecer, mas o que conhecemos é exatamente o que está aí: o envolvimento de membros das Farc com o narcotráfico e por aí afora.

De forma que este momento é de paz, não é de conflito, e o objetivo do meu pronunciamento é enaltecer. Faço o registro porque a história tem de marcar determinadas posições, e espero, sinceramente, que se consiga banir essa prática do continente sul-americano.

Será de fundamental importância...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (José Nery. PSOL - PA) - Senador Heráclito Fortes...

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Concluindo...

O SR. PRESIDENTE (José Nery. PSOL - PA) - Concluindo.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Que se acabe, de uma vez por todas, com essa prática, e que passemos a ter lutas no campo das idéias, do debate, usando o instrumento que temos, que é o diálogo e a palavra.

Portanto, Sr. Presidente, peço que as congratulações que aqui proponho sejam encaminhadas às autoridades da Colômbia por meio da Embaixada da Colômbia no Brasil, na certeza de que a América do Sul vive hoje aliviada, como o mundo todo, que comemora a liberdade de uma senhora que não tinha, por hipótese nenhuma, de passar os momentos que passou por conta da incompreensão e da violência de grupos que atuam de maneira ilegal. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/07/2008 - Página 25475