Discurso durante a 126ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro do lançamento da revista "Nosso Caminho", dirigida pelo arquiteto Oscar Niemeyer e Vera Lúcia Niemeyer.

Autor
Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. EDUCAÇÃO.:
  • Registro do lançamento da revista "Nosso Caminho", dirigida pelo arquiteto Oscar Niemeyer e Vera Lúcia Niemeyer.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 08/07/2008 - Página 25873
Assunto
Outros > IMPRENSA. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, LANÇAMENTO, PERIODICO, DIRETOR, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO, DIVULGAÇÃO, ARQUITETURA, ARTES, CULTURA, AMPLIAÇÃO, CONHECIMENTO, JUVENTUDE.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), IMPORTANCIA, LANÇAMENTO, PERIODICO, INCLUSÃO, MATERIA, AUTORIA, ARQUITETO, ESCRITOR, ECONOMISTA, FISICO, ENGENHEIRO.
  • ELOGIO, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO, ARTISTA, IMPORTANCIA, CULTURA, POLITICA, BRASIL.
  • COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, PRESIDENCIA, FUNDAÇÃO, HOMENAGEM, ARQUITETO, ELOGIO, GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), RECUPERAÇÃO, ESPAÇO.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, DIVULGAÇÃO, DADOS, PESQUISA, INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, COMPROVAÇÃO, INFERIORIDADE, NUMERO, PESSOAS, COSTUMES, LEITURA, MUNICIPIOS, BRASIL.
  • NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, QUALIDADE, EDUCAÇÃO, INCENTIVO, LEITURA.

O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente nobre Senador Garibaldi Alves Filho, gostaria de aproveitar a ocasião para cumprimentá-lo pelo trabalho que está fazendo no Senado Federal, mormente no que diz respeito à votação dos vetos.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho fazer registro de lançamento da revista Nosso Caminho, cujos diretores são o arquiteto Oscar Niemeyer e Vera Lúcia G. Niemeyer, sua esposa. 

Trata-se de publicação de arquitetura, arte e cultura. Mas, frise-se, igualmente versa sobre questões políticas e sociais, pois diz a editoria da revista:

“Nossa idéia principal é discutir e pensar junto com os leitores o momento brasileiro. Levar aos jovens um pouco de conhecimento, fazê-los refletir melhor sobre seu país. Fugir dos que se limitam aos assuntos de sua profissão, despreparados para o mundo perverso e coberto de violência que os espera”.

Em seu primeiro número, a revista, editada sem patrocínio e à venda em bancas e livrarias, conforme menciona O Globo em matéria editada em maio passado, reúne artigos, entre outros, de Oscar Niemeyer:

“...seguindo a formação ampla que prega, escreve sobre a integração das artes plásticas com a arquitetura e sobre Luiz Carlos Prestes”. Conta também a revista com artigos do poeta e crítico de arte Ferreira Goulart, do economista José Luís Fiori, dos físicos Luiz Alberto Oliveira e Ubirajara Brito, do engenheiro José Carlos Sussekind, este, por sinal, responsável pelo cálculo estrutural das obras do arquiteto - e que define a nova revista como ‘uma travessura de bom tamanho’”.

“Grande parte desses nomes” - continuo me referindo à matéria publicada em O Globo - “convive intimamente com Niemeyer, inclusive nas reuniões de toda terça-feira, nas quais há seis anos são debatidos, no escritório do arquiteto, temas como cosmologia, filosofia, literatura, política, América Latina, Amazônia”. (...).

“A revista também está aberta a artigos e projetos internacionais. O escritor português José Saramago deve enviar um texto em breve. E um poema do também português, escritor e poeta Manuel Alegre, “Trova do vento”, será reproduzido no próximo número”.

  O poeta e escritor Manuel Alegre é hoje um dos intelectuais portugueses de maior sucesso fora de Portugal.

“Na primeira parte de “Nosso caminho”, Niemeyer apresenta, com imagens e textos explicativos, novos projetos dos arquitetos João Niemeyer, Jair Varela e João Filgueiras Lima (Lelé), além de três de seus projetos mais recentes, todos realizados após seu aniversário de cem anos, comemorado em dezembro do ano passado, e todos destinados para Brasília: o Sambódromo, que vai reunir samba e forró; a Praça do Povo, uma praça de concreto com vão de cem metros, com espaço para shows e festas populares, para quarenta mil pessoas; e a Torre da TV Digital, que terá um restaurante, uma sala de exposição, e é o grande entusiasmo atual do arquiteto”.

Niemeyer insiste ao longo do tempo que:

“A arquitetura tem de criar surpresa, como uma obra de arte. Não achamos que basta ser uma casa-habitat, como em determinado período foi pensado. A Arquitetura tem que ter beleza, para o mais pobre, que não pode dela participar, pelo menos parar e olhar espantado algo que comove”.

                        Niemeyer, sempre consciente da importância do social, se preocupa com a formação da juventude, ‘lutando para que o jovem brasileiro não fique limitado à sua profissão. É comum você encontrar um rapaz que entrou para a escola superior e nunca leu nada, leu só os assuntos da sua profissão

Sr. Presidente, é necessário, de fato, conforme preconiza Oscar Niemeyer, despertar no jovem o prazer de ler. A propósito do assunto, o escritor Plínio Fraga, em seu artigo na Folha de S.Paulo de 2 de julho corrente, diz:

No Brasil, o equivalente a 77 milhões de pessoas dizem não gostar de ler, segundo a pesquisa ‘Retratos da leitura no Brasil’, divulgada em maio pelo Instituto Pró-Livro. As principais razões para aqueles não habituados à leitura: lêem muito devagar (17%); não têm paciência para ler (11%); não compreendem o que lêem (7%); não têm concentração para ler (7%). O brasileiro que lê, em média, conclui 4,7 livros e compra 1,2 exemplar a cada ano”.

         Esse quadro, Sr. Presidente, precisa mudar; aliás, está mudando. É, contudo, necessário que se invista mais em educação.

         Sr. Presidente, estar com Oscar Niemeyer é sempre um aprendizado, pois o arquiteto é igualmente pensador social, escritor, poeta e humanista, apaixonado pelo Brasil e exemplo de cidadania.

A respeito do assunto gostaria de lembrar que a Fundação Oscar Niemeyer, que tenho a honra de presidir, e o Governo do Distrito Federal, por intermédio do Governador José Roberto Arruda e de seu Secretário de Cultura, Silvestre Gurgulino promoveram no Espaço Oscar Niemeyer o lançamento da revista Nosso Caminho.

A exposição contou com a presença de inúmeras pessoas de Brasília e dos Estados vizinhos.

Devo manifestar também, neste momento, o nosso reconhecimento ao Governador José Roberto Arruda pela presteza com que fez a recuperação do Espaço Oscar Niemeyer, para que lá nós possamos voltar a fazer lançamentos e também exposições.

         Sr. Presidente, assim como Santo Tomás de Aquino conseguiu provar que fé e razão convivem em perfeita harmonia, Oscar Niemeyer fez brotar da Arquitetura, mediante suas linhas curvas, com que estrutura e arte nasçam juntas, numa manifestação poética e numa invenção cotidiana.

No poema Educação pela Pedra, João Cabral define o arquiteto como aquele que “abre portas - por onde, jamais portas-contra”, inspirando-se em Le Corbusier, que considerou a poesia como “uma máquina de comover”.

A Fundação Oscar Niemeyer, criada há vinte anos, tem como sua Diretora Executiva Ana Lúcia Niemeyer Medeiros, está profundamente empenhada em dar seqüência às suas atividades e viabilizar talvez o mais empolgante projeto de Oscar Niemeyer,qual seja, o de implementar talvez a mais vertebrada de suas atividades, consubstanciada na Escola Oscar Niemeyer de Arquitetura e Humanidades.

Sabemos, Sr. Presidente, que o tempo, sobretudo no campo da cultura, não é um simples perpassar cronológico, pois conjuga transformação e permanência em sua fecunda interposição de passado, presente e futuro, em sua assimétrica sinfonia. Falar de Niemeyer é, pois, referir-se a alguém que, além de ser unanimidade nacional, é um cidadão do mundo. Certamente, é o brasileiro, no campo da cultura, da ciência e da arte, mais conhecido e respeitado no exterior.

Niemeyer é também um perito em humanidade. A ele se poderá aplicar o que disse Terêncio, o grande poeta latino: “Nada do que é humano lhe é estranho, porque mais do que um arquiteto, mais do que um escultor, mais do que um artista, mais do que um poeta, Niemeyer tem uma visão dilatada do mundo e de seus problemas, o que se reflete na sua preocupação com o social.

Ouço com prazer o nobre Senador Cristovam Buarque, que foi Governador de Brasília e representa no Senado o Distrito Federal.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Marco Maciel, primeiramente, os meus cumprimentos pelo discurso em torno da figura de Oscar Niemeyer. Se a gente for olhar qual brasileiro hoje estará vivo na História em mais 100 ou 200 anos e for escolher um, esse será Niemeyer. Provavelmente, a gente não terá outro na área da Filosofia, das ciências exatas e até o que a gente tem hoje na literatura, talvez, um Machado de Assis, um Guimarães Rosa, não muitos. O Jatene e o Pitanguy é possível que fiquem na área da Medicina. O Brasil é um País carente de grandes personalidades como Niemeyer. E a razão dessa carência tem a ver com a outra parte do seu discurso, que é a carência de leitura, que é a carência de formação. A atividade intelectual, mais do que qualquer outra, é uma atividade que só existe bem e forte se, ao redor, existir uma emulação. Ninguém consegue ser intelectual sozinho. Se alguém vira um náufrago, se um doutor vira um náufrago, sozinho, a intelectualidade desaparece, porque ele não vai ficar falando sozinho. Se ele tiver um outro companheiro que não saiba de literatura, não saiba das suas artes, das suas ciências, ele não vai conseguir manter o seu nível de atividade. É uma atividade necessariamente coletiva. E, lamentavelmente, no Brasil, a gente sabe que coletivamente nós somos muito pobres em educação, em leitura, como o senhor mesmo falou há pouco, ao dar esse índice de 4,5 livros, por ano, por brasileiro. Então, a importância do Niemeyer é fundamental entre todos nós, brasileiros, porque ele é o único que vai ficar para o futuro. Mas eu quero me apegar à outra parte. Enquanto não houver uma revolução radical na garantia da escola, da máxima qualidade para todos, neste País, enquanto a gente não tiver cem por cento terminando o ensino médio com qualidade, e cada um desses cem por cento podendo servir de incentivo aos outros nos debates, e de concorrência também, a gente não vai ter muitos Niemeyers, a gente não vai ter muitos Machados de Assis, não vamos ter um Prêmio Nobel, como a gente não tem até hoje. Certamente, a gente não tem nenhum Prêmio Nobel, até hoje, do ponto de vista das artes, do ponto de vista da literatura e da ciência, porque não tivemos uma massa crítica de pensadores que, junta, formasse uma espécie de sinergia, uns empurrando os outros para que cresçam no saber. Não tivemos isso. Além disso, ao não educarmos todos, muitos gênios se perderam, morrendo analfabetos. É a massa crítica de pensamento que faz com que este seja crítico, do ponto de vista da sua competência. O Niemeyer é um bom exemplo para ser trazido aqui como exceção na história do Brasil, quando, em outros países, eles têm dezenas, centenas, não na área da arquitetura, mas nas outras áreas do conhecimento. E juntar estas duas coisas, o seu discurso sobre o Niemeyer com a sua análise da nossa situação educacional, acho que foi extremamente positivo! Gostaria que muitos tivessem acesso ao seu discurso. Vamos fazer com que o Brasil tenha não só um, mas muitos Niemeyers. E a maneira é termos não só alguns, mas todos com acesso à educação da máxima qualidade.

O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE) - Muito obrigado, nobre Senador Cristovam Buarque. De fato, é algo óbvio - mas o óbvio precisa, às vezes, ser repetido - que, no Brasil, ainda se precisa investir muito em educação. E V. Exª é bem exemplo disso, porque não somente prega, mas fez isso quando Governador do Distrito Federal, e tem uma vida praticamente dedicada à causa da educação. Entendo que somente a educação emancipa e liberta o homem. Enquanto não tratarmos de assegurar a todos o acesso à educação, à escola, inclusive de boa qualidade, não vamos progredir significativamente.

Daí por que precisamos ter também a consciência de que, ao lado de melhor educação, de qualidade do ensino, devemos também criar condições para que o estudante brasileiro possa dispor de boas bibliotecas, com acesso aos livros. A partir daí, o estudante pode fazer a escolha que mais lhe apetece, que mais lhe agrada.

Não podemos ter o escritor sem o leitor. Para que haja o escritor, o cientista, o pesquisador, o poeta, o engenheiro, o arquiteto, o médico, é fundamental que ele tenha acesso ao livro, à biblioteca e seja estimulado ao gosto pela leitura. Não somente a leitura enquanto prazer, mas enquanto busca de aprofundar os seus conhecimentos em sua área específica.

O Brasil avançou em educação nos últimos anos - e aí não posso deixar de reconhecer o trabalho feito ao tempo do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso -, mas é necessário que continuemos a investir em educação e criar condições para que novas gerações tenham consciência de que é fundamental o hábito da leitura como forma de complementar a sua formação intelectual.

Encerro, então. Meus agradecimentos a V. Exª pelo aparte.

Sr. Presidente, aproveito o momento para, ao concluir o meu trabalho, deixar registrado quanto considerei importante a reabertura do Espaço Cultural Oscar Niemeyer, em Brasília.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/07/2008 - Página 25873