Discurso durante a 127ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre a reunião do G-8, os sete países mais industrializados e a Rússia, que se realiza no Japão, e as conseqüências sobre a crise alimentar no mundo.

Autor
João Pedro (PT - Partido dos Trabalhadores/AM)
Nome completo: João Pedro Gonçalves da Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. POLITICA AGRICOLA.:
  • Reflexão sobre a reunião do G-8, os sete países mais industrializados e a Rússia, que se realiza no Japão, e as conseqüências sobre a crise alimentar no mundo.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 09/07/2008 - Página 26006
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • COMENTARIO, REUNIÃO, GRUPO, PAIS INDUSTRIALIZADO, AMPLIAÇÃO, ABRANGENCIA, PARTICIPAÇÃO, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, REALIZAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, DEBATE, SITUAÇÃO, ALIMENTOS, RETORNO, INFLAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, PRODUTO ALIMENTAR BASICO.
  • CRITICA, RESTRIÇÃO, QUANTIDADE, PAIS, DEFINIÇÃO, NORMAS, INVESTIMENTO, PRODUÇÃO, FINANCIAMENTO, MERCADO INTERNACIONAL, INCAPACIDADE, ELABORAÇÃO, SOLUÇÃO, MELHORIA, MUNDO, REGISTRO, PROTESTO, ENTIDADE, SOCIEDADE CIVIL, REIVINDICAÇÃO, SOLIDARIEDADE, JUSTIÇA, PAIS INDUSTRIALIZADO.
  • JUSTIFICAÇÃO, RETORNO, INFLAÇÃO, ALIMENTOS, RESULTADO, CRISE, CAPITALISMO.
  • DEFESA, AUMENTO, EMPENHO, PAIS, PRIMEIRO MUNDO, GARANTIA, IGUALDADE, SOLIDARIEDADE, SOCIEDADE, CRITICA, POSIÇÃO, UNIÃO EUROPEIA, DISCRIMINAÇÃO, IMIGRANTE, NECESSIDADE, CONSCIENTIZAÇÃO, PROBLEMA, PAIS SUBDESENVOLVIDO, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, EXPECTATIVA, ORADOR, POSSIBILIDADE, CRIAÇÃO, POLITICA, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, IMPORTANCIA, PEQUENO PRODUTOR RURAL, ECONOMIA FAMILIAR, MUNDO.

            O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o mundo, a grande mídia, a sociedade civil organizada estão acompanhando o evento que está acontecendo no Japão, a reunião do G8, dos ditos países industrializados, dos mais ricos, que travam um debate no momento em que o mundo, em que os países discutem a segurança alimentar. Há, em todo o mundo, uma pressão inflacionária, principalmente nos produtos fundamentais para a alimentação do ser humano.

            O G8, então, está realizando, desde ontem, uma reunião no norte do Japão. Evidentemente, eu não poderia deixar de refletir sobre o significado dessa reunião do G8 e da sua ampliação, da qual participam o Brasil, a África do Sul, o México, a Índia e a China. Espero que, nessa reunião, esses países quebrem a arrogância e a forma autoritária e discriminatória como tratam os países pobres.

            Primeiro, já me incomoda - quero externar isto - o fato de que apenas oito países definem as regras dos investimentos, da produção e dos financiamentos. Fico muito incomodado com isso, porque esses países acabam ditando normas nas quais o ser humano pouco importa, nas quais o que importa são os índices econômicos. E aí está o mundo a clamar por solidariedade e justiça. Lá mesmo, no entorno do G8, dezenas de entidades que representam a sociedade civil fazem, de forma pacífica, protestos, no sentido de chamar a atenção dos dirigentes políticos dos Estados industrializados para a realidade do mundo.

            Essa crise e essa pressão inflacionária sobre os alimentos, na realidade, mostram a crise do sistema capitalista mundial. Essa é uma crise estruturante, em que a maioria se torna refém, vítima do modelo excludente, do modelo que privilegia os grandes grupos econômicos, do modelo capitalista, que privilegia o lucro.

            Esse é um debate que precisamos travar. Na realidade, os países ricos deveriam ter o olhar, que o capitalismo não tem, de construir uma sociedade mais humana, mais solidária. Na realidade, há alimentos, e parte da população mundial não tem recursos para ter acesso a eles.

            Durante esse fórum, que reúne sistematicamente os participantes sob este título pomposo de G8, que já os coloca a uma certa distância, a uma certa altura, separados dos outros países, das outras nações, espero que os gritos dos protestos possam sensibilizar principalmente o dirigente dos Estados Unidos e os dirigentes da União Européia.

            Agora mesmo, os Estados Unidos se mobilizam, para restaurar, restabelecer a Quarta Frota. São milhões de dólares para compor essa frota de quase 15 navios armados para visitar a América Latina.

            A postura da União Européia contra os imigrantes é tão dura, que beira a discriminação, o preconceito ao povo asiático, africano e latino-americano.

            Srªs e Srs Senadores, espero que o G8 e os cinco países, entre eles o nosso, representado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reúnam-se no norte do Japão e enxerguem o mundo formado por seres humanos, pela população da África, que tanto contribuiu com a Europa e com o norte das Américas. Espero que os senhores do G8 possam olhar o mundo, enxergando a América Latina, que tem um índice de pobreza muito elevado. Espero que o G8 ouça o grito da sociedade civil no sentido de enterrar as guerras e de olhar essa crise alimentar que envergonha a humanidade.

            Concedo um aparte ao Senador Cristovam Buarque.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador João Pedro, fico satisfeito com sua esperança de que os países do G8 olhem os problemas da humanidade inteira, mas acredito que isso, se for possível, dar-se-á por influência do chamado G5: Brasil, Índia, México, África do Sul e China. Os países ricos não conseguem ter a dimensão clara da miséria. A miséria virou o que um filósofo francês chamou de simulacro, aquilo que a gente vê pela televisão como se não existisse. É como se fossem apenas imagens que aparecem. O sofrimento com a tragédia, lamentavelmente, eles não vão ver. O que eles podem ter é medo da imigração desses pobres, subindo em direção ao norte, onde estão os países ricos. Por isso, acredito que, se for possível chegar a uma proposta universalista para cuidar da humanidade, essa proposta deverá vir dos países chamados emergentes. Entre esses, nenhum tem melhor condição, hoje, do que o Brasil, primeiro porque somos a verdadeira média do mundo. Se observarmos a renda per capita do Brasil e a do mundo, veremos que são as mesmas; se observarmos o nível de saúde, veremos que é o mesmo. A única coisa em que não somos a média é a educação, porque somos piores do que a média do mundo. Além disso, temos um governo que tem cara de novidade, por mais que a gente possa reclamar da velocidade com que avança na área de educação. Nosso Presidente vem das bases da sociedade, da parcela mais pobre. Nosso Ministro das Relações Exteriores, nesses seis anos, afirmou-se como liderança importante da diplomacia mundial. E aqui há projetos como o Bolsa-Escola, o Bolsa-Família, o projeto do etanol.

            O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - Há o Plano Safra, que acaba de ser lançado.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Há o Plano Safra e mesmo a idéia do Fome Zero. Há programas aqui. Vejo no Brasil a possibilidade, a chance de contaminar o G13 - vamos chamá-lo assim; inclusive, é o número do Partido dos Trabalhadores - com uma proposta nova para a humanidade. É pena que isso não vai ser feito em uma reunião! Para que isso seja feito, é preciso haver um trabalho diário, de longo prazo, cuidadoso, sistemático, que é o que espero que o Governo do Presidente Lula, com a colaboração do Ministro Celso Amorim, consiga fazer nessa reunião nos próximos anos. E que o próximo Governo continue levando isso adiante, até porque, se eu fosse escolher algo do Governo Lula que de fato é diferente do Governo anterior, não apenas maior, eu diria que é a política externa.

            O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - Agradeço a V. Exª o aparte.

            Sr. Presidente, serei rápido para contribuir com o tempo e com os outros oradores que estão inscritos para falar.

            O aparte do Senador Cristovam foi importante, porque insere o Brasil nesse contexto. Já tomamos algumas providências e, neste momento de crise, já estamos respirando, mas a pressão inflacionária é grande. O Brasil pode, sim, fazer isso, e o Presidente Lula tem feito esse debate. Espero que essa reunião no Japão possa ser o começo de uma mudança na construção de políticas que possam levar em consideração principalmente o pequeno produtor, essa base que compõe a economia familiar no mundo. Não podemos tratar de forma indiferente cem milhões de pessoas que precisam de alimentos, que estão abaixo da linha de pobreza.

            É evidente que o Brasil tomou providências importantes nesses últimos anos. Não tenho dúvida de que o papel do Presidente Lula, na reunião do G13, do G8, é importante, não só pelas providências que o Brasil adotou, mas pela liderança na América Latina que o Brasil tem.

            V. Exª levantou uma questão que gostaria de ressaltar. Eu, por exemplo, torço para que Barack Obama seja o Presidente dos Estados Unidos, mas, estudando o que ele já fez, vi que ele nunca vi visitou a América Latina. Vejam só isso! Daqui a pouco, ele se tornará Presidente dos Estados Unidos, sem ter visitado a América Latina! Isso é preocupante. Isto não é simples: o Presidente dos Estados Unidos não ter passado pela América Latina. Mas essa é a realidade. Mesmo com esse defeito, com essa debilidade, torço para que ele seja o futuro Presidente dos Estados Unidos.

            Os Estados Unidos precisam mudar essa postura arrogante de tratar a América Latina - principalmente a América Latina -, os países africanos e a Ásia. O mundo precisa mudar nesse sentido. Os índices econômicos não podem ser a prioridade do mundo. É preciso haver uma política de solidariedade, para fazer com que o ser humano viva com dignidade.

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/07/2008 - Página 26006