Discurso durante a 127ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Elogios à política externa do Governo do Presidente Lula.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Elogios à política externa do Governo do Presidente Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 09/07/2008 - Página 26017
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, REUNIÃO, GRUPO, PAIS INDUSTRIALIZADO, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, REALIZAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, EXPECTATIVA, ORADOR, BUSCA, SOLUÇÃO, CRISE, MEIO AMBIENTE, AUMENTO, PREÇO, PETROLEO, ALIMENTOS.
  • NECESSIDADE, EMPENHO, BRASIL, APRESENTAÇÃO, PROPOSTA, SOLUÇÃO, PROBLEMA, AMBITO INTERNACIONAL, RESULTADO, GLOBALIZAÇÃO, REDUÇÃO, RECURSOS NATURAIS, AUMENTO, DESIGUALDADE SOCIAL, AMEAÇA, SOBERANIA, PAIS, MUNDO, IMPORTANCIA, DESENVOLVIMENTO, PROGRAMA DE INCENTIVO, MELHORIA, EDUCAÇÃO, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO.
  • ELOGIO, POLITICA EXTERNA, GOVERNO FEDERAL, EXPECTATIVA, ORADOR, CONSOLIDAÇÃO, BRASIL, LIDERANÇA, AMBITO INTERNACIONAL.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, tenho a honra de falar sob a sua Presidência, o que muito me orgulha como membro do seu Partido, e o senhor como substituto da grande figura que nós tivemos, que foi Jefferson Péres.

            Mas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vim falar motivado pela reunião que hoje acontece no Japão do chamado Grupo dos Oito mais o Grupo dos Cinco. Trata-se dos oito mais ricos e de cinco emergentes com grande potencial, entre os quais Brasil, México, Índia e África do Sul. Treze países que estão reunidos neste momento, e daí esperamos que grandes decisões surjam, sobretudo no momento em que o mundo vive três problemas fundamentais: a crise ambiental que leva ao aquecimento, o aumento desmesurado do preço do petróleo e o aumento do preço dos alimentos.

            Mas não temos só esses problemas. Temos hoje uma lista de problemas internacionais com que qualquer governo brasileiro precisa preocupar-se e levar aos grandes fóruns internacionais. O primeiro desses, é claro, é o meio ambiente. Nenhum problema hoje é tão global, tão de todos, tão da humanidade inteira quanto o problema do meio ambiente. Corremos o risco de, dentro de algumas décadas, e não muitas, haver uma desarticulação completa do sistema social, econômico e urbano de toda a humanidade. O Brasil tem de estar presente nesse debate. O segundo é o problema dos recursos naturais. Caminhamos para um processo de esgotamento de diversos recursos naturais, com conseqüências dramáticas a toda a população do mundo. O petróleo é o mais visível, mas não é o único. Caminhamos também para um problema extremamente grave, Senador Mesquita, em que vamos ser globalizados, mas ainda somos nacionais.

            A combinação da soberania de cada país com a responsabilidade global que cada um deles tem é um desafio para os estadistas do mundo inteiro.

            Nunca tivemos essa dificuldade tão clara entre uma globalização irreversível e a necessidade de manter a riqueza específica de cada nação.

            Um outro problema é a vulnerabilidade de cada nação no mundo de hoje; a vulnerabilidade com doenças que se espalham de uma maneira rápida pela forma como tudo se conecta; a vulnerabilidade diante da disseminação de armas de destruição em massa cada vez mais difícil de serem controladas; a vulnerabilidade da própria democracia, que fica ameaçada em nome da segurança de cada um de nós, que faz com que, para evitar inimigos que possam trazer grandes tragédias pelo terrorismo ou qualquer outra forma, sejamos obrigados a abrir mão de alguns direitos civis que a gente vê sendo restringidos a cada dia.

            Há uma lista grande de grandes problemas que o mundo inteiro atravessa hoje e de que nós tínhamos que participar. Eu coloco só um mais: o problema do aumento crescente da desigualdade entre os seres humanos. Não mais a desigualdade entre os países, mas entre pessoas. Não falemos mais daquela idéia de que a Europa é rica e o Brasil é pobre, porque alguns dos maiores milionários do mundo estão no Brasil, estão no México, estão na Venezuela. A desigualdade é por pessoas, não é mais por países. E essa desigualdade cresce tanto, Senador Paulo Duque, que chegamos ao ponto de podermos prever uma ruptura do próprio sentimento de semelhança entre os seres humanos, de tão desiguais que eles serão.

            Portanto, Sr. Presidente, temos um conjunto de problemas a serem enfrentados no mundo inteiro. E o Brasil tem uma responsabilidade muito grande. Tem uma responsabilidade, em primeiro lugar, porque este é o País que é a média dos países do mundo. Nossa renda per capita, Senador Mão Santa, não sei se já se deu conta disso, é a mesma do mundo; a nossa esperança de vida é a mesma do mundo; as doenças que temos aqui são as que temos no mundo. O Brasil é um país que tem todos os recursos e todas as pobrezas, todas as dificuldades; o Brasil é a média do mundo. A única coisa em que o Brasil destoa da média é na educação. Nós estamos piores do que a média do mundo.

            Pois bem, somos um país média; portanto, temos algo a dizer para o mundo. Segundo, somos um país hoje que tem propostas. Não há muitos países com propostas para o mundo. Eu não cito apenas o etanol. Eu cito mesmo o problema da relação dos pobres com os ricos através de programas do tipo Bolsa-Família, se vier ligado à revolução na educação. Eu cito programas como os que tivemos aqui, da erradicação da poliomielite e de atendimento aos portadores de HIV. O Brasil, por ser média do mundo e por ter propostas, é um país que pode influir mais no futuro do mundo do que mesmo os países ricos, que têm poder, mas não têm os problemas.

            Outros países muito pobres têm os problemas, mas não têm os recursos. E nenhum deles tem as idéias. O Brasil é um país que, hoje, tem idéias que podem servir ao mundo inteiro.

            Além disso, somos um país independente dos diversos grupos. Nós somos um país que não faz parte do bloco da Europa, mas temos um pé na Europa; não fazemos parte da África, mas temos um pé na África. Nós somos hoje um país que não faz parte do bloco islâmico, mas tem uma relação forte com os países árabes. Nós somos um país, talvez de todos os países do mundo, que mais condições tem de se relacionar com todos os outros do mundo. Nós somos um país que não é excluído de nenhum outro país do mundo nas suas relações. Talvez sejamos o único desses, junto com alguns outros países latino-americanos, por exemplo. Mas esses poucos países latino-americanos são menores, não têm todos os recursos ou nem têm tantos problemas que nós temos, como alguns que já estão saindo dos problemas.

            Apesar das minhas críticas muitas vezes feitas, e que não vou parar de fazer quando vejo o Governo, do qual meu Partido faz parte, não levar adiante, com mais velocidade, a revolução da educação, creio que posso dizer aqui, sem nenhuma falsidade, que o Brasil hoje tem talvez, Senador Durval, a mais importante liderança em termos de política externa no mundo. Não é o Presidente Lula sozinho, nem é o Ministro Celso Amorim sozinho. Esses dois juntos, depois de seis anos, conseguiram formar uma equipe que hoje é, de fato, uma voz importante no mundo.

            Nunca neguei aqui minha relação com Presidente Fernando Henrique Cardoso, por quem tenho a maior admiração. Se eu for comparar o Governo Lula e o Governo Fernando Henrique Cardoso hoje, eu diria que a única grande diferença, além da personalidade de cada um, é a política externa.

            Quanto à política econômica, o Presidente Lula teve a seriedade e a competência de dar continuidade, com pequenas mudanças. Os programas sociais o Presidente Lula ampliou, embora, em alguns casos, tenha descuidado de certos aspectos, como no caso da Bolsa-Escola.

            Na política externa, o Presidente Fernando Henrique Cardoso fechou embaixadas, o Presidente Lula abre. O Presidente Fernando Henrique Cardoso orientou-se sempre - eu falei isso a ele na época - em direção a querer se aproximar dos grandes países, dando a entender que o Brasil seria um deles; o Presidente Lula preferiu caminhar para manter relações com todos, mas assumir uma posição de liderança dos pequenos. O Presidente Fernando Henrique Cardoso fez uma política do bloco dos países ricos; o Presidente Lula não caiu na ilusão de um “terceiro-mundismo” de países, mas tratou o globo inteiro como um planeta de terceiro mundo dentro do qual está o Brasil.

            Nós temos hoje, além...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Nós temos hoje, além dos recursos e das necessidades, além das idéias e propostas, além da independência que nos permite uma interconexão com todos os países, além de sermos a média do conjunto dos países, temos uma liderança que, ao longo de seis anos, consolidou um capital que lhe permite influir nos destinos do mundo. Mais do que os grandes países, que não têm interesses e nem têm relações tão boas com todos; mais do que os pequenos, que não têm recursos, que não têm uma massa crítica capaz de pensar; mais do que todos os outros, que não criaram, Senador João Durval, uma liderança, como hoje tem o que em alguns países alguns costumam chamar de Lula-Amorim, esse conjunto de um Ministro das Relações Exteriores e um Presidente da República, que juntos vêm, com persistência, com competência, ampliando a posição do Brasil no exterior.

            Por isso, quero dizer que, nessa reunião do G13 - do G8 com o G5 -, usando a competência, usando um país que é a média do mundo, usando as idéias que tem, é possível que o Brasil deixe uma ponta - porque aí não vai ser decidido nada, definitivamente - para o enfrentamento dos grandes problemas que a humanidade vai ter no futuro.

            O que fica faltando é que essa política deixe de ser de um governo e se transforme em uma política de Estado; deixe de ser decorrente do carisma de um dirigente e da competência de um ministro e se transforme numa política que dure vinte, trinta anos.

            O que fizemos na Constituinte, cujos 20 anos comemoramos agora; o que fizemos com o Plano Real, cujos 14 anos comemoramos, cheios de medo da inflação, que abre as bocas sobre o Brasil, precisamos fazer também com a política externa: fazer dela uma política de Estado, permanente, para aproveitar os recursos e os problemas, as necessidades e as idéias e transformar o Brasil em um País presente, de fato, no cenário internacional, na formulação de soluções para os grandes problemas que a humanidade vai enfrentar ao longo das próximas décadas. Que essa reunião no Japão traga o aceno de novos caminhos e a consolidação de uma liderança brasileira.

            Era isso, Sr. Presidente, que tinha para dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/07/2008 - Página 26017