Discurso durante a 111ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento ontem, da ex-Primeira Dama, Dra. Ruth Cardoso.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar pelo falecimento ontem, da ex-Primeira Dama, Dra. Ruth Cardoso.
Publicação
Publicação no DSF de 26/06/2008 - Página 23153
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANTROPOLOGO, PROFESSOR UNIVERSITARIO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CONJUGE, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMENTARIO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOVERNADOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), RECONHECIMENTO, IMPORTANCIA, AMBITO NACIONAL.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, CONJUGE, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, FUNDAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), DIREÇÃO, PROGRAMA COMUNIDADE SOLIDARIA, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO, MISERIA.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Para encaminhar. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, acompanhamos pela televisão, todos os canais e jornais, o sentimento de todo o Brasil pelo passamento de Dona Ruth Cardoso. Vimos que a atuação dela como intelectual, como professora admirada nas cátedras onde lecionou ultrapassa a dimensão dos partidos políticos.

            Hoje, vimos manifestações do próprio Presidente Lula, que está indo ao velório agora à tarde, e de governadores. O Governador Aécio Neves e o Presidente Lula expressaram muito bem a dimensão de Dona Ruth na vida política nacional. Aécio foi o primeiro a dizer que ela atuou e pairou acima dos partidos, num horizonte muito alto, dentro do cenário intelectual e político brasileiro. Ela se portava com discrição, mas sempre inspirando, dando aquele acento de intelectualidade e de profundidade às teses que o Presidente defendia, e que ela, por trás, alimentava, principalmente na área social.

            Lembro-me - e creio que V. Exª estava presente - quando começaram a fundar o PSDB, das reuniões realizadas no apartamento do Senador José Richa.

            Certa vez, fui convidado. E lá estava Dona Lila, estava o Covas, estava o Franco Montoro, estava Dona Ruth, e estávamos aguardando chegar Fernando Henrique, que na época era Senador. Lembro-me que ela, de maneira muito sutil, disse: “Olha, eu queria dizer a vocês que, se vocês estão querendo fundar um partido” - eram os primórdios da fundação - “pensem que vocês não podem se arriscar nessa aventura se não for para mudar, para fazer uma mudança, um corte, uma interrupção, nesse processo que nós vimos, de Arena e PMDB, para um avanço efetivamente na política brasileira, de modernidade”.

            Ela foi dizendo isso e, praticamente, na área social, construindo os alicerces do Comunidade Solidária, que veio parar também nos programas do Presidente Lula. Quer dizer, o PSDB, talvez inspirado muito por ela, mas também por líderes como V. Exª e tantos outros, deu esse corte na política. Os intelectuais da esquerda brasileira, de São Paulo, assumiram o Governo; depois, vieram os intelectuais da esquerda, na pessoa do Lula. Mas são partidos praticamente gêmeos, nascidos naquele caldeirão que se formou nos anos finais da revolução militar.

            Pois bem, todos nós hoje temos que reverenciar a memória dessa mulher, exaltar a importância que ela teve na vida pública do Brasil e dizer que ela representou esse marco de transformação da tradicional primeira-dama para um outro nível, como é Dona Marisa hoje, uma ativista dos assuntos sociais. Dona Ruth era um pouco mais recolhida, um pouco mais intelectual.

            Lembro-me que ela tinha um humor muito fino. Certo dia, Fernando Henrique contava sua história, quando foi prestar os exames para assumir a cátedra de Sociologia, acredito que na USP, não sei. Ele estava contando e disse: “Quando cheguei lá, encontrei a Ruth”. Ele quis dizer que a Ruth era mais antiga do que ele. E ela disse: “Eu quem, cara pálida?”. Que ela chegou depois dele. E aí eles ficaram numa disputa, de nível muito elevado e de um humor muito fino, de quem era mais jovem e quem não era mais jovem.

            Então, fica na minha memória a figura dessa maravilhosa pessoa, dessa belíssima criatura.

            Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/06/2008 - Página 23153