Discurso durante a 128ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Esclarecimentos sobre notícias divulgadas pela imprensa a respeito de relações de S.Exa. com o banqueiro Daniel Dantas.

Autor
Heráclito Fortes (DEM - Democratas/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL.:
  • Esclarecimentos sobre notícias divulgadas pela imprensa a respeito de relações de S.Exa. com o banqueiro Daniel Dantas.
Publicação
Publicação no DSF de 10/07/2008 - Página 26373
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL.
Indexação
  • DESMENTIDO, IMPRENSA, ACUSAÇÃO, ORADOR, AMIZADE, BANQUEIRO, REU, CRIME DO COLARINHO BRANCO, INEXATIDÃO, DIVULGAÇÃO, INFORMAÇÃO, ESCUTA TELEFONICA, ILEGALIDADE, NEGOCIAÇÃO, DEPOSITO BANCARIO, BANCO ESTRANGEIRO.
  • ESCLARECIMENTOS, AMIZADE, ORADOR, IRMÃ, BANQUEIRO, AUSENCIA, LIGAÇÃO, CRIME DO COLARINHO BRANCO, QUESTIONAMENTO, MOTIVO, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, ALEGAÇÕES, INTERESSE PARTICULAR, DIRETOR GERAL, ABUSO DE AUTORIDADE, PEDIDO, PRISÃO, JORNALISTA, OMISSÃO, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), FALTA, PUNIÇÃO, BANCO PARTICULAR, PROVOCAÇÃO, PREJUIZO, SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL.
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO, ORADOR, VITIMA, PERSEGUIÇÃO, NATUREZA POLITICA, ACUSAÇÃO, MANIPULAÇÃO, INFORMAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, OCORRENCIA, CORRUPÇÃO, CRITICA, ATUAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), QUESTIONAMENTO, INSUFICIENCIA, ATENÇÃO, SIMILARIDADE, CRIME DO COLARINHO BRANCO, BANCO ESTRANGEIRO.
  • ESCLARECIMENTOS, AUSENCIA, PROVA, ACUSAÇÃO, ORADOR, EMPENHO, PRESERVAÇÃO, INTEGRIDADE, CONDUTA.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero pedir a compreensão pois estou afônico, mas não poderia deixar de ocupar a tribuna para prestar alguns esclarecimentos.

            Ao longo de seis anos de Senado venho sendo sempre tachado, acusado, por setores bem conhecidos da Casa, de como sendo da bancada do Sr. Daniel Dantas, amigo do Sr. Daniel Dantas e até hoje, até este instante, resisti, resisti porque não gosto de lidar com inverdades. Na realidade, tenho uma amizade longa com o concunhado do Sr. Daniel Dantas e com sua irmã - amizade fraterna e antiga. Com o banqueiro não.

            Fui obrigado a conhecê-lo e relacionar-me com ele, exatamente quando do período da instalação das CPIs nesta Casa, quando se criou aqui uma bancada que, de um lado, defendia os interesses do Opportunity e, de outro lado, defendia os interesses do Citibank - vamos lembrar os fatos.

            Restringi-me a defender, em uma ocasião, a Srª Verônica Dantas, quando se montou um aparato para prendê-la num depoimento que seria dado aqui, por sinal no espaço da Câmara dos Deputados.

            Mas, hoje, a partir de hoje, já vi que não tem jeito, meu caro Senador Francisco Dornelles, vou assumir o título de amigo do Sr. Daniel Dantas, até porque existem os amigos do Waldomiro, existem os amigos dos aloprados, existem os amigos dos condenados. Acho que, dentre as opções, é a menos ruim.

            A operação deflagrada ontem já era anunciada há muito tempo. Era propósito firme do Dr. Paulo Lacerda, desde Diretor-Geral da Polícia Federal, magoado, ofendido, ferido, porque seu nome apareceu em uma lista de detentores de depósitos fora do País.

            Há cerca de 20 dias, Senador Tuma, conversei com Dr. Paulo Lacerda, em meu gabinete, sobre mais um ato de violência praticado pela Polícia Federal, novamente na tentativa de prender a Srª Dantas. A questão que está em jogo aqui, Senadora Roseana Sarney, não é a Polícia Federal em si, mas sua divisão. O que está provocando toda essa questão é que se tem hoje uma Polícia Federal dividida. E, salvo engano, o jornalista Bob Fernandes, hoje, com muita propriedade, trata da matéria.

            Algumas questões, é preciso que sejam entendidas. Se é golpe financeiro, se é prejuízo ao sistema financeiro, eu pergunto: por que até este exato momento o Banco Central não tomou nenhuma medida contra esse banco? Se o banco atenta contra o patrimônio, sobre o sistema financeiro, em um momento de tanta sensibilidade, por que a omissão do Banco Central?

            Outra coisa que é preciso examinar, Senador Ignácio Arruda, é a violência de que não se falou ainda. A tentativa de violência que se praticou e, graças ao juiz, o fato não foi consumado, contra uma jornalista que cumpria suas funções. Por que o pedido de prisão? Simplesmente porque colocou na matéria algo que não interessava à linha de apuração? Por que pedir a prisão da jornalista?

            É abuso de autoridade e, acima de tudo, mais uma tentativa que se pratica no País contra a imprensa. Por que pedir a prisão do Sr. Greenhalgh, ex-Deputado, agindo como advogado? Não sei qual o diálogo e qual o interesse do Sr. Greenhalgh na matéria, no assunto. Mas pedir a prisão? Baseado em quê? A quem interessava senão àqueles que estão em uma linha de defesa de interesses nesse processo? Aliás, o ex-Deputado Gushiken, interessado declaradamente nessa briga, uma vez disse na CPI que se tratava de uma briga societária. Hoje se vê que ele está coberto de razão. As gravações telefônicas são criminosas e tendenciosas porque, no momento em que você grava o diálogo, seleciona e só publica aquilo que interessa. Se há na gravação aliciamentos, por que proteger os outros? Por que só prenderam os ligados ao sistema do banco? Onde estão os outros que participaram?

            Assim o digo porque, de maneira leviana, passaram uma informação à imprensa - e fui procurado - de que havia uma fita na qual eu tratava com o Sr. Daniel Dantas a possibilidade ou não de o filho do Presidente da República, Lulinha, ter negócios ou sociedade com ele. Desafio, desafio qualquer ligação minha, até porque não tenho essa intimidade e essa liberdade - vou procurar ter a partir de hoje - com o Sr. Dantas para fazer tais perguntas. Por que a Polícia Federal deixou vazar e não foi apurar o fato? Se havia isso, fosse filho do Presidente da República ou de quem quer que seja, a obrigação e o dever, a serviço do País, era procurar apurar se havia fatos ou conexões, e não caluniar.

            Um jornalista da Folha de S.Paulo me procurou dizendo que numa fita há um indício de um depósito meu numa ilha, num paraíso fiscal, em conta do Opportunity. Tenho 25 anos de Congresso Nacional. Entrei aqui de cabeça erguida e quero sair do mesmo jeito que entrei. Qualquer um dos senhores que estão aqui, qualquer um, recebam da minha mão uma renúncia de mandato se aparecer uma conta, uma aplicação minha em qualquer paraíso fiscal. E aí vale o do Opportunity, de quem quer que seja. É mais uma molecagem, é mais uma calúnia!

            Eu venho sendo vítima de processo dessa natureza desde o momento em que, em solidariedade ao Senador Arthur Virgílio, começamos a cobrar na CPI do Banestado, salvo engano, os nomes dos detentores de CC-5.

            Naquela época, governo novo, eles começaram a dizer que todos os empresários e todos os brasileiros que tinham conta CC-5 eram corruptos, lavadores de dinheiro. O Senador Arthur Virgílio, então, recebeu a informação e cobrou da CPI. Diz que era o Presidente do Banco do Brasil e um Diretor do Banco Central que possuíam essas contas. E nós ficamos cobrando.

            A partir daí, vamos rememorar. Um dia, eu saí - e tenho testemunha - de Teresina para ir ao Ceará. De dentro do avião que estava, mudei de destino e fiz um telefonema para a Senadora Roseana Sarney, pedindo que me desse uma orientação para que eu fosse a Barreirinhas. Mudei o roteiro dentro do avião.

            Cheguei a Barreirinhas, véspera de uma eleição, e fui surpreendido pelo juiz e o promotor, que vieram fazer a revista na minha bagagem, sob a alegação de que eu estava levando dinheiro para a campanha do candidato a prefeito daquela cidade. Por coincidência, era um candidato a prefeito do PT.

            Os fatos até hoje não foram apurados. O envolvimento do juiz, inclusive, com grilagem de terra na região é um fato gritante, mas nunca ninguém apurou esses fatos.

            Vamos lá mais, Senador Garibaldi. Quando o caseiro apareceu aqui...

            (Interrupção do som.)

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Eu queria pedir a compreensão... Talvez por isso as pessoas não queiram me ouvir, talvez por isso algumas pessoas se ausentem do plenário.

            Quando o caseiro apareceu aqui, acusaram que quem tinha financiado o caseiro era o Senador Heráclito Fortes, pelo simples fato de eu ser piauiense como aquele caseiro, que eu era amigo do pai do caseiro, que eu tinha ligações estreitas com o caseiro. O Senador Tuma lembra-se bem disso.

            Tive minhas contas bancárias invadidas pelo Diretor do Banco do Brasil conhecido como Mexerica. Mas não fui eu sozinho. Naquela época, foram vários Senadores e Deputados. Aqui, nesta Casa, chegou-se a pedir que colocassem o circuito interno das câmeras a serviço de interesses, que eu não sei quais, para flagrar quem entrava e quem saía do gabinete do Senador Antero Paes de Barros.

            O Mexerica foi demitido, mas o aparelhamento do Banco do Brasil fez com que ele fosse substituído por um aloprado. E foi exatamente o aloprado que estourou com aquele escândalo do dinheiro no Hotel Íbis, na reta final da campanha eleitoral última.

            Tenho amigos. Não sou dos que se escondem dos amigos e não sou dos que negam as amizades. Tenho um amigo que conheci, meu caro Antonio Carlos, através do seu irmão Luiz Eduardo.

            Na campanha de 98, quando ele era candidato a Governador da Bahia, chamou um publicitário baiano, amigo dele, e pediu que ele tomasse conta de campanhas de quatro amigos no Brasil. E eu fui procurado pelo, então, publicitário da Propeg, chamado Guilherme Sodré, que passou a acompanhar a campanha. E daí fizemos uma amizade.

            Amizade, sim; negócios, jamais! Fraternidade, sim. Vou a São Paulo, muitas vezes, uso o seu automóvel, mas há uma diferença muito grande de um fato para outro. Estou dizendo isso porque esse sistema e esse esquema que está fazendo essa apuração deteriorada, essa apuração tendenciosa está querendo encontrar parcerias no Senado da República.

            Ontem, em uma operação autorizada, em um “busca e apreensão” na casa do Sr. Guilherme Sodré, encontraram no automóvel dele uma agenda como esta. E uma agenda triste, porque foi no dia em que fui para o enterro de dona Ruth Cardoso, até no avião do Presidente da República. Não no titular, no reserva, no “sucatinha”. O avião novo era para as autoridades, e nós fomos. Eu e o Senador Arthur Virgílio fomos lá.

            Interpelaram para saber o que significava aquilo, solto no porta-malas de um carro.

            Vejam, Srs. Senadores, a que ponto nós estamos chegando. É muito fácil. E, num caso como esse, temos que ver o que é concreto e o que é exagero. Eu acho um exagero desmedido a Polícia Federal querer admitir que o Sr. Naji Nahas tenha tido acesso aos segredos do FED, do banco federal americano. Minha gente, os Estados Unidos passam por uma grave crise de credibilidade. Se o Sr. Naji Nahas teve acesso privilegiado, imaginem as conseqüências disso e a irresponsabilidade com que se conduz esse fato.

            Acho muito fácil, Senador Tasso, apurar-se o que é de podre nisso tudo. É muito fácil. Ainda não consegui entender a linha que separa o relacionamento do Sr. Dantas com o Governo, porque ora são inimigos, ora são parceiros. Quem foi o motivador disso tudo? O Sr. Marcos Valério, que recebia dinheiro de quem? Do Sr. Dantas. A acusação não é essa? Para dar para quem? Para a base do Governo. Então, há alguma coisa errada aí que precisa ser apurada.

            Nós temos que acabar com essa hipocrisia e furar o tumor. O Sr. Tarso Genro, aprendiz de republicano, tem uma maneira muito fácil de resolver esses problemas. É sabido que corre na Itália um processo que já tem sua primeira parte liberada. É só uma solicitação. Por que o Sr. Tarso Genro não pede, não requisita o processo que corre na Itália, envolvendo as transações entre as companhias telefônicas? Por que não pede? Por que o Senado não exige, meus caros Senadores, meu caro Senador Pedro Simon, que ele seja requisitado? Vamos botar na cadeia os culpados. Vamos condená-los, mas não vamos fazer preparação dessa natureza apenas para amortecer escândalo.

            Existe outro processo, chamado “Processo de Manhattan”, que envolve a mesma questão. Por que o Ministro da Justiça, tão diligente em buscar o Cacciola, não vai lá e requisita esses processos? Senador Inácio Arruda, uma pergunta no ar: o Citibank fez um contrato draconiano, envolvendo os fundos de pensão, chamado put, em que receberia - e aí já contra o grupo do Sr. Dantas - 2 bilhões pelas ações que possuía nesse negócio; não me pergunte detalhes, porque eu não entendo; renunciou ao direito, perdeu o prazo, que era dezembro do ano passado, e, dois meses depois, negociou por US$500 milhões; quem está por trás disso? Por que o Citibank, que tem processos nebulosos em várias partes do mundo e está vivendo uma crise financeira, abre mão disso?

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Eu acho, meu caro Presidente Garibaldi, que essas coisas precisam de esclarecimento.

            É preciso que se acabe com essa acusação, com essa mania de quem está no banco dos réus de querer companhia. Eu não aceito! Ninguém me empareda! Eu não aceito insinuação, eu não aceito nada nesse sentido. Não fiz e não faço vida pública com fins inconfessáveis. Atravessei 25 anos nesta Casa convivendo com as melhores companhias do Congresso brasileiro e me afastando das ruins. E não é agora que vou aceitar isso, meu caro Presidente! Estou à disposição.

            O Senador Tuma é testemunha de que, quando tive um aumento do meu patrimônio, com uma doação familiar, fui a ele, Corregedor, e lhe entreguei um documento. Ele está aí. Nunca recebi carro importado de bicheiros e nunca defendi legalização do jogo com fins inconfessáveis!

            É preciso que as pessoas respeitem! É preciso que as insinuações tenham limite!

            Os heróis da CPI, manipulados pelos fundos de pensão, comandados pela Previ... Há documentos com isso, e eles vão sair no momento oportuno. É preciso evitar comemorações antecipadas.

            Nós tínhamos aqui a bancada da Previ comandada pela Senadora Ana Júlia, essa extraordinária Governadora do Estado do Pará. Pois bem. É preciso que os fatos sejam vistos com equilíbrio. É preciso que esses fatos não sejam manipulados na maneira de se tentar criar a barreira do bem contra o mal, um processo, aliás, muito usado num passado sem globalização e sem comunicação da qualidade e da rapidez que temos hoje.

            Esses, Sr. Presidente, eram os primeiros esclarecimentos que eu queria fazer. Vou responder a todos, rebater a todos. Não aceito insinuação, não aceito imputação. Agora, não me zangarei mais com a imprensa; quero pedir desculpas; eu me irritava toda vez. A partir de hoje, se quiserem dizer que eu sou amigo do Sr. Daniel Dantas, embora não seja, vou aceitar. Isso me fará menos mal do que se disserem que eu sou amigo do Waldomiro ou de quem carrega dólar na cueca ou dos aloprados, porque, pelo menos, é um gângster que não tem contra si nenhuma ação proposta pelo Banco Central. É estranho, repito e finalizo: que crime é esse contra as finanças brasileiras? E o Banco Central é omisso? Amanhã vai sair que o Meirelles também é da bancada do “orelhudo”.

            Vejam o mundo em que estamos vivendo. O Governo precisa acordar, Sr. Presidente. E, se quer apurar, mande buscar o processo na Itália, mande buscar o “Processo de Manhattan”. Apure! Divulgue! Fará bem ao País.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/07/2008 - Página 26373