Discurso durante a 130ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a visita oficial do Presidente Lula ao Vietnã.

Autor
Heráclito Fortes (DEM - Democratas/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Considerações sobre a visita oficial do Presidente Lula ao Vietnã.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 12/07/2008 - Página 27312
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • IMPORTANCIA, VISITA OFICIAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, VIETNÃ, CONHECIMENTO, EXPERIENCIA, ADMINISTRAÇÃO, AUSENCIA, MALVERSAÇÃO, FUNDOS PUBLICOS.
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, ORADOR, PRESIDENTE, COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES (CRE), VIAGEM, PAIS ESTRANGEIRO, VIETNÃ, POSSIBILIDADE, OBSERVAÇÃO, SUPERIORIDADE, PROGRESSO, CRESCIMENTO, COMPARAÇÃO, PAIS, CONTINENTE, ASIA, INTEGRIDADE, GOVERNANTE, EMPENHO, COMBATE, CORRUPÇÃO.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senador Cristovam Buarque, eu quero falar sobre um assunto que foi recorrente em nossa geração: Vietnã. Digo isso porque os jornais mostram hoje a visita que o Presidente Lula empreendeu àquele País, visita altamente oportuna.

Eu, como Presidente da Comissão de Relações Exteriores, tive oportunidade de visitar aquele país, três meses atrás, na companhia de colegas. Pudemos ver a recuperação, Senador Valter Pereira, que se processa em seu território unificado.

Saigon já não é mais Saigon: é Ho Chi Minh.

Saigon motivou a curiosidade do mundo inteiro, foi inspiração, inclusive, de músicas, várias músicas por sinal.

O Vietnã hoje passa por um boom de progresso fantástico. Talvez seja, dos países da Ásia, o que vem tendo um crescimento seguro - exclua-se a China, pois a China é um caso especial - e firme.

Estivemos apenas em Hanói, onde nos impressionou o otimismo do povo com relação ao futuro. Mas o que mais me impressionou, Sr. Presidente, é que eles não têm nenhuma amargura, nenhum rancor com relação ao passado recente.

Com a tarimba que a vida nos dá, eu, algumas vezes, provoquei-os com relação aos americanos, que eles chamam sempre de ianques, porque me chamava a atenção a quantidade de americanos que iam ao Vietnã como turistas no período em que eu estive lá - iam para lá com os mais diversos objetivos: uns para investir; outros, para encontrar locais onde parentes seus participaram de lutas, alguns, inclusive, com parentes mortos naquele território, naquele país; e, outros, para desfrutar da beleza do delta do rio Mekong.

Senador Cristovam Buarque, V. Exª, que é um homem viajado, já deve ter ido a Hanói; conhece Hanói. É uma cidade muito interessante: as motocicletas, em quantidade imensa, parecem um enxame de abelhas; quando o semáforo troca a luz vermelha pela verde, você vê aquelas motos quase que atropelando os automóveis, mas nada acontece, não acontecem acidentes, no final tudo dá certo. Eles tiveram um cuidado: moto é instrumento de locomoção e de serviço, e só permitem a entrada no país das que possuem até 120 cilindradas. Não se vê aquelas grandes motos, aqueles grandes motoqueiros.

Dentre os modelos de comunismo que conheço, achei o do Vietnã o mais justo, o mais lógico; poderia, inclusive, Senador Cristovam, servir de inspiração aos que proclamam e aos que defendem o mesmo sistema. Contudo, também deveria servir de exemplo o comportamento de Ho Chi Minh, porque acontece algo muito interessante: copia-se o que interessa.

Senador Cristovam, o que mais me impressionou - não sei se V. Exª teve a mesma impressão - foi a figura fantástica de Ho Chi Minh, como homem, como pessoa, como exemplo. Levava uma vida espartana.

Quando eles tomaram o país da França, havia - e ainda hoje existe - um palácio francês que era residência dos governantes. Ho Chi Minh o abandonou e foi morar a uns cinqüenta ou cem metros - corrija-me se eu estiver errado, Senador Cristovam -, num parque, numa casa de dois quartos com uma pequena biblioteca... Aliás, quero inverter: talvez o maior espaço da casa seja exatamente o da biblioteca. Havia lá três ou quatro cadeiras. Abandonando o palácio, foi morar lá. Depois, por questão de saúde, foi aconselhado a sair da casa. Construiu, trinta ou quarenta metros à frente, uma casa que lembra, e muito, as palafitas da Amazônia, também de uma modéstia terrível.

Ensinou aos vietnamitas a criação de peixe, porque julgava ser a única maneira de sobrevivência em período de guerra. E essa tese se mostrou correta, pois, quando da guerra com os Estados Unidos, houve desabastecimento, e eles sobreviviam basicamente das tilápias, criadas em grande quantidade em fundos de quintal, em lagos naturais ou artificiais. Fez daquele ensinamento uma bandeira e motivou que aquilo fosse feito em quantidade, maciçamente. E funcionou!

Passando por uma das dependências da casa, nós vemos uma garagem, onde se guarda dois carros modestos que foram usados por ele, sem nenhuma ostentação. Acho que os dois carros de origem russa, como mandavam a coerência e a lógica; carros sem nenhum aparato, sem nada. No entanto, ao percorrer Hanói, que foi a única cidade que conheci, pode-se ver a grandiosa marca do Sr. Ho Chi Minh na educação, na saúde. Ho Chi Minh é um grande exemplo.

Quero dizer aqui que ficarei muito feliz se o Presidente Lula, que inclusive tirou fotografias ao lado do atual Presidente Nguyen Minh Triet - desculpe-me pela pronúncia, Srª Taquigrafa! -, pedindo inclusive à Ministra Dilma que fizesse a mesma coisa, seguisse todos os exemplos que viu lá, principalmente o da austeridade administrativa, o do combate à corrupção. O Sr. Ho Chi Minh foi implacável com a corrupção enquanto esteve à frente do Vietnã. Esse é um exemplo que precisa ser seguido. O outro é a própria austeridade com o uso do dinheiro público. Lá, não há história de ninguém andar de Land Rover de origem desconhecida. Lá, na era Ho Chi Minh, não havia caixa dois.

Portanto, eu acho que esse reencontro saudosista do Presidente Lula... Quanto a se dizer que tinha adoração pelo Vietnã, eu não conheço, sinceramente, Senador Cristovam, ninguém da minha geração que não tivesse verdadeira adoração e, acima de tudo, curiosidade. E eu carreguei comigo a curiosidade esses anos todos e só a matei três meses atrás. V. Exª foi mais feliz do que; foi antes. Mas todos nós tínhamos curiosidade, porque ouvimos durante anos e anos aquela música sobre um americano contrariado que teve que se submeter às ordens do país e ir para uma guerra na qual ele não acreditava e que tinha seu fim marcado por uma horrível rajada de metralhadora. Aquilo marcou os tímpanos da nossa geração de maneira irreversível, irreversível, eu tenho certeza.

De forma que eu compreendo a emoção do Presidente Lula, a emoção da Ministra Dilma, mas acho que essa viagem devia trazer também lições, e é o que eu espero ver nos próximos dias.

Senador Cristovam, com o maior prazer, escuto V. Exª.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Heráclito, é raro termos temas como esse aqui, pelo que fico muito feliz, tanto pelo lado saudosista, de como a nossa geração acompanhou a guerra do Vietnã, como das lições que podemos tirar de lá. Chegamos a um ponto, pelo começo dos anos 70, que conhecíamos mais a geografia do Vietnã do que a do Brasil, porque a do Brasil estudávamos nos livros; a do Vietnã, nos jornais. Diariamente, sabíamos o que acontecia em cada cidade, que rio era bombardeado ou não era bombardeado. Isso deixou a sua marca. Não nego que uma das minhas viagens mais emocionantes foi ir ao Vietnã no ano 2000, uma viagem absolutamente privada. Eu cheguei ali, não tinha nenhum cargo público, mas tive a ajuda de um grande Embaixador, chamado Christiano Whitaker, que me deu uma verdadeira aula. Agora, o que mais me surpreendeu, do ponto de vista físico, foi que, antes das motos, eram bicicletas.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Sim; as bicicletas.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - O que me impressionava era o silêncio das milhares de bicicletas que passavam ao nosso lado na hora em que o sinal de trânsito abria. Era uma experiência quase mística. A outra, era a capacidade desse país de quebrar os preconceitos e conviver, aproveitando o que há de bom no capitalismo, sem abrir mão da austeridade que caracteriza o socialismo. Do ponto de vista da falta de preconceito, para mim, o maior foi uma conversa minha com o Embaixador americano no Vietnã. O Embaixador, indicado pelo Presidente Clinton , foi um soldado americano e havia sido preso no Vietnã durante anos. Voltou para os Estados Unidos depois da guerra, elegeu-se Deputado, foi nomeado Embaixador e estava lá. Em sua mesa, havia um tijolo. Eu perguntei-lhe por que havia um tijolo ali. Ele disse: “Os vietnamitas me deram esse tijolo de presente por que fazia parte da parede que me prendia”. Derrubaram a cadeia para fazer prédios e deram para ele um tijolo. Isso é o símbolo da convivência com o ex-inimigo. É uma convivência excelente com a eficiência que as regras capitalistas permitem, ao mesmo tempo tentando procurar manter uma justiça social, sobretudo por meio da educação. É uma viagem que merece ser feita outras vezes - e espero fazê-la. Finalmente, acho que V. Exª trouxe um assunto muito importante: o nosso Presidente trazer a lição de lá, para algumas coisas que a gente deveria fazer aqui. E uma delas é a idéia da austeridade do setor público. A austeridade dá credibilidade. Nada tira mais credibilidade que a ostentação. As pessoas podem até achar bonita a ostentação, como no carnaval, onde a ostentação é o objetivo. Mas é passageira, é uma obra de arte.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - O carnaval tem a quarta-feira de cinzas.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - E tem a quarta-feira de cinzas. Todo mundo já sabe que vai ter. Então, a ostentação é o que mais tira a credibilidade na vida pública de um governo. Creio que quanto menos luxo mais credibilidade. Quanto mais austeridade, mais credibilidade. E o Vietnã é uma boa lição. Acho que a gente deveria distribuir, ao máximo, em todo poder público brasileiro, começando pelo Executivo, as lições da austeridade que a gente vê no Vietnã, bem como em países radicalmente capitalista, como Cingapura, que hoje é o país mais rico da região. Lá, nenhum - nenhum - servidor pode usar carro público, salvo em serviço, para ir de um lugar para outro. O Presidente da República sai da casa dele, Senador João Durval, para o trabalho no carro dele. Somente quando chega lá é que usa o carro oficial. Até é um exagero de austeridade, porque termina atrapalhando o bom funcionamento devido ao trânsito etc. Essa austeridade não é uma característica somente de países socialistas; há países capitalistas austeros. Nem é uma característica de república; há monarquias austeras, como a da Suécia, por exemplo. O Brasil precisa aprender muito em matéria de austeridade. E V. Exª trouxe, oportunamente, este assunto que é a visita do Presidente ao Vietnã.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Agradeço a V. Exª. Acho sim um grande exemplo.

Tive oportunidade de visitar alguns países comunistas, socialistas. Sou pouco apologista da perfeição da definição ideológica. Acho que há uma confusão e uma linha tênue que às vezes funde, às vezes confunde. Tenho uma grande admiração pela China, que conheci lá atrás, mas os seus dirigentes sempre tiveram a vida faustosa. A União Soviética, a mesma coisa. E por aí afora. O Vietnã, não. No Vietnã há esse exemplo que achei marcante: o Palácio ao lado, aberto apenas para exposição, para quem quiser visitar, e o Presidente vivendo ali, dando esse exemplo.

Mas, Senador Cristovam Buarque, como estamos aqui contando com a generosidade do Senador João Durval e dentro desse clima de nostalgia que V. Exª citou, gostaria de narrar dois fatos muito interessantes dessa minha viagem. Primeiro, estávamos conversando, e o tema Embraer não pode sair da pauta de quem viaja, sendo Parlamentar, em qualquer lugar do mundo. Eles são encantados com o que a Embraer produz: os aviões Tucano, Legacy e 190. E o assunto, Senador João Durval, era exatamente a possibilidade de o Vietnã vir a adquirir alguns aviões, inclusive Legacy, para transporte de autoridades.

Pois bem; estávamos naquela discussão, em um jantar oferecido a toda a delegação pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembléia vietnamita - e, diga-se de passagem, V. Exª foi convidado para essa viagem que fizemos a cinco países e não foi porque tinha outros compromissos. Em determinado momento, começa-se a descrever as vantagens do Legacy, e um dos participantes, um Deputado que havia sido combatente na guerra do Vietnã, vira-se para mim e para o presidente da Assembléia e diz: “Esse é que é o avião ideal. Você imagina que esse Legacy brasileiro derrubou um Boeing dos ianques”. Referia-se àquele triste episódio do acidente envolvendo um Legacy que ia para os Estados Unidos e o avião da Gol, querendo mostrar que era um avião forte. Foi a única manifestação que ouvi, por assim dizer, de vingança ou de rancor, seja lá o que for, interprete como quiser. Mas foi a única lembrança de um embate simbolizado nesse azar que nós tivemos nesses dois acidentes.

O Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Segurança me contou um episódio muito no sentido do que V. Exª relatou. Ele, durante a guerra, era um bravo militar. Coube a ele a prisão do então militar americano McCain. A história do McCain foi mais ou menos a seguinte, Senador Cristovam - não sei se vou ser perfeito: o avião em que ele vinha, não sei se pilotando ou como passageiro, caiu, o McCain foi preso e ficou na prisão por um ou dois anos. Houve pressão internacional, e resolveram soltar o McCain. Isso quem me contou foi o agente da prisão. Então, o McCain, perante a Corte, disse que, em hipótese nenhuma, deixaria o Vietnã.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (João Durval. PDT - BA) - Vou conceder a V. Exª mais cinco minutos para que conclua o seu oportuno discurso.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Agradeço a V. Exª. Considero um latifúndio esse tempo. Muito obrigado.

Então, o McCain negou-se a deixar o Vietnã se não fosse solto juntamente com os outros companheiros presos no quartel. E vai ver que é esse mesmo a que V. Exª se referiu, porque é um símbolo realmente lá. E ele me disse: “Não sei quem vai ganhar a eleição dos Estados Unidos. Nós não nos metemos com isso. A única opinião nossa é que esse cidadão é um homem de bem por essas circunstâncias”.

Eu ouvi aquilo, todos ouvimos e guardamos. Quando eu fui aos Estados Unidos, agora, há pouco tempo, para acompanhar as eleições primárias, tivemos contato com todos os coordenadores de campanha e tivemos contato com dois candidatos à presidência, menos com o McCain porque ele não estava mais disputando as prévias. E, quando o coordenador de campanha começou a falar sobre o McCain no Vietnã, eu disse: “Agora, o senhor pare, porque eu vou contar a história”. E, realmente, ele confirmou. Em seguida, já saiu um livro publicado sobre o McCain em que ele conta isso.

Agora, é bem diferente você ouvir o McCain e os seus aliados contarem esses fatos e ouvir quem prendeu, com a grandeza de quem participou da operação. Esse foi um fato que me marcou muito: a grandeza dele, sem nenhum rancor, contando essa história. Depois, McCain já esteve no Vietnã, em uma visita em que foi recebido por todos.

Realmente, Senador Cristovam Buarque, eu acho que é a primeira anistia - sentimental, no caso - em que não há papel, em que não há documento, não há nada. Eles apenas chegaram à conclusão de que não construiriam um futuro atrelados às dores do passado. Eles só têm um episódio que marcou muito e de que não abrem mão: é lá a colônia onde ficam os que foram vitimados pela guerra química, pelo napalm. Essa é uma região em que eles, inclusive, se negam a levar visitantes. É uma dor que eles carregam, uma revolta até, mas é uma coisa contida, localizada. Acho, inclusive, que, para eles, aquilo é um marco.

Fiquei triste por não ter conseguido ir - não sei se o Senador Cristovam teve a oportunidade -, por exemplo, ao Delta do Rio Mekong. Não consegui ir a Ho Chi Minh, antiga Saigon, mas ainda espero, quem sabe na companhia de V. Exª, do nosso Presidente, ter oportunidade de ver, principalmente pelo desenvolvimento que o Vietnã vem alcançando, com empresas do mundo inteiro abrindo negócios ali, com oportunidade e, acima de tudo, com segurança jurídica, marcos regulatórios e tudo o mais.

Faço esse registro - e lhe confesso, Senador Cristovam, que é na melhor das intenções - na certeza de que a comitiva presidencial mostrará aos que não foram como é que se pode construir um país sem ostentação, sem malversação do dinheiro público. Os exemplos dados, baseados, inspirados no exemplo de Ho Chi Minh, ainda estão lá. Espero que a industrialização não desvirtue, que a industrialização não contamine aquele povo. Tenho certeza de que, se isso acontecer, aquele país será por muitos anos um exemplo de resistência, de bravura, de empenho na defesa do seu território, do seu patrimônio, mas, acima de tudo, da sua capacidade de recuperação.

É fantástico, e tenho certeza, Senador Cristovam, que o Presidente Lula fez uma viagem pedagógica. Espero que as lições tenham lhe marcado como marcou, para ele e para a nossa geração, tudo aquilo que nós vimos nas televisões e nos jornais durante o período da Guerra do Vietnã. Sem a tecnologia de hoje, sem a televisão em tempo real, parece até que a dor era mais profunda, porque as notícias custavam a chegar, e elas vinham sempre resumidas e impregnadas de dor.

Eu acho que a guerra do tempo real, por mais dura que seja, deixa-nos contaminados no tempo em que ocorre, bem diferente daquela. Nós ficávamos ao pé dos rádios, como aqueles famosos Transglobe da Philco, girando o dial, mudando de uma estação para outra, para ver quem sintonizava a BBC ou outra.

Lembro que aí foi o primeiro contato que eu tive com São Tomé e Príncipe. São Tomé tinha uma sede da BBC de Londres que retransmitia para países de língua portuguesa e de língua latina, ou melhor, de língua espanhola. Agora, quando estivemos em Cabo Verde, eu vi a quantidade imensa de torres, todas iluminadas, que ainda é dessa estrutura montada nesse período.

Portanto, Senador Cristovam Buarque, que a viagem seja pedagógica e que os aloprados saibam que, com Ho Chi Minh, não havia moleza com relação à corrupção.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/07/2008 - Página 27312