Discurso durante a 130ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Relações do Brasil com os países vizinhos.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Relações do Brasil com os países vizinhos.
Publicação
Publicação no DSF de 12/07/2008 - Página 27319
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • DEFESA, NECESSIDADE, GOVERNO BRASILEIRO, EXIGENCIA, RESPEITO, PAIS ESTRANGEIRO, ESCLARECIMENTOS, SITUAÇÃO, BRASIL, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, INTERESSE, PARCERIA, OPOSIÇÃO, ESPOLIAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PARAGUAI.
  • CRITICA, ENTREVISTA, DIRETOR, JORNAL, PAIS ESTRANGEIRO, PARAGUAI, DESVALORIZAÇÃO, BRASIL, ACUSAÇÃO, IMPERIALISMO, IMPEDIMENTO, DESENVOLVIMENTO, AMERICA LATINA.
  • COMENTARIO, POSSIBILIDADE, GOVERNO BRASILEIRO, ATENDIMENTO, REIVINDICAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, REFERENCIA, TRATADO, ITAIPU BINACIONAL (ITAIPU), AGRAVAÇÃO, ONUS, POPULAÇÃO, BRASIL, AUMENTO, PREÇO, ENERGIA ELETRICA.

           O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a experiência recente demonstra que, quando se trata do relacionamento com os países que nos são próximos, o Brasil deve manter sempre a carteira recheada, pronta para desembolsos, e evitar qualquer expectativa de que suas demonstrações de generosidade sejam capazes de angariar simpatias.

           Agora mesmo a Argentina oficializou a suspensão de exportações de trigo para nosso País. Em troca, devemos anunciar em breve o envio de mil megawatts diários de energia entre maio e agosto para abastecer aquele país, às voltas com uma séria crise de energia.

           Mas o trigo argentino é o menor de nossos problemas. Entre os que enfrentamos recentemente, sobressai a questão das pendências com o Paraguai, produto da eleição presidencial que conduziu Fernando Lugo ao poder naquele país.

           O novo mandatário elegeu-se graças a uma série de promessas que criaram expectativas irreais entre a população. Ele prometeu energia barata e até mesmo gratuita para os pobres, a construção de 40 mil casas anualmente, a distribuição de 30 mil lotes de terra entre pequenos agricultores e a criação de empregos para 100 mil famílias. De onde viria o dinheiro para concretizar tudo isso? Dos recursos que o Paraguai receberia a mais pela energia da Usina de Itaipu, com a renegociação do tratado assinado com o Brasil.

           Ou seja, antes mesmo de ser eleito, o candidato já dava como certa a aceitação, pelo Brasil, das condições que pretendia impor para transformar em realidade suas promessas de campanha. Em momento algum levou em conta o fato de que os dois países assinaram em 1973 um tratado com validade de 50 anos. Muito menos as circunstâncias em que Itaipu foi construída: o Paraguai pagou R$50 milhões, com financiamento generoso do Banco do Brasil, em uma obra que custou US$12 bilhões. Ou seja, entrou mesmo foi com a sua metade da água do Rio Paraná.

           É indiscutível que o Brasil deve ajudar seus vizinhos mais pobres. Ninguém coloca em dúvida o princípio da solidariedade continental. Mas devemos exigir, no mínimo, respeito a tratados, e também agir com firmeza quando são adotadas políticas de enfrentamento.

           No caso do Paraguai, não faltam interessados em jogar lenha na fogueira. Recentemente, o jornal Valor Econômico publicou uma entrevista com o diretor do principal jornal paraguaio, ABC Color, em que ele qualifica o Brasil de “potência imperialista”, diz que nosso País “não vai permitir nunca que o Paraguai se desenvolva”, e afirma também que as fronteiras do Brasil “são flexíveis”, vão “até onde um brasileiro puder chegar”.

           É sempre uma tentação, para dirigentes de qualquer país, responsabilizar fatores externos por seus problemas, em vez de assumir o ônus de enfrentá-los. A linguagem retórica do diretor do jornal não foge à regra: ele joga nas costas do Brasil a culpa por todas as dificuldades enfrentadas pelo Paraguai, por todas as suas mazelas. Já ocorreu algo semelhante quando da nacionalização das refinarias da Petrobras na Bolívia, época em que também fomos chamados de “nação imperialista”, entre outros qualificativos pouco agradáveis.

           Antes que nos tornemos, se é que já não somos, o saco de pancadas da América Latina, seria bom deixar claro que o Brasil é um País em desenvolvimento, não uma superpotência exploradora; que não tem nenhuma “dívida histórica” a saldar com seus vizinhos, e que está disposto a firmar parcerias, não a ser espoliado em nome de responsabilidades e culpas fictícias.

           No caso de Itaipu, se o Brasil atender às reivindicações descabidas do novo Governo, quem vai pagar a conta - e uma conta bastante salgada - será o consumidor brasileiro, que já arca com tarifas de energia elétrica altíssimas, 60 por cento mais altas, para citar só um exemplo, que as dos Estados Unidos.

           Era o que eu tinha a dizer.

           Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/07/2008 - Página 27319