Discurso durante a 136ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao Ministro da Justiça, Tarso Genro, por declarações proferidas à imprensa, que desrespeitam Lei da Anistia. (como Líder)

Autor
Francisco Dornelles (PP - Progressistas/RJ)
Nome completo: Francisco Oswaldo Neves Dornelles
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DEMOCRATICO.:
  • Críticas ao Ministro da Justiça, Tarso Genro, por declarações proferidas à imprensa, que desrespeitam Lei da Anistia. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 05/08/2008 - Página 28789
Assunto
Outros > ESTADO DEMOCRATICO.
Indexação
  • COMENTARIO, HISTORIA, CAMPANHA ELEITORAL, TANCREDO NEVES, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, POSSE, JOSE SARNEY, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPROMISSO, CONSOLIDAÇÃO, REDEMOCRATIZAÇÃO, DIRETRIZ, LEI DE ANISTIA, POLITICA, CONCILIAÇÃO.
  • CRITICA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), PROPOSTA, DESRESPEITO, LEI DE ANISTIA, COBRANÇA, ORADOR, MANIFESTAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. FRANCISCO DORNELLES (Bloco/PP - RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nos primeiros meses de 1984, o então Governador de Minas Gerais, Tancredo Neves, comunicou-me no Palácio da Liberdade que pretendia deixar o Governo de Minas para candidatar-se a Presidente da República. Como era eu, então, Secretário da Receita Federal e mantinha bom relacionamento, até por razões de natureza familiar, com o Presidente Figueiredo, Tancredo pediu-me que levasse ao Presidente essa notícia. Tancredo pediu que eu dissesse ao Presidente Figueiredo que ele faria uma campanha de alto nível, criticando políticas do governo das quais discordava, mas que respeitaria sempre a pessoa do Presidente da República e procuraria não reabrir feridas do passado que, na sua opinião, deveriam ser rapidamente cicatrizadas. “Uma vez eleito, o meu Governo vai olhar para frente, construir o futuro e não reviver o passado”. Essa foi a mensagem enviada por Tancredo ao Presidente Figueiredo.

Foi, na realidade, inspirado no Primeiro-Ministro Winston Churchill quando, analisando a força da Inglaterra, dizia que uma das marcas do país era não esquecer o passado, mas não fazer dele o futuro. Durante toda a campanha da Aliança Democrática, Tancredo enfatizou seu compromisso com a Lei da Anistia e com a política de conciliação do País.

O Governo do Presidente Sarney uniu todas as forças políticas do País. Assumindo o cargo em decorrência de uma das maiores tragédias da política nacional, o Presidente Sarney, com seu sentimento de grandeza, humildade e firmeza que o caracteriza, venceu obstáculos extremamente complexos e conseguiu consolidar o regime de abertura política, procurando não reviver as situações e os fatos que, em determinado período, dividiram o País e os brasileiros. O Governo do Presidente Sarney, repito, consolidou de forma definitiva o regime democrático no País.

Vejo, pois, com enorme espanto e surpresa, a proposta do ilustre Ministro Tarso Genro, por quem tenho o maior respeito e admiração, de reabrir feridas políticas que já estavam praticamente cicatrizadas no País. Qual é a razão específica que ele o Ministro procura ignorar a Lei da Anistia? O que ganha o País com essa decisão? O Ministro Nelson Jobim afirmou, com muita propriedade, que a Lei da Anistia já atendeu a seus objetivos, já realizou seus efeitos e não pode ser alterada. Mudar essa legislação, continuou o Ministro Nelson Jobim, seria a mesma coisa que revogar aquilo que já foi decidido anteriormente, que foi a pacificação nacional.

A anistia política ampla, geral e irrestrita foi uma reivindicação de todas as forças políticas do País, que estiveram no Poder e na Oposição, no período 1964-1982. A anistia abrange os dois lados. Fatos ocorridos nesse período não podem ser esquecidos, mas não devem também ser revividos. Devem servir de lição para que não venham ser repetidos, mas não devem ser objeto de vingança, por ser esta incompatível com o projeto de conciliação nacional, que foi um dos símbolos de todos aqueles que defenderam e consolidaram a Nova República.

Sr. Presidente, a proposta do ilustre Ministro Tarso Genro reabre feridas que estavam cicatrizadas. Nada constrói e só desunião pode criar. Seria importante que o Presidente da República deixasse bem claro que a proposta do ilustre Ministro Tarso Genro de ignorar a Lei da Anistia tem um caráter estritamente pessoal e não reflete a posição do Governo e do Presidente da República.

Sr. Presidente, era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/08/2008 - Página 28789