Discurso durante a 136ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentário sobre o fracasso das negociações da Rodada de Doha.

Autor
Casildo Maldaner (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Casildo João Maldaner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMERCIO EXTERIOR.:
  • Comentário sobre o fracasso das negociações da Rodada de Doha.
Publicação
Publicação no DSF de 05/08/2008 - Página 28793
Assunto
Outros > COMERCIO EXTERIOR.
Indexação
  • LEITURA, TRECHO, JORNAL, JORNAL DO SENADO, DISTRITO FEDERAL (DF), ANALISE, INSUCESSO, NEGOCIAÇÃO, COMERCIO EXTERIOR, CONTROVERSIA, UNIÃO EUROPEIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), AUSENCIA, REDUÇÃO, SUBSIDIOS, PRODUTO AGRICOLA, RETIRADA, IMPOSTOS, PRODUTO IMPORTADO, COBRANÇA, ABERTURA, EXPORTAÇÃO, PAIS, TERCEIRO MUNDO, CONTINUAÇÃO, DIFICULDADE, ANTERIORIDADE, DEBATE, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMERCIO (OMC).
  • DEFESA, CONTINUAÇÃO, NEGOCIAÇÃO, COMERCIO EXTERIOR, REFORÇO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), BUSCA, ENTENDIMENTO, GRUPO, AMERICA DO SUL, FACILITAÇÃO, ACESSO, OBJETIVO, APOIO, CONTRATO BILATERAL, ESPECIFICAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, INDIA, MELHORIA, POLITICA EXTERNA, BRASIL, APERFEIÇOAMENTO, REPRESENTAÇÃO, EMBAIXADA, ADIDO ECONOMICO, ATENDIMENTO, INTERESSE NACIONAL, APROVEITAMENTO, CAPACIDADE, EXPORTAÇÃO, ALIMENTOS.

O SR. CASILDO MALDANER (PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, nobres colegas, o assunto dos últimos dias, a Rodada Doha, pelo menos do que se informa, não obteve resultados satisfatórios. Vendeu-se uma imagem também, Sr. Presidente, de que houve um fracasso generalizado.

O Jornal do Senado de hoje, fazendo um resumo da semana, retrata muito bem, Sr. Presidente, este assunto. Às páginas 6 e 7 desse informativo, há vários detalhes sobre a Rodada Doha. E entre os diversos assuntos que aborda, leio apenas um parágrafo para termos uma noção do que tem sido o último encontro de Doha, em Genebra. Diz o parágrafo:

O nó mais visível das negociações é convencer a União Européia e os Estados Unidos a reduzirem os subsídios aos seus próprios produtos agrícolas e os impostos cobrados das mercadorias importadas. Em troca, essas nações ricas querem que os países emergentes promovam uma abertura maior dos seus mercados aos manufaturados europeus e americanos.

E aí segue a análise que vou dispensar de ler, mas que achei interessante, Sr. Presidente, nobres colegas. Em suma, o debate da Organização Mundial do Comércio sobre esses temas foi iniciado em 2001, em Dakar. De 2001, várias vezes, reuniram-se em Tóquio, na China, em Paris, em Cancun, no Uruguai e, por último, agora, em Genebra, mas em nenhum deles, desde 2001 até agora, chegou-se a um entendimento internacionalizado que o caminho chega por aí.

Apesar dos esforços, os países ricos oferecem os subsídios maiores e os países emergentes se unem e procuram forçar para que se retirem os subsídios para que os países emergentes levem os seus produtos primários e vendam em seus países ou para concorrer.

Mas, como os países da União Européia e os Estados Unidos têm poder para isso, exigem, mesmo que baixemos os subsídios, uma contrapartida para que os países emergentes, na entrada dos produtos manufaturados, industrializados, não haja o imposto de importação. Muitas vezes, os países emergentes não têm condições de competir.

A idéia que se vendeu é de que era um acontecimento, era o dia “D”. Como esse entendimento da Rodada Doha, em Genebra, não surtiu os efeitos esperados, a idéia foi de que estávamos perdidos. Ora, em nenhum dos momentos houve um entendimento em todos os encontros.

Então, entendo, Sr. Presidente, nobres colegas, que a casa não caiu, não é o final da história. É preciso que as tratativas continuem, sim. Precisamos fazer com que, como não houve o entendimento internacional, nós, do Mercosul, partamos em bloco; e o Mercosul é um. Hoje o Governo brasileiro encontra-se na Argentina, tratando de assuntos bilaterais, mas acho que o Mercosul, que é um bloco sul-americano, não deve parar de procurar se entender para que nós, sul-americanos, possamos enfrentar o mundo, ou outros blocos, ou tratativas em relação a nós para que possamos avançar.

Há uma questão fundamentada hoje, colocada em pauta, para que o Mercosul... é a disputa com a União Européia, com a comunidade européia, para buscarmos entendimentos que favoreçam a nós e a eles.

Eu entendo que, com o Estados Unidos, este momento não é o mais apropriado, haja vista as eleições que estão por acontecer naquele país. E, enquanto as eleições não acontecem, eu entendo que decisões maiores não vão ocorrer nos Estados Unidos neste momento. Então, sem prejuízo de continuarmos tratando das questões do 7º encontro - vai para a 8ª rodada -, vamos avançando, temos que ser persistentes, temos que continuar. Agora é o Mercosul. Temos que nos unir aqui na América do Sul para criarmos condições de trabalhar o mundo e disponibilizarmos os nossos produtos, aquilo que nós produzimos, quer no campo do agronegócio, quer no campo industrial, quer no campo daquilo que temos de conhecimento, enfim, no todo.

Eu acho que essa é a grande saída para que possamos nós, da América do Sul, inclusive quem sabe até termos um selo do produto que sai daqui, um selo considerado de produto sul-americano. Se ele é argentino, é uruguaio, é paraguaio ou é brasileiro, ele é um produto com selo sul-americano, e nós teremos condições maiores de negociar com a União Européia, teremos condições de avançar no mundo. E eu acho que, sem prejuízo de tratarmos em bloco, nós teremos que também trabalhar a questão bilateral. Sempre foi assim. Nunca foi diferente. Não regredimos, porque nunca avançamos no entendimento maior. E as condições ideológicas no mundo estão caindo, os blocos ideológicos não existem como antes. As tendências ideológicas estão ficando mais de lado e a questão de competitividade no sentido da sua produção, no sentido do bem-estar dos cidadãos de cada país, está avançando.

Então, temos que ter tratativas nesse sentido. Sem prejuízo de um entendimento maior, sem prejuízo de entendimento em blocos, precisamos buscar, na questão bilateral, entendimentos com a Índia, com a China, países que estão se destacando cada vez mais no mundo, com um crescimento de 8% a 10% ao ano, para, aí sim, Sr. Presidente, termos condições de nos sentarmos à mesa.

Acho que precisamos preparar melhor a nossa diplomacia brasileira, as nossas representações, as nossas embaixadas, precisamos preparar melhor até esses adidos comerciais no mundo para, de lá, juntos, tratarmos, de igual para igual, dessas questões fundamentais.

Agora, por exemplo, na União Européia, vamos ter encontros entre Brasil e Alemanha, que já acontecem há 26 anos, dos empresários e da parte política dos dois países. No ano passado, esse encontro foi em Santa Catarina; agora ele vai ocorrer em Colônia. Será dos dias 24 a 26 de agosto e terá como tema “Mobilidade, Segurança Energética e Proteção Climática - Desafios para Négocios e Políticas”.

É sobre esses assuntos que o Brasil vai conversar com eles agora na Europa. O empresários brasileiros, o Governo brasileiro, a representação nacional vai discutir a questão. Não podemos ficar de lado. Essa tendência, essa importância deve ser persistente. Não precisamos ficar com medo, sempre foi dessa forma. As embaixadas brasileiras, o Itamaraty, a diplomacia brasileira... Penso que precisamos, às vezes, deixar um pouco de sermos diplomatas para termos condições de, claro, cuidar da diplomacia, mas também de avançarmos no que interessa aos nossos cidadãos no campo da produtividade, da produção. E aí os adidos comerciais têm de ter essa importância extraordinária nessa finalidade.

Alguns dizem que da China vem uma produção que concorre com a nossa e causa desempregos. São, muitas vezes, produtos vendidos em “camelódromos” e que atrapalham a nossa produção. Ao invés de comprarmos e pagarmos em cash, de entregarmos, em troca disso, um filé mignon, uma carne de primeira, precisamos ter uma discussão bilateral entre nós e entender que, se vêm quinquilharias de lá, vamos, então, entregar algo que não seja nosso filé mignon. Pode ir nossa banana... 

Essa capacidade de articulação o Brasil precisa ter. Essa maturidade, esse avanço nas questões bilaterais, diante do respeito, diante do entendimento, pela grandiosidade do Brasil, precisamos ter, pelo crescimento, pela força que reunimos, pela dimensão, pela qualidade. Hoje, todos sabem que faltam alimentos, em todos os setores. A população mundial está aumentando e todos sabem que os Estados Unidos e a União Européia não têm mais a mesma produção de alimentos, principalmente no sentido horizontal. Eles não têm mais espaço para produzir, só para tentar buscar, ainda no sentido vertical, crescer mais. E eles sabem que nós temos condições para isso.

É neste sentido, Sr. Presidente e nobre colegas, que deixo aqui um apelo para que não desanimemos. Precisamos avançar nisso com muita coragem, com muito esforço, para competir. Então, se essa, que foi mais uma Rodada Doha, não refletiu, não resultou naquilo que esperávamos, não é o fim do mundo. Nunca tivemos um entendimento fechado. Começou em 2001 e foram acontecendo os encontros, mas não é por aí que vamos desanimar. Vamos, agora, enfrentar de igual para igual, com respeito, mas com altivez, com dignidade, e buscar o entendimento, a começar com o Mercosul, nosso bloco, e aí entre os blocos, e depois também no sentido bilateral.

As nossas representações, as nossas embaixadas têm de ser preparadas para competirmos em todos os sentidos. Sobre aquilo que produzirmos, sobre aquilo que precisamos, precisamos conversar com altivez, com responsabilidade. É por aí que vamos chegar a dias melhores.

Estas são algumas ponderações, Sr. Presidente e nobres colegas, diante do tema que está posto. Está aí a fome no mundo, está aí o biodiesel, que é o ponto fundamental, pois, com a exploração do petróleo, o biodiesel que é um ponto em que podemos avançar para disputarmos no mundo, e temos condições para isto.

Podemos nos reunir em torno desses argumentos - os novos Governos e Ministérios, a classe produtiva brasileira, em todos setores - e talvez seja preciso até especializar melhor nossas representações nesses países, no mundo inteiro, para podermos tratar melhor dessas questões fundamentais para nós brasileiros.

Eram estas as ponderações, Sr. Presidente e nobres colegas, que eu tinha a trazer e gostaria de expor para reflexão, para pensarmos, para meditarmos diante desses fatos que estão na pauta do dia em função do que ocorreu no encontro em Genebra nos últimos dias.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/08/2008 - Página 28793