Discurso durante a 137ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem aos inventores brasileiros. Comentário sobre a entrevista publicada na revista Época desta semana, com executiva americana, responsável pelas marcas Brastemp e Cônsul.

Autor
Geovani Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Geovani Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. PROPRIEDADE INDUSTRIAL.:
  • Homenagem aos inventores brasileiros. Comentário sobre a entrevista publicada na revista Época desta semana, com executiva americana, responsável pelas marcas Brastemp e Cônsul.
Publicação
Publicação no DSF de 06/08/2008 - Página 28957
Assunto
Outros > HOMENAGEM. PROPRIEDADE INDUSTRIAL.
Indexação
  • IMPORTANCIA, CRIATIVIDADE, BRASILEIROS, CRIAÇÃO, INVENÇÃO, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, PENSAMENTO, POPULAÇÃO, VALORIZAÇÃO, CAPACIDADE, DESCOBERTA, ALTERNATIVA, PROPRIEDADE INDUSTRIAL.
  • COMENTARIO, ENTREVISTA, PERIODICO, EPOCA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), EMPRESARIO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), RESPONSAVEL, MARCA, INDUSTRIA DE ELETRODOMESTICO, AMPLIAÇÃO, CAPACIDADE, CRIAÇÃO, RESULTADO, POSSIBILIDADE, LIBERDADE, REALIZAÇÃO, TRABALHO.
  • QUESTIONAMENTO, AUSENCIA, RECONHECIMENTO, PATENTE DE INVENÇÃO, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, PIONEIRO, AERONAVE, ABREUGRAFIA, APARELHO ELETRONICO, IDENTIFICAÇÃO, TELEFONE, AEROSTATO.

            O SR. GEOVANI BORGES (PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Desculpe-me, Sr. Presidente, mas já estou a postos aqui!

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nem só de samba, caipirinha, bossa-nova e da boa, divertida e “malandragem” vivem os inventores brasileiros. Ainda outro dia ocupei esta tribuna para ressaltar a extraordinária criatividade de nossos compatriotas.

            Lembrei, naquela oportunidade, que o Brasil sofre de um problema sério e nefasto de baixa auto-estima, e que isso precisa ser quebrado, modificado e transformado.

            Essa mudança de paradigma é fundamental para alavancar a nossa capacidade de gerir soluções e inovações. Aliás, a revista Época desta semana traz uma interessantíssima entrevista com uma executiva americana, responsável pelas marcas Brastemp e Cônsul, na qual Nancy (é o nome da norte-americana) garante que “a inovação está em cada um de nós”.

            Segundo ela, quando se tem liberdade para trabalhar em coisas estimulantes, a inovação vem até a gente todos os dias.

            O fato é que, da mente de nossos compatriotas, já surgiu um monte de inovações científicas, mas muitas delas nunca foram reconhecidas.

            O avião, em 1906, por exemplo. Até que essa invenção não é assim tão injustiçada... O 14 Bis, de Santos Dumont, já recebeu homenagens até na Europa. Mas, por causa dos americanos, a paternidade desse “bicho que avoa”, como diz o cabuçu do Amapá, ainda é polêmica. Segundo eles, os verdadeiros pais do invento seriam os irmãos Wright, que em 1903 voaram com o Flyer I. Os Wright fizeram seu avião voar com a ajuda de uma catapulta. Dumont foi o pioneiro da decolagem autônoma: o 14 Bis subiu impulsionado por um motor a combustão.

            Pelo sim, pelo não, sou daqueles que advogam que a paternidade do avião é nossa.

            E a abreugrafia? Esse nome complicado indica um método rápido e barato de tirar pequenas chapas radiográficas dos pulmões para facilitar o diagnóstico da tuberculose, doença mortal no início do século passado. O teste, que registra a imagem do tórax numa tela de raios X, espalhou-se pelo mundo. O inventor do exame, Manuel de Abreu, foi indicado ao Nobel em 1950 e teve o invento batizado em sua homenagem. Mas, pasmem V. Exªs, isto só ocorreu no Brasil: em outros países, em total desrespeito ao criador e à criatura, o exame recebeu outros nomes, como “schermografia” (Itália), “roentgenfotografia” (Alemanha) e “fotofluorografia” (França).

            E o Bina? Todo celular tem identificador de chamadas. A maior parte dos telefones convencionais, também. O que pouca gente sabe é que o mineiro Nélio Nicolai foi, em 1982, o inventor da tecnologia capaz de identificar o número telefônico de quem faz e recebe ligações. Ele tem a patente da criação, batizada de Bina - sigla que significa “B Identifica Número de A”.

            Mesmo assim, ainda vem travando uma briga na Justiça do Brasil e de vários países para provar que o invento é seu. Ele alega que as operadoras e fabricantes de telefones copiaram, na cara dura, a tecnologia que ele inventou, sem pagar nem um tostão de direitos autorais. É mole?

            Já o paraense Julio Cezar mandou bem unindo o balonismo e a aviação para conceber o primeiro dirigível de todos os tempos. Mas o problema é que ele demorou par dar asas à novidade...

            Em 1884, Julio Cezar recebeu a notícia de que os franceses Charles Renard e Arthur Krebs haviam plagiado o seu projeto e realizado pela primeira vez na história um vôo a bordo de um balão dirigível. E o pior: sem fazer qualquer referência às teorias do inventor brasileiro! Apesar de ter patenteado sua invenção em 1881, Julio Cezar nunca conseguiu voar com seu invento.

            E o balão de ar quente do Padre Bartolomeu de Gusmão? Corria o ano de 1709 e, na frente do rei de Portugal D. João VI, o padre Bartolomeu de Gusmão fez a primeira demonstração pública da Passarola, um engenho voador que levitou a quatro metros de altura. Conta a História que a idéia surgiu quando o religioso observou uma bolha de sabão e percebeu que o ar quente é mais leve que o ar exterior, e pode ser usado para fazer coisas vagar pelo ar. O balão foi visto com graça, mas ninguém botou fé na invenção.

            Resultado: em 1783, os franceses Étienne e Joseph Montgolfier criaram um balão nos mesmos moldes do Passarola e entraram para a história como pioneiros.

            Para finalizar, um invento prosaico, mas que facilitou a vida de inúmeras donas-de-casa em todo o mundo: o escorredor de arroz, criado em 1959, por uma brasileira. Uma bacia conjugada a uma peneira que a gente usa para lavar o arroz: a criação, 100% nacional, é da dona-de-casa Beatriz de Andrade, que vendeu os direitos do aparelho para um fabricante de brinquedos. O invento fez o maior sucesso na Feira de Utilidades Domésticas de 1962. Como Beatriz recebia entre 2,5% e 10% das vendas, foi uma mina de ouro na vida de Beatriz.

            Por fim, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria que esse meu pronunciamento tivesse o poder de reforçar a auto-estima individual e a criatividade coletiva. Queria que cada brasileiro e brasileira que nos assiste e nos ouve criasse novo ânimo, jamais desistisse e se dispusesse a se reinventar, a reescrever sua história e a recomeçar a vida, com todo o tempo e direito do mundo à felicidade e à paz. O Brasil já deu certo, Sr. Presidente.

            Era o que tinha a dizer e concluo meu pronunciamento dentro do tempo regimental.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/08/2008 - Página 28957