Discurso durante a 108ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre o Estado do Rio Grande do Sul e a expectativa do recebimento da mensagem enviada pelo Presidente sobre o pedido de empréstimo para a região.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIVIDA PUBLICA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre o Estado do Rio Grande do Sul e a expectativa do recebimento da mensagem enviada pelo Presidente sobre o pedido de empréstimo para a região.
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2008 - Página 22336
Assunto
Outros > DIVIDA PUBLICA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • EXPECTATIVA, RECEBIMENTO, MENSAGEM (MSG), CONCESSÃO, EMPRESTIMO EXTERNO, BANCO MUNDIAL, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), NECESSIDADE, APROVAÇÃO, ENTENDIMENTO.
  • ELOGIO, POPULAÇÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), BRASIL, PATRIOTISMO, AGRADECIMENTO, APOIO, SERGIO ZAMBIASI, SENADOR.
  • QUESTIONAMENTO, INVESTIMENTO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), EXPECTATIVA, ALTERAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, FORMA, TRATAMENTO, REGIÃO.
  • ELOGIO, GOVERNO FEDERAL, CONSTRUÇÃO, PORTO, EMPENHO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), BENEFICIO, REGIÃO, COMENTARIO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
  • IMPORTANCIA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ECONOMIA NACIONAL, DEFESA, ORADOR, BANCO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL S/A (BANRISUL).

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Nosso Presidente é o Senador Gim Argello, aqui de Brasília, que nos honra com a sua dedicação, que agradeço do fundo do coração.

            O Senador Gim, o Senador Heráclito e eu estamos aqui, em um momento que sinto que vai ser positivo, porque o que importa é o resultado final. Se o Presidente Lula enviar a esta Casa a mensagem do empréstimo e o Senador Gim Argello a ler e comunicar que o Presidente da Comissão de Orçamento e Finanças, Senador Mercadante, já designou relatora a Senadora do Mato Grosso, será um grande momento, altamente positivo e altamente concreto para todos nós.

            Acho que soma para o Presidente Lula. No fundo, no fundo, todos estamos na mesma causa. Se sairmos daqui hoje, desta sessão, com cada um fazendo a sua parte: o ilustre Diretor do Tesouro, Dr. Arno, nosso conterrâneo; o Procurador-Geral da Fazenda - ele não, a suplente - fazendo um esforço para desempenhar o seu papel; a ilustre Ministra Chefe da Casa Civil, nossa querida conterrânea Dilma, que, embora esteja numa reunião longe da Casa Civil, lá na Petrobras, manifesta, permanentemente, o seu interesse ao seu chefe de gabinete, Dr. Giles; este, recebendo a mensagem e, após a assinatura do Presidente, enviando-a ao Senado; o Presidente desta Casa, Senador Gim, fazendo a leitura e confirmando a relatora designada pelo Senador Mercadante; daremos uma demonstração de que a morosidade, a burocracia, os entraves, essa coisa toda, podem ser vencidos quando estamos unidos em torno de uma mesma causa.

            E a causa será positiva e nós teremos que agradecer, a começar pelo Presidente Lula, que é o chefe, é claro; a continuar pela Ministra Dilma, é claro; e pela Fazenda e Tesouro Federal, que houve uma boa vontade final e chegamos ao entendimento.

            Defendo muito a tese de que o entendimento é necessário. Tive um desgaste muito grande, nesta tribuna - muito grande -, quando se votou o tributo sobre cheque. Aquela confusão tremenda que havia aqui. Houve um determinado momento em que o Lula enviou uma mensagem comprometendo-se que toda a verba do tributo sobre cheque iria para a saúde - toda a verba. Ela só duraria esse ano. E, nesse ano, ele enviaria a mensagem da reforma tributária.

            Eu vim a esta tribuna e me manifestei favoravelmente. Olhem, eu sofri muito! O que eu recebi de mensagens negativas contra mim! Mas como? Eu era a favor? Estava virando a favor do imposto? Que coisas...não sei o quê.

            E o que eu dizia era o seguinte: está certo que o Lula deixou para a última hora, está certo que ele deixou passar o tempo, mas ainda faltavam doze horas. E o que eu propunha não era votar a favor; era suspendermos a reunião, nos reunirmos e chegarmos a um entendimento. A nossa grande luta era a reforma tributária. E a nossa grande luta era conseguir fundos para a saúde.

            Infelizmente, eu respeito, mas a Oposição não concordou. Não confiava mais no Governo. Dizia que o Governo já tinha feito várias promessas e não as tinha cumprido.

            Eu achei que valeu a pena. A vida me tem ensinado que sempre é importante tentar o diálogo. Sempre! Mesmo nas horas mais difíceis.

            Houve um momento dramático na minha vida, que eu nunca vou esquecer lá no Hospital de Base. Nós todos preparados para Tancredo assumir a Presidência e ele vai para o hospital e é operado. Todos os nossos sonhos numa interrogação grande: quem assumiria no lugar de Tancredo? Na minha opinião, só podia ser o Dr. Ulysses, Presidente da Câmara. Mas, na hora, o Ministro do Exército, General Leônidas disse: “Quem assume é o Vice-Presidente, Dr. Sarney, porque está na Constituição.” E mostrou ele, fardado, com o livrinho na mão, os impedimentos do Presidente: doença, morte, férias, licença, assume o Vice-Presidente.

            Claro que o General Leônidas não é especialista em Direito nem em Direito Constitucional. O artigo de previa que nos impedimentos do Presidente quem assumia era o Vice estava lá, mas o Presidente Tancredo não tinha assumido, ele não era Presidente. E como um Vice ia assumir no lugar do Presidente que não tinha assumido? Quem tinha de assumir se o Presidente eleito não tivesse assumido era o Presidente da Câmara, até o Tancredo voltar; se voltasse, ou, como morreu Dr. Tancredo, convocariam uma nova eleição.

            Eu ia para essa luta, para a briga. Mas o Dr. Ulysses olhou e disse: “Claro, General Leônidas, se o senhor disse que é, é. É o Dr. Sarney que assume.” Quando saiu, eu quase avancei no Dr. Ulysses: “Mas como, Dr. Ulysses?” Ele disse: “Ô, Pedro, está bancando o bobo? Não está vendo? Tivemos uma briga enorme para chegar à Presidência da República, um luta imprevisível: o que vai acontecer, o que não vai acontecer. E quem coordenou todas as atividades para chegarmos à Presidência foi o Ministro do Exército, que nos dava garantia. Ele chega lá, fardado, mostra a Constituição e diz que quem assume é o Sarney. Eu vou dizer que sou eu? Termina não assumindo nem eu nem o Sarney; assume ele.”

            Não precisou mais do que ele dizer isso e eu entendi que ele estava certo. Era melhor assumir o Sarney, num entendimento geral, feito com o Dr. Ulysses, e nós nos retirarmos, do que ir para um confronto imprevisível.

            Acho que o entendimento sempre é importante. Sempre é muito importante. Por isso, neste caso singelo, se chegarmos a esse entendimento, eu acho muito bom. Bom para o Rio Grande, porque não há como o Rio Grande não receber esse empréstimo. Todo o esquema, o Secretário da Fazenda, a Governadora....o Secretário é um rapaz excepcional, um jovem intelectual, competente, capaz. Puro que Deus lhe perdoe! Confia, acredita, tem fé. É importante para nós todos que o Rio Grande dê esse passo.

            Essa dívida monstruosa que nós temos, de um bilhão por ano para pagar o serviço da dívida, diminua, abra espaço para o Rio Grande se desenvolver. O Rio Grande precisa viver uma etapa nova. Nós estamos caminhando, ao longo do tempo, contra os caminhos reais do desenvolvimento.

            O Rio Grande do Sul, já tenho falado isso, é um Estado deste País inteiro. Gaúchos existem, levando o progresso, o desenvolvimento e o crescimento em todos os cantos. Eu tenho dito: nós falamos muito dos paulistas, dos emboabas, dos bandeirantes, que desempenharam um papel magnífico de desbravadores, levando a civilização aonde não tinha nada. É verdade. Mas foram em busca de ouro, de pedras preciosas, de esmeraldas. Foram e voltaram. Os gaúchos, não. Os gaúchos saíram do Rio Grande, levaram suas mulheres, seus filhos, venderam o que tinham e levaram dinheiro e propriedade e foram lá para morar naquele lugar. Foram para o meio do mato, no meio da selva.

            O Dr. Antonio Carlos me dizia da sua emoção quando recebeu os gaúchos lá na Bahia, numa terra que ele nunca tinha visto verde, e que os gaúchos transformaram numa plantação de soja espetacular. O Senador Sarney me falava lá no seu Maranhão, de uma região onde nunca teve absolutamente cultivo nenhum. E os gaúchos levaram o arroz, e o Maranhão passou a ser exportador de arroz. Lá em Rondônia, lá no Acre, lá em Roraima, lá na floresta amazônica, lá no Pará, gaúchos e mais gaúchos, milhares, foram com suas famílias, com seus filhos, levando o seu dinheiro, comprando e vivendo ali. E plasmando uma civilização. É interessante notar isso. Vamos aqui em Goiás, aqui em Brasília, na grande Brasília, Sr. Presidente, vemos o CTG, a reunião dos gaúchos de bombachas, de cuia e chimarrão, com o seu linguajar guasco, particular, com o seu sentido de família, de sociedade cooperativa. Há mais de dois mil Centros de Tradição Gaúcha no Brasil inteiro. E se nós notarmos o crescimento, a expansão, a explosão da produção agrícola e pastoril no Brasil, nós vamos notar que é lá onde a colônia gaúcha se estabeleceu. No Mato Grosso do Sul, no Mato Grosso, em Tocantins, aqui, eles foram para ficar.

            E essa gente fez falta no Rio Grande. Nós temos uma região no Rio Grande do Sul que vive hoje em regime de muita pobreza, muita pobreza. E esses gaúchos nos fizeram falta muitas vezes.

            Mas o brasileiro gaúcho é assim: ele tem um sentimento de pátria. Esse Rio Grande do Sul que fez uma revolução junto com Minas e Paraíba para levar Getúlio Vargas ao poder, em 1930, para terminar com o binômio café-com-leite - os Presidentes da República eram paulistas e mineiros, paulistas e mineiros, paulistas e mineiros. Getúlio chegou lá, e durante muitos anos os gaúchos estiveram na Presidência da República. Mas não se tem notícia de um gaúcho na Presidência da República que tenha feito um favor especial ao Rio Grande do Sul. Coisa interessante: Juscelino, na Presidência da República, mudou Minas Gerais, revolucionou Minas Gerais; os gaúchos se envergonham de ajudar o Rio Grande. O conceito de pátria, o conceito de credibilidade e de Nação é tão grande que eles olham primeiro o seu Brasil, para depois olharem o Rio Grande.

            O sentimento de pátria do gaúcho é tão importante, que ele mostrou ali, na Argentina e no Uruguai. Principalmente na Argentina, onde muitas vezes quiseram criar a expectativa de uma guerra com o Brasil e nunca houve hipótese, a não ser no futebol - e agora, nem no futebol, porque eles se convenceram de que estão em segundo lugar. A nossa amizade é muito grande. Mas, durante 50 anos, metade do Exército brasileiro esteve na fronteira do Brasil com a Argentina. E, por causa disso, aquela região foi proibida de se desenvolver. A região mais rica, mais próspera do Brasil - está aí o Senador Zambiasi, que, numa atitude importantíssima, está tentando mudar -: 150 quilômetros da área de fronteira são área de segurança e ali, não pode haver uma fábrica, não pode haver desenvolvimento, não se pode crescer. E hoje está fazendo uma falta muito grande. Metade do Exército brasileiro e dos quartéis estavam na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina. E nós queremos indústria, queremos fábrica naquela região.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/06/2008 - Página 22336