O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no dia de Pentecostes, 28 de maio de 1944, no pré-seminário, em Santa Isabel, na região serrana do Espírito Santo, um adolescente que recém passara dos 12 anos de idade tomou uma decisão que mudaria o rumo de sua vida. Como ele próprio conta, ao ouvir que o Espírito Santo descera sobre os apóstolos de Jesus, que saíram pelo mundo para anunciar a vinda de Cristo, decidiu naquele instante tornar-se um missionário.

Nesta semana, Dom Silvestre Scandian, hoje Arcebispo Emérito de Vitória, depois de 20 anos à frente da Arquidiocese, de 1984 a 2004, comemorou com uma missa, por ele celebrada na Catedral Metropolitana, seus 50 anos de sacerdócio. O menino que sentiu em si o chamado para servir à fé católica cumpriu sua vocação, obedecendo às palavras de Jesus: “Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”.

Nascido em Iconha, no Sul do Espírito Santo, Dom Silvestre foi ordenado padre em 3 de agosto de 1958, fez mestrado em Teologia em Roma e estudou Sociologia e Filosofia em São Paulo. Sagrou-se bispo em 1975 e, em 1981, foi nomeado Bispo Coadjutor de Vitória. Três anos depois, substituiu Dom João Batista da Mota e Albuquerque como Arcebispo.

Coube a um religioso que sempre se caracterizou pela bondade, paciência e simplicidade manter-se à frente da Arquidiocese em tempos difíceis para o Estado, o período em que o crime e a corrupção dominavam, e a região de Vitória chegou a merecer destaque nos jornais internacionais por deter o mais alto índice de homicídios da América Latina.

O incentivo e a participação de Dom Silvestre foram fundamentais para a articulação do Fórum Reage Espírito Santo, em que a sociedade uniu forças com o objetivo de dar fim ao domínio do crime organizado. Era o início de uma reação que acabou com a impunidade e a corrupção e reergueu o Estado, restaurando a auto-estima dos capixabas.

Formado sacerdote pouco antes do Concílio Vaticano Segundo, que procurou aproximar a Igreja de seus fiéis, Dom Silvestre soube rejeitar as interpretações radicais da reforma empreendida pelo saudoso Papa João XXIII, que procuravam encontrar pontos de contato entre a fé católica e o marxismo. O essencial da Igreja, diz ele hoje, não é mudar a sociedade, eliminar as injustiças. Ela deve orientar os leigos, os políticos, os economistas, iluminar seu trabalho para que ajam sempre tendo em vista o benefício do povo, dos menos favorecidos, a justiça social.

Esse servidor de Cristo, que ao longo de sua carreira ordenou 58 sacerdotes e 4 bispos, recebeu na manhã de domingo, 3 de agosto, a homenagem dos capixabas na Catedral Metropolitana de Vitória. Tantos quiseram presenciar a missa de ação de graças que muita gente não pôde entrar.

Como bem lembrou na ocasião o ex-Presidente da Seção do Espírito Santo da Ordem dos Advogados do Brasil, Agesandro da Costa Pereira, Dom Silvestre “assumiu a postura da reação e liderou os capixabas na luta pelos valores morais e de dignidade no exercício do poder”. Se hoje o cenário de violência e de corrupção, que parecia destinado a se eternizar, é uma lembrança distante, devemos essa transformação em grande parte a Dom Silvestre Scandian. Por isso, e por uma trajetória marcada pela devoção, modéstia e atenção aos problemas da comunidade, ele é merecedor da gratidão do povo do Espírito Santo.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.