Discurso durante a 138ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Lembrança dos 53 anos, hoje, da explosão da bomba atômica em Hiroshima. Elogios ao trabalho da diplomacia brasileira na Rodada de Doha.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO. COMERCIO EXTERIOR.:
  • Lembrança dos 53 anos, hoje, da explosão da bomba atômica em Hiroshima. Elogios ao trabalho da diplomacia brasileira na Rodada de Doha.
Publicação
Publicação no DSF de 07/08/2008 - Página 29264
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO. COMERCIO EXTERIOR.
Indexação
  • REGISTRO, ANIVERSARIO, EXPLORAÇÃO, BOMBA, ENERGIA NUCLEAR, IMPORTANCIA, DEBATE, LIMITAÇÃO, CIENCIA E TECNOLOGIA, PRESERVAÇÃO, MUNDO, INICIO, MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO.
  • ANALISE, ALTERAÇÃO, CLIMA, PLANETA TERRA, NECESSIDADE, PRESERVAÇÃO, FUTURO, VIDA.
  • DEFESA, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, DISCRIMINAÇÃO, INDICAÇÃO, PRIORIDADE, EDUCAÇÃO, IGUALDADE, QUALIDADE, TOTAL, ACESSO.
  • AVALIAÇÃO, POSSIBILIDADE, COMERCIO EXTERIOR, UNIÃO, POVO, MUNDO, COMBATE, DESIGUALDADE REGIONAL, PAIS, AMPLIAÇÃO, RENDA.
  • ELOGIO, ITAMARATI (MRE), POLITICA EXTERNA, BRASIL, RESPEITO, INTERESSE NACIONAL, INTERESSE, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), NEGOCIAÇÃO, COMERCIO EXTERIOR, REGISTRO, INSUCESSO, REFERENCIA, REDUÇÃO, SUBSIDIOS, TARIFAS, EXPORTAÇÃO, IMPORTAÇÃO, ALIMENTOS, ALCOOL, PRODUTO INDUSTRIALIZADO, PREJUIZO, TERCEIRO MUNDO, MOTIVO, POSIÇÃO, PAIS, PRIMEIRO MUNDO, IMPORTANCIA, CONTINUAÇÃO, DEBATE, INCLUSÃO, DIRETRIZ, MEIO AMBIENTE, EDUCAÇÃO.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, apenas como introdução ao tema que vou abordar, quero lembrar que hoje, Senador Tião Viana, o mundo comemora 53 anos da explosão da bomba atômica em Hiroshima. Sempre é importante trazer essa lembrança para que isso nunca mais se repita. Entretanto, o que quero falar hoje tem a ver com isso, mas de uma maneira muito mais ampla. Naquele dia, lá, no Japão, em Hiroshima, podemos dizer que começou a modernidade do tipo que a gente vê hoje, porque há muitos tipos de modernidade. Ainda longe, atrás, na História, a gente pode localizá-la no chamado Renascimento. Mas essa modernidade da globalização, da instantaneidade das informações, do poder da técnica, isso começou ali.

Na minha sala, Sr. Presidente, aqui, no Senado, tenho uma foto de um relógio, que era usado por uma pessoa que estava perto de Hiroshima, parado o relógio naquelas 8 horas e 15 minutos do dia 6 de agosto de 1945. Aquele instante. As pessoas perguntam que relógio é aquele, e eu digo: Aqui está marcando o exato momento em que começou a modernidade de hoje, a modernidade da globalização, do poder desmesurado da ciência e da tecnologia e da integração do mundo.

É sobre isso que quero falar, analisando um item específico, que é a participação do Brasil na Rodada de Doha no mês passado, que quero aqui reconhecer como um trabalho a ser elogiado do nosso serviço de relações exteriores.

O que a gente vê naquele momento, 53 anos atrás, é o início de um tempo em que a ciência e a tecnologia são capazes de mudar o mundo para coisas boas e para coisas ruins. E o mundo ficou um só pelo poder dessa própria ciência, ao mesmo tempo em que a gente viu o risco do aquecimento global como resultado desse poder da ciência, da tecnologia e da economia.

Finalmente, colocando dentro daquele espírito, o fim do Muro de Berlim como uma divisão do mundo em duas ideologias. Mas o que a gente não pode deixar de ver - e ontem eu conversava com o Senador Suplicy, que me chamou a atenção e me lembrou disso - é que há muitos muros ainda existentes, como falou muito bem o candidato a Presidente dos Estados Unidos, o candidato Obama, no seu discurso feito em Berlim. Ele lembrou que nós temos o muro do racismo, que ainda divide a humanidade, por exemplo, entre brancos, negros e índios. Nós temos um muro brutal entre aqueles educados e os sem educação. Nós temos o muro da desigualdade social. Nós temos o muro do preconceito sob todas as formas que a gente vê. Esses muros não foram derrubados, e derrubá-los vai exigir três caminhos diferentes.

O primeiro, parece-me que é óbvio para todos: impedir a continuidade da marcha ao desastre do aquecimento global. Continuando nesse rumo do aquecimento global, o que a gente vai ver é que nada mais vai adiantar, porque teremos a destruição da própria vida no planeta Terra, pelo menos a vida que nós temos hoje.

Por isso, é preciso derrubar esse maldito muro que hoje existe entre as gerações atuais e as gerações futuras, o muro que inviabilizará o mundo das gerações que estão para vir.

Segundo item, o segundo caminho para derrubar os muros existentes hoje, tanto o da desigualdade social como o dos preconceitos, e até mesmo o muro entre gerações, é a educação, com a máxima qualidade, igual para todos. Não há outro caminho para derrubar a desigualdade a não ser tocar lá no berço da desigualdade, que é a escola, para que se transforme em berço da igualdade, porque hoje a escola é o berço da desigualdade. Só a escola igual para todos em escala global, planetária, no mundo inteiro, é que vai permitir derrubar os muros.

O terceiro caminho é o comércio internacional. O comércio internacional é um instrumento capaz de ajudar a derrubar a desigualdade, é um instrumento capaz de ajudar a fazer com que os povos do mundo possam usar os seus recursos e, usando as maravilhas dos transportes internacionais e da instantaneidade das comunicações, caminhar para a elevação da renda nesses países.

Impedir o aquecimento global permite que a gente continue, a educação permite que seja para todos, e o comércio internacional permite aumentar a renda. Três caminhos necessários: evitar a tragédia do aquecimento global, permitir o aumento da renda pelo comércio internacional e distribuir essa renda da melhor maneira possível por uma escola igual para todos.

Esse caminho, esse terceiro item é o que foi tentado em Genebra, há quinze dias, pelos diplomatas brasileiros na Rodada de Doha, que ali se realizava. Lamentavelmente, os resultados não foram satisfatórios, mas não por falta do trabalho dos nossos diplomatas, liderados pelo Ministro Celso Amorim, que lutaram, primeiro, para conseguir um corte médio nas tarifas dos produtos agrícolas, sem o que, países como o Brasil estão perdendo recursos, porque a proteção nos Estados Unidos e na Europa impede a importação de produtos brasileiros, e, mais que isso, as tarifas permitem que os exportadores americanos vendam para o exterior, para lugares onde o Brasil poderia estar vendendo. Lutaram também por uma redução das tarifas do etanol daqui para frente, que, se aprovada, permitiria que o Brasil desse um salto mais facilmente - apesar de que iremos dar, de qualquer forma - na transformação do nosso País em um centro de exportação de energia, como já somos um centro de exportação de alimentos. Lutaram também para que houvesse uma redução nas tarifas, nos subsídios existentes lá fora, e nas tarifas que impedem a importação dos nossos produtos. Por exemplo, tecido e calçado. Lutaram para reduzir as tarifas dos produtos industriais - e, aí, sabendo que o Brasil correria algum risco em alguns setores, mas se beneficiaria no conjunto da Nação brasileira.

Em todo o momento, esses nossos diplomatas lutaram respeitando os interesses nacionais, inclusive os interesses do Mercosul, embora países do Mercosul possam ter reagido. Em nenhum momento houve uma proposta que ferisse interesses do Mercosul, porque os instrumentos que ali estavam permitiam que o Mercosul se manifestasse em cada um dos aspectos.

No final, não se conseguiu aprovar as bandeiras que o Brasil levou, nem mesmo a proposta de consenso que o Diretor-Geral, Pascal Lamy, havia conseguido fazer, e que o Brasil defendeu. Teria sido a saída para manter o rumo desse terceiro caminho da modernidade hoje, que é o comércio internacional, que só funcionará bem se seguirmos o segundo caminho, que é o da educação, e o primeiro caminho, que é o da educação e do meio ambiente.

Por isso, Sr. Presidente, creio que o Senado deve se manifestar - eu vim me manifestar - na defesa de que o trabalho feito ali não teve o resultado que se esperava não por culpa do trabalho do Brasil, mas, sim, por culpa da incompreensão, da intransigência de outros países. Nossos diplomatas manifestaram claramente uma grande articulação para tentarem trazer o conjunto dos países das nações do mundo para uma posição comum. Manifestaram, a meu ver, sem titubear, a defesa dos interesses nacionais, e isso talvez seja o mais importante de tudo; manifestaram, com clareza, uma persistência incansável na defesa desses interesses e na apresentação de propostas; trabalharam com a convicção necessária de quem está trabalhando na linha do futuro: o futuro da construção de nações que aumentam suas riquezas graças ao comércio internacional.

O que temos de fazer - concluo, Sr. Presidente - é não deixar que morra a esperança que as Rodadas de Doha trouxeram para o mundo. E, ao mesmo tempo, não nos contentarmos - como alguns se contentam -, de que basta o comércio internacional. Sem ele, não temos um bom caminho; agora, só com ele, não vamos ter também, se não fizermos o dever de casa no que se refere ao caminho do equilíbrio ecológico e ao caminho da radicalização da qualidade da educação para todos. O comércio gera renda, o meio ambiente mantém as coisas funcionando, e a educação distribui essa renda.

Parabéns, a meu ver, ao comportamento dos representantes brasileiros, mesmo que o resultado não tenha sido satisfatório, mas não por culpa nossa, não por culpa daqueles que nos representaram!

Era isso, Sr. Presidente, o que eu tinha a dizer neste dia, em que se comemoram 53 anos da lembrança permanente da explosão da bomba nuclear no Japão.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/08/2008 - Página 29264