Discurso durante a 139ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem a memória do médico e geógrafo Josué de Castro pelo transcurso do centenário de seu nascimento.

Autor
Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a memória do médico e geógrafo Josué de Castro pelo transcurso do centenário de seu nascimento.
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2008 - Página 29539
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO, JOSUE DE CASTRO, MEDICO, ESCRITOR, SOCIOLOGO, GEOGRAFO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), ESFORÇO, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, IMPORTANCIA, OBRA INTELECTUAL, PARTICIPAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA (FAO), ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), RECONHECIMENTO, AMBITO INTERNACIONAL.
  • ELOGIO, OBRA INTELECTUAL, DEBATE, PROBLEMA, FOME, AMBITO NACIONAL, AMBITO INTERNACIONAL, DISCUSSÃO, NECESSIDADE, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, VINCULAÇÃO, NATUREZA ECONOMICA, NATUREZA POLITICA, CIENCIAS AGRARIAS, SOLUÇÃO, FALTA, ALIMENTOS.

O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Exmº. Sr. Presidente da presente sessão, Senador Jarbas Vasconcelos, saúdo o Exmº. Sr. Ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; a Socióloga Ana Maria Castro, filha do homenageado; a Srª Tereza Sales, Presidente do Centro Josué de Castro; o Exmº Sr. João Paulo Lima e Silva, Prefeito da cidade do Recife; o Padre Emanuel Sofoulis, Patriarca Ecumênico da Arquidiocese Grega Ortodoxa de Buenos Aires e da América do Sul; Dom Mauro Morelli, que tem trabalhado na implementação dos programas de combate à fome em nosso País; os Membros do Corpo Diplomático presentes; o Dr. José Arlindo Soares, Diretor Técnico do Centro Josué de Castro e Secretário de Estado em Pernambuco; o Desembargador Romero de Oliveira Andrade, do Tribunal de Justiça de Pernambuco; a Srª Rosane Cunha, Secretária Nacional de Renda e Cidadania - MDS ; e demais outras autoridades presentes ou representadas.

Senhoras e Senhores, desejo iniciar as minhas palavras cumprimentando os Senadores Jarbas Vasconcelos e Cristovam Buarque, sempre atentos às questões nordestinas e brasileiras, por haverem requerido essa sessão especial pela passagem dos cem anos do nascimento do médico, cientista e humanista Josué de Castro.

Josué de Castro foi, como sabemos, um dos intelectuais pernambucanos com reconhecimento internacional na linha de Oliveira Lima e Gilberto Freire. A marca diferencial de Josué de Castro está no fato de haver ele se destacado no combate ao problema ainda número 1 da humanidade, a fome, conforme os títulos de suas principais obras: Geografia da Fome, no Brasil, e mesmo Geopolítica da Fome em escala mundial. A americana Prêmio Nobel da Literatura, Pearl S. Buck e o inglês Lord John Boyd, Prêmio Nobel da Paz, prefaciaram muito elogiosamente o segundo livro dele, ambos traduzidos em vários idiomas.

Geografia da Fome, publicado em 1947, tem como subtítulo O dilema brasileiro e é dedicado a Euclides da Cunha e Rodolfo Teófilo, primeiros cientistas sociais brasileiros a se interessarem pela causa, pelo tema, assim como a Raquel de Queiroz e o José Américo de Almeida, entre tantos outros romancistas.

Alceu Amoroso Lima, grande expressão do pensamento social brasileiro, logo declarou ser o referido livro um dos clássicos do nosso País.

Em longas e largas pesquisas empíricas, Josué de Castro ali conseguiu subdividir as várias regiões brasileiras, conforme os seus índices de subnutrição.

Não podemos deixar de lembrar a contribuição do professor Nelson Chaves, também dedicado ao tema e muito interessado, portanto, em políticas que pudessem minimizar as distâncias sociais no Brasil.

Josué de Castro conclui Geografia da fome, conclamando: “A vitória contra a fome constitui um desafio à atual geração” (e podemos estendê-la às seguintes) -“ como um símbolo e como um signo da vitória integral contra o subdesenvolvimento.” Realmente, não há desenvolvimento social sem erradicação da fome, reduzido na prática a um mero e desigual crescimento econômico.

Geopolítica da fome apareceu em 1951 e também nasceu clássica. Para o cientista social Josué de Castro “geopolítica não é uma arte de ação política na luta entre os Estados, nem tampouco uma fórmula mágica de predizer a história”. Assim ele superava as vinculações negativas do conceito na época, definindo-o como “apenas um método de interpretação da dinâmica dos fenômenos políticos em sua realidade espacial, com as suas raízes mergulhadas no solo ambiente. Poucos fenômenos têm interferido na conduta política dos povos, como o fenômeno alimentar”, “daí, a viva e crua realidade de uma geopolítica da fome”.

Na obra Geografia da fome, Josué de Castro pesquisou a fome por regiões brasileiras; em Geopolítica da fome o fez por continentes, desde a Ásia e a África ainda tão atingidas, à própria Europa onde ela voltara durante a Segunda Guerra Mundial, e às Américas, principalmente a do Sul, onde o problema também existe em grande escala.

            Ele explica a questão como “fenômeno universal”, com “matizes” específicos na luta por “um mundo sem fome”, pois “a ciência abre novos caminhos” para a abundância alimentar pelas novas tecnologias agrícolas.

Sr. Presidente, coube a Josué de Castro - convém assinalar - o pioneirismo da vinculação entre política, economia e ciência agrária no estudo e na solução do problema alimentar em larga escala nacional, não somente brasileira, mas mundial. O seu nome permanecerá ligado a estas pesquisas e à luta pela solução da questão das carências alimentares. Daí, o merecido e justificado reconhecimento que ele logo recebeu.

A obra de Josué de Castro alcançou, assim, grande repercussão dentro e fora do Brasil. Poucos autores brasileiros obtiveram tanta projeção nas ciências sociais no exterior como Josué de Castro.

Por incrível que possa parecer, apesar das modernas tecnologias e consciência que a questão alimentar desperta, a fome continua afligindo as próprias raízes da humanidade. Ele conclui Geopolítica da fome com a exortação, infelizmente atual: “O caminho da sobrevivência ainda está ao alcance do homem e repousa na confiança que devemos depositar em nossas próprias forças”.

Josué de Castro percebeu o problema antes e melhor do que outros pensadores do seu tempo e dos anteriores. Os livros dele e sua profícua e longa atuação na FAO logo o projetaram.

Mesmo solicitado por muitos países, Josué de Castro se conservou concentrado nos trabalhos na sede da FAO em Roma e teve pleno testemunho de seu trabalho no Brasil, ao se eleger, em duas legislaturas, Deputado Federal por Pernambuco, graças, inclusive, aos seus recursos oratórios, e desempenhou com grande êxito os seus mandatos. Foi um homem do mundo, mas sempre fiel à sua terra natal.

É ao pernambucano cosmopolita e ilustre, ao médico social dedicado ao combate pela erradicação do problema internacional ainda número um, o da fome, ao cientista e humanista coerente com os seus ideais, por eles tanto sofrendo pessoalmente, que me associo em sincera homenagem. A sua vida foi uma permanente doação à causa do combate à fome e esta sessão do Senado Federal expressa - penso e tenho certeza - o sentimento de toda a Nação.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/08/2008 - Página 29539