O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Senador Mão Santa. O Brasil já conhece a generosidade da sua alma e por isso entende que nós, inclusive, seus colegas, admitimos até que o Regimento seja colocado em segundo plano quando V. Exª preside as sessões do Senado Federal, pela forma como conduz os trabalhos da Casa.

            Venho hoje, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, falar sobre personalidade importante da política do Paraná, que fez e faz história. Hoje, a história dos bastidores da política paranaense ganha um novo e interessante capítulo. Um grande jornalista, um jornalista da maior competência e seriedade lança hoje, no dia do aniversário do ex-governador do Paraná e líder político do meu Estado, Dr. Paulo Pimentel, um livro que certamente proporcionará polêmica. O jornalista Hugo Sant’ana, pela Travessa dos Editores, lança o livro Paulo Pimentel: momentos decisivos.

            Repito: o jornalista Hugo Sant’ana é extremamente conceituado e sério; uma obra assinada por ele é uma obra que tem credibilidade.

            Dr. Paulo Pimentel foi governador do Paraná e, posteriormente, dedicou-se aos veículos de comunicação, que comanda com muita competência e independência.

            Essa obra, escrita a partir de cerca de trinta entrevistas feitas com Paulo Pimentel a partir do ano passado, ajudará a completar um pouco mais a escassa bibliografia atual sobre grandes políticos do Paraná. Isso é o que escreve hoje o jornal O Estado do Paraná. “É uma contribuição à história do Paraná”, diz o jornalista Hugo Sant’ana, ressaltando que não se trata de uma biografia linear, mas, sim, de história pontuais contadas por Pimentel.

            O jornalista conta que a idéia do livro partiu do empresário Paulo Pimentel. “Ele manifestou que gostaria de colocar essas histórias em livro e eu assumi a tarefa”, disse o jornalista. “E as histórias são excelentes, ele lembra de tudo. Meu trabalho foi apenas dar uma linguagem jornalística às entrevistas”, disse.

            Uma das histórias aborda, por exemplo, a transferência temporária por uma semana do Governo Federal para Curitiba, em 69, durante o Governo Costa e Silva. O jornalista faz referência a informações inéditas fornecidas para o livro pelo Dr. Paulo Pimentel. “Muita coisa os mais antigos lembram, porque estão nas páginas dos jornais da época. Mas, pela primeira vez, estão sendo condensadas em um livro”, diz o jornalista.

            Essa história a que eu estava me referindo aborda a transferência do Governo Federal para Curitiba durante o Governo Costa e Silva, em 69. Na época, Pimentel era Governador e conta que seu bom relacionamento com o Presidente garantiu ao Paraná a manutenção da Assembléia Legislativa do Estado. “Eles fecharam a Assembléia de São Paulo, e Costa e Silva me disse que ia fechar a do Paraná”, lembra Paulo Pimentel. E o Governador, então, convenceu o Presidente Costa e Silva a voltar atrás. “Ele desistiu e rasgou o decreto.”

            Nas conversas com o jornalista Hugo Sant’ana, Pimentel também não escondeu momentos ruins, como quando a ditadura de Ernesto Geisel pressionava os anunciantes e seus veículos de comunicação: “Os anunciantes eram chamados no Palácio Iguaçu, em nome da revolução. Só um não rompeu conosco”, disse Paulo Pimentel, “o Hermes Macedo”. Hermes Macedo foi Deputado Federal também.

            O lançamento desse livro ocorre hoje, na sede da Editora O Estado do Paraná, por ocasião do aniversário de Paulo Pimentel.

            Eu gostaria de prestar esta homenagem ao Dr. Paulo Pimentel, a quem sou grato.

            Senador Mão Santa, o início de minha trajetória política, nesse período de chumbo do autoritarismo, meus primeiros passos foram estimulados por uma presença marcante dos veículos de comunicação de Paulo Pimentel. Nunca fui discriminado. E olha que aqueles eram tempos ditatoriais, de censura e de discriminação. O Dr. Paulo Pimentel sempre ofereceu seus veículos de comunicação à oposição. Tribuna democrática, Senador Mão Santa.

            Paulo Pimentel foi perseguido. Ele, da Arena; eu, à época, um jovem Deputado Estadual no MDB, fazendo oposição com dureza, oposição ao governo estadual, nomeado; oposição ao governo federal, governo autoritário, e tinha espaço nos veículos de comunicação de Paulo Pimentel - e confesso, aqui, desta tribuna: mais espaço do que tenho hoje nos veículos de comunicação do Paraná. E não reclamo do espaço que tenho, pois tenho o que mereço. Mas aquela era uma época de medo, uma época em que os grandes jornais do País preenchiam os espaços esvaziados pela censura com versos de Camões ou receitas culinárias. E, no Paraná, Paulo Pimentel oferecia seus veículos para que a oposição pudesse ter voz. Participou, portanto, de forma significativa, da luta pela redemocratização do País.

            Esse é um fato histórico que tem que ser relatado. O Dr. Paulo Pimentel era governista, era do partido do governo, era da Arena, mas, acima de tudo, um democrata, e, por essa razão, não permitiu que as imposições ditatoriais prevalecessem sobre as suas convicções democráticas. Foi muito importante sua participação, como homem de comunicação no Paraná, no período de chumbo, em que todos estavam submetidos ao império do medo.

            Lembro-me, Senador Mão Santa, de que não tínhamos estrutura partidária. Tínhamos um pequeno partido - o Movimento Democrático Brasileiro -, que não possuía estrutura em praticamente Município algum porque as pessoas temiam e não se filiavam ao partido da oposição. Aliás, ouvia-se muito a afirmação de que éramos comunistas, porque nos confrontávamos com o modelo ditatorial imposto ao povo brasileiro. A organização partidária, portanto, era insignificante. Se não tivéssemos os veículos de comunicação do Dr. Paulo Pimentel, não teríamos voz para que pudéssemos vencer eleições sem estrutura partidária.

            Portanto, a homenagem que presto é em razão do significado da presença de Paulo Pimentel na política do Paraná e, mais do que isso, nos meios de comunicação do nosso Estado, e, particularmente, a gratidão por reconhecer que, realmente, o papel que ele desempenhou me proporcionou alçar vôos maiores na política do meu Estado.

            Ao Dr. Paulo Pimentel as minhas sinceras homenagens e os meus parabéns pelo seu aniversário, mas, acima de tudo, pela obra política e de comunicação que ele implantou no Paraná. Foi um grande governador, um governador de grandes obras, mas foi, como político, um democrata, que permitiu abrir amplas avenidas para que pudéssemos caminhar na direção da democracia em nosso País.

            Muito obrigado, Senador Mão Santa.