Discurso durante a 145ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com uma nova epidemia de dengue no Estado de Roraima.

Autor
Augusto Botelho (PT - Partido dos Trabalhadores/RR)
Nome completo: Augusto Affonso Botelho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Preocupação com uma nova epidemia de dengue no Estado de Roraima.
Publicação
Publicação no DSF de 15/08/2008 - Página 30575
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • APREENSÃO, RETOMADA, CRESCIMENTO, INCIDENCIA, DOENÇA TRANSMISSIVEL, AEDES AEGYPTI, ESTADO DE RORAIMA (RR), REGISTRO, DADOS, GRAVIDADE, EPIDEMIA, RISCOS, CHEGADA, VIRUS, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, EVOLUÇÃO, DOENÇA GRAVE, NECESSIDADE, URGENCIA, PROVIDENCIA, PREVENÇÃO, MORTE, ERRADICAÇÃO, AGENTE TRANSMISSOR, CONCLAMAÇÃO, MOBILIZAÇÃO, ESTADOS, MUNICIPIOS, CIDADÃO, IMPORTANCIA, CAMPANHA, PODER PUBLICO.

            O SR. AUGUSTO BOTELHO (Bloco/PT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Mozarildo Cavalcanti, Srªs e Srs. Senadores, o meu querido Estado de Roraima está tristemente associado à história epidemiológica da dengue no Brasil. Foi lá, já se vai mais de um quarto de século, em 1981, que se registrou, com comprovação clínica, a primeira epidemia da doença, depois da quase erradicação do aedes aegypti no País, nos anos 50.

            Hoje, Sr. Presidente, Roraima ainda sofre com a doença. Segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde, mais de dois mil casos de dengue foram notificados no primeiro semestre deste ano. Temos uma população de quase 400 mil habitantes; foram 2 mil casos de dengue notificados no início do ano. Há alguns anos, os números de doentes com dengue vinham caindo em Roraima. Este ano, no entanto, houve uma reviravolta e os números voltaram a crescer. A situação, portanto, é grave. Sem uma ação pronta e decidida, o quadro pode facilmente evoluir para uma epidemia. Se já não estamos numa epidemia!

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os números atuais de 2008 são superiores em 30% aos números de 2005, ano em que ocorreu a maior epidemia no Estado. Em 2005, foram confirmados 1.773 casos de dengue; em 2008, já no primeiro semestre, houve 2.064 casos. Os casos notificados em 2005 foram 3.667; em 2008, são 4.383 casos notificados de dengue lá em Roraima até a presente data. Aliás, Srªs e Srs. Senadores, Roraima, juntamente com outros 15 Estados e o Distrito Federal, entrou na lista das unidades federadas com maior risco de enfrentar uma epidemia de dengue em 2009. A situação é grave agora e pode, num futuro próximo, agravar-se ainda mais.

            E há, de fato, razões para temermos que isso vá acontecer. Primeiro, o período de inverno em Roraima, ou seja, o período chuvoso, chegou um pouco mais cedo este ano por causa provavelmente do La Ninã, aquele efeito climático que tem ocorrido no mundo ultimamente. Segundo, porque a cada dia aumenta a expectativa de que se confirme algum caso de infecção pelo vírus de tipo 4, que circula na Venezuela, nosso vizinho, que está a 220km da nossa linha de fronteira.

            Aqui no Brasil circulam três tipos de vírus. A dengue tem quatro tipos de vírus, por isso, é uma doença que se repete, cria imunidade, mas se repete porque são quatro vírus parecidos, mas diferentes, como se eles fossem primos uns dos outros: os vírus de tipo 1, 2, 3 e 4. Os vírus de tipo 1, 2 e 3 já circulam aqui no Brasil. Já tivemos epidemias de três tipos de vírus diferentes, e o quatro circula na Venezuela, do meu lado, do lado do meu Estado. Eles não têm distinção entre a virulência, o tipo de infecção que provocam, as doenças são sempre parecidas, mas, quando a pessoa já teve um caso de dengue antes, ela se torna suscetível a ter a dengue hemorrágica, que é uma doença grave, cara, difícil, que provoca grande sofrimento da família e com a taxa de mortalidade muito alta. Por isso que, em Roraima, ficamos apreensivos. E, ,, se chegar a Roraima o tipo 4... Roraima, apesar de alguns não considerarem, faz parte do Brasil apesar de os movimentos internacionais estarem querendo tomar grande parte do nosso Estado, é Brasil.

            Então, nós temos que trabalhar para que essa forma mais grave da doença, a dengue hemorrágica, que se desenvolve comumente na reincidência da infecção, não ocorra, e, se ocorrer, que se tomem as medidas necessárias para evitar que a pessoa morra. São medidas simples, como colocação de soro fisiológio, de hidratação do paciente, de cuidados para não ter pancada, porque, se ele tiver um sangramento, quando está com dengue hemorrágica, morre, porque o sangue não coagula. Se você vai andando, topa numa cadeira, bate a barriga, tem uma pequena lesão dentro da barriga, você morre. Se você tem até um traumatismo na língua - morder a língua é uma coisa grave -, quer dizer, vai sangrar e sangrar. Se não forem feitos dez, vinte pontos para tentar parar aquele sangramento e reduzi-lo, você pode morrer. Então, é uma doença que se pode tornar grave.

             Mas nós não podemos, Sr. Presidente, continuar sendo derrotados pela dengue. Temos que dar um basta nessa sensação que nos aflige de impotência diante dessa doença! Não podemos ficar parados, congelados, numa espécie de fatalismo em que, às vezes, me parece que estamos tomando fôlego entre uma epidemia e outra, entre um surto e outro, esperando o próximo surto. Temos de agir, de tomar iniciativa antes que as condições se tornem mais adequadas para o mosquito.

            Infelizmente, a dengue não é tratável especificamente nem pode ser prevenida por meio de vacinas. Por outro lado - e felizmente -, ela não é transmitida de uma pessoa para outra de forma direta, precisa do vetor, do mosquito, que é o tigre asiático. Não há outro modo de controlar a doença por enquanto, a não ser acabando ou reduzindo a quantidade do mosquito transmissor. Portanto, os Municípios, os Estados e os cidadãos têm de passar à ação contra o aedes aegypti, que é o transmissor da doença. Essa luta, todos temos as condições de vencer, porque já vencemos antes. Há 100 anos, Oswaldo Cruz acabava com a febre amarela no Rio de Janeiro, terra do Senador Paulo Duque, com a vacinação, porque, para a febre amarela, existe vacina, mas também deve-se combater o mosquito. Nós não vamos acabar com a dengue de imediato, mas vamos reduzi-la. Quando os quatro tipos de vírus estiverem circulando e todos tiverem os quatro tipos de dengue, aí nós poderemos acabar com ela. Mas nascerão outras pessoas, e, com isso, seriam 800 milhões de casos de dengue. Para acabarmos com a epidemia no Brasil, teríamos de ter todos os habitantes com essa doença por quatro vezes. Então, o que temos de fazer é combater o mosquito.

            Na década de 50, pensava-se que o mosquito já estivesse erradicado. Infelizmente, no final dos anos 60, já tínhamos outros focos de insetos detectados, primeiro, no Norte, depois, no Nordeste e, finalmente, em 70, na também querida cidade do Rio de Janeiro.

            Enquanto esperamos a vacina - talvez nos próximos cinco ou seis anos a gente consiga ter essa vacina contra a dengue -, não temos outra saída se não erradicarmos o mosquito. Mesmo na eventualidade de termos uma vacina, nós temos de continuar combatendo o mosquito, porque o aedes aegypti é transmissor da febre amarela também. E a febre amarela, em termo de gravidade, é cem vezes pior do que a dengue, porque quando alguém contrai a febre amarela a propabilidade de morte é muito grande. Não existem formas leves de febre amarela, geralmente é uma doença grave e quase 30%, 40% das pessoas morrem.

            Sr. Presidente Mozarildo, se é imperativo que o Poder Público dê mostras seguras e definitivas à população de que essa guerra ao mosquito é para valer, mais imprescindível ainda é o apoio e o engajamento da própria população. Temos que mobilizar toda a sociedade e sabemos que nosso povo, quando bem estimulado, é capaz de forte engajamento. Temos aí exemplos recentes, como o da crise energética de há alguns anos, quando toda a população soube tão bem e competentemente poupar energia, de modo a conseguirmos evitar que a crise fosse mais grave e profunda.

            Quero finalizar conclamando os governos municipais, estaduais e federal, para que se unam efetivamente a uma grande campanha de mobilização e luta contra o mosquito da dengue, exortando a população brasileira para que leve a sério esse combate. As pequenas ações, que começam em nossa casa, têm amplas conseqüências, sobretudo quando são secundadas e ampliadas pelas ações de nossos vizinhos.

            Pequenas ações como não jogar uma casca de ovo no quintal, não colocar um frasco de Coca-Cola vazio ou de refrigerante vazio, ou um copo descartável, ou uma lata ao tempo. Tudo deve ser colocado dentro do lixo para que se evite que o mosquito prolifere.

            Temos que recuperar o exemplo de Oswaldo Cruz para que no Brasil se evite muitas mortes. As próximas epidemias de dengue sempre ocorrerão com mortes, em maior ou menor grau, dependendo das ações conjuntas dos Estados, dos Municípios, do Governo Federal. Não adianta o prefeito ficar jogando para o governador, o governador para o prefeito. A dengue é uma doença nossa, do Brasil, infelizmente. Temos que combatê-la em conjunto e temos que cobrar das autoridades que tomem ações efetivas para evitar que morram mais pessoas. Daqui para a frente, não teremos mais epidemias de dengue sem grande número de mortes.

            Muito obrigado Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/08/2008 - Página 30575