Discurso durante a 145ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Necessidade dos senadores conhecerem a Região Norte.

Autor
Paulo Duque (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RJ)
Nome completo: Paulo Hermínio Duque Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Necessidade dos senadores conhecerem a Região Norte.
Aparteantes
Gilberto Goellner.
Publicação
Publicação no DSF de 15/08/2008 - Página 30577
Assunto
Outros > SENADO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • SUGESTÃO, TRANSFERENCIA, CARATER PROVISORIO, SEDE, SENADO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO AMAZONAS (AM), OBJETIVO, AMPLIAÇÃO, CONHECIMENTO, SENADOR, SITUAÇÃO, REGIÃO NORTE.
  • ELOGIO, DISCURSO, SENADOR, REGIÃO AMAZONICA, COMBATE, EPIDEMIA, IMPORTANCIA, DIVULGAÇÃO, SITUAÇÃO, REGIÃO, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, AMBITO, SAUDE, MEIO AMBIENTE, POLITICA INDIGENISTA, SOBERANIA NACIONAL.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nesses últimos dias, venho aprendendo e muito com Senadores lá do Norte: com V. Exª, agora com Jefferson Praia, com Augusto Botelho, com o orador que me antecedeu, Gilberto, que demonstra sua vivacidade, sua inteligência e o amor ao seu Estado, que representa aqui.

            Eu sei que todos aqueles Senadores do Norte, do Nordeste, do Centro-Oeste têm dado seu recado de tal ordem pujante a respeito dos problemas... Olha, meu Deus, o que se falou aqui sobre a Raposa do Sol, o que se falou aqui alertando para a gravidade dessa situação!

            Eu fico imaginando o seguinte: seria talvez possível, plausível - este Senado, eu considero, é o Brasil inteiro, não tenho dúvida - transferir o Senado, o seu funcionamento, nem que fosse por uns quinze dias, para Manaus, por exemplo? Manaus, capital do Amazonas, antiga cidade, grandes recintos, teatros famosos. Não seria possível transferir, nem que fosse por quinze dias, por uma semana, o Brasil para lá? Para Manaus? É aquilo que Jefferson Praia disse: é gente falando de coisa que nunca viu, gente que nunca esteve lá. As pessoas têm que ter estado lá para poder falar com conhecimento de causa.

            O Senador Botelho acaba de nos dar uma aula. E foi importante porque não foi uma aula só para os Senadores, foi uma aula para o Brasil inteiro, porque o Brasil inteiro está vendo este programa da TV Senado. É preocupante saber que hoje o Brasil corre o risco de ser infestado por essa moléstia que pode matar, que pode aleijar, que pode prejudicar tudo e toda a vida social. Eu pensei que fosse só no Rio de Janeiro; imaginei que isso atingisse mais a minha cidade por causa da concentração humana, das favelas. Não! Em plena natureza, nas grandes florestas, olha o perigo: perigo para os nossos índios, para aquelas populações sem recursos - paupérrimas, às vezes.

            Conforme foi dito ontem aqui, talvez pelo Senador Mozarildo, às vezes, para socorrer um pobre de um índio é preciso usar avião para chegar lá, para levar um pobre índio que quebrou um braço; ou então uma embarcação ágil que possa ultrapassar obstáculos naturais. Não é tão fácil como ir ao Hospital Miguel Couto, ao Hospital dos Servidores do Estado, ao Hospital Getúlio Vargas no Rio, em que se chega em dois minutos. A diferença é grande.

            E é um sonho remover o Senado; não com a parafernália toda do Senado, não com o serviço de administração todo, mas o Senado em si, as pessoas, Senadores, representando todo o País, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, uma semana no Amazonas, em Manaus. Onde? Na própria Assembléia Legislativa, quem sabe lá? Quem sabe lá naquele teatro famoso, o Teatro Amazonas. Viveríamos um pouco aquele problema, nós que somos das praias, que somos de outro sotaque, de outra formação, e entenderíamos melhor o que está se passando. Olha, durante toda a sessão de ontem, e na de anteontem também, falou-se muito nas reservas indígenas e florestais. Sem falar no perigo internacional.

            A Amazônia sempre foi vítima da cobiça internacional. Há mais de cinqüenta anos que eu conheço a história dessa cobiça, da hiléia amazônica, das lutas lá no Clube Naval, no Rio, no Clube Militar, por alguns patriotas que até tinham sido presidentes da República, chefiando isso, como foi o caso do velho Arthur Bernardes, Presidente de 1922 a 1926, que chefiou essa luta histórica; a própria UNE, União Nacional dos Estudantes, que teve, vamos dizer assim, a expectativa da reconstrução do prédio demolido, em cerimônia celebrada ontem, no Rio de Janeiro, com a presença do Presidente da República, que vai mandar ainda para o Congresso uma mensagem para devolver o terreno, para auxiliar a construção do prédio, das lutas que essa entidade representou no passado.

            A gente ouve falar nos perigos que estão assaltando a nossa terra, a nossa Pátria, nas fronteiras com Estados mais ou menos ambiciosos; mais ou menos sonhadores, porque o Brasil hoje é indestrutível. O Brasil, hoje, não há como negar, faz fronteira com mais de 13 países, mas está sempre vítima do assalto, da tentativa de fraudes, da ambição desmedida, pela grande Pátria que é: oito milhões e quinhentos mil quilômetros quadrados; população de quase duzentos milhões de habitantes. Tudo isso faz tremer um pouco as fronteiras do Brasil com aqueles que nos cercam. Vem lá do Sul, atravessa e vai cercando até chegar no oceano, lá no Norte. Essa é a fronteira terrestre. Agora surgiu o problema da fronteira marítima. Olha que, de repente, a gente sabe de uma frota de porta-aviões com mais de não sei quantas aeronaves, com submarinos atômicos perto da nossa área submarina, lá embaixo, onde existe muito petróleo. O que já se denominou ou o que já se pretende denominar de a grande reserva florestal, de óleo, petróleo, que vai tornar o Brasil, futuramente, o grande produtor de petróleo, o grande fornecedor. “Ah, porque no Brasil não tem, não sei, está difícil!”

            (O Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Vou lembrar. Aliás, não vou lembrar, porque a campainha já tocou. Mas eu ia lembrar um episódio.

            O Sr. Gilberto Goellner (DEM - MT) - Senador Paulo Duque...

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Pois não.

            O Sr. Gilberto Goellner (DEM - MT) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Pois não.

            O Sr. Gilberto Goellner (DEM - MT) - V. Exª sugeriu há pouco que o Legislativo deveria conhecer mais...

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Este Legislativo.

            O Sr. Gilberto Goellner (DEM - MT) - Este Legislativo, o Senado especificamente.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Isso.

            O Sr. Gilberto Goellner (DEM - MT) - São 81 Senadores. Eu gostaria de colaborar dizendo que esse conhecimento que todos os Senadores deveriam ter do País teria que ser exigido para o Executivo, porque temos Ministros hoje que são nomeados, escolhidos, e não conhecem o País e editam leis para Estados sem ter o conhecimento prévio da situação, sem conversar com a população, sem conversar com os órgãos envolvidos, com a classe política dos Estados, da Amazônia, do Centro-Oeste, do Nordeste, do Sudeste. Não conhecem o País. E isto em todas as esferas: são Ministros da área econômica, são Ministros da área de transporte que não conhecem o País, que não sabem das dificuldades que existem hoje, a dificuldade de logística que existe nos Estados do Centro-Oeste de levar seus produtos; a dificuldade nas estradas, a falta de competitividade da nossa agricultura em função da logística precária que existe em todo o País, e uma dificuldade de logística baseada exclusivamente no transporte rodoviário; a dificuldade que se tem hoje de fazer as mudanças que o País precisa. Essas dificuldades o Legislativo dever conhecer, mas, principalmente, eu diria, os nossos Ministros e seus assessores. Que eles tivessem a oportunidade não só de visitas esporádicas, mas, para assumir um cargo, deveriam ter o conhecimento prévio da Nação brasileira, porque sem isso dificilmente vamos ter as mudanças tão necessárias em todos os setores. Muito obrigado.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Senador Gilberto Goellner, ao me despedir desta tribuna, fico muito satisfeito de ter recebido um aparte tão esclarecedor como o de V. Exª, que, naturalmente, tem origem estrangeira, mas talvez hoje esteja bem abrasileirado e tenha entrado no drama da sua cidade, do seu Estado de Mato Grosso, estando pronto a pegar a velha espingarda e lutar pelo seu rincão, como eu, como Augusto Botelho, como Jefferson Praia, como Efraim Morais, como Mozarildo Cavalcanti, todos nós dispostos a lutar e morrer pelo Brasil se for preciso.

            Quanta gente, meu Deus, em 1945, não se alistou para ir lutar no desconhecido. Tanta gente! Ide ver, quando fordes ao Rio de Janeiro, o Monumento da Segunda Guerra Mundial, no Aterro, no grande Parque do Flamengo, e ficareis comovidos. Quanta gente que desapareceu na flor da idade, e na surpresa, nos bombardeios, nos navios mercantes brasileiros. Meu Deus do Céu! Isso está bem recente, está bem recente na minha memória, porque no Rio de Janeiro é que aconteciam essas coisas, na capital da República, hoje tão esquecida do poder público.

            Mas veja bem, não se chega a um ministério por sorte ou por exame vestibular. O cidadão é escolhido. O ideal seria que as bancadas do Senado e da Câmara Federal fossem ouvidas nessas escolhas. Isso seria o ideal. Mas não me lembro - talvez o tenha o Juscelino - realmente que houvesse esse tipo de critério, que é muito pessoal.

            Sr. Presidente, agradeço a V. Exª a tolerância por estar presidindo esta sessão. Vejo tanto idealismo na sua presença nas duas tribunas ou na Presidência, vejo tanto querer bem ao Brasil, que isso me empolga e a todos nós.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/08/2008 - Página 30577