Discurso durante a 151ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apreensão com relação ao conflito entre a Rússia e a Geórgia sobre o território da Ossétia do Sul.

Autor
Antonio Carlos Valadares (PSB - Partido Socialista Brasileiro/SE)
Nome completo: Antonio Carlos Valadares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Apreensão com relação ao conflito entre a Rússia e a Geórgia sobre o território da Ossétia do Sul.
Publicação
Publicação no DSF de 22/08/2008 - Página 34066
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • APREENSÃO, GUERRA, PAIS ESTRANGEIRO, RUSSIA, GEORGIA, POLEMICA, APOIO, INDEPENDENCIA, TERRITORIO, FAIXA DE FRONTEIRA, TENTATIVA, UNIÃO EUROPEIA, FRANÇA, PACTO, SOLUÇÃO, CONFLITO, REGISTRO, FALTA, ACORDO INTERNACIONAL, GARANTIA, PAZ, INTEGRAÇÃO.
  • REGISTRO, OCORRENCIA, GUERRA, PERIODO, OLIMPIADAS, CONFLITO, ATLETA PROFISSIONAL, PAIS ESTRANGEIRO, RUSSIA, GEORGIA, DEFESA, MANUTENÇÃO, PAZ, SIMBOLO, ESPORTE.

O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (PSB - SE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos nós estamos acompanhando, apreensivos, o conflito entre a Rússia e a Geórgia sobre o território da Ossétia do Sul, ocorrido no dia anterior ao início dos jogos olímpicos.

Trata-se de uma área de fronteira entre a Rússia e a Geórgia, com uma população de aproximadamente 70 mil habitantes, com etnia, língua e cultura diferenciada tanto da Rússia como da Geórgia, que busca sua soberania. Ocorre que a Geórgia reputa ser mero separatismo essa ação política da Ossétia do Sul, enquanto que a Rússia apóia os separatistas como forma de enfraquecer a Geórgia - que desde o colapso da União Soviética, em 1991, vem se aproximando dos Estados Unidos e tentando ingressar na OTAN.

Sr. Presidente, fico aqui cá com meus botões pensando no que teria ocorrido se a Geórgia, apoiada pelos Estados Unidos, não tivesse sido “temporariamente recusada” pela Alemanha de ingressar na Aliança do Atlântico Norte, uma vez que a regra basilar da OTAN - aliança militar fruto da guerra fria - é o apoio bélico imediato, quando qualquer de seus membros sofrem agressão militar.

A Comunidade Européia, por meio da França, intermediou um pacto para colocar fim ao conflito armado estabelecido entre a Rússia e a Geórgia. O ponto central do acordo internacional é, por um lado, retroagir a ocupação militar da Rússia aos limites territoriais de antes do início do conflito. E, pelo lado da Geórgia, buscar pela via diplomática a negociação com a Ossétia do Sul. Apenas para lembrar: o conflito foi deflagrado pela Rússia, logo após a Geórgia invadir a Ossétia do Sul.

Ao que tudo indica, tal proposta é frágil, pois ambos os países trocam acusações após essa trégua estabelecida. E, para mim, Srªs e Srs. Senadores, o fato é que os Estados Unidos e a Comunidade Européia precisam da Rússia e a Rússia precisa destes países. Exemplo disso é a boa relação da Rússia na condução dos acordos sobre o programa nuclear do Irã. Os russos querem se integrar mais ao sistema econômico mundial e serem levados a sério no cenário diplomático.

Portanto, o que ficou claro com a guerra da Ossétia é a atual situação de insatisfação entre os russos e as nações do Ocidente.

Uma boa maneira de compreender essa necessidade de interação entre a Rússia e os países centrais do Ocidente pode ser exemplificada pelo simbolismo das Olimpíadas - que além de ser o maior evento esportivo, tem forte conotação política, basta vê que a equipe russa se recusou a admitir a derrota diante da Geórgia no torneio de voleibol de praia feminino, acusando que as jogadoras da equipe adversária são de “origem brasileira”. Os comentários das jogadoras russas aconteceram no fim do jogo, onde as jogadoras Andrezza Chagas e Cristine Santanna, ambas brasileiras, competem pela Geórgia. E, de qualquer modo, essa competição feminina começou com uma atmosfera de desportivismo, pois a dupla da Geórgia se negou a cruzar o campo para cumprimentar as suas adversárias russas.

Assim, a paz, não somente entre a Rússia e a Geórgia, mas a paz mundial não foi alcançada - como muitos imaginavam - com o colapso dos países do Leste Europeu e a “unificação do mercado mundial”, pois as guerras continuaram eclodindo: na Europa, entre as nações da ex-Iugoslávia, entre russos e chechenos; na África, as “guerras civis” na Somália, em Ruanda, no Zaire e em Angola; a guerra do Afeganistão e do Iraque; além de inumeráveis conflitos de “baixa intensidade”, no resto do Planeta.

            A paz pode ser bem compreendida pelo simbolismo que as Olimpíadas nos coloca: com a idéia de criar um símbolo que resumisse o espírito olímpico de união e interação entre os povos, o organizador das Olimpíadas Modernas, Barão de Coubertin, idealizou a figura dos “anéis olímpicos”. O entrelaçamento dos anéis representa a união amistosa e pacífica das nações. Isto significa que a união entre as nações perpassa pela interação na participação da riqueza mundialmente produzida; na interação dos direitos humanos; na interação entre o reconhecimento das igualdades e diferenças entre as nações.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, olhemos com atenção para os Jogos Olímpicos. O símbolo da bandeira branca com os anéis multicoloridos é uma boa medida para compreender que a tão almejada paz passa pela necessidade de interação de compartilhamento da riqueza mundial e dos direitos humanos entre todas as nações.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/08/2008 - Página 34066