Discurso durante a 149ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à Maçonaria Brasileira, pelo transcurso do Dia do Maçom, e ao Grande Oriente do Brasil, pela celebração da data de sua criação, no dia 17 de junho de 1822.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à Maçonaria Brasileira, pelo transcurso do Dia do Maçom, e ao Grande Oriente do Brasil, pela celebração da data de sua criação, no dia 17 de junho de 1822.
Publicação
Publicação no DSF de 21/08/2008 - Página 31158
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, AUTORIDADE, SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, DIA, MAÇONARIA, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, LOJA, BRASIL, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, HISTORIA, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, IMPORTANCIA, DIVULGAÇÃO, TRABALHO, DEFESA, POSSIBILIDADE, CONVENIO, GOVERNO, SEMELHANÇA, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), APRESENTAÇÃO, VALOR, LIBERDADE, IGUALDADE, SOLIDARIEDADE.
  • REGISTRO, LANÇAMENTO, LIVRO, REUNIÃO, DISCURSO, SENADO, MAÇONARIA, PERIODO, HISTORIA, BRASIL.
  • ANUNCIO, CRIAÇÃO, ENTIDADE, UNIÃO, DIVERSIDADE, ORIENTAÇÃO, MAÇONARIA, OBJETIVO, FLEXIBILIDADE, DEBATE, MEMBROS.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente do Senado Federal, Senador Garibaldi Alves, V. Exª acaba de pronunciar uma bela peça de oratória, onde, não sendo maçom, demonstra realmente que, na história do Brasil e da humanidade, o trabalho dos maçons já é do conhecimento de todos. Gostei muito, Presidente, justamente da exortação que V. Exª fez à Maçonaria de hoje.

 O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - V. Exª me permite? Não se pode dialogar assim...

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - Mas é uma honra.

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - É a convivência com V. Exª e os outros maçons desta Casa, inclusive o Senador Efraim Morais.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - Imaginem que nem é mineiro; é do Rio Grande do Norte.

Quero também cumprimentar o Grão-Mestre Geral do Grande Oriente do Brasil, irmão Marcos José da Silva, e o irmão Heber Xavier, da Confederação Maçônica do Brasil, Comab.

Creio que, por algum evento superior a sua vontade, não está aqui presente o representante da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil. Falei ontem com o Secretário-Geral da Confederação, e ele me disse que, estando impossibilitado, mandaria um representante. De qualquer forma, está espiritualmente presente, com certeza.

Quero também cumprimentar o irmão Guilherme de Castro Couto Santos, Mestre Conselheiro Nacional da Ordem DeMolay; o irmão Jafé Torres, que, na condição de Grão-Mestre do Distrito Federal, digamos assim, faz as vezes de anfitrião de todos os maçons de outros Orientes que aqui estão presentes.

Também faço referência especial ao Presidente da Assembléia Federal Legislativa do Grande Oriente do Brasil, o irmão Ary, que aqui está presente; ao Presidente do Tribunal Superior Eleitoral Maçônico; ao Presidente do Tribunal de Justiça Maçônico e do Supremo Tribunal Maçônico do Grande Oriente do Brasil.

Quero cumprimentar os irmãos de todos os Orientes que estão aqui presentes, os Grãos-Mestres, os Veneráveis e, com muita satisfação, os jovens DeMolays que aqui estão. Não estou vendo agora, mas vi uma jovem da APJ - Associação Paramaçônica Juvenil.

Quero também dizer que é uma felicidade muito grande ter aqui presente o meu Mestre-Adjunto de Goiás, Irmão Vaz. Aqui está presente o irmão Oclécio, que é Grão-Mestre de Honra, que está representando o Governador de Goiás, que é nosso irmão, e também o Deputado Distrital Izalci, que é Secretário de Estado do Distrito Federal e que, nesta cerimônia, representa o Governador do Distrito Federal, que também é nosso irmão.

Feitas as saudações, desculpo-me, de antemão, com os demais irmãos e autoridades maçônicas a que eu não tenha me referido. Considerem-se mencionados, porque são tantos irmãos importantes para o Grande Oriente, para a Grande Loja, para os Grandes Orientes independentes, que, realmente, passaríamos a sessão toda nominando cada um deles. Portanto, quero que todos se sintam cumprimentados nas pessoas mencionadas.

Não vou falar da história da Maçonaria, embora eu tenha feito um pronunciamento, por escrito, que fala disso. Até porque, como disse o Senador Garibaldi, nosso Presidente, é sabido, sobejamente, que a Maçonaria, no século XVIII e mais ainda no século XIX, foi a grande locomotiva que provocou uma revolução nas mentes e no estado de coisas, notadamente na Europa, contra o absolutismo e a tirania dos reis, a oligarquia e a autoridade da Igreja, que estavam sempre casados. Por isso mesmo, fomos vítimas da famosa Inquisição. Quantos dos nossos antepassados morreram queimados na fogueira? Um exemplo disso é Jacques DeMolay, que empresta seu nome à Ordem DeMolay.

Contudo, não estamos livres de inquisições modernas. Temos, como disse o Presidente Garibaldi, que ver o que vamos fazer, daqui para frente, pelo nosso País, pela sociedade. Não há mais independência a ser feita no Brasil do ponto de vista político. O Brasil já é uma Nação independente. Não há mais que proclamar a República, a República já está proclamada. Não há mais, do ponto de vista material, que libertar os escravos. Tudo isso fizemos no passado; dirigimos e capitaneamos essas mudanças, mas hoje temos outros muros para derrubar, temos outros escravos para libertar.

Quero dizer que fico muito honrado por hoje realizarmos a oitava sessão anual dedicada aos maçons, por iniciativa de requerimento meu e de outros colegas Senadores, maçons e não-maçons, que apoiaram esses requerimentos desde 2001.

Assumi o mandato de Senador em 1999. Fiz, em 1999 e em 2000, isoladamente, pronunciamento de homenagem à Maçonaria; e, daí, veio-me a idéia de, junto com outros companheiros, fazermos uma homenagem, uma sessão especial de homenagem à Maçonaria, até para colocá-la de acordo com o mundo atual, com o século XXI, com o mundo globalizado, com o mundo da Internet, com o mundo da comunicação.

Temos que sair daquele período do século XIX em que se justificava estarmos escondidos, em que se justificava trabalharmos de maneira secreta. Hoje, isso não se justifica mais; não temos nada a esconder da sociedade. Tudo o que fazemos é só a prática do bem - e a prática do bem desinteressadamente. Então, temos que divulgar isso. Temos que mostrar para a sociedade o que fazemos. É verdade que há um princípio básico na nossa Ordem, que tem fundamento na Bíblia, de que, quando fazemos um bem, devemos fazê-lo com uma mão sem que a outra perceba. Mas isso significa que não se deve expor a pessoa que recebe um apoio, um auxílio ao conhecimento público, causando-lhe qualquer constrangimento. Porém, não é a mesma coisa, por exemplo, uma loja maçônica publicar, no fim do ano, seu balanço social e dizer que ela tem uma creche, uma escola, um asilo para velhinhos ou que atendeu tantas pessoas sem, contudo, nominá-las. Isso é maçonaria no sentido exato da palavra.

Mais ainda: somos três potências. E quem não é maçom pergunta: qual é a Maçonaria? Todas são. E é importante que pensemos que estamos num momento em que, cada vez mais, vemos, até no mundo comercial, que, se não se formarem blocos, individualmente, ninguém faz mais nada. Então, se somos três potências, que têm um número grande de irmãos, devemos nos unir. Não estou falando a palavra “fundir”, mas unir. Aliás, unidos já até somos, na prática, mas precisamos fazer com que essa união seja usada de maneira mais forte, mais presente, mais atuante.

Sempre tenho dito e analisado o seguinte: vemos toda hora, na imprensa, ONGs de todo tipo; e ONGs que recebem milhões de reais do Governo Federal, por exemplo, bem como de outros governos, de instituições transnacionais, sob alegação de que vão fazer um trabalho solidário, quando, na verdade, o que muitas delas fazem é roubar esse dinheiro.

E nós somos uma grande ONG; a maior do Brasil, com certeza. A maior no que tange à sua organização, porque nenhuma tem os fundamentos que temos, de estruturar, como base, o amor à família, o amor e o respeito a um ser supremo, o respeito à mulher. E, aqui, quero fazer uma referência especial. Muita gente pensa que a Maçonaria é uma espécie de “clube do Bolinha”, do qual a mulher não participa, no qual a mulher não entra. Basta dizer que só entramos para a Maçonaria se nossa mulher concordar. Quer maior demonstração do que essa de que nossa Ordem prioriza a mulher? Se uma pessoa, Presidente Garibaldi, por mais correta que seja, quiser entrar para a Maçonaria, mas sua esposa, por alguma razão, não concordar com isso, não estiver convencida de que ele deve entrar, nós não a aceitamos. Por quê? Porque nossa prática é consolidar a família. Temos a convicção de que a família é, realmente, a célula da Pátria; é a célula da sociedade. Então, a mulher para nós é muito importante. E elas fazem um trabalho muito maior do que o nosso, porque elas carregam o trabalho social da Maçonaria nas costas mais do que nós. E existem associações femininas, tanto no Grande Oriente quanto na Grande Loja ou na Comab, que fazem um trabalho maravilhoso. Mais uma vez, digo: lamento que esse trabalho não seja conhecido do público.

Então, a Maçonaria tem que se comunicar, e se comunicar no bom sentido. Ela tem que mostrar que, realmente, somos homens bastante preparados para fazer uma nova revolução.

Como eu dizia, somos, então, uma ONG maior no que tange à qualidade das pessoas que temos, no que tange à estrutura física, porque estamos presentes em quase todos os Municípios do Brasil; somos uma ONG que não vive pedindo isso ou aquilo ao Governo para sobreviver. Mas por que não podemos ter um convênio com o Governo Federal, com os Governos estaduais ou municipais? Podemos e devemos ter, para colaborar, aí sim, de maneira séria, como um setor que pode complementar a ação do Governo.

Neste momento em que o Brasil atravessa algumas ambigüidades, seja no campo do Direito, da Justiça, das liberdades individuais, temos que pensar naquele nosso grande lema: liberdade, igualdade e fraternidade. Mas que liberdade é essa que pregamos? Será que é aquela liberdade que ajudamos os escravos a conquistarem? E será que demos liberdade completa aos escravos, quando só deixaram de ser escravos? Será que não há que se libertar muita gente, independentemente de raça, de cor ou de credo, como fazemos? E muita gente pergunta: a Maçonaria é uma religião? Não é. É lógico que não estou falando para os maçons, porque eles sabem disso. Estou falando para aqueles que não são maçons. A Maçonaria, pelo contrário, aceita pessoas de qualquer religião. Portanto, é uma entidade ecumênica, que prega de fato e aceita de fato a liberdade de crença, a liberdade de pensamento, a liberdade de ação, mas que, principalmente, luta pela liberdade dos direitos das pessoas. É importante que a gente tenha, realmente, garantida a liberdade, que cada um tenha acesso, igualmente, a tudo.

Aí, vem o segundo item: a igualdade, que casa com a liberdade. De que adianta ser livre se você não é igual ao outro, que é livre, do seu lado?

A igualdade que pregamos na época da Revolução Francesa é mais atual do que nunca, porque, no momento em que a sociedade descrê do Poder Judiciário, que aplica a justiça, e descrê do Poder Legislativo, caminhamos fortemente, Senador Garibaldi, para aquilo a que V. Exª se referiu: a tirania, o despotismo.

Temos de reforçar as nossas leis, principalmente a nossa Carta Maior, a nossa Constituição. Aquela sensação de que punir é prender e exibir uma pessoa presa funciona nos regimes totalitários, que tanto combatemos. Temos de garantir -e a nossa Lei diz isso, a nossa Constituição diz isso - a quem está sendo acusado o direito de se defender. E aqui venho, de novo, para a parte da igualdade.

Aí, se diz: “Ah, mas o rico, no Brasil, se defende porque pode pagar”. E por que o pobre não se defende? Porque o Governo, que deve pagar por ele, não paga. As Defensorias Públicas, que a Constituinte de 1988 previu e, portanto, são uma obrigação do Governo Federal e dos Governos estaduais, para que servem? Para que um advogado bem pago como defensor - e a média de salário, no Brasil, está em torno de R$8 mil - possa defender um pobre quando ele é preso. Mas não, o que se vê é que Estados ricos, Senador Garibaldi, como São Paulo, não têm defensores suficientes. Estados ricos, como Santa Catarina, não têm Defensoria. O meu Estado, que é pobre, Roraima, tem 38 defensores. São Paulo tem 400. Agora, veja a população de Roraima e veja a população de São Paulo. Aí, São Paulo faz um arremedo contratando, terceirizando o serviço com a OAB de São Paulo, o que dá um imbróglio.

Então, temos de brigar para que o Governo Federal e os Governos estaduais cumpram a sua parte, mas no âmbito federal é pior, é pior. Se o meu Estado há 38 defensores estaduais, tem somente dois federais. Então, se um pobre cometer, querendo ou não querendo, um ilícito penal federal, ele está mal, realmente, porque o Governo, que arrecada imposto de todos, não paga para que o pobre tenha um advogado. Aí, depois, vêm ilustres figuras do Poder Executivo dizer que “a polícia prende e o Judiciário solta”.

Ora, é preciso que a gente diga, com clareza, para a população que a polícia só prende sem ordem judicial em flagrante delito, isto é, quando ela pega uma pessoa cometendo um crime visivelmente, abertamente. Fora disso, ela só prende com ordem judicial e, é óbvio, só pode soltar com ordem judicial. E o Poder Judiciário interpreta as leis que são feitas aqui, no Senado e na Câmara. Então, é muito importante que nós lutemos por esses princípios de maneira muito forte.

E a última palavra é fraternidade. Quem é que não tem o sonho de ver um mundo em que todos os homens e mulheres se tratem, realmente, como irmãos que amam um ao outro? É este o sonho do maçom: que, realmente, nós não só nos chamemos de irmãos, mas nos tratemos como irmãos.

É verdade que muita gente que não é maçom, às vezes, pensa que, uma vez adentrando a instituição da Maçonaria, estará com seus problemas resolvidos. Não é verdade; é o contrário. Quem vem para a Maçonaria tem de pensar assim: “Eu vou para dar, eu vou para servir e não para ser servido ou para receber”. Quem vem para a Maçonaria pensando em receber, pensando em se servir, vai se decepcionar, porque, realmente, aqui é para a gente dar, trabalhar e servir.

Eu quero dizer da minha felicidade por ter - eu tenho repetido isso em todas as homenagens - sido filho de maçom. Meu pai era um maçom das Grandes Lojas, na época em que um maçom, por exemplo, não podia ser padrinho de uma criança, porque o padre não deixava, porque o maçom era excomungado. Finalmente, o Papa João XXIII acabou com isso e pediu até perdão aos maçons pelos horrores que a Igreja Católica fez no passado contra eles. Chegou a dizer que, em alguns momentos, era mais importante ter um compasso e um esquadro numa parede do que um crucifixo enferrujado, quer dizer, que não era nem olhado em certos lugares.

Hoje, não sofremos mais essa perseguição aberta, mas, como está em nossos ensinamentos: “república hoje, tirania amanhã”. Nós não sabemos. Temos de estar preparados sempre para que não voltem, portanto, os horrores do passado, disfarçados - às vezes, disfarçados -, como foram disfarçados no passado.

Sob o pretexto de se combater a impunidade, legitima-se, por exemplo, um estado policialesco, em que ninguém mais pode ter tranqüilidade de usar um telefone celular, em que ninguém mais pode ter a tranqüilidade de, amanhã, não ser acusado, em uma armação, de ser um criminoso, um malfeitor. Nós temos de combater isso. E como nós vamos combater isso? Participando da vida política, direta ou indiretamente - direta ou indiretamente, repito. Não quero dizer que temos de formar um partido maçônico. Não! Vamos usar os canais democráticos existentes.

Do que adianta reclamar, por exemplo, que existem políticos corruptos, se nós não agimos para evitar que existam políticos corruptos? Então, como fazemos isso? Engajando-nos: ou candidatando maçons, ou apoiando não-maçons mas que tenham o perfil que pregamos na Maçonaria.

O que dizemos que uma pessoa necessita para ser maçom? Ser livre e de bons costumes. O que é ser livre? Ser livre é exatamente isto: ter a possibilidade de falar, de pensar, de agir, de interagir e de defender os princípios da igualdade, da fraternidade e da legalidade, acima de tudo.

Então, quero agradecer, sem me alongar muito, Sr. Presidente, às autoridades maçônicas e senhoras presentes a esta sessão. Quero dar um abraço especial na minha filha, que está presente, e no meu genro, que é maçom, e dizer que, realmente, tenho uma grande paixão pela Maçonaria e uma crença muito grande de que nós só precisamos despertar para o século XXI para fazer a revolução que precisamos fazer. Gente, qualidade, estrutura física e meios nós temos. Só basta que nós façamos mais do que estamos fazendo. Eu não estou dizendo que não estamos fazendo, não. Estamos fazendo um grande trabalho, silencioso, presente, mas aquém das nossas forças e aquém das nossas possibilidades.

Quero me antecipar ao Senador Efraim e, com a permissão dele, dizer aos irmãos que estamos lançando, hoje, o livro O Senado e a Maçonaria, que, na verdade, é uma coletânea de discursos. Capitaneados pelo Senador Efraim, que é o 1º Secretário do Senado, com a autorização do Presidente Garibaldi e com a minha modesta colaboração, demos esse primeiro passo. Pretendemos fazer um outro volume mais completo, até com pensamentos... Mas este traz discursos de Senadores maçons, desde o Império, e de Senadores não-maçons também, que procuraram estudar e ver o que era a Maçonaria.

Informo aos irmãos que, na saída, ao pé da porta principal, ao término da sessão, poderão, cada um, pegar um exemplar para ter na sua biblioteca maçônica.

Finalmente, quero comunicar aos irmãos que um grupo de maçons deveremos lançar, amanhã, uma instituição chamada Instituto da Maçonaria do Brasil. O que pretende esta instituição? Substituir uma das potências existentes? Não; sequer pretende ser uma potência. Não é uma potência. É uma organização paramaçônica, digamos assim, que tem por princípio congregar maçons regulares das três potências, inclusive os maçons que sejam DeMolays, porque queremos fazer uma instituição em que haja espaço para que a gente possa colocar em prática, de maneira mais flexível do que às vezes pode fazer a potência regular, os princípios da Maçonaria mais ao alcance da população e da sociedade.

Então, este Instituto, que se implantará, inicialmente, no Distrito Federal, terá longa caminhada. Mas, o sonho, realmente, é o de que ele possa se transformar em um Instituto de ponto de apoio e de conexão com o Grande Oriente do Brasil, com o Grande Oriente Independente, com a Comab, com a Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil e com os nossos jovens DeMolay, os apejotistas, as Filhas de Jó, ainda não as havia mencionado; enfim, uma instituição composta por filhas de maçons e não-maçons também. Portanto, por meio deste instituto, queremos colaborar com as potências regulares para que possamos fazer um trabalho grande.

Digo sempre que a Maçonaria fez o século XIX, mas perdeu o século XX. Não vamos perder o século XXI! Vamos fazer com que o século XXI seja o da nova Maçonaria, que realmente seja um século em que todos nós, aqueles que ainda estão iniciando e aqueles que já tenham atingido os mais altos postos, possamos, inclusive aqueles que já estão cansados, digamos, dar muito pela futuro da nossa instituição.

Ficamos muito felizes, todos nós: o Senador Efraim, o Senador Alvaro Dias, o Senador Gim Argelo, o Senador Valdir Raupp, o Senador Cícero Lucena, o Senador Leomar Quintanilha e eu, que somos maçons, além de outros irmãos que apuseram suas assinaturas no requerimento para a realização desta sessão, e esperamos, realmente, que, desta sessão, possamos partir para um novo momento na Maçonaria.

Muito obrigado a todos.(Palmas.)

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR MOZARILDO CAVALCANTI.

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O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nesta sessão especial, o Senado Federal faz uma dupla homenagem: à Maçonaria Brasileira, pelo transcurso do Dia do Maçom, comemorado aos 20 de agosto, e à maior das instituições maçônicas brasileiras, o Grande Oriente do Brasil, que celebrou no dia 17 de junho a sua fundação, havida, tal qual a Nação brasileira, no ano de 1822.

Como instituição federativa - formada a partir de Lojas Maçônicas atuantes nas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói - o Grande Oriente é, formalmente, contemporâneo da independência do Brasil, evento que antecede em alguns poucos meses. Como agente político, entretanto, o movimento maçom é mais que um mero predecessor do 7 de setembro: ele é, muito antes, um dos mais importantes focos de reflexão, debate e ação que jamais ousaram pensar, planejar e implementar os passos fundamentais da identidade e da autonomia nacional brasileira.

Essa força pode ser medida pela eleição de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patrono da Independência, para o posto de Grão-Mestre, e de Joaquim Gonçalves Ledo, para o de Primeiro Vigilante, na ilustre composição inicial que comandou o Grande Oriente do Brasil. O próprio Imperador, Dom Pedro I, viria a assumir o grão-mestrado nacional, alguns meses depois.

Mas, para além do processo de independência, continuaria destacado o papel da instituição maçônica na história nacional, seja na consolidação do Império, na luta pela libertação dos escravos, na Proclamação da República ou na organização do Estado republicano brasileiro. E são tantos os personagens ilustres e tantos os feitos notáveis da maçonaria brasileira, sempre em favor do Brasil e dos brasileiros, que se torna muito difícil destacar apenas alguns deles.

Formado por homens de elevado espírito público, posicionados em setores importantes da sociedade brasileira, tais como o jornalismo, as Forças Armadas e as mais importantes profissões liberais, o Grande Oriente teve, a partir da metade do século XIX, atuação marcante em praticamente todas as campanhas sociais e cívicas da Nação.

No movimento pela extinção da escravatura negra no País, atuou na instância jornalística e no front parlamentar, obtendo, com a "Lei Euzébio de Queiroz", em 1850, a extinção do tráfico de escravos; e com a "Lei Visconde do Rio Branco", de 1871, a liberdade das crianças nascidas em escravidão. Euzébio de Queiroz foi maçom e membro do Supremo Conselho do Grau 33; e o Visconde do Rio Branco, quando chefe do Gabinete Ministerial, foi também Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil.

Outra campanha relevante foi a republicana, tendo à frente - além de importantes intelectuais, ativistas da República - o próprio Marechal Deodoro da Fonseca, Grão-Mestre de 1890 a 1892. A presença de maçons ilustres ocupando a Presidência da República, inaugurada com Deodoro, iria estender-se com Floriano Peixoto, Campos Salles, Hermes da Fonseca, Nilo Peçanha, Wenceslau Brás e Washington Luís, apenas no âmbito da República Velha.

Ao longo de toda nossa ulterior história republicana, a presença maçônica sempre se fez sentir, seja no apoio à participação do Brasil nas duas Guerras Mundiais, ao lado das nações democráticas, seja no apoio às ações pela preservação ou restauração da democracia no País, durante os difíceis períodos em que as liberdades democráticas foram limitadas ou suprimidas. Essa atuação culminou na participação que teve a Maçonaria na campanha pela volta das eleições diretas, movimento que preparou o fim do regime militar, em meados da década de 1980.

Senhoras e Senhores, o Grande Oriente do Brasil, presente na Capital da República desde 1978, espalha-se hoje por diversos Estados brasileiros, contando com aproximadamente duas mil Lojas, que congregam dezenas de milhares de irmãos maçons. Ele é, hoje, a maior Obediência Maçônica do mundo latino, reconhecida como regular e legítima pelas mais importantes instituições maçônicas mundiais, inclusive a Grande Loja Unida da Inglaterra, conforme os termos do Tratado de 1935.

O Grande Oriente do Brasil, Senhor Presidente, também desenvolveu, ao longo de sua história, estreita relação com as instituições políticas brasileiras, inclusive com o Senado Federal. De fato, dentre os Grão-Mestres Gerais, destacam-se ilustres Senadores, tais como o Marquês de Abrantes e o Visconde do Rio Branco, no Segundo Império; Lauro Nina Sodré e Silva e Nilo Peçanha, na República Velha; e Osíris Teixeira, já no período mais recente, em fins da década de 1970.

Embora muito próxima do mundo institucional, a maçonaria invoca para si objetivos relevantes sobretudo para a vida dos indivíduos e dos cidadãos. Entre eles estão os de ajudar os homens a reforçarem o seu caráter, melhorar sua bagagem moral e espiritual e aumentar seus horizontes culturais.

A sociedade dos maçons é, por excelência, uma sociedade fraternal, que admite todo e qualquer homem livre e de bons costumes, sem distinção de raça, religião, ideário político ou posição social. Suas únicas exigências são de que o candidato possua espírito filantrópico e sustente firme propósito de sempre buscar a perfeição. Simbolicamente, o Maçom se vê como uma pedra bruta, que deve ser trabalhada com os instrumentos adequados para converter-se, com o tempo e com esforço próprio, numa forma perfeita, capaz de encaixar-se corretamente na estrutura do mundo, que é o Templo do Criador, o Grande Arquiteto do Universo.

Dentro dessa visão universal é que a Maçonaria e os maçons sempre se bateram pela construção dos grandes ideais de liberdade e de justiça social. Desde os primórdios medievais, os construtores de catedrais - desses edifícios que constituem verdadeiras alegorias da liberdade insculpidas na pedra - a confraria dos maçons, seus construtores, era formada por homens livres; homens que livremente escolhiam edificar os templos erigidos para honra do Grande Arquiteto.

Sr. Presidente, da construção de catedrais, os maçons passaram à construção das sociedades humanas baseadas na busca da perfeição individual, do bem comum e da harmonia entre as pessoas; em outras palavras: fundamentadas na Liberdade, na Igualdade e na Fraternidade.

Mesmo que humana e, eventualmente, maculada por erros, tropeços e desentendimentos - preço que se paga pela imperfeição, característica própria dos feitos humanos - a evolução moral e espiritual do maçom e da maçonaria teima em buscar a correção desses tropeços, em aparar as arestas e em perseguir o bem último que está no fim de toda a História. Em resgatar da pedra bruta a perfeição almejada, na forma e no conteúdo.

Ss e Srs. Senadores, o Grande Oriente do Brasil, com mais de 186 anos de existência, e mais 177 de atuação ininterrupta no seio da sociedade brasileira, comemora neste 17 de junho sua data de fundação, orgulhoso da contribuição que tem dado à construção de um Brasil melhor e mais justo.

Essa contribuição, Senhoras e Senhores, tem como base o maçom brasileiro - pedra, espírito e fundamento de uma saga já centenária, cujos desdobramentos, entretanto, ainda se projetam num futuro que, esperamos, fará jus às tradições maçônicas é à grandeza do Brasil.

Esse era o registro que desejava fazer, em homenagem ao Grande Oriente do Brasil e a todos os maçons brasileiros, suas famílias e seus entes queridos. Continuemos todos nós, juntos, no curso de uma missão que a todos honra e engrandece.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/08/2008 - Página 31158