Discurso durante a 152ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a posse do Presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.:
  • Considerações sobre a posse do Presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo.
Publicação
Publicação no DSF de 23/08/2008 - Página 34445
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, POSSE, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, PARAGUAI, SIMBOLO, INICIO, ESTABILIDADE, DEMOCRACIA, NECESSIDADE, IMPEDIMENTO, INTERFERENCIA, GRUPO, OPOSIÇÃO.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, MOVIMENTO TRABALHISTA, PAIS ESTRANGEIRO, PARAGUAI, TENTATIVA, EXPULSÃO, BRASILEIROS, FRONTEIRA, ALEGAÇÕES, IRREGULARIDADE, PROPRIEDADE, AGRAVAÇÃO, SITUAÇÃO, INVASÃO, TERRAS, DESTRUIÇÃO, PLANTIO.
  • IMPORTANCIA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, ENTREVISTA, JORNAL, PAIS ESTRANGEIRO, PARAGUAI, REPUDIO, VIOLENCIA, ILEGALIDADE, OCUPAÇÃO, TERRAS.
  • DEFESA, NECESSIDADE, REFORMA AGRARIA, PAIS ESTRANGEIRO, PARAGUAI, IMPORTANCIA, RECONHECIMENTO, CONTRIBUIÇÃO, BRASILEIROS, PROGRESSO, RELEVANCIA, GARANTIA, DIREITO DE PROPRIEDADE, IMIGRANTE.
  • EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, PARAGUAI, SOLUÇÃO, PROBLEMA, RESTAURAÇÃO, ESTABILIDADE.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, toma posse nesta sexta-feira o presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo. É um acontecimento histórico para o país vizinho, pois encerra 61 anos de controle do poder pelo Partido Colorado. A promessa de início de uma nova era, de estabilidade democrática, não pode, entretanto, ser comprometida pela ação de grupos radicais, integrantes da complexa coalizão, formada por partidos de diversas correntes ideológicas, que levou Lugo ao poder.

É inquietante o desembaraço crescente com que vêm agindo organizações hostis aos colonos brasileiros que vivem ao longo dos quase 1.300 quilômetros de fronteira seca que compartilhamos com o Paraguai. Dirigentes de entidades como a ONAC, a Organização Nacional Campesina, e da Mesa Coordenadora de Organizações Camponesas são pródigos em declarações ameaçadoras, anunciando invasões maciças contra propriedades privadas e defendendo publicamente a expulsão de todos os agricultores brasileiros.

Nos últimos dias, ocorreram invasões de terras, destruição de plantações, intensificação de acampamentos e ações de intimidação. A maioria dessas ações aconteceu no Departamento de São Pedro, onde Fernando Lugo foi bispo da Igreja Católica. A fazenda do brasileiro Ângelo Brunotte, no povoado de Lima, foi invadida por sem-terras que destruíram a maior parte de sua plantação de 200 hectares de girassol. O líder da invasão disse que os cerca de 150 ocupantes só sairão quando receberem garantias de outras terras.

No mesmo departamento, outra fazenda pertencente a um brasileiro foi invadida. Ana Mujica, dirigente da Onac, reivindica a expulsão de todos os brasileiros, alegando que suas terras “pertencem aos paraguaios”. O líder da Mesa Coordenadora em São Pedro, Elvio Benitez, também prega a expulsão dos brasileiros que têm terras no país, e organiza manifestações em que a bandeira brasileira é queimada.

É tranqüilizador que Benitez tenha sido chamado de anarquista pelo futuro ministro paraguaio da Agricultura e Pecuária, Cándido Vera, que, numa demonstração de bom senso, condenou publicamente seu radicalismo. Também é alentador ler, na edição de hoje, quinta-feira, do ABC Color, o principal jornal paraguaio, uma entrevista do novo presidente em que ele diz que as ocupações violentas de terras devem acabar, já que “beiram a ilegalidade”.

É impossível não reconhecer a necessidade de uma reforma agrária no Paraguai, onde apenas 1 por cento da população concentra a propriedade de 77 por cento das terras férteis. Trata-se de um país em que 40 por cento da população vive abaixo da linha de pobreza. Mas também é impossível deixar de admitir a significativa contribuição dos imigrantes brasileiros para o progresso paraguaio, e a necessidade de respeito aos seus direitos, entre os quais o de manter a propriedade de terras legitimamente adquiridas.

Espera-se que o novo presidente vá além das palavras, e logo depois de sua posse adote medidas para restaurar a tranqüilidade, reprimindo as ações de vândalos que não têm o menor respeito pelas leis. Na verdade, eles são provavelmente a maior ameaça à perspectiva de um Paraguai mais justo e próspero representada pela eleição de Fernando Lugo.

            Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/08/2008 - Página 34445