Pronunciamento de Jorge Afonso Argello em 01/08/2008
Discurso durante a 135ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Homenagem de pesar pelo falecimento do artista plástico, Athos Bulcão.
- Autor
- Jorge Afonso Argello (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/DF)
- Nome completo: Jorge Afonso Argello
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.
:
- Homenagem de pesar pelo falecimento do artista plástico, Athos Bulcão.
- Publicação
- Publicação no DSF de 02/08/2008 - Página 28445
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, ARTISTA, ARTES PLASTICAS, IMPORTANCIA, OBRAS, DEFINIÇÃO, IDENTIDADE, CAPITAL FEDERAL, COMENTARIO, HISTORIA, ESCULTOR, VINCULAÇÃO, DISTRITO FEDERAL (DF), AUXILIO, ARTE MODERNA, ACESSO, PUBLICO, REGISTRO, LEGISLAÇÃO, INICIATIVA, ORADOR, QUALIDADE, DEPUTADO DISTRITAL, OBRIGATORIEDADE, AREA PUBLICA, EDIFICIO, EXPOSIÇÃO, OBRA ARTISTICA.
O SR. GIM ARGELLO (PTB - DF. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Suplicy. Sinto-me honrado também com a sua assinatura, e, da mesma forma, com a assinatura do nosso Líder Epitácio Cafeteira.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, com muito pesar, recebemos ontem a notícia do falecimento do artista plástico Athos Bulcão. Presto hoje uma pequena homenagem a esse grande criador, cuja obra ajudou a definir a identidade visual moderna e arrojada de nossa Capital federal.
De fato, Sr. Presidente, os painéis de azulejos que formam verdadeiros mosaicos, marca registrada de Bulcão, definem visualmente Brasília, quase tão bem, eu diria, quanto os traços leves da arquitetura de Oscar Niemeyer.
Bulcão descobriu a vocação artística ainda jovem, quando cursava a faculdade de Medicina. Largou a faculdade para dedicar-se à pintura com pouco mais de 20 anos, logo se envolvendo com a efervescente boemia intelectual do Rio de Janeiro nos anos de 1940. É em 1943 que conhece Oscar Niemeyer, iniciando uma parceria que o traria a Brasília em 1958, quando da construção da cidade. Daqui não mais saiu, tornando-se cidadão honorário de Brasília em 1997.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Athos Bulcão, juntamente com Lúcio Costa, Oscar Niemayer e Burle Marx, forma a geração de ouro da arquitetura e do urbanismo brasileiro - a geração responsável por Brasília. Como os demais, tem trabalhos espalhados por vários países, mas o que marcou definitivamente sua trajetória foi seu vínculo com a nova capital, que ajudou a criar, foi sua ligação com essa cidade urbanisticamente revolucionária e visualmente moderna, que é Brasília.
A arte de Athos Bulcão, aliás, alinhou-se perfeitamente com o arrojo arquitetônico e urbanístico de Brasília. Há talvez poucos outros exemplos contemporâneos de casamento tão feliz entre artes plásticas e arquitetura, de que é exemplo eloqüente, por exemplo, o Teatro Nacional Cláudio Santoro, a nossa Igrejinha, da 308. Assim é a arte de Athos Bulcão: pública, convivial, cenário que realça seu entorno com suavidade, integrando-se a ele, e traz a beleza para bem perto de nós.
Sr. Presidente, inspirado no museu aberto, que é Brasília, com a arte de Athos Bulcão, quando Deputado Distrital fiz uma lei inspirado nele, conversando com ele, a Lei das Artes do Distrito Federal. Ficou estabelecido que em todo prédio acima de mil metros quadrados, público ou particular, para se tirar o “habite-se”, tem que ter um objeto de arte, tem que ter as esferas de Darlan Rosa, esculturas tão belas, obras de Toninho, de Omar Franco. Vocês que passam pelo Sudoeste, convivem com a nossa cidade, todos os Senadores do Brasil, podem ver que, nestes últimos cinco anos, já conseguimos colocar mais de 4 mil obras de arte em Brasília.
Não importa o tamanho da obra de arte, mas é obrigatório que tenha pelo menos uma, porque estamos fazendo de Brasília o exemplo que Athos Bulcão nos deixou.
Athos Bulcão foi também professor, um dos grandes nomes que participaram da fundação da Universidade de Brasília, sob a direção de Darcy Ribeiro. Demitido em 1965, foi reintegrado em 1988, já perto de se aposentar. Dez anos mais tarde, é agraciado com o título de Professor Emérito e, na ocasião, pronuncia um discurso, que gostaria de citar para encerrar esta minha breve homenagem. Dizia o artista:
Essas duas realidades, a Universidade e a Cidade, ambas extraordinárias, marcaram minha vida com o grifo do devotamento, o emblema do dever. O dever que nem sempre é provação, mas pode ser, ao contrário, uma iluminação. Troquei o Rio de Janeiro, minha cidade natal, belo e alegre, pelo cerrado, à espera de construções. À espera de alma e da beleza.
Artista eu era. Pioneiro eu fiz-me. Devo a Brasília esse sofrido privilégio. Realmente um privilégio: ser pioneiro. Dureza que gera espírito. Um prêmio moral.
Athos Bulcão nos deixa aos 90 anos, depois de uma vida plena, criativa, inspirada e inspiradora.
Para terminar, Sr. Presidente, quero aqui expressar, em nome dos brasilienses, nosso eterno reconhecimento pela arte de Athos Bulcão, parte inseparável de nossa querida cidade. Ao artista, nosso muito obrigado por sua inspiração, que, compartilhada com todos, trouxe mais beleza para nossas vidas.
Athos Bulcão escolheu Brasília como sua cidade, morava aqui na 315 nos últimos 50 anos. Brasília perdeu muito, mas vamos seguir seu exemplo.
À família, deixo aqui meus sinceros pêsames e toda a minha solidariedade neste momento de dor.
Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.
Muito obrigado.