Pronunciamento de João Pedro em 25/08/2008
Discurso durante a 153ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Reflexão sobre a discussão acerca do pré-sal, do petróleo e do gás encontrados na plataforma continental brasileira.
- Autor
- João Pedro (PT - Partido dos Trabalhadores/AM)
- Nome completo: João Pedro Gonçalves da Costa
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA ENERGETICA.:
- Reflexão sobre a discussão acerca do pré-sal, do petróleo e do gás encontrados na plataforma continental brasileira.
- Aparteantes
- Paulo Paim.
- Publicação
- Publicação no DSF de 26/08/2008 - Página 34465
- Assunto
- Outros > POLITICA ENERGETICA.
- Indexação
-
- COMENTARIO, DESCOBERTA, SUPERIORIDADE, JAZIDAS, PETROLEO, RESERVATORIO, SAL, NOTICIARIO, DEBATE, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), APREENSÃO, PERDA, RECURSOS, OPINIÃO, ORADOR, NECESSIDADE, ATENÇÃO, RISCOS, CONCENTRAÇÃO, RIQUEZAS, APOIO, DISCUSSÃO, MODERNIZAÇÃO, LEGISLAÇÃO, SETOR, RESPEITO, DIRETRIZ, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, AMBITO, PROPRIEDADE, UNIÃO FEDERAL, RECURSOS MINERAIS, DEFESA, COMBATE, DESIGUALDADE REGIONAL, DESIGUALDADE SOCIAL, APLICAÇÃO DE RECURSOS, EDUCAÇÃO BASICA, POSSIBILIDADE, INCLUSÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, SEMELHANÇA, EXPERIENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, NORUEGA.
- IMPORTANCIA, DEBATE, AUSENCIA, RESTRIÇÃO, BRASIL, EXPORTAÇÃO, OLEO CRU, DEFESA, AGREGAÇÃO, VALOR, PRODUÇÃO, DERIVADOS DE PETROLEO.
- AVALIAÇÃO, SUGESTÃO, CRIAÇÃO, EMPRESA ESTATAL, EXPLORAÇÃO, JAZIDAS, DEFESA, CONFIANÇA, CONTINUAÇÃO, ATUAÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), JUSTIFICAÇÃO, DEBATE, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, ALTERAÇÃO, DESTINAÇÃO, ROYALTIES, EXCLUSIVIDADE, PETROLEO, RESERVATORIO, SAL.
O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Marco Maciel, Srªs e Srs. Senadores, volto à tribuna para refletir acerca da discussão que o Brasil faz hoje sobre o pré-sal, o petróleo e o gás encontrados na plataforma continental brasileira.
Há poucos dias, no final da semana que passou, li matéria de um jornal renomado no Rio de Janeiro, o JB, que me chamou a atenção pelo foco das respostas dos candidatos fluminenses sobre esse debate. Chamou-me a atenção, Sr. Presidente, o fato de que todos os candidatos seguiram a linha de defesa do Rio de Janeiro, como se estivéssemos contra o Estado nessa discussão. Um dos candidatos chegou a mencionar que isso era coisa de São Paulo contra o Rio.
Não se trata de ser contra o Rio de Janeiro, trata-se de discutirmos uma riqueza, um bem que está a sete mil metros, a sete quilômetros de profundidade, segundo os estudos da Petrobras!
Precisamos repensar isso, porque os campos encontrados com petróleo e gás trazem números tão expressivos que nos levam a refletir sobre eles, sob pena de transformarmos seis prefeitos do Rio de Janeiro em grandes xeiques latino-americanos - teremos os xeiques do Brasil! - devido à riqueza do petróleo encontrado. Os números apresentados pela Petrobras vão sair de 12 bilhões de barris, que é a reserva do Brasil, para 80 bilhões, Presidente Marco Maciel, deslocando o Brasil do 25º lugar em reserva de petróleo para o 5º.
Portanto, precisamos repensar, sim, a Lei do Petróleo, que tem onze anos e, quando da sua elaboração, refletiu um contexto econômico. Nesses onze, doze anos, a Petrobras avançou nas pesquisas, tornou-se uma empresa reconhecidamente importante nacional e internacionalmente. E estamos saindo de um realidade petrolífera para outra devido à quantidade encontrada.
Precisamos ter um olhar para o Brasil neste exato momento. Nós não podemos discutir se o petróleo é do Rio de Janeiro. Não podemos.
Eu quero trazer esse assunto para esta Casa. Venho refletindo acerca dessa riqueza. A nossa Constituição, no seu capítulo II, diz que o petróleo é um bem da União. Com o princípio de que o petróleo é um bem da União, com essa quantidade e com a qualidade do petróleo encontrado pela Petrobras, vejo a importância de nós alterarmos a lei e olharmos para este Brasil: o Brasil do Nordeste, o Brasil do Centro-Oeste, o Brasil das cidades, das estradas e o Brasil lá da Amazônia. E há os royalties. Essa lei precisa ser mudada para ajudar a diminuir as diferenças regionais e as diferenças sociais. É preciso que essa riqueza seja revertida na educação básica do Brasil.
Sr. Presidente Marco Maciel, lá na Amazônia, nas comunidades rurais às margens dos rios, para as crianças irem à escola têm que se deslocar, às vezes, em pequenos barcos.
Alguns prefeitos conseguem construir bons barcos, mas, de modo geral, são precários. E crianças e adolescentes levam duas horas para ir à escola e duas horas para voltar para casa.
Nós podemos melhorar a qualidade do deslocamento, nós podemos melhorar a qualidade das escolas, nós podemos construir escolas verdadeiramente comprometidas com a educação, e não arranjos. Vejo que essa riqueza pode ter como prioridade a educação, principalmente a educação básica.
Então, muito precisa ser feito.
E quero chamar a atenção: esta discussão não pode ser feita contra o Rio de Janeiro. Não! É em defesa do Brasil, de parcelas significativas da nossa sociedade que precisam de recursos.
Ora, o pré-sal, Senador Paulo Paim, foi descoberto a sete mil metros. Existe tecnologia, inclusive sofisticada, para a exploração. Segundo estudos levantados, o investimento para potencializar toda a exploração do petróleo chegará, nos próximos dez ou quinze anos, a US$300 bilhões.
Nesses últimos dez anos, o petróleo no Brasil representou 2% do PIB. Hoje, sem o pré-sal, já representa 10% do PIB. Então, estamos falando de um tema que traduz riqueza: hoje, o petróleo já representa 10% do PIB.
Pois bem, temos na costa brasileira um quantitativo - são vários campos de petróleo e gás - que levou o Brasil a ser um outro país em relação a esse tema. Espero que possamos fazer uma discussão no sentido de trabalharmos essa riqueza para ser revertida ao Brasil que precisa de recursos. E aqui falo da educação.
A Previdência é um assunto que podemos embutir nesse tema. A Noruega é uma referência, um parâmetro nessa discussão, por conta do seu fundo. Lá, um percentual da riqueza gerada pelo petróleo é destinado à Previdência. Por que não fazer essa discussão aqui no Brasil? E nós, Parlamentares, as duas Casas, Deputados e Senadores, conhecemos este gargalo que é discutir a nossa Previdência.
Então, nós precisamos fazer essa discussão com serenidade. Primeiro, é um fato: o petróleo foi descoberto; segundo, o Brasil muda e vai ter uma das principais reservas petrolíferas do mundo, passa a ser o quinto, o quinto!
Assim, nós precisamos, dentro desse contexto, fazer essa discussão, e aí, fazer olhando o Brasil e não só... O petróleo não pode ser privilégio do litoral brasileiro. Por que tem que ficar no Rio de Janeiro? Não pode ser. Com essa quantidade, não pode ser privilégio do litoral. A riqueza desse petróleo deve ser distribuída com os brasileiros que compõem esta Nação.
Concedo um aparte a V. Exª.
O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador João Pedro, eu estava ouvindo o seu pronunciamento e confesso aqui, em público: quando V. Exª me disse, ainda sentado ao meu lado, que ia falar sobre o tema, eu disse que fazia questão de ficar aqui e ouvir o seu pronunciamento. E a minha alegria é maior ainda quando V. Exª dá o enfoque na linha daquilo que eu mais acredito que é fundamental para o povo brasileiro, que são os investimentos no campo social; questão de que o Presidente Lula também está falando - nós já o ouvimos falar.
Quando V. Exª lembra a descoberta de novas bacias de petróleo aqui, no Brasil, fico satisfeito porque, nesse fim de semana ou nesta semana, quando eu falava no Rio Grande, há um tempo atrás, liam-se, nas manchetes dos jornais do mundo, infelizmente, notícias que desabonavam o povo brasileiro. Eram notícias tristes, de catástrofes, de assaltos, de mortes. Hoje, nos jornais principais do mundo, vê-se exatamente a linha do seu pronunciamento: mais uma bacia de petróleo é descoberta no Brasil; Brasil investe agora no pré-sal. E aí vem o teor, para mim, fundamental do seu pronunciamento: fazer com que esses recursos sejam destinados ao social, seja para a saúde, seja para a educação, seja para a previdência, seja - claro que vou insistir - para os aposentados e pensionistas, naturalmente. Quando falamos de previdência, não são só os aposentados e pensionistas. Estamos falando, praticamente, da seguridade social, em que está a assistência à saúde e previdência. A previdência não é só aposentado. Há uma série de outros benefícios embutidos também na previdência. Por isso, fiz o aparte para cumprimentar V. Exª. V. Exª anuncia aqui que o Brasil, rapidamente, estará entre os cinco maiores produtores do mundo de petróleo. Quem sabe passaremos de país importador para país exportador, rapidamente. Rapidamente. Isso, naturalmente, é uma alegria muito grande para todos nós. Sua fala, na tribuna, no dia de hoje, anuncia o que gostamos de dizer lá no Rio Grande: bons ventos estão chegando. O minuano está soprando forte, e as estrelas iluminam as nossas almas, nossos corações, nossas mentes e nossas vidas. Parabéns a V. Exª.
O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - Obrigado pelo aparte.
V. Exª tocou num assunto: com esses campos petrolíferos encontrados, como V. Exª falou, o Brasil passa de importador a exportador. Já estamos saindo disso. Precisamos fazer um debate sobre isso, precisamos fazer com que o Brasil não seja exportador do petróleo cru, que possamos trabalhar e vender os derivados do petróleo. O mundo precisa dos derivados do petróleo. Ou seja, o Brasil precisa também fazer esse debate e ter uma postura diferente da de muitos países árabes que exportam petróleo cru. Nós precisamos investir em tecnologia, em pesquisa, para trabalharmos os derivados, ou seja, agregar valor a essa riqueza. Esse é um debate.
O segundo é sobre quem deve explorar esse petróleo. Fala-se agora - há mais um item nessa discussão - na criação de mais uma empresa. Sinceramente, estou aberto, não tenho ainda uma conclusão acabada sobre o tema, mas, pelo histórico, olhando rapidamente, penso que a Petrobras pode e deve ser a grande dirigente desse processo, do ponto de vista da pesquisa, da exploração, em vez de criarmos mais uma empresa.
Historicamente, a Petrobras merece. Na hora em que são encontrados esses campos com petróleo, eu penso que pertence à história da Petrobras ela continuar explorando e detendo isso, do ponto de vista moderno, não uma estatal com a concepção dos anos 50 ou 60. Nada disso. Ela pode e deve... Nós precisamos ter uma relação internacional. Mas o que eu digo é que a Petrobras deve ser a condutora desse processo, deste momento tão importante da pesquisa, da prospecção, da exploração, da comercialização do petróleo no Brasil. Eu acho que a Petrobras tem méritos e, nesse exato instante, merece toda a nossa confiança no sentido de ser a grande gestora deste momento.
Então, eu tenho um projeto de lei que trabalha a destinação sem mexer na exploração do petróleo em plataforma terrestre. Não. Eu apresentei um projeto de lei para trabalhar o pré-sal, este petróleo que está a sete mil metros de profundidade na costa brasileira. E, a sete mil metros de profundidade, não necessariamente tem que ser do Município da costa brasileira, do Município do Rio de Janeiro. Não, esse bem deve ser distribuído a partir de uma discussão profunda acerca da sua destinação. Falei aqui da Previdência, da pesquisa; as Forças Armadas precisam ser lembradas, principalmente a Marinha, com os royalties desse petróleo, que está lá, nessas profundidades da costa brasileira.
Apresentei esse projeto, mas estou aberto no sentido de construirmos um grande ambiente - já que vários Senadores e Deputados apresentaram também projetos nesse sentido - em defesa do País, pensando na Nação, pensando num projeto que possa qualificar a vida dos brasileiros que moram, que trabalham neste Brasil tão rico, tão bonito, mas que possui diferenças sociais, econômicas, regionais muito fortes. Então, a riqueza deve servir para melhorar a vida dos nossos brasileiros, do nosso povo.
Muito obrigado, Presidente Marco Maciel.
Era o que tinha a dizer na tarde de hoje.