Discurso durante a 160ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre a falta de credibilidade da classe política no País.

Autor
Adelmir Santana (DEM - Democratas/DF)
Nome completo: Adelmir Santana
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REFORMA POLITICA.:
  • Reflexão sobre a falta de credibilidade da classe política no País.
Publicação
Publicação no DSF de 02/09/2008 - Página 36478
Assunto
Outros > REFORMA POLITICA.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, EVOLUÇÃO, DEMOCRACIA, BRASIL, PERDA, REPUTAÇÃO, CLASSE POLITICA, FALTA, CONFIANÇA, POPULAÇÃO, SUPERIORIDADE, NUMERO, DENUNCIA, IMPUNIDADE, CORRUPÇÃO, COMENTARIO, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, INICIATIVA, ENTIDADE, MAGISTRADO, REJEIÇÃO, POLITICO, PREJUIZO, INSTITUIÇÃO DEMOCRATICA, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, RECUPERAÇÃO, VALORIZAÇÃO, ETICA, IDONEIDADE.
  • REITERAÇÃO, COMPROMISSO, ORADOR, ETICA, VIDA PUBLICA, CONCLAMAÇÃO, ESFORÇO, RECUPERAÇÃO, POLITICA NACIONAL, DEFESA, URGENCIA, REFORMA POLITICA, LEITURA, TRECHO, LIVRO, ARTIGO DE IMPRENSA.

O SR. ADELMIR SANTANA (DEM - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Gim Argello, companheiro da Bancada do Distrito Federal, Srªs e Srs. Senadores, no dia 20 à noite, enquanto nos Estados e nos Municípios brasileiros começou a ser exibido o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, aqui no Distrito Federal, como não temos eleições municipais, no horário destinado à propaganda eleitoral, a TV Globo está reapresentando a minissérie JK, que narra a trajetória de um dos maiores políticos da nossa história: Juscelino Kubitschek.

Ao assistir a reapresentação da história de JK, pensei no paradoxo daquele momento. Enquanto milhões de brasileiros assistiam às propostas dos políticos que se apresentam atualmente, eu relembrava a política que era feita há pouco mais de meio século. Quanta diferença da era JK para os dias atuais...

As conquistas políticas dos brasileiros, principalmente, quando falamos em democracia são inegáveis, mas a imagem dos políticos de lá para cá vem piorando cada vez mais.

É preocupante constatar que o povo brasileiro não acredita nos próprios brasileiros. Não acredita mais em nós, políticos, Sr. Presidente e Srs. Senadores, que estamos aqui justamente para trabalhar por eles. Por milhões de brasileiros e brasileiras que deveriam depositar toda a confiança em nosso trabalho.

Infelizmente, os maus exemplos estão prevalecendo e a resposta e a punição para esses maus exemplos não estão acontecendo. A forma de divulgação dos desatinos de um parlamentar gera na opinião pública uma associação entre o ato individual e a imagem da instituição. Se um Senador erra, a repercussão da notícia é imediata e surge em tom generalizado: “os políticos não prestam”.

Alguns dias atrás, quase em véspera de eleições municipais, uma pesquisa divulgada pela Associação Brasileira de Magistrados confirmou dados que outras pesquisas, recentes e mais antigas, já mostravam: o sentimento hostil dos brasileiros pelos políticos e pela política.

Para 82% dos entrevistados, moradores de todos os Estados brasileiros e pertencentes aos diversos segmentos socioeconômicos, os políticos não cumprem as promessas que fazem nas campanhas; 85% acreditam que política é uma atividade que beneficia mais os próprios políticos do que os eleitores e, ainda mais preocupante, senhoras e senhores, apenas 3% dos brasileiros e brasileiras acham que os Parlamentares merecem confiança.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, 97% da população brasileira não acredita no nosso trabalho. Isso é gravíssimo! Já passou da hora de fazermos alguma coisa para mudar essa realidade. Quando vamos dar um basta a essa situação humilhante a que fomos submetidos pela enxurrada de denúncias contra um ou outro Parlamentar que não traduz o comportamento da maioria do que estão aqui fazendo política com “P” maiúsculo, trabalhando honestamente?

Muitas vezes as denúncias nem mesmo são comprovadas. Mas o julgamento antecipado já condenou todos os Parlamentares que não tinham nada a ver com os possíveis deslizes cometidos por outros. Não é justo pagarmos por erros que não cometemos e ficarmos aqui de braços cruzados comentando pesquisas que denigrem ainda mais a imagem da nossa instituição.

O Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, Secretário-Geral das Relações Exteriores do Brasil, citado em artigo recente do jornalista Washington Novaes, no jornal O Estado de S. Paulo, diz que “a comunicação, em geral, se alia ao poder econômico para estimular o desprezo e até o horror pela política (e pelos políticos) e para fazer crer que a atividade política não é digna de um homem de bem”.

A honestidade, Sr. Presidente, que era para ser gesto rotineiro, virou raridade. A palavra empenhada, o respeito aos compromissos, o sofrer por não conseguir cumprir algo que foi previamente combinado, nada disso mais é visto como situação corriqueira e comum.

Pelo contrário, princípios e valores que aprendemos na infância estão se tornando quase anormais, tanto que ganham as páginas dos jornais e viram notícia na televisão. Quem não se lembra ter visto uma história de um taxista que devolveu ao dono um violino caríssimo que foi esquecido no carro ou um faxineiro que achou uma grande quantia em dinheiro e algumas jóias no chão e entregou tudo à Polícia? O caso mais recente aconteceu em São Paulo, quando um garoto achou uma cédula de R$100,00 e a entregou à segurança do metrô. O dinheiro foi devolvido ao dono e a história ganhou destaque na mídia nacional.

Ao saber dessas histórias pelo noticiário, todos ficam admirados com a honestidade dessas pessoas. Mas isso não era para ser normal no nosso dia-a-dia? Por que tanta admiração?

Ao falar sobre isso, não posso deixar de lembrar a despedida ao saudoso colega Senador Jefferson Péres, homem que dedicou 40 anos à política e era tido como probo e de caráter ilibado. E realmente o era. Isso é inquestionável. Mas, por ser raridade, teve essas qualidades destacadas quando, na verdade, ser probo e ter caráter ilibado são obrigações de qualquer político, de qualquer cidadão. E entre nós, certamente, há muitos com essas qualidades.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, infelizmente, tudo o que antes era rotina, por ser o correto, agora virou exceção, pois o normal agora é cometer erros e não ser punido por eles.

Quantos batedores de carteira estão nas ruas roubando enquanto nós estamos aqui trabalhando? Quantos marginais estão aplicando golpes neste momento? Quantos virarão notícia? Quase nenhum - podem estar certos disso -, a não ser que os autores sejam pessoas públicas.

A falta de credibilidade da classe política não é responsabilidade de 100% dos Parlamentares, mas culpa de meia dúzia, ou um pouco mais, de péssimos políticos, alguns até mesmo bandidos, que buscam nos mandatos a impunidade para os seus crimes.

É evidente que aqui eu me refiro aos maus representantes do povo, que utilizam seus cargos em benefício próprio, valendo-se do nome e da imunidade parlamentar para acobertar atitudes criminosas. Esses têm mesmo que ser expostos à opinião pública para que o eleitor não esqueça mais da cara daquele que traiu a sua confiança. O que não podemos aceitar é que todo o conjunto seja condenado por erros isolados.

A própria pesquisa realizada pelo instituto Vox Populi revelou que os resultados obtidos são conseqüência de a nossa exposição ser mais freqüente do que a de outras instituições. E isso é evidente, afinal o Congresso é a Casa do povo e nós não temos mesmo nada a esconder.

Nós temos a obrigação de prestar contas do nosso trabalho ao povo brasileiro. É para ele que trabalhamos. E aqueles que têm algo a esconder nem deveriam estar aqui representando o povo brasileiro. Esses, sim, sujam a nossa imagem. Na verdade, já trazem consigo, na história de vida, a falta de credibilidade, porque a credibilidade é a conquista de uma vida inteira. As pessoas não nos avaliam apenas por este momento, mas, sim, por todo o passado que construímos em nossas ações.

Eu, particularmente, me orgulho do meu passado, orgulho-me do meu presente e, certamente, irei me orgulhar do meu futuro. Sempre quis fazer política, mas a política de gente honesta, com “P” maiúsculo, aquela que se faz para promover o bem comum.

Eu ainda confio 100% na nossa capacidade de melhorar o País e a vida das pessoas, e é isso que me estimula a trabalhar todos os dias. Quem convive comigo sabe e sempre pergunta: “Mas você não se cansa nunca?” Eu respondo que não. E não vou me cansar nunca, porque faço o que gosto e essa é a minha maior motivação.

Sou daqueles brasileiros que ainda se emocionam quando ouvem o Hino Nacional - e não me envergonho por isso. Pelo contrário, sinto muito orgulho do meu País.

Quando leio nos jornais resultados de pesquisas como essa que foi divulgada pela Associação dos Magistrados Brasileiros, sinto ainda mais vontade de trabalhar para mudar a imagem que as pessoas fazem de nós, políticos.

Quero aqui, Srªs e Srs. Senadores, convocar todos os senhores, meus nobres colegas, e todos os homens e mulheres de bem que ainda não ingressaram na política, talvez por estarem também desacreditados, para unirem esforços no sentido de reerguer o processo político-partidário.

É preciso que os homens e as mulheres de bem passem a ter mais interesse pela atividade política. Tudo que acontece em nossa vida é política e, portanto, é preciso que convivamos com ela e participemos dela.

A reforma política é necessária e urgente, Sr. Presidente. Vamos trabalhar para elevar o nível moral do Senado. Se não houver disposição de nossa parte para isso, estaremos cada vez mais desmoralizados pela opinião pública.

Eça de Queiroz, em “As Farpas”, afirma:

O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Não há princípio que não seja desmentido nem instituição que não seja escarnecida. Já não se crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os servidores públicos, abandonados à mesma rotina. O desprezo pela idéias aumenta a cada dia. A agiotagem explora o juro. A ignorância pesa sobre o povo como nevoeiro. O número das escolas é dramático. A intriga política alastra-se por sobre a sonolência enfastiada do País. Não é uma existência; é uma expiação. Diz-se por toda parte: o País está perdido!

Eça de Queiroz escreveu isso em 1871 e, com raríssimas exceções, parecem tão atuais suas afirmações.

Gaudência Torquato, jornalista, consultor político e professor titular da USP, afirmou, recentemente, em artigo em O Estado de S. Paulo: “A política chega ao fundo do poço em matéria de moral. Mas não morreu a esperança de nascer uma flor do pântano”.

Que Deus ouça a sua afirmação e que a flor do pântano ressurja no futuro, ressurja agora, com as reformas, entre elas, a reforma política, a reforma eleitoral, a reforma partidária, objetivando uma participação maior da nossa gente no processo político, a fim de que a política e os políticos passem a merecer da população uma atenção diferenciada e de maior credibilidade.

Sr. Presidente, peço ao senhor e aos nobres colegas que essa mudança de postura comece imediatamente. E peço isso pela minha história, pela história dos senhores e pela história de políticos como Milton Campos, Juscelino Kubitschek e o Senador Jefferson Péres, que, infelizmente, não viveram o suficiente para ver um Brasil com instituições sólidas ou um País com políticos como eles.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/09/2008 - Página 36478