Discurso durante a 144ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registra que não pode participar das eleições presidenciais no Zimbabue como observador internacional por conta da violência no processo eleitoral. Critica o reconhecimento da candidatura do Presidente do Zimbabue, Roberto Mugabe.

Autor
Virginio de Carvalho (PSC - Partido Social Cristão/SE)
Nome completo: Virginio José de Carvalho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Registra que não pode participar das eleições presidenciais no Zimbabue como observador internacional por conta da violência no processo eleitoral. Critica o reconhecimento da candidatura do Presidente do Zimbabue, Roberto Mugabe.
Publicação
Publicação no DSF de 14/08/2008 - Página 30479
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, CONVITE, ORADOR, REPRESENTANTE, COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DEFESA NACIONAL, SENADO, OBSERVAÇÃO, ELEIÇÕES, PAIS ESTRANGEIRO, ZIMBABUE, REGISTRO, IMPEDIMENTO, PRESENÇA, MOTIVO, EXCESSO, VIOLENCIA, RENUNCIA, CANDIDATURA, CANDIDATO, OPOSIÇÃO.
  • ADVERTENCIA, DENUNCIA, MANIPULAÇÃO, ELEIÇÕES, PAIS ESTRANGEIRO, ZIMBABUE, UTILIZAÇÃO, VIOLENCIA, COERÇÃO, ELEITOR, INFERIORIDADE, PARTICIPAÇÃO, POPULAÇÃO, CRITICA, JUDICIARIO, ACEITAÇÃO, RESULTADO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, REGISTRO, AUSENCIA, RECONHECIMENTO, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), UNIÃO EUROPEIA.
  • MANIFESTAÇÃO, REPUDIO, RESULTADO, ELEIÇÕES, PAIS ESTRANGEIRO, ZIMBABUE, DESRESPEITO, DEMOCRACIA, APREENSÃO, SITUAÇÃO, FALTA, SEGURANÇA, POPULAÇÃO, NECESSIDADE, PAZ.

      O SR. SENADOR VIRGÍNIO DE CARVALHO (PSC - SE) - Senhor Presidente, Senhoras Senadoras e Senhores Senadores, na qualidade de membro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional - CRE, representante do Senado Federal, fui convocado, no dia 19-7, pela Presidência desta Casa, para acompanhar, como observador internacional, a realização do segundo turno das eleições presidenciais do Zimbábue, ocorrida no último dia 27, em sua capital, Harare, no continente africano.

      Viajamos no dia 23-6 em direção àquele país e, já no dia 24-6, enquanto aguardávamos conexão área para a África, fomos comunicados pelo Itamaraty que a situação no Zimbábue teria se agravado com a renúncia do candidato da oposição, Morgan Tsvangirai, do Movimento pela Mudança Democrática (MDC), sob a denúncia de manipulação eleitoral, com o uso de violência contra a população votante, em especial à maioria simpatizante da oposição.

      Alertados quanto à gravidade da situação e quanto à falta de segurança para garantir a presença estrangeira, aguardamos, a partir de uma base na Europa, o desenrolar da missão, na expectativa de que o Presidente Robert Mugabe viesse atender ao clamor internacional e instituísse novas eleições, com a participação do candidato da oposição, Morgan Tsvangirai.

      Fomos comunicados, no dia 26-7, que o Ministro da Justiça do Zimbábue havia garantido a realização das eleições, mesmo com a renúncia do candidato da oposição, o que, em minha opinião, configurou-se em golpe na democracia daquele país, vez que tentou-se, com instrumentos democráticos, legitimar a permanência de Mugabe no poder, contra a vontade popular.

      Acompanhamos o desenrolar do quadro político - eleitoral com as informações que chegavam pelas pessoas e pelos meios de comunicação. A questão, conforme os relatos, estava muito grave. As eleições, que, por fim, foram realizadas, deu-se com baixo comparecimento às urnas e muitos relatos de coerção.

      Os jornais noticiaram que os EUA e a União Européia consideraram a eleição uma farsa e que não reconheceriam seu resultado.

      O ex-candidato opositor, Morgan Tsvangirai, após renúncia, refugiou-se na Embaixada da Holanda, em Harare, e denunciou “o exercício de intimidação em massa, com pessoas em todo o país sendo obrigadas a votar”. Posteriormente, Morgan, que em declarações anteriores, alegou impossibilidade de qualquer negociação com o Governo após o pleito, já transigia, diante da situação de grande tensão. A apreensão da população era reportada por todos que acompanhavam o momento político daquele país. O New York Times relatou que, em alguns subúrbios de Harare, residentes foram reunidos na véspera da eleição, forçados a cantar o hino pró-Mugabe, para em seguida serem conduzidos as seções eleitorais, onde foram obrigados a copiar os números de série das cédulas. “Votei em Mugabe porque não queria arriscar a vida”, disse um dos eleitores ao jornal.

      Em áreas rurais, tivemos notícias de que eleitores foram forçados a se declararem analfabetos, para permitir a entrada, na cabine de votação, de “assistentes” leais a Mugabe. Sobre as críticas de organizações africanas e da comunidade internacional, foi publicado pelos jornais que Mugabe chegou a rechaçá-las dizendo: “Quero ver que líder africano levantará o dedo contra o Zimbábue...”.

      Em síntese, Senhor Presidente, os observadores internacionais, de um modo geral, identificaram que o voto foi marcado pelo medo e pela intimidação. Foi senso geral que as pessoas queriam apenas conseguir a marca de tinta indelével, que sinalizava a efetivação do voto, para se protegerem da violência.

Mugabe sagrou-se vencedor com 85,5% dos votos, Morgan Tsvangirai, mesmo tendo retirado a candidatura, teve 9,3%, enquanto outros 5,2% foram nulos.

      Senhor Presidente, esse era o clima vivido naquele país. Muitos outros relatos foram feitos a pessoas que acompanhavam o processo eleitoral. Relatos muito mais fortes, mas que o meu senso crítico e de responsabilidade não me permitem abordá-los oficialmente.

Penso, Senhor Presidente, que a grande preocupação, de agora em diante, é sob o ponto de vista da segurança da população, da preservação da ordem e da paz.

      Era o que tinha a relatar, Senhor Presidente, agradecido pela oportunidade de representar o Senado brasileiro e a Comissão de Relações Exteriores nessa difícil missão que, mesmo entrecortada por grande tensão, informações desencontradas e muita instabilidade, em momento algum me fez recuar das minhas obrigações.

      Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/08/2008 - Página 30479