Discurso durante a 150ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do poeta, compositor e cantor Dorival Caymmi.

Autor
Antonio Carlos Júnior (DEM - Democratas/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do poeta, compositor e cantor Dorival Caymmi.
Publicação
Publicação no DSF de 21/08/2008 - Página 31248
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, POETA, COMPOSITOR, CANTOR, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, MUSICA BRASILEIRA.

            O SR. ANTONIO CARLOS JÚNIOR (DEM - BA. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não tem sido fácil para a Bahia. Perdemos Jorge Amado... Perdemos Zélia... Calazans e tantos outros.

            A Bahia se orgulha de seus filhos, ilustres ou anônimos, e por isso sofre muito quando os perde.

            Essa dor é tão mais aguda, mais sentida, quando o filho que se vai é aquele que lhe falava ao coração; louvava suas belezas; descrevia sua gente com os olhos do amor.

            Assim era Dorival Caymmi, que se foi agora.

            Mais um dos artífices do mosaico que forma a identidade baiana deixa de existir, ainda que perdure em suas obras.

            É impossível descrever a Bahia, sua gente e seus costumes, sem evocar a poesia, a voz e o amor de Caymmi por sua terra.

            Sua obra transcende, ultrapassa as fronteiras baianas, claro, mas é impossível não associá-la, de pronto e em sua maior parte, à terra em que nasceu.

            Seu jeito de fazer poesia e de interpretá-la, único, tornou intransferível o seu estilo.

            Eu gostaria, inclusive, de dizer que, aos quatro anos de idade, já sofrendo influências de meu pai, eu já era admirador da obra de Caymmi, eu já ouvia Caymmi por acompanhar meu pai, que realmente o admirava muito.

            Sua influência no universo musical brasileiro foi e permanece marcante - agora mesmo, quando se comemoram os 50 anos da Bossa-Nova, sua obra é revisitada.

            Caymmi é universal. É universal e também imortal, posto que sempre atual. Uma de suas maiores obras-primas, “O que é que a baiana tem?”, completará 70 anos em 2009 e ouvi-la, nas incontáveis interpretações existentes, é um prazer sempre renovado. Inclusive, essa foi a canção que lançou Carmen Miranda.

            As belezas do Brasil, da sua gente, as coisas do amor sempre pontuaram suas tantas e tão memoráveis criações e arriscar citá-las seria certeza de deixar alguma, importante, para trás.

            “O mais carioca dos baianos”, epíteto que sempre o acompanhou, hoje é lembrado por muitos, mas, para ser verdadeiramente justo com Caymmi, devemos reconhecê-lo, acima de tudo, como “um grande brasileiro”!

            Senhores, a Bahia veste luto, mas o faz com imenso orgulho - e com as poesias desse seu filho dileto na ponta da língua.

            A Bahia está de luto, sim, mas à sua maneira, muito própria, para lembrar, despedir-se e saudar Caymmi.

            Nesses dias, nossas baianas estarão vestindo seus torços de seda, brincos e correntes de ouro, suas sandálias enfeitadas, com ainda mais orgulho e graça.

            Nossos pescadores lembrarão Caymmi quando saírem em seus barcos, como o Pedro da canção, todas às seis da tarde, para voltar, se Deus assim o quiser, na hora em que o sol raiar.

            E a natureza, tão bem cantada por ele, seguirá fazendo sua parte: “A noite tingindo de prata a Lagoa do Abaeté; de dia, tornando dourado o mar que quebra na praia”.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, subi à tribuna com o coração experimentando um misto de tristeza e orgulho. Agora, estou mais leve.

            Falar de Caymmi, do que ele significa para nós, fez crescer esse orgulho e mitigar a tristeza, talvez porque, como disse o poeta, “acontece que eu sou baiano”.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/08/2008 - Página 31248