Discurso durante a 150ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do poeta, compositor e cantor Dorival Caymmi.

Autor
César Borges (PR - Partido Liberal/BA)
Nome completo: César Augusto Rabello Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do poeta, compositor e cantor Dorival Caymmi.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 21/08/2008 - Página 31249
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, POETA, COMPOSITOR, CANTOR, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, MUSICA BRASILEIRA.

            O SR. CÉSAR BORGES (Bloco/PR - BA. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, autor em conjunto com o Senador Antonio Carlos Júnior do requerimento de voto de pesar pelo falecimento do poeta e compositor Dorival Caymmi, eu não poderia deixar de, neste momento, fazer minha manifestação como baiano, como brasileiro e como admirador de Dorival Caymmi.

            A Bahia, desde o último fim de semana, ficou órfã de um dos seus mais ilustres e brilhantes artistas. O passamento de Dorival Caymmi, poeta que de forma tão magistral retratou o jeito e a alma baiana em suas canções, deixou-nos com um sentimento misto de saudade de seu sorriso generoso e de eterna gratidão pela monumental contribuição legada à cultura de nosso País.

            Como bem definiu o ensaísta Francisco Bosco, Caymmi foi “o mestre maior das canções necessárias”. Em sua obra genial, que não passa de uma centena de composições, não há lacunas, não há excessos, não há supérfluos; todas foram, são e serão absolutamente essenciais no conjunto de sua criação, na construção de seu universo particular. Nelas, de maneira sublime e absolutamente criteriosa, o compositor baiano construiu um mundo onde a palavra seguia o balanço do mar, o gingado da capoeira, o chacoalhar e o remelexo da baiana.

            Itapuã, com suas praias calmas e com suas embarcações simples, era o seu exílio lírico, o reino de suas criações. Retratou, como poucos, o cotidiano idílico do pescador, do homem que vivia para e em função do mar, que embarcava no mistério de suas águas e de suas criaturas.

            Caymmi foi - e será sempre - a cara da Bahia, da sua gente dócil e criativa, da sua cultura abundante e inventiva. A indolência, característica que lhe foi atribuída por aqueles que defendem a linha de produção cultural, nada mais era que o respeito ao tempo da criação. Caymmi tinha plena consciência de que a boa música não surge a toque de caixa, de um jogral massificante de palavras urgentes. A composição, para o magistral compositor baiano, não era uma simples peça de engenho; devia seguir o ritmo de sua essência, devia embalar os sentimentos, que não têm hora precisa para se expressar, para acontecer.

            O jovem Dorival Caymmi apaixonou-se, de cara, pela perspectiva baiana da vida, pelo maravilhoso universo baiano das danças, das cores e dos aromas fortes, do sincretismo e da sensualidade de seu povo. Aceitou, então, a incumbência de versificar a índole da gente baiana, de retratar em suas composições aquilo que lhe trouxe tanto fascínio e admiração.

            Depois de passar toda a juventude na capital baiana, Caymmi foi morar no Rio de Janeiro. Sabia que, para dar dimensão nacional à sua obra, precisava sair da Bahia, para mostrá-la ao mundo.

            Com Carmem Miranda, mostrou “o que é que a baiana tem”. Nas rádios, declarou que o pescador tinha “dois amor, um bem na terra, um bem no mar”. Às Marinas do Brasil, morenas ou não, pedia que não ocultassem sua beleza, suas cores naturais. Nos festivais, sempre revelava a saudade que tinha da Bahia, lamentando que não ouvira “o que mamãe dizia...”. Avisava, com seu vozeirão gutural e altaneiro, que “ia para Maracangalha”, com ou sem Anália. Lembrava que 2 de fevereiro era o Dia de Iemanjá, era “dia de festa no mar”. E bradava: “Você já foi à Bahia? Não? Então vá!”.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, com a perda de Caymmi, não choram somente os pescadores de Itapuã, as baianas de acarajé, os capoeiristas do Mercado Modelo, as Marinas, as Análias, as Stellas Maris, chora toda a gente que se viu representada nas composições do mestre maior de nossa música popular.

            A Bahia perdeu um dos seus maiores nomes, mas sua música ecoará para sempre em suas ruas, em suas festas, em suas rodas de dança.

            “O bem de terra é aquela que fica. Na beira da praia quando a gente sai. O bem de terra é aquela que chora. Mas faz que não chora quando a gente sai.”

            Muito obrigado pela oportunidade, Sr. Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - A Presidência se associa às homenagens...

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permita-me V. Exª um aparte, Senador?

            O SR. CÉSAR BORGES (Bloco/PR - BA) - Se o Presidente permitir, Senador Eduardo Suplicy, será um prazer.

            O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - V. Exª tem a permissão do aparte. Apenas faço um apelo para que seja breve, em razão de haver outros oradores inscritos, Senador Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador César Borges, V. Exª, aqui, manifesta o bonito sentimento dos baianos e o de V. Exª, como Senador pela Bahia, ao fazer essa homenagem a Dorival Caymmi. Também gostaria de me associar à homenagem, porque, desde menino - estou com 67 anos, e Dorival Caymmi faleceu com 94 anos -, aprendi a admirar esse cantor e a cantarolar suas músicas, que falam das belezas das praias da Bahia, das coisas do baiano, das tardes de Itapuã, do amor em Copacabana, enfim, das coisas que V. Exª aqui tão bem expressou, como “um bem da terra e um outro do mar”. Que bom que tivemos em Dorival Caymmi um poeta maravilhoso a expressar o sentimento do povo baiano e do povo brasileiro! Por isso, quero me associar a essa homenagem e, inclusive, gostaria de assinar o requerimento de pesar, como uma homenagem a Dorival Caymmi e a toda a sua família. Que bom que há continuadores de sua obra, como seus filhos, Nana e Dory, além de outras pessoas que nele se inspiram, que cantam e compõem seguindo seu exemplo em todo o Brasil! Meus parabéns a Bahia e ao povo baiano! Que bom que V. Exª tenha feito um pronunciamento de tão singelo significado e tão positivo sobre esse poeta maior e cantor maior do povo brasileiro!

            O SR. CÉSAR BORGES (Bloco/PR - BA) - Agradeço a V. Exª, pois sinto a emoção de V. Exª ao calar fundo em sua alma essa perda, Senador Suplicy.

            Veja que esta é a dimensão de Caymmi: muito mais do que a Bahia, a dimensão brasileira e do mundo a cantar as pessoas mais simples e mais humildes do nosso povo.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/08/2008 - Página 31249