Discurso durante a 155ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

A difícil crise do Legislativo.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • A difícil crise do Legislativo.
Publicação
Publicação no DSF de 28/08/2008 - Página 35382
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • GRAVIDADE, CRISE, LEGISLATIVO, REITERAÇÃO, DEFESA, ALTERAÇÃO, REGIMENTO INTERNO, OPOSIÇÃO, EXCESSO, DISCURSO, INFERIORIDADE, VOTAÇÃO, MATERIA, PREJUIZO, INTERESSE NACIONAL, EFEITO, TRANSFERENCIA, DECISÃO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), ESPECIFICAÇÃO, PROBLEMA, RESERVA INDIGENA, ESTADO DE RORAIMA (RR), DEMORA, APRECIAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, EXIGENCIA, AUTORIZAÇÃO, SENADO, CRIAÇÃO, RESERVA ECOLOGICA, DEMARCAÇÃO, TERRAS INDIGENAS.
  • DEFESA, APROVAÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), PAUTA, SESSÃO, MOTIVO, INTERESSE NACIONAL, CONCLAMAÇÃO, BANCADA, OPOSIÇÃO, CONTRIBUIÇÃO, EMENDA.
  • COBRANÇA, OPOSIÇÃO, APRESENTAÇÃO, PROPOSTA, ALTERNATIVA, PROGRAMA DE GOVERNO.
  • DEFESA, INVERSÃO, HORARIO, ORDEM DO DIA, EXPEDIENTE, SESSÃO.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, quero ser muito breve. Começo dizendo que V. Exª, como Presidente do Senado, apenas constatou algo que a sociedade brasileira e que nós, aqui no Senado, quase diariamente observamos. Quase diariamente vejo algum Senador constatar exatamente essa realidade que V. Exª constatou: o Poder Legislativo está sofrendo uma crise que eu, que estou desde 1976 aqui em Brasília - estive fora por quatro anos para exercer o cargo de Governador -, nunca vi acontecer, nunca vi uma crise tão difícil, principalmente no Senado, onde estou há 22 anos.

            Tenho propugnado pela mudança do Regimento, V. Exª é testemunha disso. A propósito, quem fala a verdade não merece castigo, e, portanto, V. Exª não o merece. O que temos de fazer é mudar o Regimento da Casa. Trata-se de um ato que a Mesa pratica e que o Plenário pode respaldar.

            A nossa eficiência se mede por aquilo que votamos; a nossa função principal é votar. Não estamos votando, estamos falando. Falamos aqui de duas horas da tarde até oito horas da noite. Depois, se sobrar tempo, vota-se. Discurso não resolve problema de ninguém. A votação de projetos é que resolve os problemas do Brasil.

            E dou um exemplo claro para ilustrar o que está acontecendo hoje no Supremo. O Supremo, segundo alguns jornais, está usurpando a função do Legislativo. Mas tramita há quatro anos um projeto de minha autoria que estabelece que qualquer decisão do Executivo relativa à criação de reservas indígenas ou de parques florestais deve ser submetida à apreciação do Senado, que é a Casa da Federação. A União não pode invadir um Estado e usurpar seu território sem que o Senado, que é a Casa da Federação, seja ouvido. Se esse meu projeto tivesse sido aprovado há quatro anos, já teríamos decidido esse caso da Raposa Serra do Sol há muito tempo, sem que o Supremo tivesse de interferir nisso.

            E veja V. Exª: a Constituição atribui à União a regulamentação das terras indígenas - frise-se: à União! A União não é o Poder Executivo não. A União é o Poder Executivo, o Poder Legislativo, o Poder Judiciário, as assembléias legislativas; porém, essa vem sendo uma atribuição única e exclusiva do Poder Executivo.

            Por outro lado, parece que o Governo armou a arapuca e a Oposição ficou presa dentro dela, mas tem de sair. Vejamos as medidas provisórias de hoje. Marinha Mercante: o Brasil vai ter um boom na navegação, um boom na construção de barcos e de embarcações necessárias à exploração de petróleo. O Brasil precisa de recursos para abastecer de navios novos esse enorme movimento comercial que está ocorrendo. Isso é necessário. Quanto à segunda medida provisória, que é um problema do funcionalismo, o Relator Cristovam Buarque acabou de dizer que está pronto para relatar. Ele estudou a medida provisória. A outra é o problema do crédito fundiário. Quem pode ficar contra a regulamentação do crédito fundiário?

            O que ocorre, Sr. Presidente, é que, como o Poder Legislativo é lento... E eu já vi muita gente aqui dizer: “Vamos lá pedir ao Lula uma medida provisória”. E se diz isso porque somos mais lentos do que o Poder Executivo.

            E há necessidade de a Oposição contribuir com as suas emendas, com as suas teses econômicas, colocá-las na medida provisória, apresentar um programa alternativo, e não só ficar dizendo que não vai votar nada e trancar a pauta.

            Vamos votar coisas a favor do Brasil. Vamos apresentar um programa da Oposição dizendo o que vai fazer pelo Brasil quando for Governo. Tem que começar a mostrar o programa hoje, transformá-lo em leis, lutar pelas suas emendas, mostrar que há propostas do lado da Oposição para que o povo brasileiro veja que existe uma Oposição que tem um programa de governo não só para ser Oposição, mas um programa de governo para governar o Brasil no futuro. Porque, hoje, na área econômica, o poder do Congresso está usurpado pelo Poder Executivo e, na área jurídica, usurpado pelo Supremo Tribunal Federal.

            De modo, Sr. Presidente, que V. Exª constatou uma realidade; porém, para que se corrijam as coisas, embora seja necessário, primeiro, que se constate a realidade, é preciso que, constatada a realidade, corrijam-se os fatos que provocaram a realidade que não é boa para nós.

            Eu propus que a Ordem do Dia começasse às 14 horas. Abre-se a sessão votando e se vota até esgotar a Ordem do Dia. Esgotou-se a Ordem do Dia, vamos fazer discurso até no outro dia de manhã cedo. Mas a nossa missão principal foi cumprida votando a pauta, votando as matérias que estão na pauta. Essa é a nossa missão.

            Discurso é acessório, é adicional. Votar é obrigação e devemos cumpri-la constitucionalmente, porque nos foi delegada pelos nossos eleitores.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/08/2008 - Página 35382