Discurso durante a 163ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Manifestação sobre o episódio do grampo telefônico contra autoridades da República. Preocupação com a visão de Estado do Governo Lula e do PT.

Autor
Marisa Serrano (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Marisa Joaquina Monteiro Serrano
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Manifestação sobre o episódio do grampo telefônico contra autoridades da República. Preocupação com a visão de Estado do Governo Lula e do PT.
Publicação
Publicação no DSF de 04/09/2008 - Página 36798
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, OCORRENCIA, ESCUTA TELEFONICA, VITIMA, AUTORIDADE FEDERAL, PODERES CONSTITUCIONAIS, CONTRADIÇÃO, HISTORIA, DEMOCRACIA, BRASIL, REPUDIO, DECLARAÇÃO, GENERAL DE EXERCITO, CHEFE, GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, DEPOIMENTO, CAMARA DOS DEPUTADOS, AMEAÇA, LIBERDADE DE EXPRESSÃO, CONGRESSISTA, APREENSÃO, REPETIÇÃO, ESPIONAGEM.
  • QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, GESTÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUALIDADE, DESRESPEITO, PARIDADE, PODERES CONSTITUCIONAIS, PREJUIZO, DEMOCRACIA, AMEAÇA, DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS, MEMBROS, LEGISLATIVO, JUDICIARIO, COMPARAÇÃO, CONDUTA, DITADURA, COMUNISMO, PAIS ESTRANGEIRO, UNIÃO DAS REPUBLICAS SOCIALISTAS SOVIETICAS (URSS).

            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ouvi com atenção as palavras do Senador Alvaro Dias e quero dizer o que penso sobre este caso: estamos numa encruzilhada. Um País que construiu uma Constituição como construímos, com participação popular - foi a Constituição cidadã; um País em que todos se mobilizam para o impeachment de um Presidente da República - pela primeira vez isso acontece na América Latina, e o Brasil foi um dos poucos países que fizeram isso no mundo; um País que conseguiu fazer uma transição democrática como fizemos: o Presidente Fernando Henrique entrega o poder a um Presidente legitimamente eleito pelo povo com a maior tranqüilidade - e ninguém podia esperar isso; um País que mostra para todo o mundo que luta pela democracia, pelo Estado de direito; este País conseguiu fazer uma coisa incrível, Senador Cícero! Com uma hiperinflação absurda, conseguiu a estabilidade; conseguiu fazer com que o povo brasileiro voltasse a ter confiança na sua moeda, que é tão emblemática não só para o povo brasileiro, mas para todo o mundo, mostrando que o País é sério, um País que cumpre com as suas obrigações econômicas, que é um País confiável.

            Então, neste País todo, o que nós estamos vendo, hoje, é o uso de práticas, como disse o Senador Alvaro, stalinistas de arapongagem, tão stalinistas que colocam todos nós na defensiva, colocam o povo brasileiro na defensiva.

            Nós não nos podemos intimidar. Ninguém pode se intimidar com aquilo que nós estamos vendo, e não é só a intimidação, mas o tom de ameaça que nós estamos sentindo, também. Quando o General Félix, ontem, lá na Câmara dos Deputados, disse que a única forma de nós não sermos grampeados é calando a boca, ele estava mostrando e pedindo a todos, principalmente aos políticos, que calem a boca, que não falem, que não reverberem.

            Isso, Senador Cícero, é um absurdo. A partir do momento em que a nossa liberdade de poder falar e colocar as nossas idéias está sendo cerceada... Eu não sei em que tom o General Félix falou, mas, para mim, foi num tom de ameaça, no momento em que ele diz que nós devemos ficar calados. O General Félix não pode, numa Casa do povo, no Legislativo, na Câmara dos Deputados, ameaçar-nos, dizendo que nós temos de nos calar, porque, se não ficarmos calados, vamos ser grampeados. Foi esta a idéia que ele deixou transparecer para toda a Nação.

            Ainda mais, eu me preocupo, Sr. Presidente, quando alguém acha que esse é um fato isolado: “Não, é um fato que aconteceu”. Isso não é um fato isolado e não é coisa de maluco, não é coisa de um aloprado qualquer. Não é!

            A minha preocupação maior é que essa seqüência de fatos que vemos, nesses últimos anos, acontecer no País, mais explicitamente nesses últimos seis anos, dá a idéia - e acredito que dê essa idéia a muitos - de qual é a visão de Estado que o Governo Lula, que o Governo do PT tem. Qual é a visão de Estado que eles têm? É uma visão stalinista? É uma visão ditatorial? É uma visão de Estado onipotente, onipresente? Com esses grampos todos, parece-me que seja onipresente.

            Essa visão de Estado é que me preocupa. Que tipo de Estado, que tipo de Governo o Presidente Lula e o PT querem para o País? Certamente, não é a visão de Estado e de Governo que eu quero para o meu País. Certamente, não é a visão de Estado que nós, pessoas de bem, brasileiros, queremos para o País.

            Será possível que eles acreditam que no poder tudo é possível? Que é possível fazer tudo e que a sociedade brasileira vai aceitar calada, porque o Presidente fala aquilo que o povo gostaria de ouvir? Será que as pessoas de bem deste País não se levantam, não acordam e não juntam todos os fatos que estamos vendo acontecer neste País?

            A liberdade, o Estado de direito, as liberdades individuais, a democracia não são coisas que se podem jogar no lixo; não são sentimentos, não são palavras a que a população brasileira possa dar somenos importância. Não! A liberdade é o maior dos nossos bens, e por ela e pela democracia nós temos de brigar e lutar. Acho que esse tem de ser o caminho, não só desta Casa, que é obrigada a segui-lo, mas de toda a sociedade brasileira.

            Nós não podemos aceitar a banalização, a minimização dos fatos que estão ocorrendo. São fatos tão sérios que nós, do PSDB, reputamos como os mais sérios fatos de todos os que têm acontecido neste País. O mensalão, os aloprados, tudo que aconteceu neste País tem uma explicação banal, pode até ter. Agora, esse não.

            Na hora em que grampeiam a mais alta Corte do País e querem desestabilizar o Supremo, querem mostrar que os Ministros do Supremo, a qualquer momento, podem ser grampeados, colocando-os também na defensiva, com medo, na hora em que colocam o Legislativo debaixo de tacão com as medidas provisórias, com tudo aquilo que estamos vendo, deixando dois Poderes amordaçados - como diz o General Félix: “Fiquem calados, senão vão ser grampeados” -, o que sobra? Sobra o Executivo. E o tripé de que é formada a democracia - o Executivo, o Legislativo e o Judiciário? Assim, nós vemos aí um perigo muito grande para as instituições brasileiras, para o futuro do nosso País.

            Eu quero terminar a minha fala, Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, Senador Cícero Lucena e todos aqueles que estão me vendo e ouvindo, com um pequeno trecho de uma poesia do Eduardo Alves da Costa, chamada “No Caminho, com Maiakóvski”:

Tu sabes,

conheces melhor do que eu

a velha história.

Na primeira noite eles se aproximam

e roubam uma flor

do nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem:

pisam as flores,

matam nosso cão,

e não dizemos nada.

Até que um dia,

o mais frágil deles

entra sozinho em nossa casa,

rouba-nos a luz, e,

conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada.

            Espero, Sr. Presidente, que não cheguemos a tanto. Espero que a nossa voz ainda possa ser ouvida em defesa da democracia, em defesa do povo brasileiro, em defesa da liberdade.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/09/2008 - Página 36798