Discurso durante a 163ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem ao ator, músico, compositor e artesão pernambucano Manoel Salustiano Soares, o Mestre Salu, falecido dia 31 de agosto.

Autor
Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao ator, músico, compositor e artesão pernambucano Manoel Salustiano Soares, o Mestre Salu, falecido dia 31 de agosto.
Publicação
Publicação no DSF de 04/09/2008 - Página 36835
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ATOR, MUSICO, COMPOSITOR, ARTESÃO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), HOMENAGEM, VIDA PUBLICA, ELOGIO, ATUAÇÃO, VALORIZAÇÃO, DESENVOLVIMENTO CULTURAL, REGIÃO NORDESTE, MANIFESTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, FAMILIA.

           O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, nobre Senador Valdir Raupp, venho à tribuna neste início de noite, para, na forma regimental e de acordo com as tradições da Casa, requerer as seguintes homenagens pelo falecimento, na manhã do último dia 31 de agosto, na cidade do Recife, do ator, músico, compositor e artesão pernambucano Manoel Salustiano Soares, conhecido e admirado em Pernambuco com o nome de Mestre Salu.

           Requeiro a inserção em Ata de voto de profundo pesar e também apresentação de condolências à sua família, aliás extremamente numerosa, como geralmente são as famílias do Nordeste e do Norte do País.

           Mestre Salu morreu aos 62 anos de uma parada cardíaca. Falei com ele na semana antes do seu falecimento. Havia obtido alta e estava muito satisfeito. Conversamos bastante. O seu coração não resistiu muito tempo mais.

           Lamento o falecimento do Mestre Salu, um velho amigo que tanto admirava. Aproveito este momento para exaltar a obra que nos deixou.

           Vou ler pequeno trecho do jornal O Globo, edição de 1º de setembro corrente, que diz:

           “Manoel Salustiano Soares, o Mestre Salu, nasceu em Aliança, na Zona da Mata de Pernambuco, em 12 de novembro de 1945. Foi um grande dançarino de cavalo-marinho da região, interpretando diversos personagens. Ele gravou quatro discos: Sonho da Rabeca, As Três Gerações, Cavalo-marinho e Mestre Salu e a sua Rabeca Encantada”.

           Prossigo citando a matéria do jornal O Globo:

           “Considerado um dos precursores do Manguebeat - movimento que ficou amplamente conhecido na década de 1990, por meio do músico Chico Science - Mestre Salustiano foi um dos maiores responsáveis pela preservação de manifestações culturais da Zona da Mata, como ciranda, coco, maracatu e caboclinho,além de ter sido o tutor de nomes” que posteriormente se projetaram, como Antônio Nóbrega, hoje conhecido em todo o País, e também pelo próprio Science, que morreu tão precocemente.

           Sr. Presidente, continuo fazendo mais algumas considerações com fundamento no jornal O Globo: “Ele foi o criador do Maracatu Piaba de Ouro, um dos mais premiados do carnaval pernambucano. O pai dele, João Salustiano, o ensinou a fazer e a tocar rabeca. Além dos instrumentos musicais, Mestre Salu também confeccionava os bichos do bumba-meu-boi, as máscaras do cavalo marinho e mamulengos. Salustiano levou sua arte à maioria dos estados brasileiros, a países como Cuba, França e Estados Unidos”.

           Podemos dizer que Mestre Salustiano era a voz do Brasil real. Ariano Suassuna, pessoa que tanto prezo e admiro, numa entrevista ao Correio Braziliense em 1989, disse o seguinte:

           “... o choque verdadeiro é aqueleque existe entre o Brasil oficial, legal e o Brasil real que é o do povo - para glosar a distinção estabelecida por Machado de Assis. Nestes termos, o Brasil urbano das favelas e o Brasil rural de Antônio Conselheiro são profundamente reais e não idealizados”.

           Ariano Suassuna recorda Machado de Assis, que fez, há muito mais de cem anos, uma distinção definitiva entre o Brasil oficial e o Brasil real, o Brasil real sendo o Brasil do povo, enquanto que o Brasil oficial, o do Estado.

           Outro pensador e filósofo brasileiro, Gilberto de Mello Kujawski, em artigo de 2000, afirma:

           "No Brasil fica a cada dia mais difícil distinguir o país oficial do país real. O público do privado. Os direitos dos privilégios. O social do estatal. O mercado das especulações. A autoridade do autoritarismo. O certo do politicamente correto. A igualdade do nivelamento por baixo. O nacional do nacionalismo. O sagrado do profano. A cultura da indústria cultural. O fato do factóide. A obra idônea da obra superfaturada”.

           A morte de Mestre Salu deixou triste, obviamente, os pernambucanos e por que não dizer os nordestinos, Sr. Presidente. Em uma matéria publicada no Diário de Pernambuco, logo após sua morte, o jornalista Thiago Corrêa, que é editor de cultura e programa do referido jornal, lembrou que “a cultura pernambucana amanheceu de luto” e que Mestre Salustiano deixou quatro discos gravados, diversas participações em álbuns de outros artistas e um belo exemplo de dedicação à cultura popular.

           Apesar da perda de Mestre Salu, o legado do rabequeiro não deverá ser esquecido. A luta vai continuar, até porque seus filhos são competentes. Ele os educou muito bem, e isso significa que sua obra vai perpassar o tempo, graças ao esforço dos seus filhos, um dos quais se chama Maciel Salu.

           Sr. Presidente, Mestre Salustiano, Mestre Salu, teve o seu talento reconhecido. Entre muitos títulos que recebeu ao longo da curta, mas densa vida cultural, gostaria de destacar que lhe foi conferida no grau de Comendador a Ordem do Mérito Cultural do Governo Federal ao tempo em que presidia o nosso País o Presidente Fernando Henrique Cardoso.

           Daí por que, nobre Senador Valdir Raupp, encerro as minhas palavras dizendo da perda que todos sentimos, mas certos de que sua obra é um testemunho da música popular brasileira que é a música do País real. Pelos filhos que deixou, pelos sucessores que formou, sua obra não desaparecerá. Pelo contrário, continuará a ser enriquecida pelo talento dos seus cultuadores.

           Isso é muito bom para a cultura popular do Nordeste e do Brasil. Mesmo porque não há uma distinção rígida entre cultura popular e cultura erudita.

           Há a boa cultura popular, como também há a má cultura erudita. Diria que no Nordeste convivemos com expressivas manifestações no campo da cultura erudita, sem que nos esqueçamos de preservar o expressivo patrimônio da cultura popular, de que o Mestre Salu foi um excepcional exemplo.

           Eu que tive oportunidade de com ele conviver e privar de sua amizade não posso deixar de trazer meu depoimento que expressa, creio, o sentimento do povo pernambucano e de todo o Nordeste.

           Muito obrigado a V. Exª.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MARCO MACIEL EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno)

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           Matéria referida:

           “Manoel Salustiano Soares, o Mestre Salu, 62 anos; O Globo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/09/2008 - Página 36835