Discurso durante a 176ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Alerta para o aumento da carga tributária brasileira. Registro de matérias sobre o assunto publicadas pelos jornais O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo, com os títulos: "Carga Tributária de 37,3% do PIB é novo recorde semestral, diz estudo", "Brasil tem a segunda maior carga tributária sobre salários do mundo" e "Os serviços e a excessiva carga tributária".

Autor
Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA FISCAL. REFORMA TRIBUTARIA.:
  • Alerta para o aumento da carga tributária brasileira. Registro de matérias sobre o assunto publicadas pelos jornais O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo, com os títulos: "Carga Tributária de 37,3% do PIB é novo recorde semestral, diz estudo", "Brasil tem a segunda maior carga tributária sobre salários do mundo" e "Os serviços e a excessiva carga tributária".
Publicação
Publicação no DSF de 19/09/2008 - Página 38020
Assunto
Outros > POLITICA FISCAL. REFORMA TRIBUTARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ADVERTENCIA, EXCESSO, AUMENTO, CARGA, TRIBUTOS, APRESENTAÇÃO, DADOS, INSTITUTO BRASILEIRO, PLANEJAMENTO, NATUREZA TRIBUTARIA, ARRECADAÇÃO, SEMESTRE, EXERCICIO FINANCEIRO, COMPARAÇÃO, RECEITA TRIBUTARIA, EXERCICIO FINANCEIRO ANTERIOR, EXPECTATIVA, MANUTENÇÃO, CRESCIMENTO, EXERCICIO FINANCEIRO SEGUINTE.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, DECISÃO, SENADO, REJEIÇÃO, PROPOSTA, PRORROGAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO PROVISORIA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA (CPMF), CRITICA, RESPOSTA, GOVERNO, AUMENTO, ALIQUOTA, IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES DE CREDITO CAMBIO SEGURO E SOBRE OPERAÇÕES RELATIVAS A TITULOS E VALORES MOBILIARIOS (IOF), TENTATIVA, GARANTIA, SUPERIORIDADE, ARRECADAÇÃO, ADVERTENCIA, FALTA, QUALIDADE, SISTEMA TRIBUTARIO, BRASIL, PREJUIZO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, INCIDENCIA, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA.
  • ADVERTENCIA, EXCESSO, CARGA, TRIBUTOS, PREJUIZO, PRODUTOR, INDUSTRIA, COMERCIO, SETOR, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, MICROEMPRESA, CRITICA, SUPERIORIDADE, NUMERO, NORMAS, LEGISLAÇÃO, ASSUNTO, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, DEFESA, URGENCIA, REALIZAÇÃO, REFORMA TRIBUTARIA, VIABILIDADE, REDUÇÃO, TRIBUTAÇÃO, REGULAMENTAÇÃO, IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS (ICMS), IMPEDIMENTO, CONFLITO, NATUREZA FISCAL, ESTADOS, CESSAÇÃO, AMPLIAÇÃO, ALIQUOTA, IMPOSTOS, CARATER PROVISORIO.

O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Senador Alvaro Dias, que preside esta sessão, nobre Senador Renan Calheiros, ex-presidente do Senado Federal, Senador Eduardo Suplicy, Srªs Senadoras e Srs. Senadores.

Sr. Presidente, hoje à tarde, desejo, em breve manifestação, fazer alguns comentários sobre a carga tributária brasileira.

Louvar-me-ei de textos publicados pelos periódicos editados no Estado de São Paulo, o Estado de S. Paulo e a Folha de S Paulo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o que chama atenção é que a carga tributária brasileira bateu novo recorde no último semestre: passou para 37,3% do PIB. 

No primeiro semestre deste ano [cito matéria de Marcos Cézari], os contribuintes pagaram R$515,36 bilhões em tributos aos três níveis de governo, valor 15,9% superior aos R$444,66 bilhões arrecadados de janeiro a junho de 2007.

O cálculo foi feito pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), cujo Presidente é o advogado Gilberto Luiz do Amaral, especialista em questões tributárias. O IBPT É uma entidade que reúne profissionais do setor que se dedicam a estudos tributários de natureza institucional, setorial e empresarial.

Estima-se, segundo o que já revelou o primeiro semestre, que a carga tributária deste ano será superior a 37%, portanto, um novo recorde, como já disse. No ano passado, a carga foi 36,08% do PIB. A Receita ainda não divulgou o dado de 2007 - o último dado disponível é o de 2006, de 34,23% do PIB.

Por aí se vê, se olharmos os anos de 2006, 2007 e 2008, que a carga tributária continua numa linha ascendente.

É bom recordar, Sr. Presidente, que a carga poderia ser mais alta ainda não fora o papel extremamente importante desempenhado pelo Senado desempenhou no fim do ano passado ao derrubar proposta de emenda constitucional, que prorrogava a vigência da CPMF. Foi uma reunião memorável, que contribuiu para reduzir a extração fiscal em nosso País. Mas é certo que tão logo revogada foi a CPMF, o Governo, por meio de aumento de alíquotas, inclusive de IOF, conseguiu fazer com que por outros caminhos pudesse ampliar a sua receita. O fato mostra, a um só tempo, que o Senado andou certo quando recusou a CPMF e que o Governo procurou compensar de logo aquilo que, segundo dizia o Ministro da Fazenda, poderia comprometer a receita fiscal deste ano.

Sr. Presidente, o aumento do IOF, depois da recusa da CPMF, elevou de R$3,66 bilhões para R$9,67 bilhões, o que significa, no ano de 2008, um aumento de 164%.

Mantida essa tendência [dizem os dirigentes do IBPT] até o final do ano, o governo federal terá cerca de R$100 bilhões a mais em seu cofre - algo correspondente a mais de duas vezes a CPMF.

Com o crescimento econômico, que, nesse sentido, ajuda o aumento inclusive da arrecadação, as empresas faturam mais, pagam mais Imposto de Renda e também o CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), como sabemos.

Os contribuintes [apenas para enfatizar quão é alta nossa carga tributária] pagaram R$2,83 bilhões em tributos em cada um dos 182 dias do primeiro semestre. Foram R$117,98 milhões por hora, R$1,97 milhão por minuto e R$32,77 mil por segundo.

Neste ano, há de se supor algo que vai ocorrer pela primeira vez na história do País: os contribuintes pagarão, em tributos este ano, algo em torno de R$1 trilhão - esse número deverá ser alcançado ao encerrar-se o ano, ou seja, possivelmente na última semana do ano em curso.

Fiz essas considerações para também lembrar, como consta de matéria da Folha de S. Paulo, assinada pela jornalista Fabiana Futema, que a questão tributária continua a preocupar todos nós. E gostaria, sobre o assunto, de fazer algumas observações.

O que a experiência mundial demonstra, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é que quanto maior o crescimento econômico, mais se acelera o projeto de desenvolvimento.

E, obviamente, isso ocorre, sobretudo, quando o sistema tributário é de boa qualidade, de forma que a extração fiscal seja feita de forma correta, contribuindo assim para assegurar ao País um desenvolvimento sustentado.

O nosso sistema tributário, infelizmente, Sr. Presidente, é de má qualidade, contém uma série de impostos e alíquotas de grande regressividade e penaliza mais os que ganham menos, ou seja, os mais pobres. Recai essa carga tributária excessiva sobre os ganhos salariais. Vale ressaltar que os impactos sobre a massa salarial já atingiram algo como quase 19% das rendas pessoais.

As empresas sofrem também, como conseqüência. Em vez de se capitalizarem, suportam uma tributação que interfere nos seus resultados, no seu desempenho.

O Brasil é hoje - e infelizmente, friso - vice-campeão em matéria de carga tributária em todo o mundo. Acima de nós, só a Dinamarca, que dispõe de infra-estrutura de serviços muito melhor do que a nossa. Na própria América Latina somos, portanto, o país cujos cidadãos mais pagam impostos. Note-se que, diante dos 37,3% sobre o PIB no Brasil, no Uruguai a média é 28,4%, na Argentina 25,7% e no México 9,1%.

A negatividade da excessiva carga tributária se exerce de duplo modo: os tributos cumulativos recaem sobre cadeias produtivas de várias fases, como das indústrias e do comércio. Os não-cumulativos atingem em cheio e de uma só vez, cada, as cadeias curtas como os serviços, isto é, os chamados profissionais liberais e as microempresas, que são as maiores fontes de emprego. Elas - essas médias e pequenas empresas - não podem transferir os pagamentos dos encargos fiscais e sim têm que absorvê-los diretamente.

Volto, portanto, a salientar esse excessivo encargo fiscal com que convive o País. E lembrando mais uma vez que as cadeias produtivas de várias fases passaram a ser prejudicadas pelas elevações do PIS e do Cofins em mais do dobro cada uma.

O brasileiro que contribui com impostos trabalha em média, 4 meses por ano, para pagá-los e mais 4 meses para custear serviços que deveriam ser do governo, tais como educação, previdência pública e até segurança pública - outra grande questão brasileira - obrigações fundamentais de .todo e qualquer Estado, sobretudo dos chamados Estados que vivem, como é o nosso caso, sob a égide do Estado democrático de direito.

Veja-se, por exemplo, o caso do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Ele recebeu cerca de vinte e sete regulamentações federais a estaduais, incentivando em alguns casos, as “guerras fiscais” entre os Estados da Federação. A prolixidade tributária estende-se a todo o sistema - já se observou com propriedade -: o Brasil tem uma legislação fiscal de cerca de 55.767 artigos, 33.374 parágrafos, 23.497 incisos e 9.956 alíneas, o que significa um recorde mundial, obviamente ensejando e muito a sonegação que precisa ser combatida, para que todos sejam tratados igualmente de acordo com a Lei.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em qualquer perspectiva metodológica, o Estado deve direta ou indiretamente, colaborar, em maior ou menor escala, com o crescimento econômico, base do desenvolvimento social. Nunca a eles se opor ou sobrecarregá-los.

Apresenta-se necessário, mesmo urgente, retornarmos ao debate sobre a reforma tributária, que é fundamental para o País. Temos de extinguir ou reduzir os impostos em cascata, sem prejudicar e sim recompensando a produtividade. Temos de estabelecer regras únicas para o ICMS para evitarmos e superarmos as guerras fiscais tão prejudiciais ao Estado Federal brasileiro, ou seja, temos também de acabar com o círculo vicioso de impostos provisórios que se tornam definitivos com alíquotas em expansão.

O Estado deve, com suas funções, tornar-se público também nisso. O Estado deve ser um ente que esteja a serviço da sociedade, contribuindo para promover um continuado processo de desenvolvimento.

Por isso, Sr. Presidente, desejo, ao encerrar minhas palavras, pedir a V. Exª, nobre Senador Alvaro Dias, que autorize publicar juntamente com o meu discurso dois textos: A matéria do jornal O Estado de S. Paulo, do dia 16 de setembro deste mês e a matéria da Folha de S.Paulo, de 18 de março de 2004, assinada pela jornalista Fabiana Futema.

Creio que com a publicação desses dois anexos poderemos refletir melhor sobre a questão da carga fiscal brasileira e a necessidade de melhorarmos sua qualidade e torná-la instrumento que propicie o desenvolvimento econômico e social do País.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado.

 

************************************************************************************************  DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MARCO MACIEL EM SEU PRONUNCIAMENTO.

      (Inseridos nos termos do art.210, inciso I e § 2, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Carga tributária de 37,3% do PIB é novo recorde semestral, diz estudo”, de Marcos Cézari - Folha de S. Paulo, 16/09/08.

“Brasil tem a segunda maior carga tributária sobre salários do mundo”, de Fabiana Futema.

“Os serviços e a excessiva carga tributária”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/09/2008 - Página 38020