Discurso durante a 169ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Necessidade de esclarecimento dos fatos relativos a escutas clandestinas.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Necessidade de esclarecimento dos fatos relativos a escutas clandestinas.
Publicação
Publicação no DSF de 11/09/2008 - Página 37575
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, RESPOSTA, GOVERNO FEDERAL, SITUAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GRAVIDADE, ESCUTA TELEFONICA, NEGLIGENCIA, INEFICACIA, PROVIDENCIA, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, CONTINUAÇÃO, IMPUNIDADE, PROTEÇÃO, MEMBROS, GOVERNO, OBSTACULO, ATUAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).
  • COMENTARIO, POSSE, PRESIDENTE, SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ), DISCURSO, DIRIGENTE, ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB), AMEAÇA, ESTADO DEMOCRATICO, FALTA, CONTROLE, ESPIONAGEM, ORGÃO PUBLICO, INFORMAÇÃO, APRESENTAÇÃO, ORADOR, SOLIDARIEDADE, AUTORIDADE, VITIMA, INVASÃO, PRIVACIDADE, LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • GRAVIDADE, FALTA, QUESTIONAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ILEGALIDADE, ORIGEM, INFORMAÇÃO.
  • QUESTIONAMENTO, CARTA, POLICIA FEDERAL, DESTINATARIO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), ALEGAÇÕES, FALTA, RECURSOS, TECNOLOGIA, ESCUTA TELEFONICA, DIRIGENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REU, CORRUPÇÃO.
  • NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, UTILIZAÇÃO, AGENCIA BRASILEIRA DE INTELIGENCIA (ABIN), CARTÃO DE CREDITO, EXECUTIVO, SIGILO, AQUISIÇÃO, EQUIPAMENTOS, ESCUTA TELEFONICA.
  • REGISTRO, UNANIMIDADE, APROVAÇÃO, COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO JUSTIÇA E CIDADANIA, PROJETO DE LEI, AUTORIA, JARBAS VASCONCELOS, SENADOR, REGULAMENTAÇÃO, ESCUTA TELEFONICA, EXPECTATIVA, APRECIAÇÃO, PROPOSIÇÃO, AUTOR, ROMEU TUMA, CONGRESSISTA, OBRIGATORIEDADE, INDUSTRIA, INFORMAÇÃO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), FABRICAÇÃO, VENDA, EQUIPAMENTOS, ESPIONAGEM.

            O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Garibaldi Alves, Senador Marconi Perillo, Srªs e Srs. Senadores, a Nação brasileira vem assistindo a sucessivos escândalos de corrupção, fabricação de dossiês e grampos ilegais. A resposta do Governo tem uma seqüência definida: 1) não sabe, não viu, foi traído e vai apurar rigorosamente; 2) minimiza o fato, defendendo as autoridades responsáveis pela área; 3) pressionado, afasta uma ou mais autoridades para dar a impressão de que tem empenho na apuração dos fatos.

            Os culpados nunca aparecem, e os envolvidos estão sempre acima de qualquer suspeita, diz o Presidente Lula. Dependendo da reação, arruma-se um bode expiatório, Senador Augusto Botelho, que é o responsável por tudo, mesmo que a operação envolva mais de uma instituição. Sempre tem um Delúbio da vida ou um José Aparecido. E a vida continua até um novo escândalo.

            Paralelamente, entra em ação, Senador Mão Santa, a Base de apoio do Governo no Congresso Nacional e transforma em pizza as CPMIs instauradas para apuração das denúncias, com as benesses do Governo entrando em ação.

            Estamos assistindo à grave crise dos grampos, desencadeada pela reportagem da revista Veja da semana passada e robustecida pelos fatos recentes divulgados por toda a imprensa brasileira. O descontrole dos órgãos policias e de informação transformou o Brasil de Estado democrático de direito em estado de bisbilhotagem, como disse o Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Cezar Britto, na posse do Ministro Francisco Cesar Asfor Rocha na Presidência do Superior Tribunal de Justiça.

            O Presidente Lula não discursou na solenidade e ouviu constrangido do Presidente da OAB que: “(...) as instituições do Estado, criadas para proteger a cidadania, passam a competir entre si para saber quem grampeia mais, quem bisbilhota mais, numa gincana absurda, sustentada com os impostos do contribuinte”.

            É inadmissível, em um Estado democrático de direito, que se tenha bisbilhotado clandestinamente os Presidentes de dois Poderes da República: do Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Gilmar Mendes, e do Presidente do Congresso Nacional, Senador Garibaldi Alves; 18 Senadores, 26 Deputados, Ministros do STJ e autoridades do Executivo, por enquanto. Não houve apenas escutas, mas monitoramento dos passos. É o Estado policiando o próprio Estado.

            Presidente Garibaldi Alves, minha irrestrita solidariedade às autoridades grampeadas, cuja privacidade foi violada, em flagrante desrespeito a direitos e garantias constitucionais. É preciso restabelecer o império da Constituição, que é cidadã e não estatal.

            A revista Veja informou, a meu ver, outro fato gravíssimo: “As gravações ilegais feitas pela Abin servem de base para a elaboração de relatórios que têm o Presidente da República como destinatário final”.

            Diz a revista que isso não quer dizer que o Presidente Lula tenha conhecimento da origem das informações que recebe. Pergunto: o Presidente ou seus assessores diretos recebem informações ou bisbilhotices sobre altas autoridades do País e da Oposição e nem perguntam ou suspeitam de como foram obtidas? Onde elas são armazenadas depois? Em um banco de dados? Parece a reprise agravada do dossiê FHC!

            Outro fato intrigante é que Polícia Federal, muito bem equipada, como mostrou recentemente a grampolândia, tenha se mostrado incapaz de cumprir uma determinação do Supremo Tribunal Federal, que mandou monitorar as conversas telefônicas do ex-Secertário Nacional do PT, Romênio Pereira, suspeito de participar de um esquema de desvio de 700 milhões dos cofres públicos. Em carta ao STF, a PF alegou não dispor de recursos técnicos para fazer a escuta do petista.

            No reino da grampolândia, não basta o afastamento provisório da cúpula da Abin, que se deve ao Ministro da Defesa Nelson Jobim, que mostrou, com documentos, ao Presidente Lula que a Abin possuía aparelhos de escuta - informação negada pelo Ministro-Chefe do Gabinete Institucional.

            É necessário o esclarecimento dos fatos, com a responsabilização criminal dos culpados. Se verdadeira a hipótese de envolvimento de agentes da Abin e da Polícia Federal e de um possível conflito entre as duas instituições, o inquérito deve ser acompanhado pelo Ministério Público Federal, para que os “infiltrados” sejam efetivamente responsabilizados.

            Semana passada, em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo, o articulista Clóvis Rossi questionou de forma extremamente lúcida e sensata a afirmação do Ministro Tarso Genro: “Estamos chegando a um ponto em que temos de nos acostumar com o seguinte: falar ao telefone com a presunção de que alguém está escutando”.

            O jornalista comenta a absurda afirmação com a seguinte frase:

O chefe da Polícia Federal, em vez de se indignar - e agir em conseqüência, o que seria ainda mais relevante -, prefere conformar-se com a sua incompetência, inapetência ou tudo isso ao mesmo tempo para controlar atividades que desrespeitam o Estado de Direito.

            Srªs e Srs. Senadores, o Ministro da Justiça apenas segue o modelo da falta de noção de governo do Presidente Lula. Omissão e despreparo em punir quem ultrapassa a lei. Mais uma vez, gostaria de citar o artigo do jornalista Clóvis Rossi publicado na terça-feira passada, que encerra seu texto da seguinte forma e com a qual eu concordo plenamente - e, acredito, boa parte dos brasileiros que acompanham estarrecidos essa invasão de privacidade absurda e autoritária: “Não há símbolo que resista no Governo Lula. Cai um após o outro sempre que qualquer labareda chega perto do presidente”, diz o jornalista Clóvis Rossi.

            Aliás, essa sucessão de graves crimes do Governo Federal nunca chega ao Presidente, que diz nunca saber de nada.

            Mas ele sabe. Sabe e o Presidente Lula precisa esclarecer se é verdadeira a suspeita de que a Abin, valendo-se da farra dos cartões corporativos, garantida pelo sigilo que tanto defendeu, adquiriu equipamentos de alta tecnologia para escuta de forma irregular, em dinheiro vivo e sem comprovação fiscal. É o Tribunal de Contas da União que levanta a suspeita, Presidente Mão Santa.

            A Abin tem ou não equipamento para escuta? A Secretaria de Segurança Institucional controla ou não a Abin? E as informações levadas ao Presidente quem controla?

            São esclarecimentos que o Presidente Lula precisa responder imediatamente à Nação brasileira porque não demandam investigação profunda.

            A nós, Parlamentares, cabe disciplinar a escuta telefônica e aperfeiçoar os mecanismos de controle.

            E aí, Senador Mão Santa, que preside a sessão neste instante, quero dizer que, hoje, na Comissão de Constituição e Justiça, foi aprovado o projeto do Senador Jarbas Vasconcelos que teve como Relator, inicialmente, o Senador Demóstenes Torres e, hoje, o Senador Tasso Jereissati. com a participação de vários Senadores: Marconi Perillo, Francisco Dornelles, Aloizio Mercadante, eu próprio, Wellington Salgado, que estávamos na Comissão de Constituição e Justiça.

            E, lá, aprovamos, por unanimidade, depois de uma discussão em que se chegou a um consenso sobre o parecer do Senador Tasso Jereissati, o projeto que disciplina e regulamenta as escutas legais, autorizadas pela Justiça, e pune aquelas escutas ilegais.

            Ainda hoje, Senador Wellington Salgado, na Comissão que V. Exª preside, a de Ciência e Tecnologia, também tivemos oportunidade de aprovar um projeto do Senador Romeu Tuma na mesma linha. No projeto, que nós aprovamos, estabelece-se que as indústrias têm de encaminhar ao Ministério da Justiça informações sobre a fabricação dos equipamentos destinados a fazer escutas ou a bisbilhotagem.

            Nós vamos, na Comissão de Constituição e Justiça - já conversamos com o Senador Romeu Tuma -, ampliar o que já foi feito, acatando a proposta do Senador Cícero Lucena, que, em sua emenda, estabelece que também têm de ser encaminhadas ao Ministério da Justiça informações sobre a venda desses equipamentos.

            Então, agora, nós precisamos aprovar também esse projeto do Senador Romeu Tuma na Comissão de Constituição e Justiça, de forma a dar à sociedade brasileira um arcabouço, uma legislação que lhe assegure o direito a sua privacidade, direito que lhe é garantido na Constituição Federal. Ou nós reagimos, ou estaremos condenados a não abrir a boca pelo resto do tempo de mandato do Presidente Lula.

            Era o que eu tinha a dizer, Presidente Mão Santa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/09/2008 - Página 37575