Discurso durante a 184ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário sobre a crise financeira mundial e avaliação de suas conseqüências para o Brasil. Elogios ao Presidente Lula.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Comentário sobre a crise financeira mundial e avaliação de suas conseqüências para o Brasil. Elogios ao Presidente Lula.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/2008 - Página 38922
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • ELOGIO, DISCURSO, CRISTOVAM BUARQUE, SENADOR, ANALISE, SITUAÇÃO, BRASIL, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COMENTARIO, EXCESSO, CRESCIMENTO, ESPECULAÇÃO, MERCADO FINANCEIRO, FRAUDE, CONTABILIDADE, EMPRESA, BANCOS, AGRAVAÇÃO, AUMENTO, GASTOS PUBLICOS, GOVERNO ESTRANGEIRO.
  • ADVERTENCIA, NECESSIDADE, ATENÇÃO, GOVERNO BRASILEIRO, TENTATIVA, IMPEDIMENTO, SUPERIORIDADE, RISCOS, ECONOMIA NACIONAL, IMPORTANCIA, REDUÇÃO, ESPECULAÇÃO, REGISTRO, REALIZAÇÃO, REUNIÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), DEBATE, ASSUNTO, BUSCA, ALTERNATIVA, SOLUÇÃO, PROBLEMA, COMENTARIO, PRIORIDADE, DELIBERAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, EXPECTATIVA, ENTENDIMENTO, BANCADA, APOIO, GOVERNO FEDERAL, OPOSIÇÃO, BENEFICIO, AMBITO NACIONAL.
  • DEFESA, NECESSIDADE, ELABORAÇÃO, APROVAÇÃO, REFORMA POLITICA, REFORMA TRIBUTARIA, ELOGIO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, RESERVAS CAMBIAIS, BUSCA, GARANTIA, CREDITOS, EXPORTADOR, VIABILIDADE, REDUÇÃO, RISCOS, CAMBIO, EDIÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), AUTORIZAÇÃO, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), AQUISIÇÃO, CARTEIRA DE INVESTIMENTO, BANCO COMERCIAL, IMPEDIMENTO, AGRAVAÇÃO, CRISE.
  • COMENTARIO, REDUÇÃO, EMPREGO, PREVISÃO, AGRAVAÇÃO, SETOR, PRODUÇÃO, MAQUINA AGRICOLA, NECESSIDADE, ATENÇÃO, SITUAÇÃO, INFLAÇÃO, DEFESA, PROTEÇÃO, VALORIZAÇÃO, PRODUTO, EXPORTAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, METALURGIA, AGRICULTURA.

            O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB - AL. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado, eu queria, antes de qualquer coisa, cumprimentar o Senador Cristovam Buarque pelo importante pronunciamento que, mais uma vez, fez desta tribuna do Senado Federal. É muito importante, importante mesmo, que nós conversemos. É fundamental tornarmos o Brasil menos vulnerável às crises, a qualquer crise. O Senador Cristovam tem absoluta razão.

            Os anos 90, Sr. Presidente, foram de grande prosperidade para os Estados Unidos, a maior forte economia do mundo. Eles pisaram fundo no acelerador da expansão monetária, aumentando a quantidade de dinheiro em até 15% ao ano.

            Essa orgia de dinheiro barato desencadeou os investimentos de longo prazo insustentáveis, bem como jogou gasolina nas brasas das especulações desenfreadas. As ações foram à estratosfera...

            Mas a expansão monetária não podia durar para sempre, sob pena de a inflação destruir a economia. Veio a corrente epidemia de fraudes contábeis em grandes empresas e em grandes bancos também. Daí para a bancarrota foi um pulo!

            Com sua política belicista, o Governo Bush elevou dramaticamente os gastos públicos americanos, o que gerou déficit, que tem de ser financiado via inflação ou endividamento. E a dívida pública americana não é pequena. Depois do pacote de US$700 bilhões, passou dos US$11 trilhões! Até 2008, em quase oito anos de mandato do Governo Bush, essa dívida apresentou incremento real de 33%.

            E isso tudo, Sr. Presidente, Srs. Senadores, está começando a ter conseqüências aqui dentro por razões muito mais especulativas que reais.

            Se a segunda-feira vai entrar para a história da Bolsa de Valores de São Paulo, esta terça-feira está sendo dominada por um cenário menos catastrófico do que se viu no pregão de ontem.

            Não vamos permitir que o pânico vire sistêmico e que a especulação seja permanente! É como se o mercado sofresse um distúrbio bipolar: qualquer notícia de que vai haver socorro causa euforia e qualquer outra meia notícia ruim causa uma depressão exagerada e tudo se derruba.

            A crise financeira mundial esteve na pauta das reuniões do Governo neste início de semana. Na reunião do Conselho Político com o Presidente Lula, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fizeram uma explanação sobre a crise e seus impactos na economia brasileira. Também discutiram, Sr. Presidente, medidas que o Governo tomará para se resguardar das turbulências e os projetos prioritários na agenda de votação do Congresso Nacional.

            É aqui, Sr. Presidente, que deve ser o palco de debates e ações para ajudar a encontrar saídas para a crise. Mais uma vez, reafirmo que o Senador Cristovam Buarque tem absoluta razão: é aqui que vamos ter que aprofundar o debate sobre esta crise, sobre todas as crises.

            Não tenham dúvida: o Senado Federal vai apoiar as medidas anunciadas e deixar as turbulências no plano das ameaças.

            Tenho certeza, Sr. Presidente, de que a Oposição não trabalhará contra o País. E a Base Aliada está consciente das suas responsabilidades neste momento, assim como Republicanos e Democratas estão agora fazendo nos Estados Unidos. Os partidos estão convencidos de que é preciso deixar as divergências de lado para colaborar nesse esforço.

            O PMDB, que sempre foi a principal força de sustentação política do País, cumprirá o seu papel.

            O Presidente Lula tem liderança política, sensibilidade social e instrumentos suficientes a mão para responder aos ataques especulativos.

            Ontem, nos pronunciamentos em plenário, muito se falou da ação necessária e da reforma política. Há pouco eu falava com o Líder da nossa Bancada, Valdir Raupp, sobre o fantástico desempenho do PMDB. Mas, além dessa reforma, é imprescindível chegarmos também a um consenso sobre a reforma tributária. É ela que deverá garantir ao Estado uma arrecadação equilibrada; e ao setor produtivo e à sociedade, maior justiça fiscal.

            Ontem, Sr. Presidente, num gesto preventivo, o Governo anunciou que vai utilizar parte do dinheiro das reservas internacionais, que somam US$207 bilhões, para garantir crédito aos exportadores brasileiros e ajudar a diminuir a pressão sobre o câmbio.

            Além disso, o Presidente Lula assinou medida provisória que autoriza o Banco Central a comprar carteira de crédito de bancos comerciais. A medida serve para evitar que a crise de liquidez afete o Brasil. Todas essas ações são bem-vindas, porque a crise começa a ganhar contornos mais realistas aqui no País.

            Duas montadoras já anunciaram férias coletivas para o final do ano, o que interrompe, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uma trajetória positiva de vendas, que subiram 27% este ano, com um total de 2,21 milhões de unidades.

            Por extensão, espera-se reflexo na área de máquinas agrícolas, setor responsável em setembro pela maior parte da geração de empregos na área automotiva.

            Mas o maior temor continua sendo a inflação, que pode interromper outra trajetória positiva. Agora mesmo foi registrado um movimento de deflação entre as famílias de baixa renda, entre agosto e setembro.

            Senador Cristovam, ouço rapidamente V. Exª, porque meu tempo já está quase esgotado.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Renan, além de agradecer sua referência, quero dizer que este seu discurso me dá ânimo, porque eu tenho visto que, no mundo inteiro, os parlamentos estão quase parando para debater apenas o assunto da crise - no mundo inteiro! O nosso não pode ficar fora dessa preocupação.

            O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB - AL) - Agradeço a V. Exª o aparte.

            Como se vê, Sr. Presidente - e já vou encerrar -, o Brasil não está escapando ileso dos ataques especulativos. O que fazer, então, para nos proteger? Perguntava há pouco desta tribuna o Senador Cristovam Buarque.

            Já debati algumas alternativas aqui em pronunciamento da semana passada. Creio que uma das prioridades, neste momento, deve ser a de manter a todo custo a valorização de nossas commodities. Principal produto de exportação do Brasil, as commodities metálicas e agrícolas estão por trás dos recordes da balança comercial nos últimos anos.

            Impulsionadas pela crescente demanda mundial, cujo vértice é a China, as matérias-primas viram seus preços saltarem e compensarem parte da desvalorização do dólar frente ao real. Neste ano, por exemplo, a Vale do Rio Doce, maior produtora de minério de ferro do mundo, já anunciou reajuste de até 70%.

            Felizmente, Sr. Presidente, aqui no Brasil, embora o País tenha crescido menos do que a média mundial nos últimos anos, houve melhoras macroeconômicas. Possuímos, como disse, reservas confortáveis, praticamente zeramos a dívida interna atrelada ao dólar e produzimos fortes superávits comerciais.

            Mas nada disso, em face da atual turbulência, segurou a moeda norte-americana, que chegou a ter a maior alta em nove anos e já bate às portas de R$2,30.

            Temos, é verdade, alguns problemas. Há um espaço mínimo para cortar gastos - V. Exª ontem falou sobre este assunto da tribuna do Senado Federal -, caso a arrecadação, evidentemente, caia. E a carga tributária já passou do nível tolerável pela população e pelo setor produtivo. Além disso - estou encerrando -, a curva descendente de juros foi interrompida e dificilmente retomará fôlego nas próximas semanas. Uma das dificuldades é que 16% das nossas exportações vão para os Estados Unidos, que estão à beira da recessão.

            A economia, Sr. Presidente, é como uma locomotiva: difícil de pôr em movimento, mas quando ela anda, é difícil de desacelerar. Se caiu uma ponte lá na frente, podemos diminuir o seu ritmo, sem deixá-la parar completamente.

            Eu fiz esse raciocínio porque as vendas no final do ano serão um termômetro de avaliação da demanda e, conseqüentemente, da confiança das empresas para investir aqui no Brasil. O papel do Governo e dos órgãos reguladores é criar condições para que isso aconteça, sem elevar demasiadamente os juros.

            Eu queria, Sr. Presidente, a partir de amanhã, dar continuidade a esta discussão no Senado com V. Exª e com todos os Senadores, independentemente de partido.

            Senador José Agripino, um dos Líderes da Oposição, é fundamental o engajamento de todos para que tenhamos soluções e para que o Brasil fique menos vulnerável a todo tipo de coisa que se apresenta hoje na economia mundial.

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/2008 - Página 38922