O SR. JOSÉ NERY (PSOL - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Delcídio Amaral, Srªs e Srs. Senadores, no último domingo, 110 milhões de brasileiros compareceram às urnas para eleger os próximos 5.564 prefeitos e prefeitas e a respectiva composição nas Câmara municipais.

O PSOL, Partido Socialismo e Liberdade, com apenas três anos de existência, apresentou candidaturas em mais de 400 cidades, sendo que, em 286, tivemos candidatos majoritários.

A legislação eleitoral favorece os grandes partidos, seja pela destinação de maior volume de recursos do fundo partidário, seja na distribuição do tempo de televisão.

Em muitas cidades, as redes de televisão tentaram impedir a participação de nosso Partido nos debates, espaço essencial para equilibrar a apresentação de propostas à população.

Por outro lado, a mesma legislação manteve o financiamento privado para campanhas eleitorais, perpetuando o monopólio do poder econômico e distorcendo a possibilidade do povo expressar livremente a sua vontade.

Mesmo levando em consideração esse cenário totalmente adverso, o PSOL, Partido Socialismo e Liberdade, apresentou para os brasileiros um programa de mudanças, ancorado na participação popular e na inversão de prioridades.

Considerando a votação das capitais, as candidaturas do Partido e aquela que nós apoiamos, alcançamos 2% do eleitorado. É uma vitória muito importante. O Partido obteve 744 mil votos para prefeito em todo o País.

A ex-Senadora Heloisa Helena, presidenta nacional do PSOL, elegeu-se vereadora em Maceió, sendo proporcionalmente a candidata à vereadora mais votada do País, enfrentando poderosa campanha difamatória por parte dos conservadores locais.

A Deputada Federal Luciana Genro alcançou mais de 9% dos votos na cidade de Porto Alegre. Os Deputados Ivan Valente e Chico Alencar fizeram campanhas limpas e programáticas em São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente. Em uma coligação com o PSB, estamos no segundo turno na cidade de Macapá.

Destaco a brilhante campanha realizada por Hilton Coelho em Salvador, alcançando 3,94% dos votos; de Renato Roseno na cidade de Fortaleza, que obteve 5,67% dos votos e elegeu como vereador mais votado o ex-Deputado Federal João Alfredo.

Não poderia deixar de louvar o esforço grandioso realizado pelos candidatos do partido no Estado do Pará. Agradeço aos valorosos companheiros e companheiras do PSOL que ofereceram seus nomes às suas comunidades em vários Municípios paraenses para a disputa dos cargos majoritários de Prefeito e Vice-Prefeito, a exemplo da Vereadora Marinor Brito, candidata a Prefeita em Belém; Guilherme Gonçalves, em Abaetetuba; Professor Márcio, em Santarém; Professora Francilene, em Jacundá; Mauro Brito, em Viseu; Sinval, em Castanhal; Junior Vera Cruz, em Marituba; Professor Antonio Carlos, em Ananindeua; Pastor Amorim, em Igarapé-Miri; Marden, em Parauapebas; Julio Oliveira, de Canaã dos Carajás; Professor Milton, em Redenção; Professor Valtair, em Medicilândia; Professor Fredson, em São Domingos do Capim e Professor Jonatas, em Tucuruí. Esses são os candidatos que o PSOL apresentou nessa campanha eleitoral no Estado do Pará.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, numa época em que é cada vez mais difícil distinguir quem é esquerda e quem é direita - nessas eleições ficou mais difícil fazer essa identificação, numa eleição em que o PT coligou, em mais de mil municípios, com o PSDB e em mais de 900 com o Democratas e onde proliferaram, em várias partes do País, as alianças fisiológicas - nesse cenário, as candidaturas do PSOL firmaram junto ao eleitorado uma clara mensagem: existe uma alternativa de esquerda se fortalecendo no País. Essa alternativa cresce a cada pleito e enraíza-se em cada luta.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao participar desta campanha, tivemos a percepção, como em outros momentos da nossa luta política, das dificuldades de um partido pequeno, do ponto de vista ainda do quantitativo de seus militantes, do número de Municípios onde estamos implantados. Porém, como bem disse a nossa Presidente Nacional e ex-Senadora Heloisa Helena, o PSOL é um partido pequeno, porém não é um nanico moral que participa das eleições, como infelizmente alguns partidos que se prestam ao que considero um desserviço à democracia, como legenda de aluguel.

O PSOL participa das eleições e da luta do povo brasileiro junto com o movimento sindical, com os trabalhadores do campo e da cidade, com os homens e mulheres de bem que querem a construção de um país mais digno e mais justo por acreditar que a política pode e deve ser feita com dignidade, diferente das campanhas milionárias, muitas vezes financiadas com dinheiro público ou com o dinheiro fruto da corrupção.

Srªs e Srs. Senadores, o que nós vimos nesta campanha demonstra a necessidade de uma profunda reforma política no País, razão por que defendo que, em 2009, façamos aqui, no Congresso Nacional, um esforço extraordinário para oferecer ao País novos mecanismos na escolha e na definição dos candidatos, princípios fundamentais que possam contribuir para que as campanhas tenham um maior equilíbrio, discutindo especialmente temas importantes como financiamento público exclusivo das campanhas, além de outros temas importantes da reforma política, assunto que pretendo abordar, com maior profundidade, ainda esta semana, aqui, da tribuna do Senado.

Era esta, Sr. Presidente, a nossa manifestação, assinalando a participação do PSOL nas eleições municipais, plantando essa semente em cada um dos Municípios em que pudemos estar presentes e, com certeza, construindo a possibilidade para que possamos fazer o enraizamento do projeto partidário, do programa econômico e político que defendemos com a coragem de quem não se vende, não se rende e não coloca seus sonhos nas mesas de negociações, como muitos fazem. Portanto, o PSOL se orgulha de, mesmo sendo pequeno, participar com dignidade em cada comunidade, apresentando-se, levando suas propostas, conquistando apoios do voto consciente e livre, como deve ser numa democracia.

Concedo um aparte ao nobre Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador José Nery, quero aqui expressar meus cumprimentos ao PSOL, inclusive à Presidente do PSOL, nossa colega Senadora Heloisa Helena, que teve uma votação muito expressiva em Maceió, elegendo-se Vereadora. Quero também dizer que, embora muitas vezes o PSOL tenha uma posição diferenciada em relação ao Partido dos Trabalhadores, V. Exª sabe que considero o PSOL como um partido de muita afinidade com o Partido dos Trabalhadores. Inclusive, eu quero expressar aqui, abertamente, o quanto avalio que será importante que o Deputado Ivan Valente - que, muito assertivamente, colocou as posições do PSOL em todos os debates -, sendo egresso do Partido dos Trabalhadores, possa considerar seriamente - ele e os companheiros do PSOL -, neste segundo turno, dar o apoio à candidata Marta Suplicy na disputa entre a Marta Suplicy e o Gilberto Kassab, este pelo Democratas. Então, com todo o respeito ao nosso adversário, eu aqui expresso a minha recomendação ao colega e amigo, Senador José Nery, e ao colega e companheiro de tantas batalhas, Ivan Valente, e aos companheiros do PSOL, que o PT e a Marta Suplicy verão com bons olhos o seu voto para ela no segundo turno para o cargo de Prefeita da maior cidade brasileira, São Paulo.

O SR. JOSÉ NERY (PSOL - PA) - Obrigado, Senador Suplicy.

Essa questão da participação do PSOL nas cidades em que haja segundo turno merecerá, com certeza, a avaliação do Diretório Estadual - em São Paulo, no caso, como o Senhor se referiu particularmente a São Paulo - para que o partido tome aquela que seja a melhor posição, inclusive mantendo a coerência com os seus princípios programáticos, não podendo, de forma alguma, distanciar-se daquilo que motiva a nossa participação na vida política brasileira, mantendo vivo o sonho da construção de uma sociedade socialista, procurando, com isso, mobilizar corações e mentes nessa direção, participando das lutas do povo brasileiro por reformas estruturais que ajudem a construir no nosso País uma verdadeira democracia. E, no processo eleitoral, evidentemente, o PSOL, onde está implantado, onde tem diretório, especialmente no caso de São Paulo, com certeza fará uma avaliação e tomará aquela que seja a decisão mais acertada onde haverá segundo turno - não só em São Paulo, mas em outras capitais ou cidades - no dia 26 de outubro.

Obrigado, Sr. Presidente. Essa é a manifestação do PSOL, com a qual registramos aqui nossa participação naquela que foi a primeira eleição municipal em que estivemos presentes. O acúmulo dessa experiência representa o plantio de uma semente no Município, lá, onde está o cidadão e a cidadã, no sentido de contribuir para a construção de um Brasil mais justo e mais digno.

Muito obrigado.