Discurso durante a 184ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato de visita feita por S.Exa. ao Caribe na delegação da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Relato de visita feita por S.Exa. ao Caribe na delegação da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.
Aparteantes
Eduardo Azeredo.
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/2008 - Página 39075
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • DETALHAMENTO, VIAGEM, ORADOR, DELEGAÇÃO, COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DEFESA NACIONAL, PAIS, AMERICA LATINA, REGISTRO, DIVERSIDADE, CAPACIDADE, CRESCIMENTO, PAIS EM DESENVOLVIMENTO.
  • REGISTRO, PRESENÇA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, DEFESA, PAZ, EMPENHO, TROPA, BRASIL, BUSCA, ESTABILIDADE, REESTRUTURAÇÃO, REGIÃO.
  • IMPORTANCIA, EXPANSÃO, POLITICA EXTERNA, BRASIL, REFORÇO, RELACIONAMENTO, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, AMERICA LATINA, REGISTRO, RESPONSABILIDADE, PAIS, PROCESSO, INTEGRAÇÃO, CONTINENTE.

            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, passado o período do primeiro turno das eleições, cumpro o dever de dar conhecimento ao Senado, de forma mais detalhada, da visita feita ao Caribe pela delegação da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional desta Casa, que, chefiada pelo nosso eminente colega, Senador Heráclito Fortes, esteve em cinco países daquela região, entre os dias 31 de agosto e 9 de setembro. Além de S. Exª, a Delegação foi integrada pelos nobres Senadores Eduardo Azeredo, aqui presente, Virgínio de Carvalho e Marco Antônio Costa. Tivemos, ainda, a agradável companhia do Embaixador José Marcus Vinicius de Sousa; do Ministro Nilo Barroso, Assessor da Presidência da Comissão de Relações Exteriores; do Secretário João Alfredo dos Santos, do Ministério das Relações Exteriores; do Tenente-Coronel Aviador José Hernández, Assessor Parlamentar do Comando da Aeronáutica; do Secretário da nossa Comissão, Dr. José Alexandre Girão; da Assessora de Imprensa, jornalista Letícia de Almeida Borges, e da jornalista Silvia del Valle Gomide, da Agência Senado.

            Para mim, pessoalmente, Sr. Presidente, a viagem foi extremamente proveitosa. Confesso a V. Exª e à Casa que, oriundo do Acre, com tantas e tão densas relações com o povo boliviano e a Bolívia, território do qual nos emancipamos pela epopéia que toda a Nação conhece, senti-me profundamente surpreendido pela enorme diversidade dos cinco países visitados. Mais do que pela sua diversidade, minha atenção foi despertada por sua imensa potencialidade, numa época em que a globalização, como tendência histórica deste século, já não conhece fronteiras senão pela conveniência do antigo e essencial princípio da soberania das nações. Trata-se de uma significativa mostra de um conjunto de nações das mais variadas origens, herdeiras, como nós, do movimento de expansão marítima que teve início nos últimos anos do século XV, com a viagem de Cristóvão Colombo, e se consumou no decorrer do século XX, com a expansão que, a partir da América, atingiu algumas regiões da Ásia, de que o melhor exemplo são as Filipinas.

            Na região visitada, vicejaram, Sr. Presidente, nações originárias da colonização inglesa, da colonização francesa, da colonização holandesa e, predominantemente, da colonização espanhola, expressões de países que expandiram os interesses europeus nessa parte do mundo, e que, como ocorreu conosco, deixaram como patrimônio imaterial, mas de enorme importância cultural, seu idioma, entre os traços permanentes do processo colonizador que faz parte de nossa herança.

            De nossa presença ocasional naquela região, resta-nos a triste lembrança de termos integrado a força de ocupação da República Dominicana, como um imperativo do regime militar que nos assolou e que nos colocou na inconveniente condição de servimos de instrumento à política externa dos Estados Unidos, naquela época. Hoje, Sr. Presidente, reconforta-nos ver que estamos resgatando aquele episódio lamentável, com a força de paz da ONU no Haiti, a Minustah, que, naquele devastado país, tenta ajudar a recuperação não só das calamidades naturais que assolam periodicamente a região, mas também das não menos dolorosas chagas da ditadura, da autocracia, da marginalização, da pobreza e da miséria que, durante tantos séculos, foi a marca indelével do processo colonizador de que também fomos vítimas.

            A força de paz da ONU no Haiti inova, Sr. Presidente, no sentido de ir além da ação policial de tropas militares de outros países. Há um novo sentido. Há um novo propósito. A percepção moderna é de que esse tipo de intervenção não pode prescindir mais do esforço conjunto, com o objetivo do resgate das condições estruturais do país alvo da missão de paz. Assim, atividades que visam a recuperação da infra-estrutura viária e a prestação do apoio técnico-consultivo, com vista à normalidade institucional do país, entre outras ações, somam-se às outras tarefas convencionais de segurança atribuídas às forças militares.

            Na minha visão pessoal, o empenho, a dedicação e o preparo das tropas brasileiras no Haiti muito contribuíram para essa mudança estratégica assumida, presentemente, pela ONU naquele país. Trago a esta Casa, como testemunho pessoal, o emocionante envolvimento dos militares brasileiros em missão no Haiti, com a busca da estabilidade e a retomada da normalidade daquele país e de seu sofrido povo. Aproveito esta oportunidade para rever a minha posição com relação ao envio de tropas militares ao Haiti, tendo em vista que votei contrariamente à proposição inicial, Senador.

            Tivemos, ainda, a ventura de conhecer Georgetown, capital da Guiana, por onde teve início nossa visita, sendo recebidos pelo nosso Embaixador Arthur Meyer. Estivemos, em seguida, na Cidade do Panamá, capital daquele país centro-americano, onde mantivemos proveitoso contato com nosso representante naquele país, o Sr. Embaixador Eduardo Prisco Paraíso Ramos. De lá seguimos a Kingston, capital da Jamaica, onde somos representados pelo Embaixador Alexandre Gueiros. Nossa quarta escala foi em Santo Domingo, na República Dominicana, onde o Sr. Embaixador Ronaldo Dunlop representa nosso País. Nossa última escala foi em Porto Príncipe, exatamente a capital do Haiti, país no qual a Embaixada brasileira é dirigida pelo nosso Embaixador Igor Kipman.

            Em todos esses países, fomos recebidos por autoridades locais, que nos acolheram com interesse, algumas até com curiosidade pelo nosso interesse em face da visita. Fomos instrumentalizados, nessas visitas, por valioso e esclarecedor texto, com útil, detalhada e objetiva informação sobre o conjunto das relações do Brasil com a região caribenha, de autoria do Embaixador José Marcus Vinicius de Sousa.

            Esse documentário, contendo o histórico de nossas relações políticas, diplomáticas e econômicas com os países da região, pode, a qualquer tempo, servir de roteiro indispensável para avaliarmos o peso e a extensão de nossos interesses naquela região. Além desse repositório de indiscutível valor, contamos ainda, relativamente a cada um dos países em nosso roteiro, com informações sobre os aspectos históricos, políticos, econômicos, comerciais e culturais, além de dados sobre demografia, produto interno, comércio exterior, além de percuciente análise sobre sua política externa e as relações multilaterais. Sempre que possível, há também um sumário sobre a presença brasileira e de empresas brasileiras em cada um dos países visitados.

            Entre outros aspectos que a mim particularmente chamaram a atenção, está a consciência de que, se esperamos afirmar e ampliar os interesses de nossa política externa, pensando em nosso intercâmbio político, diplomático, econômico e cultural, temos a obrigação de acentuar nossa presença não só nos países que conformam o que se convencionou chamar de Primeiro Mundo.

            O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senador.

            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Senador Eduardo, com muito prazer, com a permissão do Presidente.

            O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Como membro desse grupo, devo ressalvar que não pude participar de todo o percurso, embora tenha estado na Guiana e também no Panamá, pois já tinha, depois, um compromisso sobre crimes cibernéticos, na Colômbia. Quero falar da importância e do ambiente que vi nessa viagem, nesse intercâmbio com outros países, principalmente com os países vizinhos, como é o caso da Guiana, um país que tem fronteira com Roraima. Essa presença parlamentar é extremamente importante, é frutífera e, como o Presidente da nossa Comissão colocou, é uma diplomacia parlamentar. No Panamá, pudemos ver, também, a pujança de um país que cresce muito, em níveis superiores aos do crescimento do Brasil, de maneira que quero me somar a esse relatório que V. Exª traz aqui, lembrando a importância dessa atuação do Brasil no Haiti, em favor da paz.

            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Muito obrigado, Senador Eduardo.

            Mas, como eu dizia, além das nossas relações com o Primeiro Mundo - estou concluindo, Presidente -, temos, também, de olhar para os países do norte do continente sul-americano com o mesmo interesse com que estamos nos dedicando a fortalecer nossas relações com nossos vizinhos, integrantes e participantes do Mercosul. Todos nós sabemos que o Brasil tem responsabilidades coletivas com a integração continental e com o estímulo à nossa presença em países que contribuíram, de forma decisiva, para a nossa formação multiétnica, em decorrência de sermos produto histórico de tantos e tão diversificados povos que participaram de nosso crescimento econômico e de nosso processo civilizatório.

            Não quero alongar-me, Sr. Presidente, mas vou me permitir, em outras intervenções que se seguirão a esta, voltar a abordar este tema, na esperança de que, assim como me despertou o interesse e a curiosidade a visita da delegação brasileira ao Caribe, possa o assunto ser objeto de nossas cogitações em relação à orientação de nossa política exterior, de tantas tradições, cuja continuidade é o penhor não só do nosso passado, mas também decisivo para o nosso futuro, Senador Eduardo Azeredo.

            Sr. Presidente, muito obrigado pela oportunidade.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/2008 - Página 39075