Discurso durante a 184ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apreensão com relação à crise econômica mundial. (como Líder)

Autor
Renato Casagrande (PSB - Partido Socialista Brasileiro/ES)
Nome completo: José Renato Casagrande
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Apreensão com relação à crise econômica mundial. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/2008 - Página 39077
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • APREENSÃO, RESULTADO, CRISE, MERCADO FINANCEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ECONOMIA INTERNACIONAL, POSSIBILIDADE, COMPROMETIMENTO, ECONOMIA NACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, ORÇAMENTO, NECESSIDADE, ATENÇÃO, MANUTENÇÃO, PROGRAMA NACIONAL, ACELERAÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, BRASIL.
  • COMENTARIO, INSUFICIENCIA, PROJETO, SALVAMENTO, BANCOS, POSSIBILIDADE, DEMORA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), SOLUÇÃO, PROBLEMA, APREENSÃO, PREJUIZO, SETOR PRIVADO, MUNDO, RESTRIÇÃO, INVESTIMENTO, DESENVOLVIMENTO.
  • IMPORTANCIA, INICIATIVA, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), CRIAÇÃO, INCENTIVO, SETOR, PRODUÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, MERCADO IMOBILIARIO, EXPANSÃO, ECONOMIA.
  • DEFESA, NECESSIDADE, INTERVENÇÃO, ORGÃO FISCALIZADOR, FUNCIONAMENTO, MERCADO FINANCEIRO, MUNDO, REGISTRO, POSSIBILIDADE, REESTRUTURAÇÃO, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DISPONIBILIDADE, CREDITOS, FACILITAÇÃO, EXPORTAÇÃO, IMPORTANCIA, PRESENÇA, ESTADO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO.

            O SR. RENATO CASAGRANDE (Bloco/PSB - ES. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente Delcídio Amaral, que está muito bem na Presidência da Casa - talvez, seja um prenúncio da próxima etapa.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, diferentemente do Senador Eduardo Azeredo, falarei sobre a crise econômica hoje e, amanhã, falarei sobre eleições.

            Com apreensão, Sr. Presidente, acompanhamos os desdobramentos da crise financeira que se abateu sobre os Estados Unidos e que está contaminando - de certa forma, já contaminou - a economia mundial. Não há, hoje, um especialista capaz de apontar a luz no fim do túnel, anunciando que o pior já passou. Há, sim, sintomas claros de risco de recessão nos países desenvolvidos, com efeitos sobre os países emergentes.

            O SR. PRESIDENTE (Delcídio Amaral. Bloco/PT - MS) - Senador Renato Casagrande, vou prolongar a sessão por mais 30 minutos. Desculpe-me a interrupção, meu caro Líder Casagrande.

            O SR. RENATO CASAGRANDE (Bloco/PSB - ES) - A pergunta que se faz neste momento é: como o mundo financeiro se comportará frente a escassez de crédito internacional provocada pelo freio de arrumação que, inevitavelmente, se dará nos Estados Unidos e na Europa?

            O pacote de US$850 bilhões, aprovado pelo Congresso americano na semana passada, traz alguma liquidez aos mercados, mas ainda não representa a solução dos problemas no médio e longo prazos, tanto é que a crise perdura. As quedas seguidas das Bolsas mostram o quanto os mercados financeiros estão nervosos e apreensivos quanto ao futuro. Há um forte componente de irracionalidade no comportamento dos atores de mercado no momento. É hora de os governos agirem com cautela e segurança, indicando soluções claras e seguras para o enfrentamento da questão. O anúncio do governo da Alemanha de que honrará 100% dos depósitos realizados nos Bancos daquele país é um exemplo, Sr. Presidente, da segurança de que os correntistas necessitam.

            No nosso caso, a crise poderá ter reflexos diretos na discussão em torno do Orçamento Geral da União, obrigando-nos a rever a alocação de recursos públicos em investimentos em infra-estrutura. Com esse cenário, a preocupação deve ser no sentido de não permitir que sejam comprometidos os cronogramas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

            Quando o Governo se vê obrigado a rever prioridades para evitar o pior, o setor privado também inibe suas ações, à espera de melhores dias. Na verdade, o setor privado age antes da Administração Pública. Portanto, preocupam-nos as análises internacionais, dando conta de que a quebradeira de Bancos americanos pode contaminar os demais setores privados mundiais. Isto restringiria investimentos em desenvolvimento nos Estados Unidos, na Europa e nos países emergentes.

            Nossa economia está sólida, mas isso não nos imuniza, porque a globalização econômica fez com que estivéssemos integrados a outros mercados financeiros e comerciais por vasos comunicantes, e não se pode dimensionar ainda o tamanho dessa contaminação. Lembremo-nos de que, se essa crise fosse em outra época, a situação do Brasil, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, seria completamente diferente: os resultados sobre a economia e sobre o sistema financeiro brasileiro seriam devastadores. Ficamos, portanto, sujeitos aos efeitos diretos e indiretos de que alguns analistas já chamam de depressão.

            Realmente, o fato de contarmos com indicadores econômicos em bons níveis nos faria sofrer menos os efeitos do abalo financeiro internacional, como, por exemplo, acontece com o cidadão médio americano que, em alguns casos, perdeu quase tudo da noite para o dia.

            As seqüelas seriam ainda maiores, uma vez que os mercados mundiais trabalham com a perspectiva de que a desaceleração da economia americana será longa, ao contrário de crises anteriores, que eram seguidas de recuperação e de quase nenhum efeito sobre as demais economias.

            Após o pacote, a segunda tarefa do governo americano será a de criar mecanismos que dinamizem os setores produtivos da economia, como o imobiliário, blindando outros, como o de produção de alimentos e de energia e aqueles que geram emprego, como indústria, comércio e serviço.

            De tudo o que se pode tirar da crise é que os sistemas financeiros brasileiro, americano e europeu não podem funcionar sem a interferência dos Bancos Centrais de seus países e de órgãos de regulação.

            Algumas análises consideram inevitável que o próximo presidente dos Estados Unidos, seja ele Barack Obama ou John McCain, tenha de adotar um acordo interno, como o que foi feito por Franklin Roosevelt para corrigir os efeitos da Grande Depressão de 1929.

            Enquanto se compara - creio que precipitadamente - a crise atual com a de 1929, surge no horizonte político uma proposta de reunir economias emergentes, inclusive o Brasil, e européias em torno de um novo momento de regulação global do sistema financeiro.

            Com o pé mais fincado na realidade, o Presidente Lula procura adotar medidas importantes, para que possamos dar continuidade ao crédito no nosso País e facilitar a exportação. Quanto mais exportamos, mais dólares entram no País, diminuindo a pressão sobre a moeda estrangeira. O problema é que, quanto mais valorizada a moeda estrangeira, maior é a pressão inflacionária para nosso cidadão brasileiro. Então, as medidas do Governo são adequadas: incentivo à exportação, disponibilidade de créditos, com o setor produtivo tendo a capacidade de fazer investimento.

            A outra questão, Sr. Presidente, é que está claro que nenhum país do mundo pode deixar sua economia ser desenvolvida por si só, sem a interferência de um Estado forte. Está claro, mais uma vez, que o Estado é fundamental.

            Sr. Presidente, encerro minha fala, lembrando Jacques Atalli, um economista francês, que diz exatamente isto sobre o momento que vivemos: “Temos uma globalização dos mercados, não uma globalização do estado de direito. O mercado não funciona sem estado de direito.”

            Obrigado Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/2008 - Página 39077