Discurso durante a 176ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração aos quarenta e três anos de criação da profissão de Administrador.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EXERCICIO PROFISSIONAL.:
  • Comemoração aos quarenta e três anos de criação da profissão de Administrador.
Publicação
Publicação no DSF de 19/09/2008 - Página 38000
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EXERCICIO PROFISSIONAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, REGULAMENTAÇÃO, EXERCICIO PROFISSIONAL, ADMINISTRADOR, SAUDAÇÃO, MEMBROS, COMPOSIÇÃO, MESA DIRETORA, CIDADÃO, PRESENÇA, PLENARIO.
  • ANALISE, IMPORTANCIA, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (FGV), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PIONEIRO, BRASIL, CURSO SUPERIOR, ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS, QUALIDADE, CONTRIBUIÇÃO, DIVERSIDADE, FACULDADE, ATUAÇÃO, SETOR, DESCRIÇÃO, EXPERIENCIA, ORADOR, ALUNO, CURSO DE GRADUAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO, POSTERIORIDADE, CURSO DE POS-GRADUAÇÃO, ECONOMIA, ATUALIDADE, PROFESSOR, INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Senador Marconi Perillo, autor do requerimento e Presidente desta sessão; meu caro colega da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, onde, por anos, fomos estudantes e somos professores, Roberto Carvalho Cardoso, Presidente do Conselho Federal de Administração, a quem também cumprimento por seu testemunho e por suas palavras, recordando a criação da profissão de administrador - conforme o requerimento do Senador Marconi Perillo, 43 anos da criação da profissão de Administrador; Srª Administradora Maria do Rosário Moraes, Presidente do Conselho Regional de Administração do Distrito Federal; Sr. Administrador Samuel Albernaz, Presidente da Associação Goiana de Administração e do Sindicato dos Administradores de Goiânia; Srªs e Srs. Presidente e demais membros da Associação de Administradores do Distrito Federal; prezados alunos do curso de Administração de Pires do Rio, de Goiânia, de Aparecida de Goiânia; Srªs Senadoras e Srs. Senadores, para mim é uma alegria ver aqui o colega Roberto, amigo e companheiro dessa formidável instituição sobre a qual ele falou e da qual fazemos parte ao longo da nossa história.

            Vou aqui dar um breve testemunho de minha própria interação com a Escola de Administração de Empresas de São Paulo, hoje também Escola de Administração Pública, Escola de Economia, Escola de Direito, da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.

            Conforme o Roberto pôde nos relatar, essa instituição se tornou não apenas pioneira, mas propagadora do ensino de Administração de Empresas. Constituiu-se num centro de excelência de ensino para todo o Brasil, para a América Latina, e sempre vem sendo considerada, a Escola de Administração de Empresas de São Paulo, como que uma fonte de ensino, de educação para todos aqueles que se interessam pelo melhor ensino de Administração de Empresas.

            Foi na década de 50 que a Fundação Getúlio Vargas resolveu formar essa escola. Primeiro, ela funcionava nos andares 9º, 10º e 11º do edifício da Delegacia Regional do Trabalho, na rua Martins Fontes, 109. Sei bem esse detalhe porque, ali, em 1960, ingressei na escola como aluno.

            Nos primeiros anos, a escola oferecia apenas o curso intensivo de Administração de Empresas para turmas de 30, 40 a 50 alunos e durava aproximadamente três meses. Mas a escola resolveu fazer, em acordo com a Agência Internacional de Desenvolvimento dos Estados Unidos, a Usaid, um convênio com a Universidade Estadual de Michigan - Michigan State University - e, segundo esse entendimento, passou a haver sempre, por muito tempo, uma missão de quatro excelentes professores de Administração da Escola de Administração de Empresas da Michigan State University. Eles estiveram no Brasil ao mesmo tempo em que um número muito significativo de pessoas que se interessavam em se formar em Administração de Empresas faziam seus cursos de mestrado em Administração e áreas afins também, como Economia.

            Então, prezado Senador Marconi Perillo, eu fiz do admissão ao científico no Colégio São Luís. Logo que terminei, pensei: “Acho que vou cursar Engenharia, fazer o vestibular na Politécnica”. Naquele primeiro, não consegui. Só, então, soube que existia a possibilidade de realizar um curso, no Brasil, de Administração de Empresas. Eu me interessei por ele, fiquei entusiasmado com essa possibilidade. Havia vestibular em meados do ano. Acho que, por volta de maio ou junho, fiz vestibular. Havia 30 vagas. Cerca de 100 estudantes participaram. Felizmente, entrei, e fiz o curso de Administração de Empresas com muito entusiasmo.

            Os dois primeiros anos do curso eram dedicados sobretudo à formação das matérias básicas, como Economia, Sociologia, Instituições Políticas, Psicologia e Introdução à Administração. Pouco depois, então, é que começávamos os cursos de Contabilidade, Finanças, Marketing, Produção, Administração de Produção e todas as áreas mais específicas do ensino de Administração.

            Lá, naqueles três andares, ainda no meu tempo, havia cerca de 350 estudantes e mais ou menos 40 professores. Tínhamos uma interação muito forte. Logo me tornei Diretor Cultural. Lembro-me de que o presidente do Centro Acadêmico chamava-se José Maria Carrion; depois, Roberto Hollnagel; depois, Wladmir Pugina, que até hoje é professor.

            Nos dois ou três primeiros anos, fui Diretor Cultural e organizava inúmeras atividades. Entre elas, a comunidade toda de estudantes, professores e funcionários costumava combinar com as companhias de teatro: “Queremos assistir a essa peça!”. Então, eles nos proporcionavam 50% de desconto. Lotávamos o teatro e, em seguida, convidávamos os diretores e os atores da peça, os professores e os estudantes, e fazíamos um grande debate.

            Foi assim até que acabei freqüentando, conhecendo e me tornando amigo de pessoas do teatro brasileiro, como José Celso Martinez Corrêa, do Teatro Oficina - hoje, o Teatro Oficina está fazendo 50 anos. Tornei-me amigo e interajo com ele até hoje. Acompanho suas peças, como Os Sertões, a peça que está comemorando nesta semana, lá em Porto Alegre, os 50 anos do Teatro Oficina.

            Mas foi interessante assistir, naqueles anos 60, num Brasil de grande efervescência, a peças como Pequenos Burgueses, de Máximo Górki, A Engrenagem, de Jean-Paul Sartre, Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, A Semente, de Gianfrancesco Guarnieri, e tantas outras, que fizeram com que pudéssemos abrir outras janelas para formar nossa consciência.

            De 1963 para 1964, fui eleito Presidente do Centro Acadêmico Administração de Empresas e continuei a desenvolver esses projetos. Chamava, naquela época, os principais economistas e sociólogos, como Fernando Henrique Cardoso, Celso Furtado, Paul Singer, Chico de Oliveira, José Arthur Gianotti, só para citar a efervescência que havia do ponto de vista do desenvolvimento cultural de todos naquela comunidade.

            Aconteceu que terminei me formando em dezembro de 1964. Normalmente, eu me formaria no meio do semestre, mas, quando terminei o segundo ano, disse a meus pais que gostaria muito de conhecer um pouco o que era o Mercado Comum Europeu, de um lado, e a Europa Oriental, de outro. Eu queria muito conhecer o mundo socialista, saber o que era o capitalismo e o que era o socialismo. Estava ocorrendo um festival da juventude pela paz e amizade, organizado pelos partidos comunistas da Europa Oriental, partidos comunistas da Europa e do mundo, ou socialistas, e pedi a meu pai para participar do festival da juventude, em Helsinque. Interrompi os estudos por um semestre para realizar isso e saber mais das coisas, porque eu queria saber até que ponto poderíamos, nós, no Brasil, caminhar numa direção melhor, diante de tantas desigualdades e injustiças que desde moço eu observava.

            Foi então que, visitando seis países do lado leste e outros tantos do lado mais ocidental, cheguei à conclusão que aqui propugno até hoje - o Senador Marconi Perillo é testemunha disso, no dia-a-dia, e Roberto Carvalho sabe também. Tendo visto como era o muro de Berlim em 1962, recordado há poucos dias num brilhante discurso pelo Senador Barack Obama, mas eu lá cheguei à conclusão de que era importante, sim, batalharmos por uma sociedade mais justa, solidária e igual, e que pudesse ser sempre realizado esse propósito por meios da não-violência, por meios democráticos.

            Ao voltar, terminei o curso. Formado, resolvi trabalhar no Escritório Suplicy, do meu pai; mas, depois de ano e pouco, surgiu na escola a oportunidade de um concurso para professor de Economia. Foi, então, que eu disse a meu pai que eu tinha muita vontade de aprender mais economia, que foi a matéria que mais gostei, que havia surgido um concurso na escola e eu gostaria de fazer, pois, se eu passasse, seguiria a carreira de professor nessa escola de que tanto gostava. Até hoje gosto, pois ainda sou professor. Se eu passasse no concurso, poderia fazer mestrado, pós-graduação, quem sabe doutoramento, com uma bolsa, para facilitar. Meu pai disse: “Veja bem, você quer ser professor, talvez isso não vá proporcionar o padrão de vida com que você já está acostumado, com sua esposa e tudo, mas se é o que você quer, vou procurar ajudá-lo”. Eu sempre me lembro disso. Quando meus filhos Eduardo, que é o Supla, André e João conversaram comigo, na hora de decidir - dois, artistas e cantores; o outro, advogado -, eu também me lembrei muito disso e falei: “Procurem fazer aquilo que vocês amam, que vocês gostam, que vai acabar dando certo”.

            E eu, com muito entusiasmo, me tornei assistente, no primeiro semestre, do Professor Ari Buzan, saudoso professor e primeiro chefe do Departamento de Economia. Logo em setembro, segui para a Michigan State University. Fiz o doutoramento, voltei, lecionei dois anos e voltei para o doutoramento na Michigan State e em Stanford.

            Prezado Senador Marconi Perillo, agora em outubro, completarei 30 anos da minha primeira eleição. A primeira foi pelo MDB. Existiam o MDB e a Arena. Fui Deputado Estadual, eleito em outubro de 1978, na primeira vez. Em todos esses 30 anos de vida parlamentar, houve dois de intervalo, em que voltei a ser professor em tempo integral, pois, quando candidato ao Governo, não fui eleito, em 1986, e voltei a lecionar em tempo integral, como o Roberto, muitas vezes. Mas, até hoje, às sextas-feiras à tarde, dou meu curso, que é um seminário sobre quais são os valores e as instituições que precisamos criar para termos uma nação justa e civilizada. É o curso que dou para meus alunos, toda sexta-feira, na FGV.

            Resolvi dar este testemunho, recordando do Roberto, com quem muitas vezes interagi, inclusive na congregação da Escola de Administração de Empresas. E sou testemunha de como os professores dessa escola contribuíram enormemente para todas as instituições de ensino, e certamente aquelas do Estado de Goiás, como as que aqui estão hoje presentes, porque nós, os professores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, continuamente estamos interagindo com as escolas de todo o Brasil e, inclusive, de outros países das Américas, da Europa e da Ásia.

            Portanto, cumprimento o Senador Marconi Perillo por sua iniciativa e as instituições de Goiânia aqui presentes. E saúdo a todos os que seguem a profissão de administrador no Brasil.

            Meus parabéns a vocês!

            Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/09/2008 - Página 38000