Discurso durante a 185ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a atitude do Presidente Lula diante da crise econômica mundial. (como Líder)

Autor
Demóstenes Torres (DEM - Democratas/GO)
Nome completo: Demóstenes Lazaro Xavier Torres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. ECONOMIA INTERNACIONAL.:
  • Preocupação com a atitude do Presidente Lula diante da crise econômica mundial. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 09/10/2008 - Página 39266
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. ECONOMIA INTERNACIONAL.
Indexação
  • REGISTRO, DESVALORIZAÇÃO, MOEDA, REDUÇÃO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), INVESTIMENTO, BOLSA DE VALORES, CREDITOS, EXPORTAÇÃO, EFEITO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, BRASIL.
  • CRITICA, OMISSÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), PREVENÇÃO, EFEITO, ECONOMIA NACIONAL, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, EXPECTATIVA, PERIODO, ELEIÇÕES, AMPLIAÇÃO, ESFORÇO, COMBATE, PROBLEMA, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, NECESSIDADE, UNIÃO, EMPENHO, GOVERNO FEDERAL, CONGRESSO NACIONAL, MANUTENÇÃO, ESTABILIDADE, MERCADO INTERNO, BRASIL.
  • DEFESA, RESPONSABILIDADE, GOVERNO FEDERAL, ADVERTENCIA, POPULAÇÃO, RISCOS, BRASIL, URGENCIA, NEGOCIAÇÃO, REVISÃO, PROGRAMA DE ESTIMULO A REESTRUTURAÇÃO E AO FORTALECIMENTO AO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (PROER), GARANTIA, ESTABILIDADE, ECONOMIA NACIONAL.
  • REGISTRO, PROPOSTA, GOVERNO FEDERAL, DESAPROVAÇÃO, COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO JUSTIÇA E CIDADANIA, CRIAÇÃO, CARGO PUBLICO, OPORTUNIDADE, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, DEFESA, REDUÇÃO, GASTOS PUBLICOS.
  • IMPORTANCIA, MEDIDA PROVISORIA (MPV), AMPLIAÇÃO, AUTONOMIA, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), POSSIBILIDADE, EFICACIA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE, BANCO OFICIAL, COMBATE, CRISE.
  • DEFESA, REFORMA POLITICA, REFORMA TRIBUTARIA, REDUÇÃO, EFEITO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL.

            O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO. Pela Liderança do DEM. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,

“Eu liguei para ele para falar: Bush, o problema é o seguinte, meu filho, resolve a tua crise.”

Presidente Lula.

            O Real se desvalorizou 35%, em menos de dois meses, em relação ao dólar. Perdemos no PIB US$309 bilhões, em apenas dois meses. Grandes conglomerados industriais brasileiros, antes símbolo da nossa pujança econômica, estão afundados na crise. A Bolsa de Valores encontra-se em processo acelerado de derretimento. A escassez de crédito já asfixia o consumidor final. O recuo dos investimentos externos é uma realidade incontestável, e vai haver comprometimento do crescimento econômico. O declínio da atividade produtiva significa que vem aí desemprego, queda de renda e ameaça de carestia. Para piorar o quadro, a recessão do primeiro mundo vai afetar as exportações, e os indicadores, infelizmente, apontam para o encolhimento do mercado interno e a volta da pressão inflacionária. Resumo da ópera: a crise está definitivamente instalada no Brasil, e não é de hoje.

            É interessante observar que, há pelo menos um ano, o Governo Lula, com exceção do Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vem tratando a grave situação econômica com abusado desdém e inaceitável tom zombeteiro e até com alguma vulgaridade. O Presidente Lula a princípio duvidou da existência da crise e chegou a compará-la a uma CPI, que, a cada dia, tem um fato novo sem nenhuma materialização. O Presidente não cansou de dizer que a crise era do Presidente George W. Bush, e ele que a resolvesse. Por diversas vezes, ironizou a quebra financeira dos Estados Unidos, certo de que estava a assistir à queda do império americano. Chegou a sugerir o oferecimento de tecnologia brasileira para salvar bancos, em clara definição de espezinhar o Proer do Governo Fernando Henrique Cardoso.

            Em outra ocasião, ironizou que justamente as agências que avaliam o grau de investimento do Brasil estavam a caminho da bancarrota. A última foi a garantia de que a crise será um tsunami nos Estados Unidos e se cruzar o Atlântico, como o mesmo se referiu, chegará às praias desta gigantesca potência tropical como uma marolinha.

            Já o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem-se comportado como um estróina na administração da maior ameaça à estabilidade nacional. O comandante da economia brasileira já se utilizou de expressões chulas, para qualificar a nossa situação diante da quebradeira geral e cruzou a linha do bom-senso, ao confessar que, nas reuniões do Fundo Monetário Internacional, diverte-se com as agruras financeiras dos representantes do primeiro mundo. O Ministro Mantega, em recaída terceiro-mundista, simbolizou na cena a vingança dos colonizados. Que desprezível bobagem!

            Srªs e Srs. Senadores, o Governo Lula conseguiu adiar a admissão da crise econômica, até que se processasse o primeiro turno das eleições 2008. Imaginava que, ao escamotear a corrosão da chamada economia real, conseguiria extraordinário desempenho nas urnas. Fracassou o Presidente, mas não é isso que interessa. O fato é que chegou a hora da verdade sobre a crise financeira global para o Palácio do Planalto, o Parlamento e o povo brasileiro. É razoável entender que um governo transmita otimismo, mas lhe é completamente defeso insistir com a mentira ou conduzir as ações de Estado a partir de chicanas e tergiversações.

            O Governo Lula precisa entender que a solução da crise internacional que abala o Brasil vai demandar um esforço político enorme, e o foro adequado para realizá-lo é o Congresso Nacional. Não há ninguém nesta Casa interessado em investir no caos, para obter dividendo eleitoral ou em promover terra arrasada, para sangrar o Presidente e chegar bem em 2010. Ninguém terá ganho político, caso o Brasil desça ao fundo do poço. No Senado, especialmente, há convicção uniforme de que a estabilidade econômica é o maior patrimônio da democracia brasileira e deve ser defendido até o último homem, independentemente da natureza partidária.

            Agora, a primeira condição para o início do diálogo é o Governo colocar a verdade ao seu lado e trazer para a mesa de negociação a sinceridade. Não adianta vir com esse argumento publicitário de que os fundamentos da economia brasileira são sólidos, que o País está blindado, que as extraordinárias reservas de US$206 bilhões nos garante a vida eterna - até porque a reserva já é bem menor -, que a robustez do mercado interno compensará a queda das exportações; ou com a conjetura de botequim de que o agronegócio está fora da crise, porque o mundo tem de comer. Aqui no Senado, nós estamos escolados com esses sofismas.

            Chegou a hora de o Governo detalhar a situação de risco do País e preparar a sociedade brasileira para o sacrifício, como estão a fazer os governos da União Européia. Até o momento, ao contrário, o próprio Presidente Lula tem aconselhado o brasileiro a não mudar de hábito, ou seja, a perseguir o consumismo, quando há previsão de juros em alta e de inflação ascendente. Não pretendo que as autoridades econômicas façam o papel de porta-voz do pânico, mas está a faltar, por exemplo, uma conversa responsável sobre a solvência do sistema bancário brasileiro. Banqueiro não quebra neste País. Quem quebra é o correntista quirografário, que perde todas as economias da noite para o dia.

            Parece confortável, Sr. Presidente, o Ministro dizer que o Sistema Financeiro Nacional não será afetado, porque não há crise de liquidez; que nosso baronato das finanças é ético e não aposta no cassino global ou qualquer escusa esfarrapada. Se o Presidente Lula tiver de negociar o seu Proer, que o faça logo. Basta mirar no exemplo dos Estados Unidos, cuja hesitação acentuou o estrago. Observem, o Governo precisa descer do pedestal, assumir a nossa verdadeira estatura e parar de ostentar o Brasil grande e imune à crise por conta das reservas plenas de petróleo - ainda a descobrir - e de etanol, além da seleção bananeira do Dunga.

            A nossa situação é de inserção global, mas continua a ser periférica. A se considerar a cotação do dólar de ontem, os Estados Unidos e a Europa já disponibilizaram, para salvar o seu sistema financeiro, alguma coisa próxima de 80% do PIB brasileiro. O pior é que não resolveu o problema, porque o buraco é muito maior, e aqui querem nos fazer acreditar que estamos ao largo da crise. As autoridades brasileiras precisam renunciar à soberba. Isso não significa curvatura da espinha dorsal e submissão aos interesses internacionais, mesmo porque o Brasil tem histórica posição de independência ao menos de política externa e de dependência em relação à economia. A junção de humildade e pragmatismo fará muito bem à condução política da crise econômica que nos corrói.

            Agora, é hora do desprendimento. Do lado da Oposição...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - ...o destino é utilizar das suas prerrogativas políticas de articulação e persuasão, para assegurar que a estabilidade econômica não vá para o ralo. Da parte do Governo, a palavra é responsabilidade - hoje, por exemplo, Sr. Presidente, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, havia um projeto, com urgência, por meio do qual o Governo queria criar 2,4 mil cargos, em um momento de crise como esse; então, sobrou juízo ao Congresso, que não enfrentou esta loucura, digamos assim, de querer aumentar as despesas e agravar a crise fiscal que se avizinha -, o que equivale a abandonar o tratamento minimalista e demagógico da crise, além de parar com a improvisação e a chalaça. Já vimos que foram desastrosas todas as iniciativas do passado preparadas para escamotear as crises internacionais que abateram o Brasil ou para justiçar as surpresas de pacotes econômicos perdedores. O povo brasileiro soma 12 anos de inflação sob controle. Neste tempo, apesar das turbulências, passou a acreditar na força da sua moeda. Demorou, mas veio o crescimento da economia e todos aqueles indicadores do paraíso de que tanto o governo se ufana. Caso a atual crise venha solapar essas conquistas, o brasileiro vai justificadamente se sentir roubado. O Parlamento ajuda, agora a execução das políticas de salvamento da economia brasileira são próprias do Poder Executivo. E uma das primeiras providências é aplicação da responsabilidade fiscal.

            O momento não é de esbanjamento, mas de economia para enfrentar a superação da crise. O controle do gasto público será um dos sinais positivos do governo no sentido de externar para o Brasil que o propósito de salvar a Nação da crise está acima da manutenção artificial da popularidade do Presidente da República.

            As medidas tomadas por intermédio de medida provisória no sentido de ampliar o poder de atuação do Banco Central foram positivas e acenam para uma mudança de postura, especialmente por sinalizar que teremos na experiência, na capacidade e na seriedade do Presidente do Banco Central a gerência da crise. Naturalmente que o Presidente Lula é o comandante, no entanto hoje Henrique Meirelles é a única autoridade do primeiro escalão deste governo que tem tratado do problema com lucidez e comedimento.

            Sr. Presidente, os grandes economistas do País e internacionais acolheram o desenvolvimento da crise financeira global para lembrar que o Brasil poderia estar mais protegido dos efeitos da quebradeira caso tivesse feito o dever de casa completo. Os especialistas reconhecem os avanços macroeconômicos da Era Real, mas lembram do enorme déficit político causado pelo atraso nas alterações constitucionais. Perdemos inúmeras oportunidades de fazer a reforma tributária, aprovamos um puxado no setor previdenciário e sempre adiamos a reforma política. São temas do maior interesse público e pertinentes tanto à boa governança quanto ao desempenho competitivo da economia. O Senado, Sr. Presidente, está pronto para completar o ciclo das reformas e encontrar a solução política cabível para a crise que abate o Brasil. Agora é com o governo. Repito, a palavra, meu filho, é sinceridade.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/10/2008 - Página 39266