O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Senador Jefferson Praia, que preside a sessão do Senado Federal, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, eu não poderia deixar de vir à tribuna hoje para render uma homenagem ao povo do meu Estado do Pará. Faço isso todos os anos como promesseiro do Círio de Nazaré há mais de trinta anos e, estando no honroso cargo de Senador da República pelo Estado do Pará, não poderia deixar de prestar esta homenagem a nossa Santa Padroeira e ao nosso povo, no instante da nossa maior festa religiosa - diria do mundo, não só do Brasil -, que é o Círio de Nazaré.

Eu lembro aqui, Senador Jefferson Praia, que, no ano passado, por esta época, ou melhor, pouco antes, no mês de setembro, nós trouxemos uma exposição do Círio de Nazaré com seus ícones: a corda, a berlinda, a Santa. A Santa milagrosa esteve sobre a Mesa Diretora do Senado Federal.

Essa exposição durou uma semana na Chapelaria, mostrando aos nossos irmãos de Brasília, que também fazem o Círio aqui, como uma devoção a Nossa Senhora, o Círio original, que acontece há 215 anos, sem interrupção, na capital do meu Estado, a cidade de Belém.

Vários outros círios, por vários Municípios do interior, ao longo do ano, também ocorrem, mas aquele ao qual quero aqui me referir para fazer esta homenagem é, sem sombra de dúvida, o Círio de N. Srª de Nazaré, de Belém do Pará, que vai ocorrer domingo - sempre ao segundo domingo do mês de outubro, que, neste ano, será dia 12.

O povo do meu Estado tem no Círio de Nazaré o mesmo simbolismo que os cristãos do mundo todo têm com o Natal, em que se festeja o nascimento de Cristo, ao ponto de, ao caminharem pelas ruas da nossa cidade ou mesmo dos Municípios, as pessoas se desejarem Feliz Círio, como se deseja Feliz Natal na época do nascimento de Jesus.

Então, Senador Jefferson Praia, quero aqui, como faço todos os anos, reverenciar essa devoção e agradecer a proteção da Virgem de Nazaré sobre todos os paraenses e sobre todos os brasileiros, mormente no momento em que o País vive, como aqui, hoje, a tarde toda, discutimos, uma crise que nos leva à reflexão. É uma crise financeira que começou nos Estados Unidos, atingiu a Europa e agora atinge o Brasil. 

Mas nós temos que ter fé, temos que ter esperança. Crise representa também oportunidade, e é por isso que, neste momento, peço a Deus e a Nossa Senhora que possam iluminar o Presidente Lula, iluminar os seus Ministros, iluminar a todos nós, Congressistas, para que possamos enfrentar essas dificuldades e vencê-las. Para isso, nós estaremos aqui trabalhando.

Quero saudar o nosso Rev^mo Arcebispo Dom Orani João Tempesta; o reitor do Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, Padre José Ramos; o coordenador do Círio, nosso companheiro José Ventura, e dizer, Senador Jefferson Praia, que aquela semente que foi plantada aqui, no Senado Federal, no ano passado, com a exposição que aqui foi feita, germinou. Nós propusemos fazê-la no Senado e, em seguida, nós propusemos à diretoria da festa, ao companheiro José Conrado, da Fiepa, e à Secretária de Turismo, Deputada Ann Pontes, que pudéssemos fazer, a cada ano, uma exposição como aquela que fizemos ano passado, em Brasília, em outros Estados da Federação brasileira levando a imagem, levando os ícones e apresentando a procissão a todos os brasileiros.

A Santa nos ajuda. As dificuldades são enormes, mas este ano, assim como fizemos no ano passado aqui, no Congresso Nacional, mais precisamente no Senado Federal, este ano repetimos em São Paulo, na sede da Fiesp, do dia primeiro ao dia cinco de setembro. Lá fizemos também uma exposição nos moldes da que foi feita aqui.

Quero aproveitar, Senador Jefferson Praia, para agradecer ao Presidente da Fiesp, o companheiro Paulo Skaf, que, gentilmente, acolheu-nos e acolheu a exposição e nos deu todo o apoio para que pudéssemos levar a imagem e a exposição do Círio a São Paulo.

Assim como aqui, lá, em São Paulo, também a exposição foi muito visitada, inclusive com um Círio em miniatura, com mais de três mil peças de miriti, feitas pelos artesãos de Abaetetuba, dando uma amostra, para aqueles que não conhecem, de como se desenrola a procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré.

Vamos falar de história.

Eu disse, há pouco, que esse é o 215º Círio, porque a devoção a Nossa Senhora de Nazaré teve início em Portugal. A imagem original da Virgem pertencia ao Mosteiro de Caulina, na Espanha, e teria saído da cidade de Nazaré, em Israel, no ano de 361, tendo sido esculpida por São José.

Em decorrência de uma batalha, a imagem foi levada para Portugal, onde, por muito tempo, ficou escondida no Pico de São Bartolomeu. Só em 1119 a imagem foi encontrada.

No Pará, foi o caboclo Plácido José de Souza quem encontrou, em 1700, às margens do igarapé Murutucu, onde hoje se encontra a Basílica Santuário, uma pequena imagem da Nossa Senhora de Nazaré. Isto é interessante, porque daí vem a fé que os paraenses devotam à sua padroeira. Após o achado, Plácido teria levado a imagem para a sua choupana e, no outro dia, ela não estaria mais lá. Correu ao local onde havia encontrado a santinha e lá estava a imagem. O fato teria se repetido várias vezes, e aí, no local do achado, Plácido construiu, então, uma pequena capela, que se tornou o Santuário de Nossa Senhora de Nazaré.

A festa do Círio de Nazaré, Sr. Presidente, impressiona não só por seu gigantismo, capaz de alavancar o turismo e de mudar o cotidiano dos moradores de toda a região metropolitana, mas principalmente pela soberba demonstração de fé e pelo espírito de congraçamento. Grande parte da população do interior, nesta época da festa do Círio, desloca-se, por vários meios de transporte, alguns até a pé, para Belém e ficam nas casas de família, dos seus familiares, para que possam acompanhar a procissão.

Estima-se que essa procissão acumula dois milhões de pessoas ao longo de seu trajeto. É, sem sombra de dúvida, o maior evento religioso, a maior procissão religiosa do mundo, porque ocorre em um único dia. Temos aqui a nossa padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, temos o dia de Nossa Senhora Aparecida, dia 12 de outubro também - coincidente agora com o dia do Círio, que é móvel -, mas que se desenvolve ao longo do ano todo. Assim estamos querendo fazer, o Padre Ramos, o Arcebispo Dom Orani: com que o Santuário de Nazaré possa, a exemplo do Santuário de Aparecida, ser visitado durante o ano inteiro por romeiros, para que possa aumentar cada vez mais a devoção a Nossa Senhora de Nazaré.

Se V. Exª ou alguma Senadora ou Senador quisesse ir hoje para Belém do Pará, não encontraria passagem de avião, porque todos os vôos, não só os normais, mas aqueles extras que são colocados pelas empresas - mais de oito em cada uma delas - estão totalmente lotados. O sistema hoteleiro de Belém está totalmente lotado. Ou você se programa com antecedência para poder acompanhar o Círio, ou não consegue ir de última hora, porque não haverá possibilidade de deslocamento nem de acomodação, a não ser em casas de amigos que possam recebê-lo.

Mas essa procissão é mais do que uma festa. Ali se transpira fé, devoção, religiosidade e crença no poder divino e na fraternidade universal. Por tudo isso, por sua grandiosidade, pelo poder de congregar tamanha multidão impregnada pela devoção à Virgem de Nazaré, não admira que o Círio tenha sido registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial.

Ora, ao encerrar este breve pronunciamento, digo que hoje o Círio não se resume apenas à procissão no domingo, que vai acontecer agora, dia 12, mas ele é precedido de vários eventos: deslocamento da imagem para Ananindeua, com uma carreata em procissão; depois, o deslocamento de Ananindeua até o Trapiche de Icoaraci, com uma procissão fluvial até a Escadinha do Cais do Porto. Em seguida, o deslocamento da imagem da Escadinha do Cais do Porto pelos motoqueiros, devotos de Nossa Senhora, levando a Santa até a Basílica, isso ao longo dos dias que antecedem, a partir de sexta-feira. No Sábado à noite, Senador Jefferson Praia, há a procissão da transladação, que é o caminho inverso do Círio. A procissão que leva a imagem do santuário de Nazaré até a Catedral, no sábado à noite, para que, no domingo, pela manhã, então, por cinco quilômetros, no caminho inverso ao da transladação, seja realizada a procissão do Círio, que é, sem sombra de dúvida, o fechamento das festividades religiosas e que, como eu disse, coloca na rua dois milhões de devotos naquele instante.

Ao encerrar este pronunciamento - e o faço principalmente para meus amigos e minhas amigas do meu querido Estado do Pará -, quero desejar a todos vocês, a todos os paraenses um feliz Círio, um abençoado Círio. Que Nossa Senhora cubra todos nós, paraenses e brasileiros, com seu manto de glória; dê-nos saúde, dê-nos tranqüilidade, dê-nos perseverança e, sobretudo, fé, para que possamos vencer as dificuldades e, ao vencê-las, possamos agradecer, todos os anos, acompanhando ou não a procissão, a ajuda e a benção que vêm de Deus e de Nossa Senhora.

Um feliz Círio a todos os paraenses!

Muito obrigado, Sr. Presidente.