Discurso durante a 186ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o pronunciamento do Senador Tasso Jereissati, na sessão de ontem, sobre a crise financeira mundial. Convicção de que o Brasil necessita reduzir taxa de juros e gastos públicos. (como Líder)

Autor
Marconi Perillo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Marconi Ferreira Perillo Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Considerações sobre o pronunciamento do Senador Tasso Jereissati, na sessão de ontem, sobre a crise financeira mundial. Convicção de que o Brasil necessita reduzir taxa de juros e gastos públicos. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 10/10/2008 - Página 39296
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, DADOS, RELATORIO, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), POSSIBILIDADE, RECESSÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), GRAVIDADE, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, REDUÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, MUNDO.
  • REGISTRO, ANUNCIO, SECRETARIO, TESOURO NACIONAL, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), POSSIBILIDADE, CONTINUAÇÃO, FALENCIA, BANCOS, SOLICITAÇÃO, BRASIL, CONVOCAÇÃO, REUNIÃO, AUTORIDADE, MERCADO FINANCEIRO, RESPONSAVEL, REGULAMENTAÇÃO, ECONOMIA, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, DEBATE, ALTERNATIVA, REDUÇÃO, EFEITO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, INCENTIVO, ACELERAÇÃO, CRESCIMENTO, MUNDO.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, OMISSÃO, POPULAÇÃO, GRAVIDADE, CRISE, PREJUIZO, ECONOMIA NACIONAL, FALTA, CONTROLE, GASTOS PUBLICOS, PERIODO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, PROXIMIDADE, ELEIÇÕES, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • NECESSIDADE, PARTICIPAÇÃO, BRASIL, REUNIÃO, GRUPO, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, ATENÇÃO, ADVERTENCIA, RELATORIO, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), SECRETARIO, TESOURO NACIONAL, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ESPECIALISTA, ECONOMIA.
  • REGISTRO, EMPENHO, ORADOR, DIALOGO, GOVERNO, BUSCA, SOLUÇÃO, COMBATE, POSSIBILIDADE, INFLAÇÃO, FALENCIA, BANCOS, REDUÇÃO, CREDITOS, AMPLIAÇÃO, POBREZA, BRASIL.

            O SR. MARCONI PERILLO (PSDB - GO. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a sessão de ontem foi uma das sessões mais movimentadas e de melhor conteúdo que nós vimos agora, neste semestre.

            O Senador Tasso Jereissati protagonizou uma discussão muito profunda sobre a crise mundial, aparteado por mais de uma dezena de Senadores, que procuraram dar suas opiniões responsáveis, sensatas e sérias sobre este problema que afeta a todos.

            Hoje trago, falando em nome da Liderança do PSDB, mais algumas informações e opiniões a esse respeito. A edição do respeitado relatório Panorama Econômico Mundial, do Fundo Monetário Internacional, lançada ontem, afirma que os Estados Unidos, epicentro da tempestade financeira, deslizam para uma recessão e que a economia mundial transforma-se em perigosa ribanceira, como efeito do mais perigoso choque sofrido pelos mercados financeiros nos últimos 70 anos.

            O FMI projeta, agora, que a economia global, após crescer 5% no ano passado, perderá considerável velocidade, baixando para 3,9% este ano e ainda mais em 2009, para 3%, no pior resultado desde 2002. O FMI tem considerado, em geral, que um crescimento global de 3% ou menos significa recessão global.

            Essas previsões foram anunciadas no momento em que o Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, e outros seis bancos centrais - Europa, China, Reino Unido, Canadá, Suíça e Suécia -, com apoio total do Japão, reduziam as taxas de juros, buscando facilitar a retomada de investimentos e evitar que a crise financeira se transforme em precipício econômico mundial.

            Simultaneamente, o Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Harry Paulson, advertia que outros bancos e empresas ainda vão desaparecer, apesar do plano de emergência aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos, que prevê ajuda governamental superior a US$700 bilhões. Paulson pediu paciência, porque o tumulto não terminará tão cedo e significativos desafios ainda estão diante de nós. Também anunciou-se a possibilidade, não só inesperada mas também inédita, de falência de um país, não africano nem latino-americano nem da Ásia Central, mas da Europa, a bem desenvolvida Islândia, com 320 mil habitantes, renda per capita superior a US$30 mil - umas seis vezes maior do que a nossa! -, níveis de educação e saúde entre os melhores do mundo, um país em que a renda das famílias cresceu 45% nos últimos cinco anos.

            Paulson anunciou que já pediu ao Brasil, presidente do G-20, grupo dos vinte maiores países industriais do mundo, a convocação de uma reunião especial, em que dirigentes de bancos centrais, autoridades financeiras e responsáveis por regulamentação das economias emergentes mais importantes discutam os caminhos para reduzir os efeitos do tumulto na economia mundial e estimulem o ritmo da economia em todos os países.

            E tudo está desmoronando porque o sistema bancário teve um crescimento desproporcional e está tremendamente fragilizado por créditos podres. Até a sua Caixa Econômica está sofrendo corrida dos depositantes e ameaçada de desaparecer.

            Diante da gravidade da crise, pode-se qualificar como irresponsável a forma muito populista e irresponsável como o Governo do Brasil procurou apresentar o problema ao povo, porque tentou passar a imagem de que estávamos blindados, mas só depois das observações do nosso sensato e ilustre ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu que teríamos problemas graves.

            A Bolsa brasileira foi uma das que mais sofreram perdas em todo o mundo. Duas das nossas maiores empresas exportadoras - Sadia e Aracruz - amargam severas perdas porque entraram também nos “cassinos”, não lá de fora, mas os daqui mesmo que nunca foram devidamente regulados e fiscalizados pelo nosso Banco Central. Um “cassino” favorito de algumas empresas era o câmbio, com apostas pesadas em que o real continuaria sendo loucamente supervalorizado. Agora amargamos uma também louca e rápida desvalorização do real, em poucos dias superior a 40%. Ainda não conseguimos sequer estimar corretamente o total das perdas sofridas pelas empresas.

            O pior de tudo, Sr. Presidente, é a crise de confiança no Sistema Financeiro, porque, apesar de todos os esforços dos bancos centrais, inclusive com ação conjunta dos Estados Unidos e da Comunidade Européia, a recuperação do mercado e a volta ao crescimento dependem muito do inconsciente coletivo, de as pessoas em todo o mundo tornarem a acreditar que vale a pena investir. Isso é particularmente preocupante nos Estados Unidos, centro da crise, porque os americanos estão mais acostumados a ajudar os outros e não a serem ajudados. Portanto, como as pessoas vão reagir é uma variável fora de controle e de difícil avaliação.

            É inegável que o Brasil se encontra em situação mais favorável que na crise de 2002 - olhem que o PSDB passou por onze crises internacionais -, porque há US$208 bilhões de reservas cambiais, as exportações brasileiras estão diversificadas e o grau de investimento dá confiabilidade ao País. Entretanto, isso jamais poderia levar o Presidente a agir com o descaso demonstrado no primeiro momento da crise, tampouco a continuar a agir como se estivéssemos blindados, porque o quadro para os próximos anos tende a ser preocupante quando se avalia a equação do PIB brasileiro.

            Ao contrário do que se pode pressupor, numa análise preliminar, a situação do crédito no Brasil não deve levar a uma crise financeira pela quebra dos bancos ou por colapso do mercado por inadimplência no setor de bens de consumo, nem no mercado automotivo interno.

            No Brasil não existe “subprime” e a obtenção de crédito sempre foi difícil, de maneira geral. Isso significa que os credores de financiamentos de bens duráveis e de automóveis são selecionados de forma criteriosa e devem honrar os compromissos, a menos que a crise tome uma proporção que leve a uma hiperinflação e à perda da capacidade de compra a ponto de não se poderem honrar as dívidas.

            Peço um pouco mais de tempo, Sr. Presidente.

            A situação dos bancos e das instituições financeiras também está dentro do limite razoável, embora o Governo Federal já tenha tomado a medida de socorrer pequenos bancos com carteiras de crédito consignado.

            Quem dera, Sr. Presidente. O Proer foi tão criticado e agora é imitado, de forma até grosseira, pelo Governo Federal. Desde o Proer, o Banco Central mantém rigorosa fiscalização das instituições financeiras de modo bem mais duro do que nos Estados Unidos.

            O poder das reservas cambiais brasileiras para enfrentar a crise é uma incógnita, porque depende do tamanho do rombo no cenário mundial e das quantas intervenções serão necessárias para aplacar a corrida pelo dólar, que levou a moeda a subir, repito, 40%.

            O Governo americano injetou por volta de US$850 bilhões na economia, mas se estima que o tamanho real da crise seja da ordem de US$3 trilhões. A Inglaterra, por sua vez, fez um socorro de US$90 bilhões e se tornou sócia de praticamente todos os bancos ingleses. Este montante corresponde a pouco menos da metade das reservas cambiais brasileiras.

            Ainda não conseguimos sequer estimar corretamente o total das perdas sofridas pelas empresas brasileiras e os impactos na exportação e na equação do PIB, mas não há motivos para otimismo. Todos os países estão procurando enfrentar a crise com reduções da carga tributária e redução dos juros, mas estranhamente o Brasil continua seguindo o caminho oposto.

            O Governo não quer renunciar à gastança em um ano eleitoral, tampouco no ano de 2009, que antecederá a eleição presidencial. Isso pode ter um preço incalculável a médio e longo prazos, porque quanto mais demoradas forem as medidas voltadas à contenção de gastos públicos, maior a possibilidade de aprofundamento da crise, ainda desconhecida, infelizmente, pelo cidadão comum.

            O excessivo endividamento das famílias americanas é apontado como uma das razões da crise, mas aqui deixamos de remunerar adequadamente a poupança e, ao contrário, legalizamos a agiotagem e incentivamos nossos aposentados do INSS, servidores públicos e trabalhadores privados a se endividarem por muitos anos e por todas as formas possíveis.

            Se, num primeiro momento, não deve haver uma crise no sistema creditício em razão de possível inadimplência, as previsões são incertas quanto à capacidade de endividamento da população.

            O Presidente da República e o Ministro da Fazenda têm o dever de parar de pensar em voto e marketing político. O Brasil não está blindado e não é pensado apenas em voto, bons resultados em pesquisas e enganação permanente da população para sairmos da crise.

            O Brasil deve ir à reunião do G-20 e, internamente, preparar-se para enfrentar o mergulho da economia global nessa crise, a maior em mais de meio século. Temos de ouvir atentamente as advertências do FMI...

            (Interrupção do som.)

            O SR. MARCONI PERILLO (PSDB - GO) - ...do Secretário do Tesouro americano e de outros economistas não-ligados ao mercado, lá de fora - Paul Krugman e Nouriel Roubini, entre outros.

            O Governo tem o dever, também, de ouvir nossos maiores especialistas em economia, como, por exemplo, Luiz Gonzaga Beluzzo, Yoshiaki Nakano, Bresser Pereira, Delfim Netto, entre outros, que, há muito, já vinham alertando para os excessos da total confiança na auto-regulação dos mercados financeiros. Por fim, toda e qualquer medida a ser tomada deve levar em conta também as opiniões dos setores produtivos, setores empresariais, trabalhadores, que têm uma noção bastante razoável e realista da crise vivida na ponta do comércio e da indústria.

            Agradeço, Sr. Presidente, pela atenção. Gostaria de dizer que, assim como ontem se pronunciaram V. Exª, o Senador Tasso Jereissati e tantos outros ilustres e notáveis homens públicos com assento nesta Casa, eu também estou à inteira disposição para, em conjunto com o nosso Partido e com a oposição, colaborar, dialogar com o Governo, no sentido de buscarmos saídas eficientes para evitar uma hiperinflação, que seria desastrosa para o País, para evitar maiores problemas com relação aos bancos, com relação os créditos e, principalmente, com relação à população mais pobre. Uma crise como essa - não tenho dúvidas - vai significar o empobrecimento maior ainda da população e as principais conseqüências recairão sobre trabalhadores e sobre a população mais pobre.

            Estou fazendo este primeiro pronunciamento, farei outros, porque, na minha opinião, esse assunto deverá ser desdobrado e exaustivamente discutido aqui, neste Plenário, dada a importância do tema e principalmente a apreensão que todos nós temos hoje em relação a essa que é uma das principais crises mundiais de pelo menos um século para cá.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/10/2008 - Página 39296