Discurso durante a 186ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Vulnerabilidade do Brasil diante da crise global dos mercados financeiros e de capitais.

Autor
José Nery (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/PA)
Nome completo: José Nery Azevedo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Vulnerabilidade do Brasil diante da crise global dos mercados financeiros e de capitais.
Publicação
Publicação no DSF de 10/10/2008 - Página 39299
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, CRISE, MERCADO FINANCEIRO, AMBITO INTERNACIONAL, REGISTRO, ANTERIORIDADE, ANUNCIO, ANALISTA, RISCOS, EXPANSÃO, ESPECULAÇÃO, MERCADO DE CAPITAIS.
  • REGISTRO, GRAVIDADE, CRISE, ATUALIDADE, DIMENSÃO, PROBLEMA, SITUAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • CRITICA, OMISSÃO, GOVERNO FEDERAL, IMPEDIMENTO, PREJUIZO, ECONOMIA NACIONAL, POPULAÇÃO, RESULTADO, CRISE, MERCADO FINANCEIRO, MUNDO, MANUTENÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, UTILIZAÇÃO, CAPITAL ESTRANGEIRO, RESPONSAVEL, DESENVOLVIMENTO, BRASIL.
  • COMENTARIO, FALTA, ESTABILIDADE, BRASIL, MERCADO EXTERNO, ESPECIFICAÇÃO, SETOR, COMERCIO, PRODUÇÃO, TECNOLOGIA, MERCADO FINANCEIRO, POLITICA MONETARIA, REGISTRO, NECESSIDADE, GOVERNO FEDERAL, ESCLARECIMENTOS, POPULAÇÃO, SENADO, GRAVIDADE, PROBLEMA, ECONOMIA NACIONAL.
  • DEFESA, NECESSIDADE, COMBATE, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, SETOR PUBLICO, FINANCIAMENTO, SALVAMENTO, ESPECULAÇÃO, MERCADO FINANCEIRO, PREJUIZO, ESTABILIDADE, BRASIL.

            O SR. JOSÉ NERY (PSOL - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, a crise financeira internacional voltou a se manifestar com força. No espaço de dez dias, foram necessárias três estatizações de vulto no maior templo do liberalismo, os Estados Unidos, envolvendo duas empresas gigantes de crédito imobiliário e a maior seguradora do país, a AIG.

            As bolsas de valores estão em desespero, inclusive a Bovespa, e o dólar disparou nos últimos dias.

            Como todas as atenções do povo brasileiro estavam voltadas para as eleições municipais, só agora é que o cidadão está se perguntando quando a crise chegará ao Brasil e em que ela vai prejudicá-lo.

            A crise atual é fruto da enorme ciranda financeira em que o capitalismo se meteu. Tudo indica que o longo ciclo de descolamento da esfera financeira em relação à economia produtiva real está em xeque. O BIS - Banco de Compensações Internacionais -, uma espécie de central dos bancos centrais, estima um volume de ativos financeiros em circulação nas esferas especulativas em todo o mundo da ordem de US$600 trilhões. Esse volume de direitos financeiros é dez vezes superior ao PIB mundial, estimado em US$60 trilhões.

            Há muitos anos diversos, analistas alertam para os riscos crescentes de essa bolha especulativa estourar. Ao longo dos anos, várias outras crises se esboçaram, mas a atual é muito mais grave pela sua extensão e pelo fato de envolver o coração financeiro da maior potência econômica do mundo.

            O maior desafio do momento será procurar reduzir esse descolamento entre a economia financeira e a economia produtiva real. Ao menos para as autoridades norte-americanas, o caminho será colocar o Estado como gestor direto desse processo.

            O que está acontecendo nos Estados Unidos neste momento é um processo muito conhecido por nós brasileiros. É o velho método de socialização dos prejuízos. Após a farra privada dos lucros fáceis, o povo americano e, por tabela e pelo peso da economia daquele país, o restante dos habitantes do planeta são chamados a pagar a fatura.

            Segundo o economista Michael Hudson, o que aconteceu nas duas últimas semanas ameaça alterar o curso do século que começa de maneira irreversível. Para ele, estamos diante da maior e mais desigual transferência de riqueza desde que se presentearam terras aos barões das ferrovias na era da Guerra Civil.

            A crise mundial coincidiu com a publicação das pesquisas sobre a popularidade do Presidente Lula, anunciada em patamares nunca dantes alcançados. O Presidente chegou a afirmar que a crise externa seria imperceptível no País, depois, que efeitos seriam muito pequenos. A cada dia o Governo é obrigado a reconhecer, de maneira lenta e gradual, que nenhum país está imune aos efeitos de uma crise no coração da principal economia mundial.

            Essa postura não passa de um recurso defensivo ao fato de ter o Governo optado pela manutenção de uma política econômica que, mantendo a fé cega no papel do mercado e dos capitais externos como principais indutores do nosso desenvolvimento, deixou nosso País vulnerável aos efeitos devastadores desta crise.

            A opção de Lula foi manter o modelo econômico em curso herdado do Governo Fernando Henrique Cardoso. E isso foi feito num momento em que a exuberância da economia internacional, a partir de 2002/2003, em combinação inclusive com as transformações políticas na América Latina, nos daria, naquele período, plenas condições de uma exitosa transição ao falido modelo dos bancos e transacionais para um outro tipo de economia, menos dependente do exterior e de maior valorização do trabalho e elevação dos mecanismos de poupança interna.

            O Brasil tem uma enorme vulnerabilidade externa. Ela ocorre na esfera comercial, produtiva, tecnológica, monetária, financeira. Concordo com o economista Reinaldo Gonçalves, quando afirma que a estabilidade do Brasil, na verdade, é falsa; é uma estabilidade de papel crepom As reservas internacionais brasileiras correspondem hoje ao valor da dívida externa, enquanto a dívida interna é cinco vezes maior que as reservas, com um valor superior a R$1 trilhão. Somente o passivo de curto prazo está em torno de US$600 bilhões, ou seja, três vezes as reservas.

            Srªs Senadoras, Srs. Senadores, o Governo brasileiro precisa urgentemente dar explicações ao nosso povo. Esta Casa deve exigir do Governo informações acerca da gravidade dos efeitos da crise americana em nossa economia. E precisamos ser ouvidos sobre as medidas que estão sendo tomadas. Todas as vezes que vivemos crises econômicas invés de proteger os mais humildes, os poupadores e os assalariados, os pacotes governamentais se preocupam em salvar da falência os especuladores e os banqueiros, tudo em nome da estabilidade do capital.

            É bom lembrar que nosso País gasta 10% do PIB com o pagamento de juros para manter a ciranda financeira. Para se ter uma idéia, o pacote do governo Bush, de mais de US$700 bilhões, representa apenas 6% do PIB americano.

            Não devemos aceitar que mais uma vez os recursos públicos sejam destinados a salvar a especulação, que foi incentivada pelo Governo e serve de âncora para nossa falsa estabilidade.

            Com a palavra o governo do Presidente Lula. Espero que o Governo não esteja esperando o final do segundo turno para anunciar remédios amargos para os trabalhadores e o povo brasileiro.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/10/2008 - Página 39299