Discurso durante a 189ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre a crise econômica mundial,com perspectiva de que o Brasil será afetado, mas não de forma traumática, como de outras vezes. (como Líder)

Autor
Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Valdir Raupp de Matos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA INTERNACIONAL. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Reflexão sobre a crise econômica mundial,com perspectiva de que o Brasil será afetado, mas não de forma traumática, como de outras vezes. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/2008 - Página 39536
Assunto
Outros > ECONOMIA INTERNACIONAL. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, RESULTADO, LIBERALISMO, ECONOMIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), AUMENTO, ESPECULAÇÃO, MERCADO FINANCEIRO, FALENCIA, BANCOS.
  • AVALIAÇÃO, EFEITO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, BRASIL, DESVALORIZAÇÃO, MOEDA, REDUÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, EXPORTAÇÃO, OFERTA, EMPREGO, CREDITOS, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DECLARAÇÃO, PRESIDENTE, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), MANUTENÇÃO, ESTABILIDADE, ECONOMIA NACIONAL.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, PAIS ESTRANGEIRO, INGLATERRA, ARGENTINA, REGISTRO, INFERIORIDADE, EFEITO, BRASIL, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, MOTIVO, URGENCIA, GOVERNO BRASILEIRO, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), PREVENÇÃO, MANUTENÇÃO, ESTABILIDADE, ECONOMIA.

O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Não gastarei mais do que seis ou sete minutos, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Senador Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, o mercado financeiro mundial foi atingido, nas últimas semanas, por um cataclismo de proporções ainda difíceis de mensurar.

Com a ruptura da bolha das hipotecas, bancos antes sólidos vão à falência; bolsas de valores despencam por todo o mundo; ou melhor, despencavam, Sr. Presidente. A partir de ontem, graças a Deus, parece que a coisa está voltando à normalidade. No Brasil, o Ibovespa cresceu mais de 14 pontos e, hoje, já está crescendo acima de três pontos. Esperamos fechar o dia com crescimento maior, para que isso dê tranqüilidade aos investidores, ao mercado brasileiro e também ao mercado mundial.

Há quem veja na crise o colapso do laissez-faire neoliberal ou intervenção mínima ou nenhuma do Estado na atividade bancária ou econômica, postura que dominou a política econômica mundial nos últimos decênios, e há quem aponte para mais um episódio de rearranjo entre vencedores e perdedores no jogo especulativo natural do mundo das finanças.

As previsões para o futuro imediato e para o prazo médio e longo, por conseqüência, divergem dramaticamente.

Os Estados Unidos, potência hegemônica da economia mundial, com o poder de senhoriagem resultante de ser sua moeda o padrão global de meio de troca e de reserva de valor, estão no epicentro da crise. Lá, a desregulamentação dos mercados, promovida pela ideologia liberal, levou as empresas financeiras e os cidadãos a correrem riscos imprudentes, sobrecarregando o mercado de derivativos superestimados, lastreados em valores fictícios, numa bolha especulativa, que, como todas as registradas na história, tinha que estourar em algum momento.

Por isso, há quem diga que a crise marca o declínio do poder do dólar e o fim do domínio americano. Outros dizem que tanto o dólar quanto os EUA sairão fortalecidos, que países como os da União Européia, mais frágeis, é que perderão mais ao fim da crise, quando vier.

Seja lá qual for o encaminhamento e o desfecho do processo de reajuste global, o que deve nos preocupar é a situação do Brasil. E é forçoso reconhecer, no caso do nosso País, dois fatos: o primeiro é que, mesmo marginalmente, integramos o mercado global e não podemos, portanto, deixar de ser afetados, em alguma medida, por essa crise. Temos uma pauta de exportações que depende de haver compradores no exterior, e esses poderão reduzir sua propensão a consumir, diante da escassez de dinheiro e financiamentos. Mas o segundo fato, Sr. Presidente, que deve ser reconhecido, é que a administração econômica e financeira do País tem sido conduzida de modo responsável por nossas autoridades do setor.

O Brasil está muito menos suscetível a sofrer abalos catastróficos em conseqüência das turbulências dos mercados mundiais do que, por exemplo, quando da crise do petróleo nos anos 1970 - o País, à época, mergulhou na crise da dívida que paralisou o desenvolvimento por muitos anos.

Em primeiro lugar, o Governo brasileiro não embarcou na onda da desregulamentação total do setor bancário, apesar da pressão de muitos investidores e comentaristas econômicos. Os bancos brasileiros, ao contrário de instituições americanas e européias, não foram apanhados, em seus ativos, com uma massa de derivativos cujo valor evaporou de repente.

Temos, assim, uma situação em que podemos prever, pela falta de financiamento nos mercados mundiais e pela busca de segurança por parte de quem dispõe de algum capital, uma queda de investimentos, sobretudo estrangeiros, no Brasil - isso, infelizmente, já está acontecendo.

Esse fato, aliás, já está a afetar o Ibovespa - como já falamos aqui, agora se recuperando. Com as empresas descapitalizadas pela fuga dos investidores, deve haver alguma desaceleração do crescimento econômico, o que levará também a aumento do desemprego. E, com muita gente desempregada, é certo que o consumo das famílias também cairá, o que causará mais retração do mercado, num círculo vicioso.

O Brasil, apesar de não poder evitar esse processo - e eu falava aqui de outras economias -, deverá ser menos drasticamente afetado do que os países cujos sistemas financeiros se comprometeram demais com a farra dos derivativos.

Há sinais claros disso. Em entrevista ao repórter Paulo de Araújo, da Folha de S.Paulo, o Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Luciano Coutinho, declarou que a instituição conta com fundos suficientes para enfrentar as turbulências e manter o investimento em curso. No mesmo sentido, o periódico britânico Financial Times, insuspeito de maquilar a economia nacional, publicou, em sua página da Internet, na quinta-feira, matéria com a afirmação de muitos economistas segundo os quais o Brasil sairá “relativamente ileso” da crise. Deu destaque também ao fato de nossos bancos não estarem tão vulneráveis quanto os demais bancos mundiais.

A importância do Brasil no mundo e o consenso sobre sua relativa estabilidade podem ser avaliados, por sinal, pelo fato de o País haver sido mencionado pelo Diretor Administrativo do FMI, Dominique Strauss-Kahn, como um país que será afetado, mas menos que as nações ricas, que têm falhado em restabelecer a confiança dos agentes do mercado.

Já para o semanário argentino Página 12, geralmente muito cáustico em suas análises e, portanto, igualmente insuspeito, decisiva foi a ação rápida do Banco Central do Brasil, que freou a queda do real.

Embora o futuro não caiba a ninguém predizer, quanto mais em momentos de grande incerteza, como este, podemos estar bastante seguros, desta vez, de que o Brasil será afetado, sim, pela crise internacional, mas não de forma traumática, como de outras vezes. Parece superado, enfim, o tempo em que, a cada vez que a economia americana contraía um resfriado, a nossa pegava uma pneumonia ou uma tuberculose!

A administração econômica e financeira segura e responsável por parte dos Governos brasileiros parece haver vacinado o País. O nosso País está vacinado contra as crises internacionais; porém, como a crise não acabou e ainda pode ter desdobramentos perigosos no mundo, continua a se fazer necessário, nos próximos trimestres, que as autoridades econômicas nacionais permaneçam atentas e ajam com a devida presteza a cada movimento especulativo do mercado.

Sr. Presidente, esse, o alerta que eu gostaria de fazer e, ao mesmo tempo, um breve comentário sobre a crise internacional, que, graças a Deus, não afetou ainda seriamente o nosso País. Pelos indicadores das últimas 24 horas, parece que a tempestade está passando e que o Brasil vai resistir bravamente, como tem resistido até agora, a toda essa crise internacional.

Obrigado, Sr. Presidente, pela generosidade quanto ao tempo e obrigado, também, ao nobre Senador Antonio Carlos Júnior por ter aguardado o meu pronunciamento.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/2008 - Página 39536